Volume 1 – Arco 4

Capítulo 39: Boa Amiga

 

A vida sem sua melhor amiga por perto foi dura para a pequena Daphne, depois que a princesa caiu doente, o bullying que sofria pelas outras crianças foi horrível, desde roubar suas coisas quanto a empurrarem com violência.

E agora que Eliassandra voltou as coisas deveriam se acalmar correto?

Claro que não.

Um pequeno grupo de crianças se reunia ao seu redor, a líder, a mesma garotinha arrogante da outra vez tinha lhe empurrado para cair no chão, derrubando os doces que levava para sua amiga.

Tentava conter o choro, mas as lágrimas começavam a cair pelo rostinho infantil, mas era quase impossível, estava cansada de lidar com aquelas provocações e violências, o que tinha feito para àquelas crianças? Desde que se lembrava, era tratada assim por motivo nenhum!

— Ah, ela vai chorar! — A garota riu apontando o dedo para Daphne.

Seus cabelos loiros opacos, seus olhos cheios d’água não eram pareos para os cabelos negros e sedosos de sua valentona, talvez era por ser feia?

Celya Alahan era filha de um conde, num nível de nobreza, era inferior, mas aquela criança maldosa era mais carismática, o que fez vários filhos de nobres inferiores e alguns guardas mais assalariados.

Não conseguia saber por que aquela criança a odiava tanto, e nem colocava muito esforço para entender, era apenas uma criança, e queria que ela parasse de uma vez.

A menina de cabelos negros se abaixou, olhando para sua vitima com um sorriso vitorioso:

— Por que você me odeia…?

Uma risada debochada, foi tudo que ganhou de sua valentona:

— Acha que só porque a princesa voltou, você vai escapar da gente? Você sempre vai ser assim, uma bobona, e sempre vai ser.

A mão da criança segurou os cabelos loiros de Daphne, puxando com certa força, se antes tentava conter o choro, agora Daphne sequer se esforçava, aquilo doía bastante, não só pela dor, mas pela humilhação, o riso das crianças ao redor deixava

— Solta ela. Agora. — A voz baixa e fria se fez ouvir pelo grupo.

Uma mão segurou a da sua valentona, e ali estava ela.

Eliassandra com seu vestido chique, de um rosa queimado, luvas de cetim branco transparente, o cabelo perfeitamente penteado e agora a coroa que usava na cabeça com seus rubis. Segurava a mão da outra criança, apertando com força.

Sustentava o olhar para aquela que machucava sua amiga, apertava o pulso com força, estava com intenção de machucar:

— Princesa?

— Eu mandei soltar. — A pequena princesa ordenou.

A valentona soltou o cabelo de Daphne, não sem antes arrancar alguns fios de cabelo da menina mais fraca e caída no chão tentando secar o rosto:

— Alteza?

— É a princesa!

— Ela é tão pequena… — Começaram a comentar enquanto Celya massageava o pulso.

De fato, Eliassandra era pequena, até mesmo para sua idade, mas era inegável que sua presença fria afetava até mesmo crianças da sua idade:

— Só estávamos…

— Eu não perguntei. — Eliassandra cortou, ajudando sua amiga a ficar de pé.

Começou a passar as mãos pelos braços já machucados de Daphne, vendo que já tinham novos hematomas desde a última vez que virou, não olhava para aquelas crianças, não ainda.

Daphne não sabia o que dizer, era como se as ações deles finalmente fossem ter alguma consequência? Não conseguia acreditar naquilo, e quando Eliassandra fosse embora…?

— Alteza… — Daphne começou a falar, mas a mão erguida de Eliassandra lhe calou.

A princesa se virou para as crianças mais velhas, com aqueles olhos sempre frios e cortantes que fazia as outras tremerem:

— Quem vai pedir desculpas? — Perguntou simples.

Ninguém se manifestou, desviavam o olhar da princesa, alguns até sorriam levemente, ela não podia fazer nada legalmente, e olha o tamanho dela! Era pequena, mesmo que tivesse aqueles olhos assustadores, ainda era apenas uma criança.

Aquilo enchia a princesa de raiva, mas engolia mantendo o rosto frio.

Se aproximou de Celya, olhando-a de baixo, então chutou o joelho da garota:

— Ai! — Celya reclamou alcançando seu joelho.

Nesse momento a mão de Eliassandra segurou os cabelos negros da menina, puxando com força, uma exclamação de surpresa foi ouvida pelos colegas que faziam bullying com Daphne:

— Ai! Isso dói!

— Eu sei que doí, e mesmo assim você machucou minha amiga, acha que isso foi certo? — Eliassandra falava baixo, puxando os cabelos da menina.

— N-Não, eu não acho! 

A garota começava a ter lágrimas nos olhos, aquilo estava mesmo machucando, e a princesa não soltava, nem se importava:

— Peça desculpas.

— Desculpa! — Celya falou alto.

— Vai fazer de novo?

— Não! Eu juro! — E então finalmente a garota teve os cabelos soltos.

Estava chorando, massageando onde a princesa tinha puxado, como uma criança daquelas tinha tanta força? E ainda por cima ser tão… Fria em relação àquilo? Parecia que sequer foi afetada por aquele ato:

— Então… Quem vai  mexer com a Daphne de novo? — Os olhos vasculharam os rostos que negavam rapidamente, dando passos para trás. — Sumam.

Como uma ordem, eles correram em desespero para longe da princesa e da filha do duque. Daphne olhava aquilo com um misto de admiração e receio, será que sempre precisava de alguém para lhe defender? E esse alguém era uma criança muito mais nova que ela?

— Vamos pra madame Mel. — Eliassandra ditou.

Não olhou para Daphne, apenas começou a andar em direção a enfermaria do palácio. A loira começou a andar rapidamente, seguindo aquela criança.

Queria falar algo, agradecer, mas se sentia tão pequena diante dela, tão fraca. Será que merecia ser sua amiga?

Pensando naquilo começou a sentir seus olhos embaçando, enxergar começava a ficar difícil. Estava chorando.

Parou de andar abraçando seu corpo magrelo, começando a tremer com os soluços. Eliassandra virou a cabeça para trás, tentando saber o que deveria fazer.

Não sabia como acalmar uma pessoa, mas pensando em como Ahrija iria agir naquele momento, se aproximou da garota mais alta, passando os braços ao redor do corpo dela e a abraçando com a ternura que aprendeu a ter.

Daphne desabou nos braços da pequena, toda aquela dor que estava presa por tanto tempo parecia ser despejada sobre a princesa:

— Eu sei que meu pai não me ama porque eu matei minha mãe,mas… Eu queria que ele sentisse orgulho de mim! — Aquela fala era tão embolada que Eliassandra não entendia totalmente. — Se eu tivesse magia eu… Eu poderia ser muito mais!

Então era para aquilo que queria magia? Não que seu motivo fosse bom ou nobre, era apenas um querer egoísta e assim conseguiu, mas não sabia se Daphne iria aguentar o que ela passou.

Mas não podia arriscar.

E nem falar nada, era o momento dela, não queria dar falsas esperanças, só queria que ela se sentisse melhor. Que ponto chegou não é mesmo?

Uma pessoa como ela, que foi responsável pela morte de tantas e tantas pessoas, estava ali consolando outra criança, e se esforçando para isso.

Deu o tempo que Daphne precisava para se acalmar, falando de como odiava o tratamento que as outras crianças lhe davam, odiava como seu pai parecia distante, que ele não a notasse como queria.

A garotinha, mesmo após parar de chorar, ainda estava agarrada a Eliassandra, não reclamou, a respiração ainda incerta dela indicava que estava se acalmando, ao menos aos poucos, o que era bom. Não queria que ela carregasse aquele peso sozinha sendo tão nova como era:

— Desculpa eu…

— Você é minha amiga. É claro que pode desabafar comigo. Céus.

Não sabia mais o que dizer, apenas reafirmar que sim, Daphne podia falar com ela e ser protegida por ela, sua cabeça fervilhava com todas as possibilidades de como deveria seguir agora? Como lidar o pai ausente, as crianças valentonas…

Era tudo tão complexo para alguém que normalmente resolvia as coisas na base da força, agora parecia que tudo era uma grande trama que ela não entendia.

Mas isso séria assunto para depois. Balançou a cabeça pros lados, segurando as mãos de Daphne:

— Vamos ver a Madame Mel ok?

Era tudo que podia fazer agora: Cuidar dos machucados da sua amiga.

 

A noite tinha caído sobre o palácio real, Elengaria ainda se mantinha perto de sua filha, enquanto servas penteavam os cabelos brancos da menina:

— Sua festa de aniversário é daqui a um mês, sabia? — Elengaria sorriu para sua pequena filha.

Eliassandra, que estava acariciando Lynn sentado em seu colo,  levantou os olhos para sua mãe:

— Sim. — Respondeu curta.

Seus olhos analisavam sua mãe, pensando onde ela queria chegar com aquela fala, tinha falado mais cedo sobre a situação de Daphne, sua mãe pareceu surpresa naquele momento, mas pareceu que iria resolver:

— Bem… Eu sei que você gosta daquele seu amiguinho…

— Melhor amigo. — Eliassandra cortou.

Aos poucos a garota ia podando sua mãe, como se estivesse marcando seu território até onde ela poderia ir:

— Sim, seu melhor amigo, você gosta muito dele…

— E ele vem na minha festa.

Dito aquilo, Eliassandra se levantou da cadeira, dispensando a serva, que fez uma reverência, deixando as duas sozinhas:

— Elia…

— Não estou abrindo debate, a festa é minha, para pessoas importantes pra mim. — Mais uma vez decretou aquilo.

Eliassandra era uma criança, não entendia as implicações daquela festa, era a primeira festa pública de sua filha!

— Querida, não é assim que funciona. — Falou firme.

Os olhos de Eliassandra se estreitaram, como se aquela fala fosse um fim do mundo, como se sua mãe estivesse falando que o céu é cor de vinho:

— É assim que vai funcionar. — Eliassandra disse.

Como uma criança daquele tamanho poderia ser tão firme na sua fala? Elengaria se levantou, encarando sua filha exatamente do tamanho que ela era: diminuto.

E mesmo assim aquele ser pequeno e frágil não fraquejava, apenas olhava de volta, de igual, como ela conseguia?

— Discutiremos isso amanhã. — Elengaria virou de costas para sair dali.

— Não existe discussão, se ele não vier, eu não vou.

Elengaria parou, respirou fundo e saiu do quarto, não ia discutir com uma criança!

Marchou para o quarto de seu marido, abrindo com certa raiva, pegando Ricardo lendo alguns documentos:

— Querida…

— Não acredita no que sua filha me disse!

O rei piscou algumas vezes, esperou que sua esposa falasse, e essa não perdeu tempo, andando de um lado pro outro claramente irritada com a situação incomum:

— Ela me disse que quer que aquele médico draconico e um menininho venham para a festa dela! Ela disse que se eles não viessem, não teria festa! Acredita nisso? Ela puxou isso de você! — Encerrou a fala apontando o dedo para o monarca.

Ricardo tentava não dar risada daquela situação, imaginou que ela teria esses problemas após os seis anos, mas Eliassandra já mostrava suas garras enfrentando a mãe:

— Sim e… Qual o problema? Chame eles para festa. 

— Você só pode estar de palhaçada com a minha cara! Como chamar dois dracônicos para um baile de gala!?

Ricardo se recostou na cadeira, encarando sua esposa que estava tão engraçada com aquela raiva toda de uma criança de quatro anos:

— Elen, querida, qual o problema de chamar eles? É por que não são humanos? — Aquele questionamento era válido.

Sabia que muitas vezes algumas pessoas tinham preconceito com outras raças, mas para Ricardo que lutou ao lado deles, não fazia tanto sentido assim.

Então queria entender o ponto de Elengaria:

— Ela me desafiou!

— Elen, querida, Ferrer só não é mais arrogante por pedido de sua mãe. Ian tem um pavio curtíssimo, e tende a arrumar confusão. — Ricardo sorriu listando os defeitos de seus próprios filhos. — E Eliassandra é desafiadora, você está vendo que uma criança não é exatamente o que imaginou.

— Ela tem quatro anos!

— E já lê, já fala como uma pessoa mais velha, sua filha não é comum, nenhum deles é, Elengaria. 

Elengaria estava com o rosto vermelho de raiva, o que deixava Ricardo com um sorriso divertido, só conseguia pensar em quão linda aquela mulher era, seu belo lírio branco, estava realmente feliz por ter ela para si, como sua esposa:

— Vem cá, meu amor. — Abriu os braços para receber sua pobre esposa irritada.

Mesmo sem admitir, gostava daquele mimo que ele lhe dava, se sentou no colo de Ricardo, deixando-se ser abraçada pelos braços fortes de seu marido:

— Deixe que ela chame seus amigos… Quem sabe seja um passo para que esse preconceito bobo acabe… — Sugeriu.

Elengaria resmungou contra o ombro de seu marido, algo que ele sequer entendia, mas achou lindo ver ela daquele modo:

— Então faremos isso direto! — Elengaria deu um pulo do colo de Ricardo com um sorriso animado.

— O que quer dizer com “fazer direito” meu amor?

Ricardo não conseguiu se conter, e andar atrás de sua esposa que já saia do quarto extremamente animada:

— Vamos convidar a família real élfica e os anões!

Aquela fala surpreendeu completamente Ricardo, que ficou parado no corredor, vendo sua esposa sair andando feliz da vida com sua ideia, foi realmente uma grande mudança e ele não conseguia não sorrir com isso.

Sua esposa realmente estava disposta a tal!

 

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