Volume 1 – Arco 5

Capítulo 52: À Princesa Eliassandra

 

Ahrija estava entrando pela porta lateral como outros “convidados” da família real, com ele vinha também Quevel, ambos com suas melhores roupas.

Os olhos esverdeados do garoto focaram no topo da escada iluminada, vendo, depois de meses, Eliassandra.

A pequena princesa estava com um lindo vestido vermelho com detalhes dourados, com uma estampa que lembrava flores e babados, nos braços estava Lynn, o coelho que agora era seu companheiro o tempo todo.

A aura que ela passava ainda era um enigma, os olhos sempre frios e sem expressão pareciam analisar todos para saber quem valia a pena ali, mas a verdade era que estava nervosa.

A última vez que em sua vida passada teve tanta atenção foi após o fim da guerra, atenção que provavelmente resultou em sua morte, mesmo que… Não lembrasse totalmente do que aconteceu.

Se esforçou para que seus passos fossem firmes e não escorregassem até o fim da escada, ainda segurando seu coelho azul.

Era a primeira vez que via muitos daqueles nobres que lhe encaravam com julgamento, mas seus filhos… Ah, seus filhos conhecia bem, aqueles garotos que vez ou outra tratavam mal e machucavam Daphne, mas não queria focar naquilo, não queria pensar nisso.

Era o seu dia.

O dia de tudo finalmente ser especial, e se divertir com isso, ou tentar, afinal tinha percebido que tudo era político ali, até mesmo os convidados, mesmo que sua mãe tenha convidado outras raças, ainda era político, afinal estavam usando aquele baile para estreitar laços que provavelmente fortaleceriam o reinado de seu pai.

Ficou um tempo parada analisando aquela situação toda, procurando rostos conhecidos, além de claro sua familia.

Ian estava ali com um meio elfo que nunca tinha visto, e Ferrer estava de braços dados com a princesa dos elfos do pico da lua, o que foi que perdeu para isso ocorrer? Bem ao menos eles estavam aparentemente felizes, seja lá por qual motivo.

Seus olhos finalmente acharam uma figura que estava se espremendo pelas pessoas, um garoto pequeno de chifres, com os olhos verdes e brilhantes.

Ahrija estava ali!

Aquilo foi o suficiente para o rosto de Eliassandra se iluminar num sorriso infantil e animado, o que não passou despercebido pelos pais da princesa, e para algumas pessoas ao redor também, inclusive o lorde dracônico, que olhava aquele garotinho que nunca tinha visto. 

Deu um passo como se buscasse chegar àquele garoto, mas foi parado por um aperto forte no seu braço, seu rosto virou para o lado, com olhos cheios de raiva que foram para a confusão vendo Quevel ali, o segurança:

— Deixa o garoto em paz.

A voz dele saiu fria, aquela interação não passou despercebida da mulher que entrou numa conversa com o rei dragão antes, com um leve sorriso malicioso.

Ahrija por outro lado ficou ali parado olhando sua amiga tão bem arrumada, sorrindo para ele de volta, quis chegar perto dela, mas viu  ela ser chamada pelos seus pais para seguir para o trono.

Eliassandra era rica.

Se perguntou se seu pequeno presente seria o suficiente para a agradar, ela tinha tudo!

A fila logo se formou na frente do trono luxuoso que Eliassandra estava sentada, seus pés sequer tocavam o chão de tão grande que era o trono.

Lynn estava numa almofada ao lado dela para praticar aquele costume estranho do reino de Serphs: recebimento de presentes.

Naquele reino humano era comum que todos apresentassem seus presentes para o aniversariante, que aceitaria ou rejeitaria, mas rejeitar era visto com muita má educação, então pelo que entendeu… Não seria prudente rejeitar um presente de um nobre daquele modo, mesmo que genuinamente não tivesse nenhum interesse naquilo.

Por ordem, os primeiros que se apresentaram foram os lordes.

Como tinha aprendido, os lordes eram os líderes de famílias mais próximas ao seu pai, o rei, um deles era o pai de Daphne — que ainda não tinha visto no baile. — o Lorde Vaeldegar Dalton Vivera, e esse foi o primeiro a mostrar seu presente:

— Alteza. — Ele se curvou para a princesa.

O presente era um belo colar de pedras vermelhas, não tinha como ser mais lindo que aquilo, mas claro que todos estavam esperando a reação de Eliassandra, que sorriu do melhor modo que conseguiu, aceitando o presente.

Mas se perguntava por que raios davam coisas tão chatas para ela? Era uma princesa pelo amor dos deuses! Ela tinha jóias! Era o que mais tinha, não deveriam lhe dar mais jóias daquele modo!

O lorde se afastou, parecendo satisfeito com a reação de Eliassandra, a próxima foi a Lady da família LivBell, Mellys, uma mulher conhecida por seu comportamento impulsivo, de cabelos longos e negros com mexas amarelas desde as raizes até acabar um degradê do meio para as pontas, os olhos sendo um mix de cores que praticamente um arco-iris:

— Minha princesa. — Ela se curvou, mesmo que não fosse a intenção, Eliassandra viu aquele grande decote, precisava mesmo daquilo tudo? 

O presente, assim como o outro, era uma jóia, um par de brincos com pedras azuis, e amarelas, lembrava seu olho, ela realmente se empenhou, o que fez Eliassandra dar um leve sorriso.

Foi o suficiente.

Mellys saiu feliz, para o lado de Vaeldegar, o cutucando com o cotovelo, como se contasse uma grande vitória.

O último dos lordes era da familia Sant Argenvi, William II, um jovem mirrado, de cabelos de um azul acinzentado, óculos profundos que aumentavam os olhos amarelos do jovem:

— P-Princesa E-Eliassandra. — Até a voz era tremida, assim como todo ele, parecia uma vara verde!

Entregou um pacote, que fez a princesa levantar a sobrancelha, abriu ali na frente de todos, e a surpresa que todos tiveram, quando o rosto daquela criança se iluminou levantando a pedra branca para colocar na frente do rosto:

— É uma p-pedra de mana, a-achei que c-como despertou…

— É perfeita. — Eliassandra exclamou.

Deu para ver o garoto mirrado relaxar os ombros que seu presente deu certo para aquela garotinha que já tinha ouvido que era bem exigente.

E no presente dele… O rostinho dele se iluminou.

Vaeldegar cutucou Mellys de volta, apontando a cena, deixando claro que ela tinha perdido aquela.

William II na verdade era filho do amigo querido de Ricardo, acabou mantendo relações com a família após o falecimento precoce do pai.

Agora viriam os duques, chefes dos ducados, pelo que sabia, pela família D’Ank existiam apenas quatro duques, e mais quatro pela família materna quando dois reinos foram unidos, cada um com o seu ducado quase que independente do reino, mas claro, sempre prestando contas sobre o que faziam naquele pedaço de terra.

A primeira a se apresentar foi a duquesa de Marshally, Antonieta, duquesa do ducado de Missinary, que se localizava perto do litoral de Serphs. Era uma mulher baixa, de cabelos cacheados volumosos que emolduravam seu rosto com viez angelical, sequer usava maquiagem ao que parecia:

— Minha princesa. — Um servo entregou o presente para Eliassandra.

Uma tiara, não parecia uma coroa, mas sim uma tiara com conchas feitas de pedras preciosas, fez a garota esboçar uma reação curiosa, pegando o presente e testando na própria cabeça, virando seu olhar para sua mãe que sorriu a encorajando.

Aquele gesto fez Antonieta sorrir, e seguir para junto dos outros que já tinham dado seus presentes, o próximo foi o Charles Henrry, o duque D’Avilla, também conhecido como carrasco, um homem grande, largo, com olhar ameaçador que fazia todos tremerem.

O que pensaria uma criança vendo aquela cena? Já estava cochichando que ela choraria vendo aquele homem, mas para Eliassandra, que na vida anterior tinha visto todo tipo de gente assustadora, apenas inclinou a cabeça para o lado, analisando o homem:

“Ele lembra um dos meus instrutores de magia.” — Pensou aquilo ainda encarando o homem.

Aquele homem grande estendeu para sua pequena princesa, sem nada a falar, uma boneca.

Apenas uma boneca de porcelana de cabelos encaracolados e loiros, um chapéu bonito e vestido rendado.

Um trabalho artesanal de primeira, os olhos porém era o ponto alto da boneca: de duas cores, um vermelho como sangue, outro azul e amarelo como o que tinha.

Eliassandra segurava a boneca abismada até que suas lágrimas bateram contra o rosto da boneca, em duas vidas foi a primeira vez que estava realmente ganhando um brinquedo:

— Obrigada, sir, eu amei. — Disse sorrindo entre lágrimas.

Foi um sorriso lindo que nem mesmo sua mãe tinha visto ainda, apenas uma pessoa conhecia aquele lado dela, e esse, o pequeno garoto-dragão, estava praticamente no final da fila, e não viu essa cena.

Ainda estava meio sem jeito por estar ali, todas aquelas pessoas eram tão chiques, e mesmo ele tendo posto suas melhores roupas, ainda não chegava aos pés daqueles nobres engomadinhos e burgueses maliciosos.

Escutava sussurros sobre os presentes, cada um deles mais chique que o outro, era difícil não se comparar com eles e se sentir um lixo.

Vez após vez ouvia suspiros sobre aqueles presentes, mesmo ouvindo sobre uma boneca, ainda parecia algo muito superior ao seu brinco de dente de dragão.

Os duques pareciam ter se empenhado em dar presentes com algum sentimento, afinal eles eram os mais importantes após os reis e os lordes, que eram praticamente amigos pessoais do rei e ganharam seus títulos por isso, tendo o maior nível de intimidade.

A duquesa Camila de Vingrany era alta, de cabelos esverdeados, e pela orelha levemente pontuda, Eliassandra teve certeza que ela tinha algum ancestral élfico, e pelos olhos esverdeados e profundos, teve certeza que eram elfos da floresta:

— Alteza, eu pedi que seu presente fosse levado ao seu quarto, lhe dei um total de cinco belos vestidos pelos seus primeiros cinco anos de vida.

Eliassandra apenas concordou com a cabeça fingindo animação, mais vestidos? Ela já não tinha o suficiente? Quanto mais pensava naqueles presentes, mais os achava inúteis, alguns poucos seriam úteis, ao menos teria o que vestir caso precisasse ir para uma festa no Ducado Vingrany. Deveria ir, afinal era o ducado mais proximo da floresta negra.

Começou a agir no automático, agradecendo as jóias que ganhava de presente, algumas roupas, e tudo mais que lhe ofertavam, era fácil para ela lidar com isso, já que eram raras as vezes que seu rosto era alterado por alguma emoção, e as pessoas se acostumaram com aquilo.

Mas de todos os presentes até agora, o do duque de Armahis foi um dos mais surpreendentes:

— Isso mesmo vossa alteza, lhe entrego meu ducado, sou velho, logo morrerei e não tenho herdeiros, então estou devolvendo meu título e terras para a coroa.

Eliassandra arregalou os olhos, abriu a boca sem acreditar que aquele homem velho mas que parecia em plena saúde estava se aposentando daquele cargo.

E pior! Jogando isso para ela!

“Ele está tentando se livrar do trabalho jogando para cima de uma criança? Mas que velho mais vagabundo!”

Quis devolver aquilo naquele momento, mas seria desfeita, e ele apenas deixou ali o broche símbolo do ducado e a escritura, sequer ficou no baile!

Nem sabia como agir diante dos outros presentes, isso era possível? Um duque poderia fazer esse tipo de coisa desse jeito? Aquilo era ridículo!

Qualquer presente parecia menos impactante que aquele, até mesmo sua tia lhe dando um colar da familia Navarra — Que Eliassandra tinha certeza que deveria ser da sua mãe. — não a abalou.

De um lado ter um local mais isolado para treinar seria ótimo, por outro, tinha cinco anos e mesmo na vida passada NÃO TINHA QUALQUER EXPERIÊNCIA COM ADMINISTRAÇÃO DE PROPRIEDADES!

Marcou o rosto daquele velho, vai enfiar essa escritura onde o sol não bate nele, ele não tinha o direito de fazer tal coisa!

Seus olhos estavam distantes, pensando naquilo, mas ninguém parecia se incomodar.

Logo começaram os condes, esses, por estarem mais perto da família real, os presentes foram mais assertivos, até mesmo presentes para Lynn, como almofadas e coleiras com joias, eram presentes mais “simples”, mas ao menos eram mais úteis para Elia, mas ainda sim… Por que agora tem um ducado?!

Seus pais estavam comentando sobre os presentes em voz baixo, afinal eles eram os pais, e aqueles presentes eram também prova de lealdade e amizade, aquele baile não era apenas uma festa de aniversário, era também um ato político que Eliassandra não entendia.

A princesa tentava não bocejar, mas era uma criança e aquilo estava um saco, que pessoas chatas! Que pessoas irritantes, queria sair correndo dali.

Os olhos e o olhar se iluminou quando finalmente uma pessoa conhecida e legal apareceu:

— Princesa Eliassandra. — Ahrija fez uma reverência, ele realmente tinha treinado aquilo.

E foi fofo ver aquilo.

 

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