Volume 1 – Arco 5

Capítulo 57: Uma Coroa Pesada para A Princesa de Olhos Frios

 

Eliassandra estava claramente mais feliz pela presença de Ahrija ali, segurava a mão dele enquanto apresentava aos irmãos mais velhos:

— Então esse é o famoso Ahrija, a Eliassandra fala muito de você. — Ferrer sorria apertando a mão do garotinho.

— Jura?

Eliassandra até pensou em falar algo contra, mas a felicidade dele em sorrir por saber que era lembrado foi algo fofo. 

Sentiu algo empurrando sua perna, ao olhar para baixo, viu Lynn, que até aquele momento apenas estava dormindo na sua almofada fofinha:

— O que foi? Finalmente ficou com fome?

A princesa pegou o coelho azul nos braços, pedindo licença para seus irmãos e Ahrija, não tinha como alimentar um coelho com qualquer coisa que estava ali, tudo era doce e tinha certeza que fariam mal a Lynn.

Deu pra sentir a inquietação de Lynn por não poder comer doce, mas diabos, era um coelho! Não faria bem pra ela de qualquer modo! 

Seguiu para fora do salão, aproveitando que muitas pessoas não estavam prestando atenção, afinal a maioria estava focado naquelas raças “exóticas”. Eliassandra se perguntava se isso seria algum tipo de preconceito ou algo problemático, provavelmente sim, mas não sentia vontade de se importar com isso nesse momento.

Andava pelos corredores mais vazios do palacio, todos estavam focados demais naquela celebração, tá que era para ela, mas estava com problemas maiores para resolver.

O lugar era enorme, especialmente quando se queria ir para a dispensa gigante onde os vegetais ficavam:

— Sabe Lynn, seria muito melhor se você falasse. — Concluiu aquilo, finalmente deixando o coelho ir para o chão.

Agora o coelho andava mais a frente, como se soubesse para onde estava indo, será que Lynn já tinha ido lá quando não estava olhando? Não duvidava que aquilo tenha acontecido, não sabia muito sobre Lynn, e admitia que era um problema.

Focou tanto em seu desenvolvimento pessoal que esqueceu completamente de Lynn e de como se comportava, sabia que era feito de pura mana, mas será que conseguia pegar essa mana dele? Ele conseguia conjurar feitiços como ela? 

Seus pensamentos iam longe enquanto andava por longos minutos até chegar na dispensa, alguns servos ainda estavam ali, se assustaram com a pequena princesa, o que raios estava fazendo ali?

— Só vim pegar umas verduras pro meu coelho. — Apontou para Lynn que já farejava o ambiente, cheirando tudo, percebendo as coisas ao redor.

Era tão fofo vendo ele mover o focinho daquele modo:

— Ah, podemos providenciar. — Um garoto de uns treze anos falou.

Eliassandra se sentou num banquinho enquanto traziam uma cesta de vegetais para o coelho, pensou um pouco vendo Lynn farejar, e então pegou um tomate, aquilo era uma fruta, e bem… Na vida passada era gostosa, quem sabe agora…

Só mordeu, sentindo o sabor familiar, aproveitando aquela textura conhecida, sentia olhares sobre si, claro, que raios de princesa comeria uma coisa assim? Crua, como se não fosse nada?

As vezes, quando estava sozinha naqueles momentos, onde sua mente ficava longe, se questionava se merecia aquilo, afinal foi uma pessoa horrível na vida passada e mesmo assim teve uma segunda chance… Mas não como qualquer chance.

Seria justo se estivesse sofrendo, sendo pobre, ou talvez escrava de alguma raça, mas nasceu como princesa numa família extremamente amorosa, sua mãe, mesmo sendo super protetora, ainda a amava, seus irmãos eram anjos para si.

Ou talvez ainda não estivesse na idade de entender tramas mais profundas da corte, a única coisa que sabia com certeza era que sua tia lhe odiava, de resto todos pareciam distantes sempre, como se não quisesse se relacionar diretamente.

Quando tinha mais idade…

Será que Ferrer iria se ressentir por ela ser herdeira? Mesmo que não tivesse a mínima vontade de ser governante, não combinava com o cargo.

Ela? Rainha? Saiu de soldado para tal coisa? Não merecia isso não, sabia que não tinha se redimido o suficiente, então assim que pudesse passaria de volta para Ferrer.

Ficou ali, com o olhar perdido comendo tomate, os olhares sobre si eram curiosos, alguns pareciam se perguntar que garota estranha ela era. Era mais estranha do que um coelho azul com antenas!

Seu olhar distante e perdido não se focava em nada, não até aquelas lembranças horríveis da guerra, balançou a cabeça pros lado, acordando daquele pesadelo que iria se iniciar:

— Vocês viram a princesa? — Uma voz assustada chamou atenção de Eliassandra, era Ana.

Quando os olhos bicolores da princesa encontraram os esverdeados da consorte, deu para ver o alívio dela:

— Que foi?

— O baile já será finalizado. Precisamos de você.

O rosto de Eliassandra se contorceu numa careta irritada, fazendo bico, não queria voltar para lá, pessoas demais, a grande maioria sequer gostava, algumas nem conhecia, qual sentido?

Sabia qual sentido! Mas ainda era irritante ficar fazendo sala naquela barulheira insuportável!

— Eliassandra…

Os criados começaram a se afastar enquanto a consorte se aproximava, se abaixando na frente da menina:

— Eu entendo isso, sei que é cansativo e que você gostaria de estar em qualquer outro local, menos aqui, mas você é uma princesa.

Viu os olhos reviraram, irritada com a situação, exatamente como Ian fazia, era fofo ver as semelhanças entre os irmãos, talvez tenham puxado ao pai aqueles traços:

— Você tem responsabilidades.

— Certo.

Era sempre incrível como ela conseguia parecer muito madura às vezes, talvez fosse o certo, afinal era melhor que ela aprendesse a proteger no ninho de cobras que era a corte:

— Lynn, já acabou?

E logo mais o coelho estava caminhando ao lado de Eliassandra, com uma postura ótima para uma criança de cinco anos, era mais madura que realmente parecia, sempre com aqueles olhos frios e distantes.

Aquela era a princesa.

Caminharam em silêncio, a princesa, a consorte e o coelho, em direção ao salão de bailes, onde as pessoas ainda conversavam alegremente, seja lá sobre o que falavam, não era como se importassem:

— Eliassandra, onde se enfiou? — Os olhos de sua mãe estavam cheios de preocupação.

Mas aquele ato apenas arrancou um sorriso de Eliassandra, gostava de ser cuidada e lembrada pela mãe, lhe aquecia o peito, era por isso que se esforçava.

Era por ela.

— Lynn estava com fome, desculpa, mas… O que vai acontecer agora? Por que precisam de mim? — Essa parte não entendia.

Se queriam apenas acabar com o baile, por que raios precisavam dela? A verdade é que Eliassandra mentiu. Ela não prestou atenção em todas as aulas de etiqueta, se não saberia que no primeiro baile de um filho do rei, acabava com a coroação oficial.

Por termos legais, Eliassandra não era uma princesa, era apenas a filha do rei, claro que na prática, nada disso importava.

Sua mãe revirou os olhos e no final, riu enquanto Ana Bael se afastava para assumir sua posição. A rainha segurou a mão pequena de sua filha, puxando levemente para onde deveria estar:

— Não se preocupe, vai dar tudo certo.

De volta ao trono, agora seus dois irmãos estavam do lado esquerdo, junto com suas mães, Leopolda com das mãos sobre a barriga ainda não aparente, mas o enjoo estava ali. Na direita agora estava seu pai, e posteriormente sua mãe ficou ao lado dele também.

O rei limpou a garganta, chamando atenção de todos, o salão que antes estava com falas e músicas animadas, agora estava em completo silêncio:

— Meus caros, nesse salão estão reunidos meus melhores amigos, maiores influências de nosso continente e pessoas queridas, todos hoje para comemorar os primeiros cinco da minha filha, minha primeira filha.

Num ponto do salão, ainda afastados, o Lorde de Dalton Vivera e sua noiva, a duquesa de Navarra, Vivany, estavam observando, ela se recusava a se aproximar daquela cena, mesmo que ela fosse tia daquela criança.

Era demais ver aquela felicidade enquanto a própria estava se afundando no seu próprio sofrimento, mas Valdegar não tinha esse tato, não queria ter. Aquela mulher atormentou a esposa de seu amigo por anos, no fundo… Queria fazê-la sofrer.

Segurou a mão de sua noiva, caminhando para mais perto de onde todos se reuniam, o rosto de Vivany se contorceu por um momento de ódio e repulsa, mas logo depois sorriu serena, querendo por sua máscara de volta.

O ódio borbulhava em seu interior, fervendo por dentro, como aquele homem poderia ousar lhe tratar assim? Apenas se valendo de que pessoas estavam ao redor dos dois, e ela não surtaria.

E ele estava certo!

Mas ele deveria lembrar que ele se casaria com ela, se sua vida seria um inferno por conta dele, então iria retribuir aquele favor irritante:

— Hoje, nossa pequena Eliassandra, completou seu primeiro ciclo de cinco anos, antes, apenas a filha do rei, hoje se torna a princesa Eliassandra D’Ank.

Aquelas palavras atingiram em cheio o coraçãozinho de Ahrija, que estava olhando aquilo, apertando a roupa de seu mestre, antes ela não era uma princesa, então… Agora era!

Sentia que algo mudaria em sua amizade, que estariam distantes, mas não queria admitir aquilo, não queria aceitar. Ela era sua pessoa especial! Sua melhor amiga, não podia lhe abandonar só por causa de uma coroa, não é?

Quevel conseguia sentir a mana de seu pupilo oscilando, talvez finalmente estava caindo a ficha que ela era de um mundo diferente do seu? Que aquela amizade era insustentável?

Mas ainda sim, o jeito que ela agiu hoje também lhe deu esperança que Eliassandra seria diferente, que ela não o deixaria para trás.

Seus olhos desviaram da cerimônia para o outro dracônico presente, Valkriar estava ali, com o braço ao redor do corpo de uma humana sorridente, mas seus olhos se encontraram com o do doutor, ambos pareciam saber de algo.

Mas o que?

Não conseguiam saber, apenas sentiam a tensão no ar.

Logo os olhos dos dois dracônicos mais velhos voltaram para a cerimônia.

Ricardo abria a caixa de madeira adornada com fios de ouro, mostrando uma coroa ainda maior do que a que usava, sua mãe, a rainha, tirou a coroa de flores douradas da cabeça da pequena princesa.

Elia estava tentando não tremer, mas ao ver aquela coroa de ouro, cravejada de pedras avermelhadas, com uma corrente de cada lado com pequenos cristais transparentes, era linda, mas pesada.

Seu pai andou elegantemente até sua filha sentada no trono e finalmente colocou aquela coroa pesada na cabeça da filha:

— De agora em diante, você é princesa Eliassandra D’Ank.

O salão explodiu em aplausos, muitos sorriam, outros torciam o nariz para aquela cena, não tinham tanto respeito por aquela situação, outros adoravam.

Seraphs era um das que batiam palmas, mas contida, mas seus olhos estavam focados em Ferrer, que tinha uma postura elegante e digna, arrancando suspiros da elfa, claro, seus dois irmãos perceberam aquilo, trocaram olhares e no final deram de ombros.

O que poderiam fazer?

Era curioso no mínimo.

A rainha Mitrya estava sorridente, batendo palmas na sua empolgação, era contida, afinal era uma rainha que conhecia os costumes humanos, então se adaptou.

Não queria chamar mais atenção que seus filhos pequenos já chamavam, batendo palmas empolgados.

Era por pouco tempo agora que teria eles, pois os dois iriam prestar o exame para a academia em breve.

Elia sentia o peso da coroa na sua cabeça, olhando todos aqueles olhos em si, seu coração batia forte.

Agora tinha expectativas em si, precisava orgulhar seus pais, suas madrastas, seus irmãos, precisava dar a eles orgulho, e é por aquele motivo que viveria de agora em diante.

Sem decepcionar, não dar motivo para todos aqueles nobres que já julgaram sua mãe por tantos anos, que eles engolissem todo o orgulho deles, e admitissem que ela é incrível.

Seria o orgulho da sua família!

Iria ser o melhor que poderia, não apenas pela sua mãe e seu pai, mas também pelos seus irmãos, e claro, por Quevel e Ahrija, principalmente por aquele garotinho de olhos brilhantes que parecia achá-la a melhor pessoa do mundo.

Precisa mostrar para todos que ela conseguiria.

Acima de tudo, tinha que mostrar para si mesmo que era digna de alguma redenção depois de tudo que fez de errado na vida passada.

Seria a melhor versão de si mesma.

 

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