Volume 1 – Arco 5
Capítulo 56: Teias de Aranha

A cena daqueles dois dançando realmente chamou a atenção de todos, inclusive de Valkriar, parecia que ele iria invadir aquele local a qualquer momento:
— Parece nervoso, meu lorde? — Aquela voz carregada de malícia mais uma vez atingiu o dracônico.
Olhou para o lado, encontrando os olhos castanhos cheios daquela malícia que ele conhecia bem, não era diferente de estar no centro das tramas dos dracônicos:
— O que você quer?
— Ora, só estou conversando. — Ela cantarolou, oferecendo um copo de bebida para ele. — Posso me retirar, se assim quiser, meu lorde…
Mas o rei dos dracônicos não disse nada, apenas aceitou a bebida, virando em um único gole. Aquela mulher sabia onde tocar, como falar, o que fazer, era uma armadilha ambulante trajada de vestidos chiques, era difícil fugir:
— Como não me mandou ir embora, então quer dizer que minimamente me quer por perto.
— Entenda como quiser. — Valkriar respondeu aquela indagação.
— Bem… Parece mesmo tenso, não quer conversar, senhor?
Mais silêncio, fazendo Alyssa dar uma risada, tomando iniciativa de tocar o braço escamoso e forte do do lorde:
— Sabe, o senhor é mesmo atraente, senhor, deve ter muitos pretendentes…
— O que quer dizer com isso?
— Soube que os dracônicos não fazem distinção de gênero, é verdade?
Aquilo fez o dracônico caolho lhe encarar, com certeza ela fez seu dever de casa, não sabia se a informação que outras raças viriam vazou, mas para Alyssa era diferente.
Ela sempre estava preparada.
Sabiam das relações das outras raças, que os elfos do pico da lua não casavam, que a rainha Mitrya sempre estava disposta a ter mais maridos, porém era exclusivamente de sangue élfico, mesmo que meios elfos estivesse incluídos, os anões raramente eram vistos, e o rei do Pico da Lua não se casava.
Sobrou os dracônicos.
Ela nunca pensou em ter que seduzir Valkriar, aquilo foi uma oportunidade.
E não escondia aquilo.
O único olho bom do dracônico encarava a mulher, pensando em como responder, afinal era óbvio onde ela queria chegar, estava fechando sua teia ao redor dele, como se fosse uma armadilha.
Ele era o rei, ele poderia acabar com aquilo, mas estava tão cansado de situações de seu reino, de ter que levar tantas pessoas nas costas.
Nunca descansava, não podia fechar os olhos, em algum momento alguém poderia lhe dar uma facada, às vezes literalmente se pensar um pouco sobre aquilo.
Por um momento, apenas por um momento, poderia abaixar suas defesas e desconfianças, aquela humana não iria atrapalhar mais sua vida, talvez por uma noite…
Uma noite ele poderia ter uma paz que a muito tempo não tinha:
— Sim, por que? Planeja ter um filho meu?
Finalmente viu uma pequena rachadura na máscara contida de Allysa, um sorriso com um quê de malícia que ela não tinha mostrado até agora:
— Talvez eu queira. — Ela confessou.
Estendeu a mão para o lorde, que segurou-a com cuidado, a diferença de tamanho e textura era enorme, a jovem parecia muito mais delicada que ele.
Ele era um ser que enfrentava guerras diariamente, ela era apenas uma garota cheia de estratagemas e uma inteligência estratégica que não se via sempre.
Ambos se encaminharam juntos para a pista de dança, enquanto os nobres torceram o nariz irritados, não aceitavam facilmente aquela mistura, mas se até mesmo o rei´o fazia, quem dirá aquelas aranhas ardilosas dos burgueses:
— Reparei que não usa ouro, algum problema com isso?
— Oh, não, ouro é apenas para a realeza e a nobreza.
Os costumes dos humanos eram estranhos para o rei dracônico, ele só não entendeu porque metais eram reservado apenas para uma classe social, vindo apenas de berço? Eles não conquistavam nada? Aquilo era estranho para ele, mas o que poderia fazer? Era o costume deles:
— Você sabe o que sou e mesmo assim insiste em ficar perto, não seria melhor para sua causa falar com um elfo?
— Ora meu senhor, nem sabe qual é minha causa. — Cantarolou sendo girada pelo salão, feliz da vida, ou era o que queria que parecesse.
Seus passos eram calculados, seus sorrisos ensaiados, não planejou tal coisa, mas agora estava se aproveitando de uma situação que conseguiu visualizar. Se não fosse ela, outra o faria.
Girou de volta para Valkriar, encostando seu corpo no dele com um sorriso divertido, estava mesmo tentando seduzir aquele lorde, talvez ali estivesse sua maior oportunidade de negócio, um rei que estava disponível e ativamente não a jogava fora:
— Você não sabe onde está se metendo. — Sussurrou no ouvido da donzela.
— Ah, talvez o senhor não saiba. — Ela sorriu, se afastando novamente, antes de voltar para ele. — Cuidado, eu posso morder.
Uma aranha.
Era isso que ela era, uma aranha astuta:
— Você é realmente um pedaço de armadilha.
— Oh, assim me sinto ofendida, senhor, quero ser uma armadilha inteira… — Brincou com aquela fala, sempre com aquele rosto divertido, mas ainda cheio de malícia.
No fundo, Allysa estava se divertindo com aquela situação, não só apenas pelos negocios, mas pelo prazer de irritar os nobres com os quais era obrigada a interagir diariamente, com seus títulos pomposos, esfregando na sua cara que ela não era como eles.
Ela não tinha sangue nobre, não tinha nascido bem afortunada, tinha que lutar pelo seu pão até chegar ali.
Ela os odiava, os invejava, queria ser como eles. Ter respeito além de seu dinheiro, mas não negaria seu orgulho por ter conseguido, não se odiava nesse nível.
Vários olhares irritados de nobres estavam focados naqueles casais interraciais, enquanto os burgueses pareciam satisfeitos com tais misturas, o que arrancava um sorriso radiante da mulher astuta:
— Parece gostar dessa atenção, mas que seja negativa.
— Não odeio a monarquia, o rei Ricardo é sempre muito justo e bondoso, mas odeia a arrogância dos nobres, não de todos, mas principalmente da velha guarda. — Confessou enquanto uma nova música se iniciava. — A grande maioria não fez nada para merecer tal título e respeito, seus pais conquistaram.
Estavam se sentando, conversando como pessoas normais, devagar as palavras eram desmedidas, mais abertas de ambos, mas ainda sim, Valkriar sabia que aquela mulher tinha seus próprios objetivos, e ele era um deles:
— Mas falando de você agora… Os dracônicos não tem uma família real correto?
— Em tese, não tem atualmente, mas já teve, em algum momento. — Valkriar começou a explicar, com uma paciência que não era sempre reservada a todos. — Anos atrás, tínhamos uma familia real, mas após sucessivos golpes de estado, ela se perdeu quase que completamente.
— O senhor é membro da antiga família?
— Jamais, como o rei antes de mim, dei um golpe de estado, por isso minha posição sempre será ameaçada.
Allysa pensou um pouco, era uma situação delicada, um reino sempre cheio de problemas, com golpes e fragilizado sempre, mas ainda era uma oportunidade:
— Existe um modo de se estabilizar?
— Tendo uma família, na verdade, mesmo não parecendo, procriar e ter parceiros ajuda e muito a se firmar no trono, pois você tem outras pessoas após sua morte, eles não podem matar quinze pessoas não é? — Será que não? Sinceramente não foi quase isso que aconteceu com a primeira família?
— De fato, me parece um bom plano.
A música se encerrou, e logo aquele casal incomum se afastava da pista de dança, deixando aqueles olhares irritados para trás, a própria Vivany, que estava num canto mais afastado do baile, estava desgostosa com aquilo.
Mas não parecia ser só isso.
Ela estava frustrada com tudo aquilo, seus relacionamentos na corte e entre os nobres eram inexistentes, seu noivo mal lhe olhava diretamente, mal falava com ela, além de monossílabas as suas respostas:
— Você não vai me chamar para dançar? — Ela arriscou com um copo de bebida nas mãos.
Ela ainda estava em sua pose de nobre poderosa, tentava não se afetar com aquela situação horrível que ela vivia, que ela provocou, mas nunca iria admitir:
— Você quer dançar? — A resposta veio fria para ela, sequer a olhava diretamente.
— Olha senhor, precisamos fazer isso dar certo.
— Está dando certo, Lady de Navarra, esse foi o acordo. — Os olhos cheios de frieza do homem focaram em Vivany.
Sentiu aquele tremor pelo corpo, apertou ainda mais o copo entre os dedos, com impressão de que ele poderia quebrar, como ele ousava?
— Olha aqui…
— Mantenha o decoro, lembre-se, você se colocou nessa situação infeliz, não foi eu que te trouxe para cá, então se resguarde ao pouco de polidez e dignidade que ainda lhe sobra. — Aquela fala foi como uma facada no seu peito, arregalou os olhos para ele, sentindo aquele ardor das lágrimas.
Deixou o copo de lado, ajeitando seu vestido belíssimo, cravejado de pequenos brilhos, se sentia desrespeitada, não por ele, mas por ela.
Odiava admitir que ela foi a culpada por aquela maldita situação, um acordo de casamento sem amor, sendo excluída sem amigas naquele local, talvez devesse sumir, se enfiar no palacete de seus pais e fingir que morrerá de tristeza.
Talvez aquilo que acalmasse essa inquietação no seu coração.
Ele não a amava, era um acordo que iria lhe assombrar para sempre, como se deixou cair tão baixo? Os dois estavam mais afastados da festa, as vozes baixas não eram ouvidas por ninguém. Poderia se dar ao luxo de ficar realmente magoada com aquilo:
— Sobre o casamento, gostaria de deixar mais uma coisa clara. — Os olhos frios do homem se encontraram com os já cheios de amargor da sua noiva. — Sei que foi uma figura sempre presente de forma desgradavel na vida de meu amigo e de sua esposa, peço encarecidamente que pare com esse comportamento.
— Como?
— Ele é meu melhor amigo, parte integral de minha vida, eu estive presente em cada uma das percas e conquistas dele, sei muito sobre a vida conjugal dele.
Uma clareza iluminou o rosto de Vivany, percebendo em que armadilha tinha caído, aquele acordo de casamento não era apenas para lhe dar um herdeiro e ser uma mãe para sua filha.
Estava a tirando do jogo, da vida de Ricardo:
— Você armou para mim…
— Que linguajar baixo, senhorita. — Valdegar finalmente sorriu.
Um sorriso que não chegava aos olhos, frio e sem qualquer emoção aparente, quem sabe um divertimento por ela não ter reparado no que tinha se metido:
— Pode pular fora disso quando quiser, mas lembre do que assinou. — Ele definitivamente estava se divertindo com aquilo.
Uma diversão sombria que Vivany nunca presenciou. Subestimou aquele homem. Imaginou que ele era apenas um homem viúvo e amargurado, mas ele não era apenas isso.
Não.
Valdegar não era apenas o melhor amigo de Ricardo, jamais fora só isso, ele era a mente pensante por trás do reino, quem assinava acordos, quem revisava tudo que passava pelo rei.
Ele era a pessoa fria que mantinha as transações do reino estáveis:
— Se eu quebrar o contrato eu perco meu título! Não posso sair disso sem sequer lhe dar um herdeiro.
— E eu não tenho direito de acabar com esse noivado e casamento sob qualquer circunstância. Onde exatamente você sairia perdendo desse acordo?
Ele tinha razão, o acordo era desvantajoso para ele desde o ínicio, ela leu e releu e sempre pareceu que estava da vantagem, mas então ele deu aquela cartada: Ele foi frio, distante, mas não fisicamente abusivo, se ela falasse sobre isso com alguém, seria dada como louca.
Ele tinha tramado isso.
Fez uma armadilha perfeita que não poderia escapar sem danos permanentes à sua já degradada reputação.
Já era vista como desesperada, se saísse daquele noivado e casamento, seria vista como louca! Nunca mais se recuperaria:
— Você duvidou de mim, me tirou como um pobre viúvo triste e amargurado, achou que eu era bobo. — O homem se inclinou para perto da mulher, sussurrando em seu ouvido. — Estamos presos nesse casamento de merda, Vivany, seremos sempre um do outro.
Cerrou os punhos, pressionou os lábios, o rosto estava vermelho de raiva, um ódio e ressentimento que cresceu dentro de si, aquele homem ardiloso lhe prendeu naquele contrato com um casamento vazio e infeliz:
— Não me olhe assim “querida”. — Ele se afastou olhando seu rosto cheio de raiva. — Não deixarei faltar nada para você, mas garantirei que se arrependa para sempre de ser uma pedra irritante no sapato de todos.
Depositou um beijo no seu rosto, não foi um ato de amor, foi um deboche que ela entendeu bem:
— Eu odeio você.
— Eu também lhe odeio, minha linda noiva.
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