Volume 1
Capítulo 19: A Litharis e o Rei das Sombras
— Me chamo Feylin.
A garota de orelhas pontudas se curvou perante mim; parecia bastante assustada, como se receasse que eu pudesse querer matá-la ou algo do tipo. No entanto, eu estava curioso sobre o que era uma Litharis, já que nunca havia ouvido falar deles.
— O que é você? — indaguei.
— Eu já disse ao seu amigo, sou metade Litharis — ela respondeu, enquanto mantinha o olhar fixo em mim.
— O que é uma Litharis?
— Litharis é uma raça que tem uma forte habilidade com a natureza...
— Como os elfos e os druidas? — interrompi inadvertidamente.
Ela balançou a cabeça.
— somos uma raça rara e uma de nossas habilidades é usar a terra para curar ferimentos.
Uma habilidade intrigante, se considerar que a terra pode ser encontrada em qualquer lugar do mundo.
— O que uma... Litharis faz aqui no meio do torneio?
— Eu estou vagando pelo mundo sozinha. Vi o anúncio e resolvi me inscrever.
— Como me reconheceu como Rei das Sombras? — continuei.
— Isso é uma pergunta fácil... Você é famoso e fácil de ser reconhecido.
Isael voltou enquanto murmurava sobre como havia sido fácil.
Absorto na conversa com Feylin, não pude observar a luta dele, mas a próxima envolvia dois lutadores que não despertavam meu interesse.
— Quando será sua luta? — falei
— Depois dessa — ela piscou rapidamente.
— O que está pensando? — falou Isael.
— Que tal se juntar a nós?
— Está querendo dizer... — ela abriu a boca — servir o Rei das Sombras?
— Mais uma para o harém — sussurrou Isael para mim.
— Não quero formar um harém — fixei meus olhos nela —, mas ela está vagando sozinha, e isso pode ser perigoso.
— Próxima luta é Galrian Wolfhart contra Feylin Wildstorm — anunciou o juiz.
Ela fixou seus olhos em minha direção, estendi minha mão esquerda para ela; olhou para baixo e para cima, ela enfim apertou minha mão. Dei um sorriso.
— Vamos lá, verei se você pode estar nas linhas de frente comigo ou vai ajudar no castelo, ok?
— Servir o Rei das Sombras é uma honra, seja nas linhas de frente ou no castelo, Majestade.
Ela se afastou rapidamente, já que os oponentes deveriam entrar pelo outro lado. Antes de sair, olhei para Isael.
— Estou preocupado agora — disse Isael.
— Relaxa aí — dei um sorriso — eu vou pegar leve com ela.
— Pobre garota.
Entrei na arena após ouvir esse comentário de Isael, fiquei frente a frente com Feylin, que segurava uma adaga adornada com vinhas.
— De que raça é essa garota? — disse Hestia.
— Não faço a mínima ideia — falou Jules.
— Ela parece estar nervosa — disse Johanna enquanto observava.
Desembainhei a espada e ela me encarou enquanto assumia uma posição de luta comum entre lutadores que usavam adagas.
— Prontos? — O juiz disse — comecem!
Feylin avançou em minha direção e comecei a dar passos para trás enquanto desviava.
Suas habilidades eram desajeitadas, mas sua velocidade era incrível.
Se não tivesse passado por treinamento, seria difícil acompanhar. Defendi o ataque dela e ela se afastou dando um mortal para trás.
— Ela é ágil...
A garota avançou novamente e dessa vez comecei a defender seus ataques com a minha espada.
O som das lâminas que se cruzavam ecoava por toda a arena. Levantei a espada e cortei o ar em sua direção. Ela desviou habilmente, o que me deixou impressionado.
— O que acha? — disse ela com um sorriso tímido.
— Você é habilidosa, estou impressionado — me preparei —, mas você sabe que só haverá um vencedor aqui, não é?
— S-sim — ela ergueu a adaga — aqui vou eu, Majestade!
Ela investiu novamente em minha direção. Cravei minha espada no chão e uma explosão de mana ocorreu. Ela foi arremessada para fora da arena.
— Temos um vencedor! — o juiz anunciou — Galrian Wolfhart!
A multidão aplaudiu, e me aproximei dela, estendendo minha mão.
— Bom, o resultado era óbvio — disse Arya.
— Essa garota... o Galrian está interessado nela — disse Jules.
— Bom... é o Rei das Sombras então...— falou Hestia.
[...]
O torneio de hoje havia acabado. Amanhã só teríamos mais duas lutas para a final que aconteceria após o dia de amanhã.
Me reuni com Isael e as meninas para apresentar a Feylin a elas.
Expliquei sua situação e como era de se esperar, as meninas a receberam de braços abertos.
— Apesar dela parecer ter a idade de vocês, ela é muito fofinha — disse Jules enquanto mexia no cabelo dela.
O rosto de Feylin se tornou vermelho, quase como uma pimenta, enquanto as outras meninas a observavam.
Sua timidez era considerada muito fofa e isso fez com que ela ganhasse pontos com elas.
— Agora precisamos de um quarto — disse Hestia.
— Ah, quartos são suficientes para todos vocês no castelo — disse Thorian. — Até parece que eu iria deixar o Rei das Sombras e os amigos da minha filha dormirem em qualquer lugar.
— Eu esqueci de perguntar...— Arya fixou os seus olhos em seu pai — Cadê o Aric?
— Aric? — disse Isael.
— Seu irmão foi banido, minha filha. Não quero falar sobre isso agora.
— C-certo, papai.
[...]
A noite estava sentado no sofá do quarto que Thorian havia escolhido para mim. Enquanto lia um livro, percebi a porta abrir e Arya entrou. Ao me ver, ela arregalou os olhos, surpresa.
— O que está fazendo no meu quarto? — disse ela.
— Seu quarto? Seu pai que me mandou vir aqui...
Espera, não me diga que aquele chifrudo de quase 2 metros de altura simplesmente fez aquele clichê de juntar os noivos no quarto sozinhos para que eles fizessem aquilo.
— Parece que o papai te ensinou — ela soltou um leve suspiro — Mas tudo bem, posso dormir no sofá.
— Na verdade, eu que devo dormir no sofá, afinal o quarto é seu.
— Não posso deixar o convidado dormir no sofá.
— Já está decidido, Arya — suspirei.
Não tinha o que fazer; só haviam três opções aqui:
1. Dormir com a Arya na mesma cama.
2. Deixar ela dormir no sofá.
3. Eu dormir no sofá.
Então, claro que escolhi a terceira opção, visto que é o quarto dela e dormir com a Arya poderia despertar desejos estranhos, visto que é um homem e uma mulher.
Apesar dela ter chifres agora, ela ainda se parece com sua forma humana e isso seria complicado.
Arya se deitou sobre a cama e começou a olhar para o teto.
— Então? Você tem um irmão, hein?
— É o mais velho. Ele sempre foi o que mais desejou o trono.
— Que clichê — movi os olhos para o lado — Um irmão que deseja o trono e a outra que não quer.
— É por isso que eu não quero. Meu irmão já foi banido do reino sem nem mesmo saber o motivo direito. É claro que eu iria recusar.
Acho que a Arya, como a irmã mais nova, se preocupava demais com o seu irmão mais velho.
Bem, existe aquele ditado, não importa se ele matou alguém, é o meu irmão.
— Bom, acho que está na hora de dormir. Amanhã tenho outra luta — me deitei no sofá.
— Por isso é melhor dormir na cama — Arya se sentou sobre a cama — Anda, vou dormir aí.
— Não.
Ela se levantou, se aproximou de mim e me puxou. Sua força parecia maior e fui puxado em direção ao chão, cai sobre ela e nossos olhos se encontraram.
Ficamos assim por alguns instantes e sem perceber, nossos rostos começaram a se aproximar um do outro.
— A-ai...— Arya soltou um gemido de dor — Acho que bati as costas.
— Agora que você não pode dormir no sofá mesmo — me levantei e estendi minha mão para ela.
Ela pegou na minha mão e se levantou, esticou suas costas. Bom, parece que não vai ter jeito.
— Vamos ter que dormir juntos então.
— O-o que? — o rosto de Arya corou — Repita isso novamente, Galrian.
— É só dormir de costas um para o outro.
— F-faz sentido.
Fomos em direção à cama, e assim como eu havia sugerido, dormimos de costas um para o outro.
[...]
De manhã, senti um peso sobre o meu corpo e abri os meus olhos. Vi que Arya estava abraçada em mim, cutuquei ela e ela soltou um gemido fofinho.
— Ei — cutuquei ela novamente.
— Uhn? — ela abriu os seus olhos ainda sonolentos e me olhou — Bom dia.
— Será que você pode ser uma Hornsiana ou um lagarto que se gruda com alguém?
Ela piscou rapidamente, confusa com a minha pergunta.
Moveu seus olhos em direção ao meu corpo e finalmente percebeu que estava agarrada em mim como segurava o travesseiro.
Arya se soltou rapidamente, enquanto seu rosto ficava completamente vermelho.
— D-desculpa, Galrian.
— Tudo bem — me levantei — Tenho que ir. O torneio é agora de manhã.
— O-ok.
Abri a porta e saí enquanto deixava uma Arya envergonhada no quarto. Sem tomar café da manhã, eu me reuni com o Isael na parte em que os participantes do torneio aguardavam, agora vestido com as roupas que utilizei antes.
— Aqui — Isael arremessou uma fruta que parecia com uma maçã para mim.
Peguei a fruta e analisei.
— O que é isso?
— É uma fruta Hornsiana, tem um gosto bom.
Dei uma mordida na fruta e um gosto amargo preencheu minha boca. Fiz uma careta enquanto olhava para Isael.
— Isso é amargo.
— Eu disse que tinha um bom gosto, não que era doce.
— Ora, seu desgraçado — terminei de comer a fruta, mesmo que estivesse amarga.
— É um gosto amargo, não é azeda, é amargo. Incrível, né?
— Não preferia que fosse azeda — limpei a mão sobre a roupa — Quem são nossos oponentes?
— Seis estão na semi-final. Só quatro vão para a final, e aí tem a luta de dupla.
— Como funciona isso? Se caso perder, serei desqualificado?
— Não, se um de nós perder e o outro vencer, ainda passamos para a final.
Senti uma mana assustadora se aproximar da arena. Isael também havia sentido e nós dois nos olhamos e nos aproximamos do portão para a entrada da Arena.
Avistamos um Hornsiano de cabelos vermelhos como os de Arya e ao lado dele estava.
— Adrian — falei com uma voz agressiva.
— Não me diga que ele...— disse Isael.
— Galrian! Isael! — Jules se aproximou de nós dois — As lutas de hoje estão canceladas.
— Só a deles — fixei meus olhos em Adrian — Porque a nossa só está começando
— Vou ajudá-los, meninos — Thorian se aproximou junto das outras meninas — Afinal, meu filho está lá também.
— O Adrian tá vivo....— Hestia arregalou os olhos.
— Aparentemente, não consegui matá-lo antes, mas hoje será diferente.
— Papai, você não pode matar o seu filho — disse Arya.
— Não se preocupe, não o matarei, minha filha.
— Certo — joguei o casaco de Arya para ela, e o casaco de sombras apareceu — Vamos acabar logo com isso.
Comecei a caminhar em direção à arena junto de Thorian e Isael.
Desembainhei a espada que usava e estendi meu braço esquerdo para o lado. A espada de sombras surgiu e eu apoiei sobre o ombro.
— Quem é ele? — disse Thorian enquanto olhava para Adrian.
— Ele é um humano demoníaco — disse Isael.
— Ele é meu — encarei Adrian.
Adrian deu um sorriso ao me ver e estendeu seu braço para o lado. Uma espada vermelha surgiu e franzi as sobrancelhas.
— Então, Senhor Thorian, acho que vou ajudá-lo contra o seu filho — falou Isael, enquanto suas manoplas e botas apareciam.
— Tudo bem, ele merece uma surra mesmo — Thorian pegou o seu machado que estava em suas costas.
— Pai — Aric sorriu — venha até mim.
— Vamos lá, Galrian Wolfhart — Adrian abriu os seus braços — A batalha final entre nós dois, Galrian, já vai começar. Quem vai sair daqui morto?
— Essa resposta é óbvia, Adrian. — Um turbilhão de escuridão, cobriu o meu corpo, e ao sair dele, estava com olhos amarelos, orelhas e cauda de lobo. — Vai ser você.
— Que forma é essa? — disse Isael, surpreso.
— Explico depois, aqui vamos nós, Adrian!
Investimos em direção a eles, que se prepararam e dessa vez, Adrian só sairá daqui morto pelas minhas mãos, mesmo que ele tente escapar não irei deixar, isso não é só mais pelo o rei, é pelo o comandante Kay e todos os reinos que ficarão em perigoso se ele libertar a rainha dos demônios.