Volume 1 – Arco 5

Capítulo 40: Por dentro da floresta

O reino élfico da floresta era praticamente uma fortaleza protegida por grandes árvores, quem não sabia andar ali com toda certeza ficaria perdido até morrer para a floresta majestosa, mas se conseguisse passar pelas árvores poderiam ver uma árvore maior ainda, atrás de grandes muros de raízes grossas, onde soldados elfos estavam sempre de prontidão.

E ali, dentro daquela árvore era onde ficava o palácio real daquele reino, onde Mitrya, a rainha elfa vivia com seus três maridos.

Mitrya  era uma mulher de estatura mediana, olhos de um verde profundo como a floresta e cabelos prateados como o fio da espada, seu corpo volumoso era adornado por um vestido justo de mangas soltas de cor verde floresta e detalhes prateados, se mantinha sentada no trono enquanto uma carta era lida.

Quem lia a carta com uma voz grossa e marcante era Lysareths, um elfo de pele morena, cabelos longos e negros presos em um rabo de cavalo alto, os olhos prateados do homem de orelhas pontudas falava com uma eloquência quase teatral:

— Fomos convidados para a festa de aniversário da princesa humana, parece que o rei Ricardo quer mesmo estreitar os laços, hein? — A rainha Mitrya riu.

— Ao que parece é isso, minha rainha. — O elfo fechou a carta.

A sala do trono era linda, bem iluminada por luz natural que entrava pelas amplas janelas do local, a rainha estava sentada em seu grande trono grandioso feito de plantas vivas, conseguia ver lindas flores que floresceram ali dando um ar místico ao local:

— Querido, não me chame de rainha. Sou sua esposa. — Ele pediu fazendo bico.

— Majestade…

— Ora Lysareths, já está enchendo nossa esposa pela manhã? — Outro homem entrou.

Esse era ainda mais alto que Lysareths, e mais robusto também, o cabelo negro estava presos com uma fita na altura dos ombros, a pele alva contrastava com o cabelo e seus olhos eram de um azul cor de céu belissimo:

— Mervus, estou apenas seguindo o protocolo. — O elfo de pele morena sorriu.

— Você está me enchendo, isso sim! — A rainha estava emburrada, mas logo sorriu quando seu outro marido se aproximou dela, abraçando seu corpo. — Viu? Ele me ama de verdade.

— Oh querida, eu também te amo. — Lysareths riu divertido daquilo.

No reino élfico, sempre existiria apenas um soberano ou soberana, apenas um sentava-se ao trono, o que era comum sempre ser o primeiro filho, como foi o caso de Mitrya, sendo a única filha do antigo rei, algo ainda mais comum era a existência de haréns.

E era isso que aqueles três representavam, o harém da rainha Mitrya.

Três por que ainda faltava um, um homem que ficava em estatura entre Lysareths e Marvus que entrou pelas grandes portas, de cabelos loiros, pele bronzeada e olhos castanhos, as orelhas porém não eram tão compridas quanto as dos outros. Um meio elfo:

— William! — A rainha saudou animada.

Logo tinha saído do abraço de Marvus para abraçar seu meio elfo consorte com um largo sorriso:

— Vamos para Serphs! — Disse mantendo a animação. — Os gêmeos irão adorar!

William tinha uma expressão confusa, encarando os outros dois que apenas deram uma risada, indo na onda da rainha:

— Só vamos nós,  a família real? — Marvus questionou finalmente.

— Sim, precisa ser uma viagem rápida! — A mulher soltou o marido de cabelos loiros, sempre muito animada.

Lysareth que estava calado, mais afastado, olhando aquela situação se manifestou com uma pergunta simples:

— Os elfos do pico da lua vão também?

Todos ficaram em silêncio, se encarando por um longo momento, todos pensando em como responder aquele detalhe que parece ser algo de algum incômodo para eles:

— Bem, vamos ser cordiais, não é? — Marvus disse por fim.

Mas todos pareciam meio desconfortáveis, quais as histórias entre aqueles dois reinos de elfos?

Bem, isso pouco importava quando duas crianças de pouco mais de nove anos entraram correndo na sala do trono com sorrisos animados, duas crianças de cabelos prateados e olhos dourados como o sol que brilhava além das árvores:

— Aura, Argen! — Marvus reclamou da correria dos dois.

Os dois sem sandálias circulavam William que ria daquela situação tão comum:

— Ele que começou! — Aura, a menina de cabelos nos ombros ria.

— Não comecei não!

— Tem razão! Eu que comecei! — A menina riu antes de ser derrubada pelo irmão.

E então os dois começaram a rir descontroladamente, uma brincadeira saudável entre duas crianças extremamente animadas.

Nós pés era possível ver coisas semelhantes a tatuagens, o símbolo da magia élfica crescendo dentro deles, como duas crianças saudáveis e claro, filhos da realeza.

Não demorou para que a briga dos dois recomeçarem, correndo em direção a outro responsável para conseguir ajuda para aquela disputa boba deles dois:

— Papai Marvus, ela que me bateu! — Argen reclamou enquanto a irmã se agarrava ao mais alto.

Não tinha como não achar aquela cena fofa e agradável, os dois eram realmente adoráveis com aquela briga boba entre irmãos, o elfo de pele negra estava às risadas junto com a rainha. Marvus suspirou, se abaixando para ficar na altura dos dois pequenos:

— Certo certo, vocês dois, chega, tenho um trabalho para vocês dois. — Falava como se fosse um segredo.

Os olhinhos dourados brilharam em expectativa com a missão secreta que iriam receber:

— Quero que escolham um presente bonito para a princesa do reino humano, ela é uma criança como vocês. — Sussurrava para os dois.

— Certo! — E saíram correndo em disparada para… Sei lá onde.

Ao menos os adultos voltaram a ficar sozinhos na sala do trono:

— Vai mesmo deixar eles escolherem o presente? — William questionou.

— Não, mas é bom deixar eles participarem das coisas, afinal serão os futuros reis. — Argumentou Marvus enquanto se erguia para ficar de pé. — Então… O que vamos dar para uma princesa humana?

Os quatro ficaram em silêncio se encarando, tentando saber o que deveriam fazer naquela situação incomum:

— Não faço ideia. — Marvus admitiu.

— Eu nunca dei presentes ‘pra humanos, quanto mais crianças. — Lysareths riu.

— Eu nunca dei presentes, só recebi. — Mitrya argumentou.

Então os três encararam William que encarou eles de volta, como se não entendesse o que estava acontecendo:

— Que foi?

— Você não sabe o que dar para ela? — Lysareths questionou.

— Só por que sou meio elfo?

Um silêncio se levantou de novo, enquanto Marvus e Mitrya ficavam mais envergonhados, mas Lysareths não, o sorriso apenas aumentou:

— Você sabe exatamente o que dar, não sabe? — Provocou com aquele sorriso convencido.

 Após mais uma longa pausa, William suspirou:

— Vamos dar um conjunto de jóias élficas, ela ainda é pequena para usar armas, é melhor não arriscar e mandar algo que ofenda os reis. — Explicou seu ponto de vista com aquele tom meio cansado.

As provocações do outro já eram rotineiras, não era algo que o outro fazia por mal, ou só com o meio elfo, era comum entre todos, William só foi o alvo da vez, mesmo que sem querer:

— Certo! Então, nobre William, que tal você escolher as joias? — A Rainha elfa sorriu animada.

William torceu o nariz, estavam jogando o trabalho para ele de novo, mas o que poderia fazer, dos quatro presentes ali, o único que realmente conhecia minimamente os humanos a fundo era ele, iria sobrar para ele.

Respirou fundo e acabou concordando com um meio sorriso, e logo, Lysareths agarrou seu braço com um sorriso animado:

— Eu vou com você! — Saudou animadamente.

Não que o elfo de pele morena quisesse realmente ir, achava tudo aquilo tedioso, mas odiava quando William ficava mais afastado por ser meio elfo, sabia que alguns outros tinham certo preconceito com ele, então nunca o deixava sozinho:

— Certo, grato Lys. — O meio elfo agradeceu.

Logo a dupla sumiu da sala do trono, deixando a rainha e o nobre Marvus para trás, o mais alto passou as mãos tatuadas pelos cabelos, antes de se virar para a rainha:

— Acha que é uma boa ideia irmos? O último contato que tivemos foi na guerra. — Ele perguntou para a rainha.

— Qual problema? Eles são quase nossos vizinhos. — O sorriso animado de Mitrya inclinou levemente a cabeça pro lado, tentando entender o porquê daquilo.

— Bem, temos uma longa história de brigas e embates com os elfos do pico da lua, coisa que quase ninguém sabe, e agora vamos aparecer em público e eles podem estar lá…

A rainha suspirou, passou as mãos adornadas de tatuagens e aneis pelo vestido belo que usava e então sorriu para seu marido, aquele sorriso doce que um dia fez o elfo frio e calculista se apaixonar por ela:

— Seremos respeitosos, e contaremos com o respeito deles, é tudo que podemos fazer, não é? — Levou a mão até o rosto dele, sentindo aquela pele que tanto gostava de tocar.

Marvus segurou a mão de sua esposa contra o rosto, sorrindo mais calmo com aquela tranquilidade que ela transmitia, como poderia negar algo que ela propusesse: 

— Certo, se assim está dizendo, irei confiar em suas palavras, minha rainha.

Mitrya se aproximou, beijando os lábios de seu marido, o abraçando após aquilo, aproveitando aquele momento dos dois.

Já pelos corredores, William explicava como jóias eram importantes entre os humanos, em especial para o reino de Serphs:

— Como ela é a filha da esposa principal, o metal dela é o ouro dourado. — Ele explicava andando ao lado do mais baixo.

— Espera, quer dizer que tem um tipo de metal precioso para cada uma das esposas? Por que?

— É assim que as coisas funcionam, meu querido Lys. — William deu uma risadinha da confusão de seu companheiro. — Por exemplo, o ouro dourado é propriedade da família real, claro, o rei Ricardo usa esse metal, assim como a rainha Elengaria, mas as outras duas, mesmo sendo consortes e rainhas legitimas, não usam esse metal.

— Não é permitido?

— Ah não, longe disso, ela tem total direito de usar, mas nunca o fariam pela classe social anterior de ambas, das quais elas têm muito orgulho. Lady Leopolda, a mãe do primogênito, é filha de um estudioso, eles usam o ouro prateado, e ela permaneceu usando esse metal mesmo após o casamento, talvez para ter uma diferença entre ela e a rainha?

“Já a Lady Ana Bael é uma guerreira, os guerreiros usam o ouro rosé principalmente como armadura por ser mais resistente que a maioria dos metais, e ela, com orgulho da sua origem, ela manteve isso”

Os dois andavam lado a lado enquanto conversavam, William, mesmo vivendo a tempos entre os elfos, nunca abandonou suas raízes humanas, em respeito a sua mãe, que era uma humana:

— Você é mesmo inteligente… — O elfo estava encantado com o conhecimento do mestiço, que deu uma risadinha sem jeito.

— Isso é conhecimento comum. Não fale bobagem.

— Entre os humanos, talvez, aqui eu nunca tinha sequer ouvido falar disso. — Parou de andar, olhando o rosto de William. — Se eu te elogio, você aceita, cabeçudo. 

Puxou as bochechas de William que reclamou dando um tapinha na mão do elfo:

— Certo certo, entendi.

— Mas ao fim, o que vamos dar para ela? Uma coroa?

— Jamais. — O mestiço disse. — Isso pode ser visto como uma afronta, assim como não devemos dar um anel?

— Que? Por que? Anéis são incríveis! Ótimos presentes! — Lysareths reclamou.

— Pode ser visto como um pedido de casamento. 

Os olhos do elfo se arregalaram em incredulidade ao ouvir aquilo:

— Eles não usam brincos iguais como prova de matrimônio?

A negativa de William fez Lysareths colocar as mãos na boca em surpresa, aquilo era algo completamente inconcebível para ele, como elfo, assim como William, ambos usavam um brinco prateado com uma pedra esverdeada simbolizando o matrimônio que tinham com a rainha:

— Eu sei, é diferente de nós. — William tentava não rir do outro.

— Certo, então o que damos para ela? Coroa não pode, anéis também não, muito menos brincos! — Parecia que estava cada vez mais surpreso pelas diferenças culturais.

— Colares, vamos dar colares para ela. — Sorriu como se fosse a melhor idéia que poderia ter.

E de fato, era, a melhor ideia que ele teve, até agora no momento:

— Mas ela é uma princesa, ela deve ter muitos disso, não?

— Mas não algo élfico como só nós sabemos fazer, depois dos anões, somos os melhores no trabalho com metal e modéstia à parte, jóias élficas são mais…Delicadas e elegantes. — Colocou a mão no peito sorrindo convencido daquela afirmação.

O elfo de pele morena deu uma risada calma daquilo, adorando o comportamento de seu parceiro de matrimônio:

— Confio em você, bem vamos aos joalheiros!

E então Lysareths puxou a mão de William, começando a andar rápido, animado junto com o outro, rindo e conversando sobre como seria a jóia.

 

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