Volume 1 – Arco 5
Capítulo 55: Doces Momentos, Amargos Pressentimentos

Os olhos de Ahrija brilhavam passando pela enorme mesa de doces, segundo Quevel, deveria se comportar, e não pegar nada sem permissão.
Segurava a mão de sua amiga, da sua pessoa tão especial.
O brinco de dente de dragão ainda pendia na orelha da menina, que parecia ostentar com orgulho aquele presente, era o único presente que ela usava na verdade, não tinha como não sorrir com aquela situação:
— O que quer comer?
— Ah! Não tem aqueles de… Chocolate? Nunca comi.
Eliassandra fez uma careta automaticamente, claro que ele iria querer chocolate, toda criança gostava daquilo, menos ela! Chocolate era ruim para ela, então quase não tinham coisas a base daquilo:
— Acho que tem sim, uns docinhos, mas não quer outro?
— Elia… — Ahrija já estava fazendo biquinho, Eliassandra revirou os olhos e bufou.
— Certo.
Foi vencida, caminhando de mãos dadas até uma torre de bombons, precisou pensar bastante antes de finalmente pegar alguns de sabores diferentes e entregar a ele:
— Todos são chocolate, mas chocolate com algo, eles chamam de trufa, experimenta.
Ahrija estava animado, sorridente, pegou o primeiro, segundo sua amiga, parecia ser chocolate com morango, deu a primeira mordida, mastigou um pouco até engolir e sorrir feliz da vida, pareceu ter gostado, o que arrancou um sorriso de Eliassandra.
Logo ela mordeu uma das trufas, era de maracujá, ofereceu a outra metade para seu amigo, que logo aceitou sorrindo.
Era um momento fofo entre duas crianças, mas todos pareciam olhar meio… De lado para aquela situação, como princesa, tudo que ela fazia era visto e analisado. Para os burgueses, ela estava aos poucos firmando uma aliança com os dracônicos, para alguns nobres, ela estava poluindo uma boa linhagem.
Não importava se era uma pirralhinha de apenas cinco anos, já imaginavam futuros casamentos entre ela e qualquer um dos seus filhos, aquele garoto parecia atrapalhar tudo!
Quem não estava gostando nada daquilo era Ian, que estava vendo sua irmãzinha tão perto daquele garoto, até tentou se aproximar, mas seu amigo sempre impedia, dizendo que era bobagem.
E claro, Eliassandra e Ahrija não se importavam, estavam presos em seu mundinho infantil, provando doces enquanto conversavam e riam sobre dezenas de coisas bobas.
Claro, às vezes o assunto ficava sério, ao menos para eles, Ahrija estava sorrindo feliz falando do seu avanço,e como perdeu seu primeiro dente, exibindo alegremente, cheio de orgulho, a janelinha de seu dente:
— E eu pensei em dar para você depois do que o mestre falou! Afinal você é minha pessoa especial!
— Sabe que quer dizer isso de pessoa especial?
— Sim, quer dizer que gosto de você.
Simples assim.
Adorava a simplicidade de seu amigo, sorriu como ele era sempre animado de um jeito que não conseguia acompanhar, mas ainda sim…
— É bom ficar com você, senti sua falta, largatinho. — Eliassandra sorria daquele jeito contido comum a ela, mas agora estava menos frio.
Quase parecia uma criança normal, comendo doces com seu amigo, se não fossem todas aquelas jóias e vestido pesado, que claramente incomodava, mas tentava manter a pose, era seu aniversário afinal, precisava ser agradável.
Sua paz foi abalada quando outras crianças se aproximaram, sorrindo falsamente para falar com ela, mal lembrava o nome deles, só que alguns enchiam a Daphne. Logo o sorriso já contido de Elia sumiu, encarando aquelas crianças com seu olhar frio e indiferente:
— Boa noite, princesa Eliassandra. — Aquela garotinha irritante saudou, ignorando completamente Ahrija ao seu lado.
Ao poucos, como se fossem treinados, instruídos a tal, começaram a cercar Eliassandra, afastando Ahrija, que franziu a testa.
Tinha sido avisado por seu mestre que aquelas crianças poderiam agir assim, que Elia era uma princesa e muitos iriam querer falar com ela, só não pensou que seria completamente afastado assim, completamente de graça!
Se fecharam ao redor dela, sequer conseguia ver ela ali dentro daquele cerco, e eles pareciam fazer desse modo de propósito, talvez… Fosse melhor se afastar. Seus ombros caíram, na sua mente infantil já pensava que talvez sua melhor amiga não gostasse mais de si.
Deu um passo para trás, pronto para se afastar, mas sua mão foi segurada, puxado para perto, e Elia estava ali, com um olhar levemente irritado enquanto se punha ao lado dele:
— Elia…
— Esse é Ahrija, meu melhor amigo, e a minha pessoa especial, gostariam que mostrassem decoro e educação por ele.
As crianças sorriam sem jeito, claro que já tiveram contato com a princesa, mas não imaginaram que ela iria tão longe de chamar um dracônico de “pessoa especial”, mas talvez ela apenas não entendesse o peso de tal expressão, era tão pequena.
Mas agora Ahrija sorria com o peito estufado, feliz da vida por ela reafirmar que era sua melhor amiga e também era a pessoa especial dela. Apertou a mão dela, com aquele sorriso cheio de orgulho que apenas uma criança de seis anos poderia ter:
— Princesa… Mas esse garoto é um…
— É meu melhor amigo. — Eliassandra reafirmou aquilo.
Não tinha como Ahrija sorrir mais, estava nas nuvens com aquela defesa de Elia, como se ela reafirmasse que ele era a pessoa mais importante que tinha ali, se sentia assim naquele momento.
Quem não estava gostando nada era o dracônico dourado, que estava encurralado pelo vermelho trocando olhares raivosos com ele:
— Você não pode continuar com esse teatro.
— Você não vai fazer uma cena no aniversário da amiga do meu aprendiz. — Quevel rosnou aquelas palavras, olhando o lorde de seu povo revirar os olhos.
— Ela é humana.
— Não.
O clima entre os dois estava tenso, mas os outros presentes pareciam ignorar aquela situação, afinal o que poderiam fazer? Eram duas pessoas de mesma raça brigando, então não poderia ser algo que afetasse a todos, a menos que escalasse para algo mais exaltado:
— Não pode esconder ele de todos sempre, o garoto merece saber…
— Merece estar envolvido das tramoias do nosso reino? Naquela violência e intriga que estão rolando a mais de cem anos? — Quevel rebateu.
— Ele é um de nós, acha que ele é melhor que nós?
Quevel ficou em silêncio.
Aquilo bastou para enfurecer ainda mais o Dourado, segurou o pulso do Vermelho, olhando nos olhos dele, como se tivesse capacidade de intimidá-lo:
— Eu ainda sou seu rei. — Sibilou como uma cobra para o curandeiro.
— Você não manda em mim, Valkriar, não aqui.
O peso daquelas palavras pareceu deixar o ambiente silencioso, apertando mais o pulso do outro, que sentia sim dor, mas apenas sustentava o olhar firme, com dor ou não, era uma disputa silenciosa:
— Senhores, algum problema?
As cabeças se viraram em direção a Ana Bael, uma mulher pequena, olhando para os dois sorrindo de um modo quase assustador, era curioso como aquele corpo diminuto conseguia impor um respeito que muitos sonhariam em ter:
— Nada, Lady Ana. — Valkriar tentou disfarçar, enquanto Quevel puxava seu pulso do agarrão.
— Foi o que pensei, afinal vocês não seriam loucos de estragar o baile da minha enteada, correto?
Os dois dracônicos engoliram em seco, era uma cena engraçada, ver aquela pequena mulher intimidar completamente dois homens com mais de 1,80 com um olhar e um sorriso como quem sabe degolar alguém.
Porque ela sabia.
E como sabia fazer tal coisa:
— Não, Lady Ana. — Quevel deu aquela garantia enquanto massageava o pulso dolorido pela mão enorme de Valkriar lhe apertando.
— Então o senhor Quevel não se importaria em me conceder uma dança, correto?
A mão da lady estava estendida, Quevel não poderia recusar, mesmo que a contragosto, aceitou aquela… Intimação, tal qual duas crianças separadas após uma briga. Conduziu a dama pelo salão até a pista de dança:
— Não sabia que tinha problemas com o lorde Valkriar.
— Todos os dracônicos têm problemas uns com os outros, somos um povo formado por clãs afinal.
Ana Bael soltou uma risada divertida daquilo, para ela foi uma piada engraçada, mas Quevel não entendeu o porque daquilo:
— Não é isso, mas mesmo sendo raças diferentes… Ainda temos o mesmo problema de ser um ninho de cobras em todo lugar. — O sorriso estava estampado no rosto enquanto falava isso.
E ela não mentia, sinceramente, naquele salão todos faziam o que podiam para se destacar, ter relações, manter as posições, cada um lutava pelo seu próprio status. Quem tivesse um pouco mais de discernimento perceberia que aquele local era quase um campo de guerra.
Era uma guerra fria, silenciosa, humanos mais conservadores contra as outras raças, nobres tentando chamar atenção dos reis, burgueses lutando entre si de forma silenciosa para saber quem teria mais relações travadas ali, tudo contava.
Sorrisos bem colocados, palavras bem ditas, tudo isso eram armas na guerra por poder e influência que todos travavam.
Quer dizer, quase todos, pois para Elia e Ahrija, aquilo era completamente fora de momento.
Eram apenas duas crianças aproveitando uma festa grande demais de pessoas que se divertiam fazendo coisas que sequer se importavam.
Elia sabia que ali estava sendo travada entre os adultos, ela só não se importava ativamente, seus irmãos pareciam estar se divertindo com seus pares, e ela se divertia com aquele pirralho sedento por chocolate que lhe arrancava algumas risadinhas.
Falando nos seus irmãos, enquanto olhava eles de onde estava, perto da mesa de doces, reparou numa coisa: Eles tem alguma preferência esquisita por orelhudos? Os dois estavam com elfos, ou variantes destes:
— Elia? Elia!
— Hm? Que? — Elia voltou a olhar seu amigo, estava perdida em suas próprias indagações.
— Esse aqui, é de que? — Mostrou um doce de maracujá que tinha pego.
Elia encarou o doce, depois seu amigo e sorriu, sua mente agora estava formulando o maior e mais audacioso plano para chocar a todos os presentes:
— Ahrija, quer dançar comigo?
O pedido surpreendeu o pequeno dracônico, piscou sem acreditar, claro, tinha treinado bastante, sentia que podia a acompanhar, mas ainda sim… Não pensou que seria ela a convidar! Estava se preparando para fazer isso! Ela estragou tudo!
Fez bico pensando naquilo, virando o rosto emburrado, e Elia não entendeu, colocando a cabeça para o lado:
— Não quer dançar?
— Eu queria te convidar… — Resmungou no seu bico.
Aquilo confundiu Elia, será que era aquilo que já tinha ouvido de homens? Que eles queriam tomar a iniciativa? Mas ele tinha SEIS ANOS, não deveria estar reproduzindo esse comportamento tão cedo!
— Então… Não vai me chamar?
O rostinho infantil de Ahrija se iluminou, tinha treinado tanto para aquele momento, queria ter o privilégio de convida-la para dançar. O garoto engoliu seus doces, limpou as mãos num guardanapo, respirou fundo e fez uma reverência:
— Princesa Eliassandra, gostaria de dançar comigo?
Ele realmente estava formal, era até fofo de ver, sorrindo para ele, aceitando sua mão, levantando um pouco o vestido e fazendo uma reverência também:
— É claro que sim, senhor lagartinho. — Parece que o apelido para ela iria pegar, gostava de chamar ele assim.
Logo os dois estavam seguindo para a pista de dança, fazendo não apenas os nobres, mas os burgueses pararem, até mesmo os dois príncipes pararam de conversar para ver aquilo: A princesa Eliassandra, conhecida por sua frieza, estava ali sorrindo e dançando com um garoto dragão bem animado, sequer poderiam imaginar aquela cena.
Os dois estavam indo bem para crianças, na verdade, Ahrija a condizia muito bem, já que Elia não era a melhor dançarina que podiam dizer, mas com a ajuda do garoto, até que disfarçava bem, mas aquela não era coisa mais surpreendente.
Ela estava sorrindo.
Sorrindo de verdade, com o rosto infantil, sem aquela frieza que a acompanhava toda vez, sem um sorriso que não chegava aos olhos.
Agora estava muito mais leve, e até dava uma risada descontraída:
— Elberony… Quer dançar? — Ian pediu.
Seu rosto estava contorcido num tipo de ciúmes de sua irmãzinha mais nova, Elberony riu, segurando a mão dele e puxando para perto da mesa de doces:
— Deixa sua irmãzinha em paz. — Sorriu pegando um doce de fruta e oferecendo ao seu amigo. — Só deixa ela se divertir um pouco, não vi ela sorrindo assim o baile todo.
Ele tinha razão.
Ian tinha completa noção que ele tinha razão, mas céus, não conseguia parar de pensar que sua irmãzinha estava dançando e rindo com outro garoto! Era sua irmãzinha!
Ficou ali, remoendo aquela cena, mas ao menos estava comendo e bebendo sem interromper o momento de sua irmã mais nova, o que fez, do outro lado, Ferrer, o mais velho, levantar a sobrancelha.
Que relação estranha entre os dois hein? Mas ele estava mais ocupado em dar atenção a sua acompanhante, que sorria boba por apreciar o baile.
Ela era mesmo bonita, e tão… Encantadora, se sentia completamente envolto pela aura que ela tinha ao redor de si, como alguém poderia tratar mal ou desdenhar daquela moça tão gentil e calma? Ele mesmo sentia que poderia fazer tudo por ela… Era isso que é estar apaixonado?
— Alteza?
— Sim.
Ferrer estava prestando atenção em sua acompanhante, mesmo que um tico fora de órbita, então foi simples para ele responder seu chamado:
— Muito obrigada por ser meu acompanhante, eu estou muito feliz hoje. — E tinha aquele sorriso que fez as batidas do príncipe mais velho vacilar.
Não entendeu totalmente o que ela falou, então teve que fazer um pequeno jogo de adivinhação rapido para entender por que ela estava agradecida, mas parece que sua acompanhante reparou:
— Eu estou feliz, Ferrer.
Ela se esforçou para falar aquelas palavras com um forte sotaque élfico, algo que atingiu em cheio o coração de Ferrer.
Como ela podia ser tão fofa?
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