Volume 1 – Arco 5

Capítulo 49: Entre Família

Cada vez mais o baile da princesa Eliassandra estava próximo, e cada vez mais, mais sussurros corriam pelo palácio real, a pequena princesa de olhos bicolores que sumiu por quase seis meses, que era tão fraca e agora supostamente estava com uma força surpreendente, tinha até despertado como maga!

Claro, todos estavam felizes, mas as perguntas sobre a criança circulavam, era um lugar com muitas pessoas, claro que fofocas seriam feitas.

Mas quem não gostava muito de alguns ditos, era Vivany.

Cada vez que escutava algo bom, seja da princesa, quanto de sua irmã, como poderiam gostar tanto delas?

Achava Eliassandra a criança mais irritante do mundo, fria, distante, mal educada e com um gênio terrível! Como poderiam gostar dela? Claramente não a conheciam bem como sua tia conhecia.

Se fosse mãe daquela garota irritante, ela com toda certeza não seria daquele modo, para começo de conversa, seus genes eram bons o suficiente para não precisar de mais esposas. 

Mas agora só tinha aquilo.

Um quarto grande, com uma criança de cabelos loiros cor de palha, tão opacos e sem graça que lhe dava tédio.

Os arranjos de seu noivado já estavam encaminhados, então agora estava tentando criar laços com aquela criança tão… Tão tediosa.

Em contrapartida, Daphne não fazia qualquer esforço para gostar de sua nova madrasta, seu pai, sempre tão distante, apenas a jogou nos braços daquela mulher.

Nunca conheceu sua mãe, ou o que ela representava para seu pai, mas com o que alguns empregados lhe contaram, a senhora sua mãe era muito parecida com ela.

Mesma palidez, mesma cor de cabelos opacos, talvez por isso ele era tão distante de sua filha? Era a única explicação que sua mente infantil.

Que não se detinha nisso por muito tempo, afinal tinha mais com que se preocupar, como o livro grosso que estava aberto à sua frente sobre a mesa de madeira.

Desde que Eliassandra enfrentou seus valentões, eles ficaram bem afastados dela, até desviavam o olhar quando passava, aquilo a deixava mais calma, mas ainda sentia aquele aperto no peito, e quando sua amiga não estivesse mais lá para a defender? E será que nunca iria conseguir fazer amizades?

Sua única amiga era a princesa, que era tão… Tão diferente dela, e agora que tinha magia, seu pequeno sonho de estudarem juntas na academia dos estudiosos foi por água abaixo, lhe dando uma angústia, pois iria sozinha cumprir seu objetivo.

Ser uma estudiosa.

Não era uma maga, mas poderia aprender a fazer outros tipos de magia mais adequada para ela, como alquimia, por isso agora estudava tanto, precisava dar algum orgulho ao seu pai e sua… Mãe nova? Fechou o livro que estava lendo, numa linguagem até um tanto complexo para uma criança de sua idade.

Levantou os olhos para Vivany que não tirava os olhos da janela, ela era linda, isso ninguém poderia discordar, Lady Vivany era linda, desde seus cabelos cor de mel assim como seus olhos, a pele era mais bronzeada que parecia tão macia…

— Lady Vivany, depois do casamento eu vou ser prima da Eliassandra?

Aquele nome fez Vivany virar a cabeça em direção para sua futura enteada, abriu a boca para cortar aquele pensamento, mas na sua cabeça as falas do pai daquela criança, de como ele amava sua filha e se ela não aprovasse Vivany, não haveria casamento.

Então sorriu.

Aquele sorriso que enganava todos, menos… Aquele serzinho pequeno e irritante que era sua sobrinha:

— Sim, serão primas, isso não é incrível?

Os olhos tediosos de Daphne olharam os de sua quase madrasta e depois olhou para baixo:

— É, acho que sim. 

Ela achava?

Achava?!

Aquele menina iria entrar na linha da sucessão do trono! E ainda estava achando que era legal?

Sustentou o olhar calmo e alegre para sua futura enteada, esperava que engravidasse logo do pai daquela menina para poder se livrar dela, quem sabe deixar ela em algum dos internatos prestigiados que tinham pelo reino.

Ela seria feliz lá, quem sabe ela finalmente achasse outro amigo fora aquela princesa irritante.

A luz matinal entrava dentro do quarto de Leopolda, a sua indisposição e enjoo estava durando um pouco demais, seu filho, o jovem Ferrer, estava passando a manhã com ela, conversando e lendo com sua mãe:

— O médico real já disse o que é isso? — Ferrer perguntou fechando o livro.

Leopolda, que estava deitada com uma roupa mais leve, os cabelos trançados para não embolarem durante o sono, sorriu para seu filho com ternura:

— Bem… Na verdade ele tem suspeitas. — Ela comentou colocando a mão sobre seu ventre.

Os olhos cor de sangue de seu filho se arregalaram, antes de rir nervosamente, talvez querendo não acreditar:

— O… O pai já sabe?

— Ah não, estou esperando uma confirmação mais certeira e o aniversário da sua irmã passar, não quero que nada ofusque o primeiro baile dela é… Algo tão grandioso, e tantas raças reunidas. — Ela sorria com calma para seu filho único, por pouco tempo. — Falando em raças… Seu pai disse que você está aprendendo élfico.

Nada foi mais mencionado, mas o rosto de Ferrer ficou vermelho, pensando no que mais seu pai poderia ter falado para sua mãe:

— B-Bem, os elfos do pico da lua foram um dos poucos povos que ainda preservaram seu idioma original e não se renderam ao comum, é natural que eu esteja animado para saber mais. — Ele tentou desviar do assunto, mas só fez sua mãe sorrir um pouco mais.

— Soube que sua irmãzinha sabe falar.

— A Eliassandra? Sinceramente não faço ideia de como ela sabe, mas dá pra ver que o sotaque é diferente dos outros. — Estava aliviado por sua mãe ter mudado de assunto. — Será que os elfos da floresta ainda mantêm o idioma original?

— Se bem me lembro, eles falam os dois, o élfico e comum por serem mais próximos de outras raças, mas não perdem suas raízes totalmente. Mas não deve ser um élfico tão puro como os do Pico da Lua. — Estava no seu eu professor, criando teorias com seu filho.

Ferrer e Leopolda eram extremamente parecidos, apesar do garoto ser mais combativo, ainda tinha aquele brilho de curiosidade que sua mãe também tinha:

— Gostaria de falar com eles também. — Admitiu sorrindo.

— Não acho que ficará tão encantado por eles, soube que não tem filhas da sua idade.

— Q-Que? Mãe! — O rosto do garoto ficou totalmente vermelho e quente, escondendo ele com as mãos sem jeito.

Esse ato arrancou uma risada sincera de sua mãe, que colocou uma mão na frente dos lábios, sempre naquela polidez elegante que ela esbanjava.

Leopolda estava achando uma graça que seu pequeno filho, não tão pequeno assim, estava despertando seus sentimentos românticos por uma garota. Pena que ela era de um reino tão distante, talvez fosse apenas algo passageiro. No fundo tinha uma preocupação se a garota iria retribuir.

Mais ainda.

Será que os elfos do Pico da Lua eram abertos a esse tipo de relacionamento?

Entre os humanos, relacionamentos interraciais eram comuns, com alguns preconceitos aqui e ali, mas com toda certeza eram o povo mais aberto a esse tipo de coisa.

Após os humanos, com certeza os mais abertos eram os dracônicos, mesmo sendo conhecidos como um povo bruto, eles eram bem receptivos com outros povos, e bem menos preconceituosos que elfos e até mesmo anões.

Se os elfos do pico da lua eram isolados, quem dirá os anões? Vivendo dentro das montanhas, fazia décadas que sequer viram um, o máximo que tinham deles eram as armas do período de guerra:

— Espero que seus estudos deêm resultados, querido. — Disse por fim, acariciando seu rosto com as costas da mão.

— Obrigado mamãe.

 

As espadas se chocavam, Ian finalmente reparava que sua mãe era mais forte do que parecia, sempre com vestidos, agora experimentava a real força dela.

Ana Bael era uma lutadora habilidosa, mesmo sem magia, era um gênio com sua espada, se perguntava se tinha puxado isso dela e não de seu pai.

Um momento de distração.

Foi apenas isso que precisou para sua mãe lhe desarmar e apontar a espada para si:

— Está mole, filho. — Ela sorriu lhe devolvendo a espada.

— Desculpa.

— Está preocupado com aquele menino? Como é o nome? Elbe?

— Quase, mas não estava pensando nele, é que falta pouco tempo para a festa de aniversário da minha irmãzinha e meu presente ainda não chegou. — Ele suspirou.

— E o que pediu para ela?

Ana se afastou do filho, pegando uma das toalhas que estavam na arquibanca, enxugando seu rosto:

— Uma adaga.

A mulher parou seu movimento de levar a toalha ao rosto, virou o rosto para seu filho que disse aquilo com o maior sorriso que poderia, e então caiu na risada.

Céus, Elengaria iria surtar quando visse aquilo, mas não pensava em presente melhor que ele daria do que aquele, olharia pelo lado bom, ao menos uma adaga ela poderia usar sem maiores problemas:

— Ela pode invocar uma espada, achei que uma adaga especial seria útil.

— Especial?

Levantou a sobrancelha olhando seu filho, o que ele aprontou dessa vez? Aquilo lhe causou desconfianças, encarando seu filho, esperando ele desembuchar de uma vez:

— Eu encomendei uma adaga especial do reino anão! Foi caro, mas tenho certeza que ela vai adorar!

Adorar? Ela tinha quatro anos! Como raios ela iria gostar disso? Não conseguia por em palavras em como deveria consolar o filho. Eliassandra era uma garota de poucas palavras e olhar frio, tinha medo de seu filho sequer receber um olhar para seu presente.

Mas eles se davam bem, o laço dos dois era mais profundo do que ela poderia pensar, talvez ele soubesse o que ela gostava de fato, e ela, como madrasta, estava completamente enganada.

Então se resguarda aos seus comentários, apenas com um aceno de cabeça:

— A Elengaria vai surtar. — Assegurou.

— Mas é só uma adaga! Na idade dela eu ganhei uma espada do papai!

É, de fato, os dois filhos ganharam espadas, e uma coroa, então sabia que uma coroa nova a pequena ganharia, qual seria seu segundo presente? Será que ele manteria a mania de dar espadas pros filhos?

Seu pensamento ficou distante até ouvir a voz de seu filho lhe chamando:

— Vamos mãe, já deu tempo de descansar! — Sorriu com a espada em guarda.

— Ah moleque…

Os olhos de Mizandra passavam pelas páginas, tentava e tentava, mas aquele idioma sequer entrava na sua cabeça, de jeito nenhum!

E não ajudava sua irmã mais velha dançando feito uma garota boba ao redor do quarto, distraindo não só ela quanto seu irmão mais velho, que vez ou outra levantava os olhos para prestar atenção na bela elfa:

— O que você está fazendo? — Finalmente o mais velho perguntou, tirando os olhos do livro que estava tentando ler.

— Treinando, quero dançar bem no baile. — A voz sempre melodiosa e animada de Seraphs fez Mizandra finalmente desistir de estudar aquele idioma. — Imagina só se eu dançar mal!

— Por que isso é tão importante? — Mizadra finalmente perguntou. — Quer dizer, isso vai ser algo que realmente vão reparar?

— Claro! É um baile! Imagina pisar no pé de alguém?

Os olhos de Amashis tiveram um brilho de realização quando pareceu ter percebido o que estava acontecendo ali.

Desde que ela tinha se encontrado com os príncipes humanos, Seraphs estava se cuidando ainda mais, e com uma energia diferente que a deixava ainda mais bela.

Ainda não entendia totalmente o que estava acontecendo, mas aquele esforço para causar uma boa impressão era louvável. Quase fofo

Por escolha própria, os três estavam dividindo um quarto, afinal estavam num local estranho, para eles, era mais condizente estarem juntos, mesmo que aquilo tenha dado um trabalho extra aos empregados.

Não se importam muito, quer dizer, Amashis e Mizandra não se importaram, Seraphs ficou bastante apreensiva por dar trabalho desnecessariamente as pessoas, poderiam apenas ficar em quartos separados:

— Bem, logo logo é o baile da princesa, espero que os presentes e suas roupas também.

— Como seremos anunciados se não entendermos o que falam? — Seraphs fez um questionamento justo, afinal eles não entendiam bem aquele idioma, mesmo Mizandra se esforçando, sequer arranhava a superfície do idioma.

Mas Mizandra apenas deu de ombros, como se fosse óbvio, e talvez fosse para o raciocínio daquela criança:

— É só entender nossos nomes, nada mais.

Os dois irmãos mais velhos se encararam enquanto a mais nova voltava aos seus estudos, de fato, ela era bem focada naquilo, eu seria uma inveja que tinha da outra princesa?

Não saberiam,a o menos por hora não.

 

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