Volume 1 – Arco 5
Capítulo 58: Pequenas Felicidades

Leopolda batia palmas junto com seu filho, mantendo sempre a elegância que apenas ela e Ferrer conseguiam sustentar, ela era belíssima.
Mas o enjoo da gravidez pareceu ter lhe capturado de tal modo, tentava não aparentar muito, mas estava complicado lidar com aquilo, quando os aplausos ficaram mais fortes, e os gritos de “vida longa à princesa” começaram, decidiu que não estragaria o momento.
Se afastou lentamente, tentando ao máximo não chamar atenção, claro, alguns notariam sua ausência, mas não poderia pensar nisso agora enquanto andava rapidamente para um lugar onde pudesse vomitar em paz.
Se sentou num banquinho quando se viu sozinha, trazendo consigo um um balde, colocando até suas tripas para fora, na primeira gravidez não teve aqueles enjoos, lembrava de Ana e Elengaria daquele jeito, mas ela? Com Ferrer foi tão tranquilo…
Claro que repararam no sumiço da consorte de cabelos dourados, o primeiro a reparar foi seu filho, que olhou para os lados, já sabendo da condição dela, presumiu que ela estava passando mal. Até pensou em ir atrás dela, mas quando se deu por si, estava cercado por belas jovens.
Todas davam as felicitações pela irmã, mas claro, tentavam jogar inútilmente o charme no ainda sim, príncipe herdeiro.
Pela sua boa educação e polidez, estava preso ali, entre sorrisos falsos e cumprimentos, não tinha como ir ver sua mãe nesse momento.
Sorrisos, galanteios, até que sentiu um toque não pedido no braço, quase como reflexo, o puxou o braço quase num susto, mas logo sorriu, segurando a mão daquela dama intrometida, não podia fazer o que lhe desse na telha.
Era um príncipe afinal.
Outro que parecia estar tendo problemas de socialização era Ian, assim como seu irmão, ele era desejado, mas para ele, o problema era diferente, sua mente ia longe, pensando que em alguns anos seria sua irmãzinha sendo cortejada por diversos garotos da idade dela.
Aquilo fez seu interior borbulhar de um ciúme antecipado, seus olhos cor de sangue focaram na irmãzinha que estava sendo mimada por adultos, logo ela seria cortejada!
— Vossa alteza. — Uma voz masculina e brincalhona chamou a atenção do príncipe. — Minhas doces damas, me parece que o príncipe está distraído demais.
Ian levantou a sobrancelha vendo as damas dando risadinhas do charme natural do meio elfo, logo ele estava sozinho com seu amigo mais uma vez:
— Sério, por que você ‘tá tão distraído? São todas belas damas e estão te dando o maior mole!
— Que linguajar, Elberony. — Ian repreendeu seriamente o amigo, mas logo deu uma risada da cara assustada do amigo. — Você deveria ter visto sua cara!
— Ah seu engomadinho idiota! — Elberony acertou uma cotovelada no amigo-príncipe. — Mas sério… Por que?
— Por que o que? — Ian estava se recuperando da risada que deu anteriormente. — Ah, as garotas? Acho que elas não fazem meu tipo de fato, sabe… Elas são meio… Frágeis demais, combinam com o Ferrer, mas comigo?
Aquela fala fez coração do mestiço palpitar, sem conter um sorriso bobo que brotou em seus lábios, mesmo sem saber exatamente por que:
— Espero que ache sua pessoa especial. — Elberony ainda sorria bobo, encarando o amigo.
Ian olhou ao redor, mesmo sendo um príncipe, percebeu que estava finalmente sozinho, não exatamente sozinho, apenas não tinha um enxame de pessoas ao redor de si, seus olhos encontraram os cor de floresta de Elberony:
— Quer vazar daqui?
— Sim.
Sequer pensaram quando seguraram as mãos um do outro e caminharam para fora do salão, sem se importar com os olhares zombeteiros e de desprezo com aquele ato dos dois:
— Onde está Leopolda? — Elengaria perguntou para Ana Bael.
A consorte deu de ombros sobre aquilo, não sabia, sequer reparou dela ter saído, seus olhos percorreram pelo salão, percebendo que ela não estava mesmo ali:
— Acho que a vontade de socializar dela acabou, sabe como ela é. — Ana sorriu tentando amenizar tudo aquilo.
— Sim, eu sei, ao menos ela ficou até quase o final de tudo.
Não tinha nada que pudesse realmente bagunçar seu dia, o dia de sua filha, sua pequena criança que agora estava nos braços de seu pai, que apresentava a criança para seus amigos, seus chefes de guerra, seus parentes.
Por um momento poderiam esquecer que eram uma familia real, eram apenas uma familia feliz aproveitando o aniversário de sua filha caçula:
— Então… Aquele presente que o Ian deu…
— Não comece, eu dei uma espada para o meu filho no dia do seu aniversário de cinco anos.
— Eliassandra é diferente, ela é…
— O que?
Ana Bael cruzou os braços, olhando para Elengaria como se desafiasse ela a dizer por que ela era diferente, levantando a sobrancelha exatamente como seu filho fazia:
— Por que ela é uma garota? Oh céus Elengaria, deixe de ser uma boba antiquada, ela é tão capaz de manipular uma arma quanto meu filho e o irmão.
— Ela é uma dama. — Elengaria rebateu.
— Ela quer ser uma dama?
A pergunta fez Elengaria revirou os olhos, até se virou de costas, voltando a olhar sua filha, que se agarrava ao seu marido encarando os generais que tentavam interagir com a criança.
Eliassandra lembra vagamente de alguns deles, sabia que um deles, o cego, tinha até encontrado pessoalmente e a culpa dele estar assim era claramente sua.
Ou melhor… Da maga.
Talvez lá no fundo sentisse um pouco de culpa por aquilo, mas beeeeem, lá no fundo, estavam em guerra, e não atacou ele diretamente!
Era apenas uma consequência da situação que estavam.
Claro que o tédio lhe alcançaria hora ou outra, fazendo seu pai lhe colocar no chão, logo a pequena princesa estava correndo pelo salão até Ahrija que estava com seu mestre.
Quevel viu aquela princesa de cabelos brancos abraçar seu aprendiz com força e depois o puxou para longe, sumindo do campo de visão do curandeiro dracônico.
Ainda sentia um aperto pelo futuro de seu pequeno aprendiz com aquela princesa, não sabia como iriam se envolver, como as coisas iriam se desenrolar.
Mas não poderia fazer nada com aquilo, seria melhor que ele quebrasse a cara ou o coração sozinho, era uma decepção que faria bem a ele de qualquer modo, mesmo que fosse triste:
— Vai continuar deixando isso acontecer? — A voz do lorde dos dracônicos chamou a atenção de Quevel.
O curandeiro revirou os olhos, Valkriar estava sozinho agora, sem sua acompanhante humana que passou quase o tempo todo junto com ele:
— Deixa ele em paz.
— Não pode deixar ele para sempre longe disso.
— Você tem ideia o quão chato você é? O garoto é minha responsabilidade, eu decido o que é melhor para ele, e você deveria se preocupar com seus próprios problemas. — Ditou aquilo.
— Ele é meu problema.
— Não. — Quevel respondeu pegando uma bebida por fim. — Ele não é, agora com licença.
Se afastou, deixando o lorde ali, que encarava as costas do curandeiro, não demorou para a mão delicada da mulher que lhe acompanhou a noite toda tocasse seu braço:
— Milorde?
— Estou cansado, irei voltar para meus aposentos. — Disse aquilo praticamente cortando a fala da morena.
— Oh, está bem… — O rosto escureceu, sentia-se descartada naquele ponto.
— Você não vem, humana?
Logo seu rosto se iluminou, sorrindo como se tivesse ganhado na loteria, e talvez tivesse na visão dela:
— Já estou indo. — Acenou para os outros burgueses que sorriam satisfeitos enquanto ela seguia o rei dos dracônicos.

Elia segurava a mão de Ahrija, saindo daquele baile que parecia sugar todas as suas energias, Lynn, o pequeno coelho azul, acompanhava os dois, andando mais atrás, parecia quase vigiar as duas crianças.:
— Pra onde vamos?
— Qualquer lugar longe daqui. — Elia alegou, andando de mãos dadas pelos corredores do palácio real.
Sua cabeça doía, mas não queria sair no meio, agora no final do baile poderia se dar a esse luxo, sair daquele lugar abafado e finalmente respirar:
— Esse lugar é enorme. — Ahrija olhava ao redor, meio deslumbrado com aquele local.
— É, às vezes me perco. — Elia confessou aquilo com um sorriso mínimo.
— Você gosta daqui?
— Ah, sim, é divertido, consigo fugir das obrigações reais quando não to afim. — Falou aquilo com um sorrisão.
Subindo as escadas enquanto conversavam, finalmente chegaram ao quarto de Elia. E era enorme! Aquele quarto deveria ser do tamanho de sua casa, pra que uma pessoa precisava de tanto espaço?
Foi solto ali dentro, girando seu corpo para ver tudo, pensando em todas as coisas que teriam ali, para que? Não entendia:
— Não se sente sozinha nesse espação? — Ele finalmente perguntou.
Seus olhos se voltaram para sua amiga que já lutava com as roupas de baile, os sapatos já tinha sido deixados de lado, o que fez Ahrija dar uma risada gostosa:
— Vem cá. Eu ajudo.
E assim o fez, abaixando o zíper da garota, deixando o vestido sair do corpo, ainda tinham outras, essas ela conseguiu tirar sozinha, ficando apenas com o vestido branco e leve que tinha que usar por baixo daquilo tudo.
A coroa finalmente foi tirada da cabeça, pesada e fazendo barulho, foi colocada na mesinha, passou os dedos por entre os fios brancos do cabelo, massageando e balançando a cabeça, aproveitando o corpo sem tantas camadas e peças.
Só tinha uma única coisa que ficou de acessório: o brinco de dente de dragão que tinha recebido de presente:
— Heh, você parece menos uma boneca sem essas roupas todas.
— Eu “tava parecendo uma boneca? — Elia riu, agora com os cabelos bagunçados.
— Sim, daquelas que a gente deixa na prateleira sem brincar.
— Que cruel, Ahrija.
Ambos deram uma risada gostosa daquilo, a pequena princesa sentiu tanta falta daqueles momentos simples com seu amigo, sentia falta de ser uma criança normal, dentro dos padrões normais que poderia ter.
Naquela nova vida tinha adquirido um gosto por banhos, então não demorou para que ela própria fosse tomar um, conversando com seu amigo, dividindo o banheiro enorme com ele, como ficou acostumada:
— Eu senti saudades de você.
Aquela confissão fez Ahrija sorrir, agora não tinham pessoas por perto, não parecia ser mentira, era algo apenas dos dois, um sentimento que apenas eles teriam, apenas um compartilhamento de duas crianças.
Ao menos ele pensava daquele jeito infantil e sonhador.
Elia estava exausta, não tinha notado aquilo até tomar um banho quente, seus olhos piscavam profundamente por longos segundos antes de abrir:
— Então eu voei! Eu posso voar agora, claro perdi um dente, aquele que eu te dei! E o mestre disse que o primeiro dente perdido de um dragão é muito importante, e você tem que dar para sua pessoa especial! Ai dei pra você!
— Que bom… — A voz arrastada da criança que tentava abrir os olhos era quase cômica.
Ahrija ficou calado, observando o corpo da sua amiga finalmente descansar e acordar no susto:
— Pode continuar. — Ela falou antes de bocejar.
Tentava ao máximo sustentar a conversa com seu amigo, sentiu saudades dele, da sua voz, da simplicidade que ele trazia, mas mal conseguia manter os olhos abertos, o sono lhe alcançou.
Ahrija deu uma risada baixa, vendo sua amiga dormir sentada no chão, com o corpo balançando levemente para frente e para trás, não teria como levar ela para cama, que era desnecessariamente alta para uma criança pequena, ao inves disso, puxou cobertas e almofadas, travesseiros e afins fazendo uma cama no chão:
— Não… Eu não quero dormir agora. — Elia protestou tentando ir contra a ser deitada.
— Você já tá dormindo. — Ele lembrou.
E realmente, ela sequer teve forças, abraçando uma almofada, se entregando ao sono completo, Ahrija por sua vez ficou ali, observando sua amiga dormir.
Sentiu falta dela, da expressão sempre amena e longe, mas também com um sorriso calmo, contido, o extremo oposto de sua personalidade sempre animada.
Aquela calmaria que só ela poderia dar, como se fosse um farol no meio da tempestade que ele era, e gostava daquilo, gostava da sua melhor amiga.
Ela ainda usava o brinco, não tinha tirado sequer para tomar banho, ela realmente valorizou sua amizade!
Aquilo aquecia seu coração infantil, em sua cabeça já pensava que seriam melhores amigos para sempre, que ela seria sua pessoa especial para sempre!
Eliassandra era a melhor amiga que poderia ter, gostaria de crescer com ela e ver como ela seria.
Será que seria bonita? Será que teria muitas pessoas ao seu redor? Será que seria forte?
Seus olhos focaram no coelho em cima da cama, olhando para os dois, ele parecia mais maduro do que ambos, o que era engraçado, pois era um coelho, não deveria ser.
Sorriu para o coelho, como se entendesse algo daquele coelho, mas não entendia, ao menos o sorriso era do tipo caloroso que pequeno dracônico dava sempre que estava alegre, decidiu uma coisa naquele pequeno momento: precisava ser forte para não ficar pra trás, tinha que ser forte!
Tão forte quanto ela, ou até mais! Não podia ficar para trás comparado a ela, senão ela iria o esquecer e fazer novos amigos nobres e engomados, eles tinham mais proximidade com ela! Precisava proteger aquela amizade!
— Boa noite, Elia.
Se deitou finalmente, encarando sua amiga até que o sono lhe alcançou, com doces sonhos.
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