Volume 1 – Arco 5
Capítulo 51: Me Concedes Esta Dança?

Os nobres finalmente estavam andando pelo salão, mas ignoravam os burgueses e as pessoas de outras raças, se aproximando apenas dos reis e das duas consortes, e claro, de Elengaria, a rainha, que era o centro das consortes, afinal era a única que tinha sangue nobre ali.
Sorria com as felicitações sobre sua filha que teria uma festa grandiosa hoje, todos estavam animados para finalmente verem a pequena princesa, afinal muitos ali vieram de longe para ver aquela criança.
Num dos cantos estava Vivany com o pai da pequena Daphne, não se aproximava de sua irmã, não tinha porque disputar mais o rei, tinha seu próprio homem para si, para que correr atrás de um que já era comprometido:
— Não vai falar com sua irmã? — A voz grave foi escutada pela sua acompanhante.
— Não me sinto confortável.
— Espero que isso não seja algum rancor, não faz bem para Daphne crescer com alguém que lhe ensine tais valores. — Disse sem sequer lhe dirigir lhe o olhar.
— Olha senhor, se acha que eu serei…
— Não esqueça seu papel nesse acordo. — Interrompeu agora encarando aquela mulher com seu olhar cortante. — Seu trabalho é me dar um filho homem e ser uma figura materna presente para Daphne, e o meu é lhe dar minha influência e título, se você se tornar algo ruim para minha filha e nosso futuro filho isso será desfeito.
Vivany estremeceu, sentindo o corpo todo enrijecer, aquele olhar frio e cortante do Lorde era simplesmente assustador, sabia que aquele era um homem poderoso, um dos mais próximos a Ricardo, por isso foi perfeito para seu plano de ascensão.
E agora ele lhe colocava no seu devido lugar:
— Vamos. — O lorde apenas estendeu o braço. — Iremos falar com os reis.
— Vaeldegar isso…
— Lorde. — Mais uma vez interrompeu. — Lorde Daltom, lembre que não temos um relacionamento de verdade, milady.
Os olhos castanhos daquele homem continham uma frieza que ela não estava acostumada, afinal ela era adorada por todos, menos por Ricardo e Elengaria, e agora via mais alguém que não caía em seus encantos.
Foi obrigada a caminhar de braços dados até o casal real, engolindo seu orgulho:
— Meu Rei, minha rainha. — O lorde fez uma reverência, o que obrigou Vivany a fazer o mesmo. — Essa é minha noiva, Lady Vivany.
Apresentou quando ambos olharam sem acreditar naquilo, Ricardo estava surpreso, mas no final sorriu, feliz pelo seu amigo ter arrumado outra esposa finalmente:
— Conhecemos a lady Navarra, ficamos felizes pelo noivado! — Ricardo falou animado.
— S-Sim, muito felizes. — A rainha Elengaria estava completamente pasma com aquilo, mas se recompôs, ao menos sua irmã finalmente tinha amadurecido e parado de correr atrás de seu marido.
Aquele lorde era um amigo próximo de Ricardo, o próprio Ricardo estava com aquele homem quando enterrou sua esposa, o viu se jogar no trabalho e esquecer do mundo, e ver ele finalmente se relacionando era ótimo.
Só era estranho que fosse sua irmã que o tirasse naquele seu luto quase eterno:
— Como está a pequena Daphne?
— Estudando mais do que qualquer coisa, colocou na cabeça que quer adentrar na academia de estudiosos. — Deu para ver aquele brilho feliz e orgulhoso nos olhos do lorde, mas logo sumiu.
Amava sua filha, era inegável, mas era sempre doloroso demais estar perto dela e sempre lembrar que foi ela a causa da morte de sua mãe, e como ela era tão parecida com sua falecida esposa:
— Ricardo, posso falar com você um minuto? — Pediu aquilo ao seu amigo, que prontamente concordou.
— Já volto, meu lírio. — Ricardo avisou beijando a mão de sua esposa, se afastando com seu amigo.
Vivany ficou sozinha com sua irmã, que sorria daquele jeito que lhe irritava, mas agora teria algo que ela não poderia ter: Filhos, fertilidade.
Iria fazer questão de ter tantos filhos quanto pudesse, talvez um menino para tirar aquela pirralha da linha da sucessão do título de Lorde de Dalton, logo poderia começar isso:
— Fico feliz que finalmente tenha achado alguém minha irmã.
— Claro que fica, você é sempre um doce, minha cara irmã. — Sorriu com aquela ironia que só Vivany sabia fazer.
O silêncio desconfortável se ergueu entre as duas, que logo foi desfeito por outro nobre que chegou para conversar com a rainha.
Num canto mais distante, Ricardo e Vaeldegar estavam sozinhos, num silêncio de quem não sabia o que falar agora, até que o rei quebrou o silêncio fazendo a pergunta que estava ardendo em seu coração:
— Por que a Lady de Navarra?
— Ela está numa idade boa para ter filhos, pode ser uma figura materna para Daphne, tem um título interessante e favorecido. — O seu melhor amigo falou de forma tão racional que fez Ricardo pedir calma.
— Achei que tinha se apaixonado por ela. — Riu daquilo.
— Claro que não, sei das desavenças que ela tem com sua esposa, mantê-la ocupada ajuda a deixar a rainha em paz. — Mais uma vez sua racionalidade surpreendeu o amigo. — E Ricardo, nem todos casamos por amor, eu já o fiz, agora é puro jogo político e de interesse.
— Você tem certeza disso?
Vaeldegar concordou com a cabeça, sorrindo pela primeira vez, mesmo que mínimo, naquela noite, tranquilizando seu amigo que sorriu de volta para ele:
— Sabe que estarei sempre aqui quando precisar não sabe? — Ricardou perguntou.
— Eu sei Ricardo, e não poderia estar mais grato por isso, você é o melhor amigo que eu poderia querer.
Enquanto Elengaria falava com tantos nobres, Vivany ficava ali, de lado, completamente ignorada por todos, ainda não era a Lady de Dalton para também poder ser mais incluída, sua obsessão por Ricardo durante esse tempo todo que prejudicou consideravelmente os relacionamentos que tinha na corte.
Muitos falavam mal dela, muitos pensavam mal dela com aquele comportamento desprezível e inadequado.
Agora teria que se esforçar para reconstruir todo e qualquer relacionamento que tinha tido, mas ao menos teria o apoio da influência daquele lorde, talvez fosse uma facilidade.
Foi Vivany que o procurou e propôs aquilo, mesmo que fosse um casamento sem amor a princípio, tinha lá no fundo uma esperança que talvez aquele homem lhe amasse quando lhe desse seus herdeiros:
— Saúdem o príncipe herdeiro Ferrer René D’Ank! A primeira jóia da coroa, primogênito do Rei!
Ferrer estava como sempre impecável, seus cabelos soltos, a coroa reta de pedras avermelhadas, usava a parte de cima de sua roupa em vermelho, a calça era branca para manter seu padrão.
A saudação de Ferrer mudou, claro que mudou, não era mais o príncipe herdeiro, esse título passou para sua irmãzinha, tentou ignorar aquilo enquanto chegava ao pé das escadas.
Seus olhos vasculharam todo o salão, em especial as nobres, sabia que deveria dançar com algumas candidatas ao seu coração, então já estava avaliando.
Seus olhos acabaram caindo numa figura incomum, um meio elfo… Bem conhecido. Seus passos lhe levaram até Elberony, que tinha sempre aquele sorriso encantador:
— Não sabia que vinha. — O loiro disse ficando ao lado do meio elfo.
— Ian me convidou. — Elberony respondeu sorrindo.
Não apenas convidou, como garantiu que o amigo se vestisse bem, usava um terno preto com calças brancas assim como Ferrer, sabia que alguns burgueses e nobres admiravam a beleza do mestiço, quem não admiraria? Ele era belíssimo, os longos cabelos negros agora estavam trançados, dando aquele ar mais místico a ele.
Fazia algum tempo que Ferrer desconfiava da amizade daqueles dois, mas seu irmão era tonto demais para perceber, então o mais velho finalmente perguntou:
— Você gosta do meu irmão?
— O que?
Nem teve tempo de se recompor, pois o anunciante já estava chamando a atenção de todos:
— Príncipe Ian D’Ank, a sombra do rei, o gênio de batalha! Todos o saúdem.
Deuses, o rosto de Elberony foi impagável para Ferrer, viu os olhos esverdeados do outro brilharem ao ver seu irmão.
Assim como os membros da família real, o príncipe do meio usava vermelho, um tom mais escuro, semelhante a sangue, sua calça era preta e seus cabelos castanhos sempre rebeldes estavam penteados para trás.
Enquanto Ferrer passava a elegância da sua mãe ao caminhar, Ian passava a imponência se seu pai, um passo firme e forte que chamava atenção.
Muitas jovens suspiraram ao ver o príncipe do meio, sempre simpático e cordial, naquela feição mais séria, Ian caminhou até onde seu irmão estava, ficando ao lado de Elberony:
— Você veio. — O sorriso era visível, mas Ian não tirava os olhos da escada a frente.
— Você pediu. — Elberony respondeu.
Ferrer levantou a sobrancelha, mas logo deixou para lá, tinham coisas mais importantes para pensar no momento, depois questionaria seu irmão sobre aquela amizade:
— Altezas! — Um grupo de moças nobres se aproximou, com sorrisos e animação.
— Está ótimo essa noite, príncipe Ferrer. — Uma delas disse.
Ferrer, com sua educação impecável, tomou sua mão e beijou o dorso da jovem:
— Fico honrado, senhorita.
Praticamente um príncipe encantado, algo que Ian não conseguia ser, ao menos ele era sempre animado. Quando as jovens se viraram para ele, ignorando completamente Elberony, seu sorriso vacilou:
— Príncipe Ian está tão lindo essa noite — Cantarolou uma delas.
— São seus olhos, senhorita.
Uma música se iniciou, agora que quase todos os membros da família estavam presentes, o baile poderia seguir sem problemas, as jovens, empolgadas sorriram mais para os príncipes, mas um deles, Ferrer, deu as costas para elas e vagou com os olhos procurando outro alguém.
Ian ficou ali sozinho, cercado por aquelas garotas que quase o deixavam desconfortável, quase pois já estava acostumado, sabia que era um partido desejado, mesmo que não sentisse qualquer vontade de formar uma família com qualquer uma delas.
Não se fossem feias ou chatas, apenas não sentia vontade de estar com elas, sorria e respondia às perguntas durante a música delas, pensando em como fugir das investidas delas para a próxima música:
— Poderia me conceder essa dança? — Uma vez conhecida o fez desviar o olhar.
Elberony estava ali com um sorriso convidativo, com a mão erguida para Ian, que deu uma risada divertida, aceitando a mão do amigo:
— Adoraria, sir. — Respondeu o amigo
Caminharam até o centro com os outros casais, claro, muitos olhavam aquilo com estranheza, como raios um príncipe estava dançando com um jovem mestiço como aquele?
A mão de Elberony estava na cintura de Ian, o conduzindo pelo salão ao som da música, mesmo contra todas as expectativas, estavam ali, dançando juntos:
— Estão todos nos olhando. — Elberony sussurrou para seu parceiro.
Não pensou nas consequências daquele ato, estava ficando sem jeito com aqueles olhares todos em si, porque raios se deixou levar por impulsos tão bobos como aqueles? Apenas quis salvar seu amigo do desconforto que ele parecia sentir:
— E daí?
O rosto de Ian estava iluminado e sorridente, como se fosse a coisa mais divertida do mundo, e talvez… Fosse. Era a primeira vez que estava se divertindo em um baile! Nunca achava aqueles bailes divertidos, ia apenas para cumprir tabela e aparecer para o público, e agora estava ali, dançando e sorrindo com alguém.
Num dos cantos do salão estavam os elfos do pico da lua, observando aquela cena. e um deles, a mais bela dentre eles, estava sorrindo de forma sonhadora.
Se Ian, que era príncipe, estava dançando com um mestiço, talvez… Apenas talvez alguém lhe tirasse para dançar.
Ela era bela e encantadora, juntou as mãos, fazendo um desejo em silêncio para que alguém tivesse coragem para dançar com ela, não queria passar aquele baile inteiro sem ter o prazer de dançar com alguém. Seu irmão tinha percebido aquilo, e até fez menção a se aproximar, mas seu pai lhe impediu:
— Gostaria de dançar comigo, princesa? — Aquele idioma com um forte sotaque lhe fez estremecer, abrindo os olhos e vendo Ferrer com a mão estendida para si.
O coração bateu forte, com aquela animação sem precedentes, aceitou rapidamente a mão do príncipe, com certo medo dele mudar de ideia e retirar o convite:
— Sim! Eu adoraria!
Mesmo sem entender o que eles falavam, foi possível ouvir o suspiro de frustração de muitos ali presentes, as duas pessoas atualmente mais visadas daquele baile estavam ali, dançando juntos, rodopiando entre as pessoas.
Nunca sequer dançaram juntos.
Tinham se conhecido a menos de uma semana de fato, e lá estavam numa sincronia perfeita, como se dançassem juntos desde sempre, como se já estivessem conectados.
Pareciam flutuar ao dançar, como personagens de uma bela história de contos de fadas, de fato, eles eram belíssimos juntos, mesmo com pouco tempo de convivência, e estavam bem sincronizados.
Os nobres torciam os narizes para aquelas cenas, aquela mistura entre raças que não deveriam estar juntas, como aquilo era possível? Como o rei não fazia nada?
Não!
Ricardo ainda sorria vendo a mistura de seus dois filhos com raças diferentes!
A música acabou, Elberony ainda sorria ouvindo a risada de Ian, que realmente tinha se divertido com aquela dança, mesmo com tantos olhos em si, Seraphs sorria radiante com Ferrer, poder dançar num baile foi algo que lhe deu tanta felicidade que a jovem parecia brilhar.
As luzes diminuiram, focando apenas no topo da escada:
— Saúdam a princesa Eliassandra D’Ank! Primeira filha da rainha! A princesa herdeira!
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