Volume 1 – Arco 5
Capítulo 54: A Noite Alcança a Floresta

A dança entre a família seguiu-se belamente, quando acabou, outros casais começaram a tomar conta do salão de dança, mas ainda faltavam alguns presentes, talvez os mais importantes da noite.
Mitra, a rainha dos elfos da floresta se aproximou sorrindo com seus dois filhos gêmeos, o garoto era mais tímido, sorria contido, já a menina parecia ter mais energia do que deveria, para Eliassandra, ela parecia um filhote pequeno:
— Boa noite princesa Eliassandra. — A rainha falou com aquele sotaque forte, mas ainda sim entendível.
Parecia que realmente eles eram mais próximos dos humanos, esperava que eles não tivessem perdido totalmente o idioma nativo assim como os humanos perderam:
— Seu presente! — Ofereceram os gêmeos juntos, com aqueles sorrisos cheios de esperança.
Aquilo era mais um presente que faria a rainha Elengaria surtar: Um arco elfico, perfeitamente refinado, claro, grande demais para Eliassandra, mas ainda sim… Era um presente a altura de uma princesa como ela:
— É lindo. — Eliassandra agradeceu com um sorriso, mesmo que arcos não fossem exatamente sua praia, mas espadas também não eram e cá estamos nós, experimentar coisas novas. — Eu adorei.
O sorriso não se comparava a ganhar àquele brinco do dragão, o que reforçava uma teoria boba na cabeça dos gêmeos elfos: Eles eram um casal, ou ao menos estavam sendo prometidos um para o outro.
Mas não falariam nada… Ainda, mas saibam que eles têm muitos pensamentos sobre isso, não entendiam bem a cultura humana ou dracônica para saber que não era nada daquilo.
O monarca do pico da lua observava sua pequena filha se aproximar e estender para a pequena princesa uma caixa menor, quando foi aberta aquele brilho arroxeado do pico da lua chamou atenção de todos, eram pedras brilhantes.
Conseguia ver o rosto incrédulo de Eliassandra, ela sabia mais do que falava, afinal como ela saberia que aquelas pedras eram tão importantes? Aquilo era uma oferta de aliança entre dois mundos tão distintos:
— Está ofertando sua aliança assim, monarca da lua? — A voz da rainha élfica chegou aos ouvidos do monarca.
Dois elfos que levavam vidas diferentes, ambos reis de seus reinos, ambos com suas responsabilidades, e naquele momento, o rei apenas sorriu, estendendo a mão para a rainha:
— Não quer conversar na pista de dança? — Ofereceu sorrindo.
Mitrya encarou a mão por um tempinho antes de aceitar com receio, faziam anos a fio que aqueles dois reinos não se falavam, e agora estavam ali, dançando ao som da música humana que tocava.
Não podiam discordar que eram lindos dançando, a luz pálida do monarca da lua iluminando aquele olhar caloroso da rainha da floresta, o vestido da senhora rodopiava junto com os corpos dos dois, tão sincronizados.
A luz da lua iluminava a floresta solitária de tal modo que mais ninguém dançava, apenas os dois, enfeitiçando os demais convidados do baile:
— Estão todos olhando, monarca. — Mitrya avisou.
— E qual o problema? Como rainha já deveria estar acostumada não?
Eram raras as vezes que se via um sorriso de verdade no rosto do monarca, naquele rosto pálido, era uma situação tão atípica, talvez aqueles expectadores nunca mais veriam algo parecido, nem mesmo os filhos do monarca, ou os maridos de Mitrya:
— Você está radiante esta noite, majestade.
—- Você também está bem bonito hoje, mesmo sendo um homem das cavernas.
Ambos deram uma risada daquilo, ao fim da música, deveriam se separar, mas ao invés disso, apenas aproveitaram outra dança, não seria tão cedo que teriam aquela oportunidade de conversar entre eles:
— Você parece querer falar algo, majestade. — Mitrya comentou após longos instantes vendo as sobrancelhas meio tensionadas.
— Não é nada, só… Sinto que não deveríamos estar tão distantes.
— Você sabe o por que somos afastados. — A rainha dos elfos da floresta cortou.
O monarca suspirou, não poderia dizer que não entendia o que ela queria dizer, de fato eles tinham motivo para estarem afastados naquele momento.
A música continuava calma, mas aqueles dois não sabiam mais o que falar, mesmo que tenham se reencontrado após tanto tempo, ainda tinham muitas palavras não ditas entre dois antigos… Algo, mas era claro que aquele não era o primeiro encontro dos dois.
Talvez fosse o último, não queriam estragar aquele momento entre os dois.
A música finalmente acabou, os dois se encararam pelo que pareceu uma eternidade, e então se afastaram, sem sequer uma reverência final.
Deram as costas um para o outro, voltando para as suas famílias, Lysareths, um dos maridos de Mitrya se aproximou, segurando a mão de sua esposa:
— Ele disse algo que não lhe agradou? Se quiser…
Mitrya segurou a mão do esposo e trouxe até seus lábios, beijando levemente, o calando na hora, com seu rosto e orelhas corados:
— Céus, se não queria, não precisava disso. — Lysareths riu sem jeito, como um adolescente encabulado.
Uma mão maior apertou o ombro do elfo de pele escura, o fazendo dar um pulinho de susto:
— Ainda acho incrível como você se assusta com tão pouco. — Mervus falou naquele tom élfico impecável.
A rainha élfica não conseguiu conter uma risadinha, quando seus dois maridos começaram uma conversa divertida, um sempre provocando o outro com cutucões, eram mesmo mais que o harém, eram parceiros, amantes, ali existia um laço muito maior do que o matrimônio.
A rainha tinha um olhar saudoso, longe, sorria olhando os dois que estavam conversando com aquela brincadeira:
— Mitrya, o que foi? — A voz de William chegou aos ouvidos da rainha dos elfos da floresta. — Está pensativa…
— As vezes… Me pego pensando como seria se as coisas fossem diferentes.
— Diferentes como?
A rainha sorriu, segurando a mão de seu marido, não podia mudar o passado, mas poderia garantir um futuro melhor para si e para seu reino com novas alianças que pudessem assegurar segurança e influência:
— Não importa agora, não foi diferente. Vamos focar no agora.
— Mitrya…
William tentou chamar sua atenção, mas a rainha élfica apenas puxou sua mão, o trazendo consigo para a pista de dança, definindo o ponto final daquela conversa, ele iria ter que aceitar aquilo.
Se ela não queria falar, ela não falaria.
Os olhos do rei dos elfos lunares ainda encaravam o salão cheio de pessoas, dançando, conversando, até mesmo a pequena princesa que agora estava com um pequeno dracônico e sua filha, ainda sem jeito, mas interagindo:
— Papai, por que dançou com a rainha da floresta? — Amashis perguntou meio curioso.
O idioma élfico se destacava no meio do idioma comum, era mais rebuscado, até mesmo formal, pareciam cantar no meio do salão, algumas pessoas olhavam maravilhadas, outras com certa repulsa, mas isso não afetava os nobres lunares:
— Não odiamos os elfos da floresta, querido, só temos ideologias distintas.
Talvez o que mais distinguia dos dois, era o matrimônio, enquanto para os elfos da floresta, casar era uma obrigação do monarca da floresta, para passar adiante aquela linhagem, para os elfos da lua, matrimônio era uma dádiva que um rei não poderia ter.
Como uma lua, precisava ficar solitário no céu, sendo adornado pelas doze constelações que enfeitavam o céu.
Não pediu para ser rei, foi escolhido para carregar o fardo de nunca poder desfrutar o que era um amor romântico, ter que deixar tudo de lado em nome do reino, em nome de todos os súditos.
Para os elfos da lua, monarcas não eram nada mais que servos do reino, ditos como os elfos mais próximos da deusa lunar, precisavam se manter puros e longe de distrações, era por isso que não se casavam, por isso seus filhos eram todas crianças que passavam por alguma fatalidade e nasciam no mês certo, abençoados por aquela constelação específica.
Assim era sua família com seus doze filhos, sua linda filha Seraphs, a sétima, representada pela constelação do Anjo ainda estava grudada ao primeiro príncipe do reino humano, claro que tinha notado que tinham algo ali… Esperava que ela nunca fosse escolhida para ser uma monarca da lua.
Já sua filha mais nova, Mizandra, estava finalmente se aproximando da princesa humana que não era mesmo nada do que imaginava, não era uma criança mimada e chata, apenas… Chata segundo sua caçula.
E seu filho mais velho, o primeiro, o destinado… Esperava que ele nunca se apaixonasse e nunca passasse pelo que ele passou quando precisou abrir mão de seu amor pela liberdade para ficar preso ao posto de monarca até o fim de sua vida:
— Pai? — O garoto chamou o pai de olhar perdido.
O monarca sorriu, colocando a mão no ombro de seu filho, se pudesse, gostaria que aquele legado da lua morresse consigo e seu filho jamais arcasse com aquele peso que a coroa lhe dava.
Só queria a liberdade de seus filhos.
Mizandra estava ouvindo a conversa entre o garoto dragão e a pequena princesa humana, na verdade, quase um monólogo, afinal o garotinho, que ainda não sabia o nome, falava sobre suas experiências sem parar, enquanto Eliassandra, a princesa humana, apenas balançava a cabeça concordando com o que ele falava.
“Que garoto tagarela.” — Pensou a pequena elfa. “E como ela aguenta?”
Mas tinha uma pequena questão entre os dois: Mizandra mal entendia o que ele falava. Ambos estavam falando em comum, entendia uma palavra ou outra, tentava não demonstrar, mas sentia um pouco de exclusão ali.
A visão que tinha da princesa era aos poucos destruída, achava Eliassandra um saco, irritante e distante, mas talvez só não tivesse proximidade. Ainda sim, ela falava pouco e ouvia mais, mas ainda sim, seus olhos vagavam pelo rosto do amigo.
Ahrija era falante, animado, um completo oposto do que esperava de um amigo dela, achava que todos seriam distantes como ela, mas não, ele era mesmo um solzinho perto de uma lua solitária.
A princesa era mais lua do que ela pensava, e ainda tinha aqueles olhos bicolores, um como sangue que corre nas veias humanos, e o outro como um céu ensolarado, e uma estrela no centro que servia de pupila, e nos braços estava aquele coelho de antenas que não conseguia entender.
Ele parecia ser uma espécie de familiar, mas ainda sim não conseguia entender o que era:
— Quem é essa? — Ahrija finalmente perguntou.
— Essa é a princesa Mizandra. — E então virou para Mizandra. — Esse é o Ahrija, meu melhor amigo.
O rosto de Mizandra se iluminou sem nem reparar, os olhos brilharam quando ela finalmente falou diretamente com ela:
— Prazer.
— O que ela está falando? — Ahrija questionou.
— Ela não fala nosso idioma.
Finalmente caiu a ficha para Eliassandra que aquela situação era insustentável a longo prazo, esperava que a princesa élfica aprendesse logo o idioma comum.
Ou Ahrija aprendesse élfico, qualquer coisa que facilitasse a convivência, mas por hora podia fazer aquele esforço para que ambos se dessem bem:
— Então você vai ficar traduzindo de um pra outro?
— Que escolha tenho?
De fato, Eliassandra não sabia bem outro modo de deixar eles conversando sem aquilo, seria cansativo? Sim, mas só podia fazer isso:
— Com licença, você também fala élfico? — A princesa dos elfos da floresta sorriu.
Ela era mais alta que Mizandra e também tinha uma paleta bem mais clara que ela, os cabelos prateados reluziam nas luzes do palácio, e seus olhos cor de sol chamavam a atenção de todos. Não seria errado dizer que era uma das mais belas crianças daquele local:
— Alteza. — Rapidamente Mizandra fez uma reverência, mas a outra deu risada, dispensando com a mão.
— Não precisa disso. Somos amigas, não somos?
Aquela simplicidade surpreendeu até mesmo Eliassandra que estava crente que tinha se acostumado com o jeito infantil das crianças, mas como poderia? Estava aprendendo até agora o que era ser criança e ter uma infância de verdade.
E aparentemente estava falhando.
Aura, a princesa de cabelos prateados segurou as mãos pequenas de Mizandra, a puxando para a pista de dança entre o intervalo das músicas.
A lunar ainda estava meio travada, talvez com medo de fazer algo errado, enquanto a elfa da floresta ria divertida, dançando até bem demais no ritmo da música, bem que diziam que aquele povo dançava bem.
Logo a própria princesa da lua ria, sendo girada pela mais alta ao ritmo da música, os olhares estavam novamente na pista, afinal todos sabiam da pequena richa que aqueles dois reinos possuíam desde sempre, e ver aquilo era novo:
— Não sabia que falava élfico. — Ahrija finalmente disse.
— Tem muita coisa que não sabe sobre mim, dragãozinho. — Eliassandra brincou segurando a mão do amigo. — Vem, vamos comer algo doce.
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