Volume 1 – Arco 5

Capítulo 53: Apesar de Tudo, Feliz

 

Ahrija estava tentando não tremer, mas ver o sorriso animado de Eliassandra, seu corpo relaxou, aquelas pessoas poderiam o julgar, mas sabia que sua melhor amiga nunca faria isso:

— Feliz aniversário Elia. — Não se importou em manter aquela pose, ouviu as exclamações de surpresa.

A pequena princesa desceu do seu trono e andou rapidamente até seu amigo, pouco se importava com presentes, com regras de etiquetas, só sentiu falta de seu amigo.

Ahrija riu, abraçando sua amiga, girando ela no ar com aquela força que estava desenvolvendo aos poucos, ela era tão pequena que parecia uma pena:

— Senti taaaaanta falta sua! — Admitiu o pequeno dragão.

— Eu também senti saudades. — Elia admitiu.

Aquela foi a primeira vez que muitos viram aquela princesa rir daquele modo, tão solta e tão… Solta, claro que haveriam cochichos sobre aquele garoto estranho e plebeu que chegou e sua relação com a princesa de olhos frios e indiferença, e agora estava ali abraçando ele.

Eliassandra percebeu aquilo, mas pouco se importava, não era nenhum exemplo de princesa:

— Eu te trouxe um presente!

A empolgação dele fez com que a princesa engolisse suas palavras de “Não precisava”, mas para ele definitivamente precisava.

Ahrija pegou do chão o pacote que caiu no chão naquela animação de duas crianças sorridentes, e entregou a Elia.

Não era algo grande, Elia não esperava por isso na verdade, e quando abriu seus olhos se arregalaram:

— Um brinco de dente? — Um murmurio se fez presente.

— Um dente de dragão? Ele está dando um dente de dragão para uma humana? — A voz mais alterada era de Valkriar, encarando Quevel.

— O primeiro dente dele. — Quevel respondeu, ainda segurando o braço do lorde dos dracônicos.

Eliassandra e Ahrija pareciam agora alheios as pessoas ao redor deles, os olhos bicolores da princesa ainda estavam completamente maravilhados:

— Mas… Ahrija, tem certeza? — Perguntou sem acreditar, ainda olhando o brinco.

— Sim! Você é minha pessoa especial!

A fala pareceu inocente, mas enquant Ana Bael e Leopolda sorriam achando a coisa mais linda e fofa do mundo, Ricardo e Ian sentiram aquela pontada de ciúmes de sua menininha está sendo… Cortejada? Será que aquilo poderia ser chamado de cortejo? Aquele garoto deveria ter uns seis, no máximo sete anos! Mas ainda sim estavam se incomodando com aquilo, seja lá por qual motivo!

E claro, seu irmão e pai quase demonstraram que aquilo incomodava enquanto viam sua pequena garotinha tirar o brinco brilhante que usava para colocar o que seu amigo deu:

— Você também é minha pessoa especial, Ahrija.

Ah mas aquilo fez seu pai segurar a mão de sua mãe que apenas fazia um som de fofura vendo aquilo.

Eliassandra olhou para trás de Ahrija, vendo aquela fila ainda enorme, pessoas que ainda dariam presentes para ela, que… Coisa chata. Então olhou para o enorme trono que estava sentada anteriormente.

Repassando em todas as regras de etiqueta, não existia nenhuma que impedia a ideia que teve naquele momento, segurou a mão de seu amigo, puxando para o trono que era grande o suficiente para duas crianças:

— Isso é certo?

— Quem se importa? Eu sou a princesa. — Elia apenas respondeu, subindo de novo no trono, flutuando sem problemas.

Ahrija também se rendeu, sentando ao lado dela, claro, todos estavam encarando aquela cena tão incomum, nenhum dos outros dos filhos sequer pensou nisso.

Nem mesmo o impetuoso Ian aprontou uma daquelas! 

Parece que quanto mais novo o filho do rei, mais puxavam o temperamento de juventude que o monarca tinha. Talvez fosse o karma finalmente o alcançando para o fazer pagar pelos cabelos brancos que deu aos seus pais.

Elengaria por outro lado estava achando… Estranho, claro que achava fofo ver sua filha ter algum amigo, a única amiga de Eliassandra era Daphne, porque ela não podia fazer outra amizade comum? Ou talvez apenas devesse apenas aceitar que sua filha era diferente do que esperava de uma criança.

Tentava não ser controladora, deixar ela florescer, mas era complicado quando perdeu tantas crianças antes de Eliassandra, e ela parecia tão despreocupada com o perigo que lhe cercavam.

Via aqueles olhares julgadores para sua pequena criança, que recebia os presentes com um plebeu de outra raça sentado ao seu lado, mas mesmo assim, mesmo naquele momento, sua pequena parecia tão… Forte. Os olhares não pareciam lhe afetar, sequer mostrava reação para eles.

Logo aquela pilha de presentes estava enorme, não sabiam, mas Elia tinha feito uma divisão mental entre os presentes que realmente importavam para si e os que eram apenas jóias que provavelmente só iria usar quando fosse necessário, como uma festa dos nobres.

Ainda estava levemente irritada em ganhar um ducado, o que raios faria com isso? Nem sabia como administraria tal lugar, mas o que poderia fazer agora além de aceitar os laranjas da vida?

Por outro lado, Ahrija estava radiante, não entendia bem o que aquilo influenciava politicamente naquele momento, não sabia como aquele ato era visto, só estava feliz por sua amiga estar ali junto à si.

Ele era o melhor amigo da Elia, não a princesa Eliassandra, não a garota de olhos frios, apenas sua melhor amiga de comportamento esquisito que sempre parecia ser disposta a estar com ele, aquele momento duraria pouco, então iria aproveitar:

— Sua irmã arrumou um amigo e tanto. — Elberony sorriu perto de Ian.

O principe do meio ainda estava com os punhos cerrados encarando aquela cena, com uma pitada de ciúmes daquela situação, virou o rosto para seu acompanhante com certa raiva:

— Não começa.

— Não falei nada. — Cantarolou o meio elfo para o príncipe.

Ian revirou os olhos ainda irritado, não podia acreditar que aquele dragãozinho estava tão próximo da sua irmãzinha:

— Eu não trouxe presente, tem problema?

Aquilo fez o príncipe do meio focar nele, desfazendo a carranca de ciúmes dele para algo meio incrédulo, por que ele não falou logo!?

— Se você vai me dar um presente para dar pra ela, não é presente meu, e sim dela. — Ele reclamou, mas já estava sendo puxado por Ian.

Mais algo que iria claramente chamar a atenção dos outros presentes, o que iriam pensar com duas pessoas que dançaram juntas saindo daquele jeito? Claro, não era algo que Ian pensava nesse momento, ou… Pensaria em qualquer momento, o que fez seu irmão mais velho dar um suspiro.

Seus irmãos não são muito focados em seguirem a etiqueta, ele jamais sairia dali com um evento tão importante quanto o baile de aniversário de cinco anos de sua irmãzinha querida.

E depois… Nunca iria desonrar Seraphs, ficar perto dela era realmente agradável, ela passava uma aura de encanto que nunca tinha sentido ou visto com qualquer dama da corte, seria isso que seu pai falava sobre paixão à primeira vista?

Ainda não conseguiam se comunicar em plenitude, não sabiam totalmente o idioma um do outro, mas ainda era bom ter ela por perto, mesmo que não estivesse totalmente concentrado nela prestando atenção ao redor:

Alteza? — A voz de Seraphs o chamou de volta, ele sorriu para ela, enquanto observavam outras pessoas darem presentes.

A maioria sequer arrancava uma reação de sua irmã, era quase triste ver como eles queriam impressionar:

— Heh, uma princesa amiga de dragões, um príncipe fugindo com mestiço? Esse reino já foi melhor. — Aquela fala fez Ferrer virar a cabeça em direção ao nobre.

A vítima era um conde de aparência esnobe, pediu licença a sua acompanhante e se aproximou do conde:

— Não pude deixar de reparar que estava se referindo aos meus irmãos mais novos, como irmão mais velho, acho que sou responsável por eles, pode ,por favor, repetir o que disse para mim? — Pediu com aquele sorriso calmo e frio que aquele príncipe entregava sempre que estava irritado.

O conde sabia que agora teria que pesar bem suas falas naquele momento, qualquer coisa poderia resultar numa retaliação por parte do príncipe Ferrer, que claramente entendia mais de política que seus dois irmãos mais novos.

Ele era considerado frio e calculista pelos outros, como se todos os seus passos sempre fossem calculados, e talvez fossem, mas não podiam provar:

— Perdão, alteza.

— Foi o que pensei. 

Dito isso, ele se virou para se afastar do conde, deixando ele sozinho remoendo suas dúvidas, ninguém iria contra ao filho mais velho do rei, mesmo que não fosse mais o herdeiro, ainda sim ele tinha prestígio, mais que sua irmã.

Seraphs por outro lado sequer entendeu o que foi falado, mas ainda sim ficou impressionada com a mudança de postura que ele teve, até parecia mais velho, forte… Uau, como poderia não sentir atraída por aquele príncipe humano que mal conhecia? Não era amor.

Reconhecia isso.

Mas ainda sim sentia uma atração por ele.

Não entendia bem como se sentia em relação aquilo, mas por que iria ir contra? Era bom sentir aquilo:

Isso foi bem legal, alteza. — Ela falou naquele idioma tão melódico.

Aos poucos, Ferrer parecia gostar cada vez mais daquele idioma, ou será que seu coração de gelo estava finalmente sendo derretido pela linda elfa de pele preta? Não saberia dizer por hora, mas estava adorando sentir aqueles sentimentos.

Seu irmão, Ian, estava voltando com seu amigo mestiço, segurando a mão dele, que segurava um outro pacote de formato suspeito:

— A Lady Elengaria vai surtar. — Ele disse com um sorrisinho enquanto seu irmão deixava o pobre Elberony na fila.

Eliassandra estava deixando mais um presente de lado quando o mestiço amigo de seu irmão mais velho lhe entregava um pacote de formato suspeito.

A rainha prestou atenção naquilo enquanto sua filha abria uma… Adaga? Claro, nas mãos de uma criança pequena mais parecia uma espada. Elengaria arregalou os olhos sem acreditar:

— Uma adaga anã! — A pequena princesa exclamou.

Era uma arma pesada, precisava das duas mãos para segurar, a lâmina reta e grossa definitivamente faria um estrago quando atingisse alguém.

 O sorriso encantado da princesa era um marco que todos pareciam querer alcançar, e aquele mestiço conseguiu, mesmo que não tenha sido ele que arrumou aquilo:

— Obrigada senhor Elberony. 

— A alteza sabe meu nome? 

— Claro, sempre sei os nomes dos amigos íntimos dos meus irmãos.

Eliassandra não entendeu.

Ahrija não entendeu.

Mas o rosto do meio elfo ficou vermelho, fez uma reverência e foi para perto de Ian que ria divertido daquilo, era uma cena engraçada já que eles tinham quase dez centímetros de diferença de um para outro.

Parece que depois de tanto tempo, finalmente os presentes tinham acabado, a princesa e seu companheiro de trono não aguentavam ficar parados, mas ainda faltava alguém, seu irmão mais velho que se abaixou na altura dela, sorrindo com uma caixinha:

— Feliz aniversário, irmãzinha.

Abriu a caixa revelando um anel, maior do que caberia no dedo de Eliassandra, por isso estava numa corrente como um colar, ela tinha uma memória boa o suficiente para perceber que aquele era o mesmo anel que Ferrer e Ian usavam, idênticos:

— Ferrer…?

— Bem vinda a família, Eliassandra. — Declarou antes de abraçar sua irmãzinha sempre tão distante emocionalmente de tudo. — Posso roubar minha irmãzinha por um momento, sir Ahrija?

— A-Ah? Certo! — Ahrija respondeu percebendo que era para ele.

Observou sua melhor amiga, com o colar do irmão no pescoço e com seu brinco na orelha, e ela parecia não se importar por estar usando aquilo, quer dizer, ela pareceu gostar então ela ao menos gostava. A música se iniciou novamente, a os dois irmãos começaram a dançar juntos.

Era algo engraçado, afinal eles tinham uma diferença clara de tamanho, mas isso não afetava os dois irmãos que riam daquilo, parecia uma brincadeira de criança entre os dois.

Ian se apressou para junto de seus pais, mas ao contrário do que imaginaram, estendeu a mão para Lady Elengaria:

— Me concederia essa dança, minha rainha? 

Era difícil ir contra ao sorriso espirituoso de Ian, com uma risada, a rainha aceitou a mão de seu enteado para dançar com ele:

— É difícil resistir ao seu charme, querido Ian. — Admitiu. — Sua futura esposa ficará encantada com você.

— Sim, eu espero. — O sorriso foi forçado, não que Elengaria iria reparar, não conhecia o suficiente seu enteado.

Mas aquilo era algo apenas de Ian, não entendia bem o que sentia sobre casar, estava quase aceitando que ficaria solteiro, não se via com nenhuma dama da corte no momento.

Leopolda recusou alguns passos, sinalizando que não queria dançar, seu enjoo estava piorando e logo iria precisar se retirar, estava apenas mantendo aquela notícia para si, não queria roubar o brilho da festa de Eliassandra. 

No final, Ricardo tomou a mão de sua consorte de guerra, Ana Bael, para dançar com sua família no centro do salão, mesmo que todos estivessem observando aquilo, aquela família não se importava.

Como se ninguém mais existisse fora eles, uma família que talvez nunca existisse se não fosse a realeza, mas que mesmo com todos os problemas, eles aprenderam a se amar.

Apesar de tudo…

Eram uma família feliz.

 

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