Volume 1 – Arco 5
Capítulo 41: Pico da Lua
O alto pico da lua era frio, inóspito, mas mesmo assim… Parecia um local de paz.
Mas o local era quase uma fortaleza, sem um guia, você se perderia pelo local, e provavelmente morreria castigo pelo frio intenso.
No interior do castelo, na sala de estudo, um lugar iluminado por belas pedras azuis e roxas, com aquele brilho dava um ar ainda mais misterioso no local, no centro da cala, sentada no chão tinha uma pequena criança elfa, os cabelos negros estavam presos num rabo de cavalo alto, a pele era tão branca que quase parecia cinza, as longas orelhas erama adornadas de enfeites prateados.
Os olhos eram completamente negros, desde a esclera até a íris, a única coisa colorida era a íris amarelada que se movia acompanhando as letras do livro que lia.
A princesa mais nova dos elfos estava focada nos seus estudos, mal reparou na entrada do outro elfo, com a pele tão pálida quanto a dela, com seus cabelos curtos pretos e um olhar tão parado que parecia estar morto:
— Querida irmãzinha… — A voz parecia estar distante, mas a garotinha não se importou.
— Sim?
— Não acha que já está bom?
— Não, preciso me esforçar mais.
O silêncio voltou a se erguer, como se o novo participante do local, até que o mais velho apenas pegou a irmã do chão, jogando por cima do ombro:
— O que ‘tá fazendo!? — A Garotinha tentou se debater para se soltar do irmão. — Me solta Shelyah!
— O papai está querendo falar conosco. — Ele disse com aquela voz distante e fria, quase morta.
Aquela era a personalidade do décimo filho, como alguns diziam, quase sem alma, os olhos sempre sem vida, quase um fantasma sem ser notado pelos corredores do castelo, ao menos dessa vez, podiam saber que ele estava chegando:
— Eu posso andar!
— Quero te carregar.
Então, a pequena garota apenas desistiu, sendo carregada pelo irmão pelos corredores iluminados por cristais, o local era mesmo lindo, e parecia que ali vários mistérios eram escondidos:
— Ele chamou todos nós?
— Sim os doze.
Os doze filhos do rei dos elfos do pico da lua, eram um grupo de crianças adotadas desde cedo pelo rei, que foram criadas e instruídas para serem os novos governantes e guerreiros do reino, a caçula, a décima segunda filha, era Mizandra, tinha apenas sete anos, foi adotada pelo rei desde seu nascimento, quando sua mãe morreu num parta difícil.
As regras dos elfos do pico da lua, os elfos lunares como eram conhecidos, tinham um sistema de governo bem parecido com os outros, eram governados por um rei ou rainha, o chamado Monarca da Lua, a esse porém não lhe permitido a dádiva do matrimônio, por isso era comum que o superior adotasse doze filhos.
Doze filhos que representavam as doze principais constelações do céu noturno, eles eram educados, treinados, tudo para que conseguissem um dia, quem sabe, herdar o trono.
Não sabiam quem iria herdar o trono, seu pai, o atual monarca, era um um homem ainda jovem, não pensavam tanto nisso por aquele e outros motivos.
Finalmente a dupla chegou nas grandes portas de pedra negra da sala de reuniões para a qual foram chamados, ali estava Grandir, o oitavo filho, era um elfo alto, largo, de cabelos curtos esbranquiçados e pele azulada, um padrão comum para os elfos, seus olhos negros encararam a dupla de irmãos:
— Shelya, coloque a Mizandra no chão. — Pediu com aquela voz firme.
Os olhos sem vida do irmão mais baixo encararam os sempre firmes do mais alto, por fim, apenas colocou sua irmãzinha no chão, que se ajeitou, o vestido simples branco com detalhes azuis de flores, a garotinha estava descalça no chão frio de pedra:
— Não deixou ela sequer se vestir adequadamente. — Grandir bufou vendo aquela situação.
Mas não tinha mais o que fazer, logo as portas eram abertas, eram os três últimos a chegar, todos os outros estavam ali, perfeitamente sentados ao redor da mesa com treze cadeiras:
— Quase chegaram depois do nosso pai. — A voz sempre calma e controlada do primeiro filho foi ouvida.
Amashis, um jovem alto, de longos cabelos brancos, adornados de tranças, a pele era de um azul escuro, com algumas manchas brancas no rosto, assim como a sua tatuagem que ficava na testa:
— Mizandra estava estudando demais de novo. — O irmão de voz morta disse se sentando em sua cadeira.
— Ele não me avisou direito! — A pequena garota reclamou.
— Ele nunca explica as coisas direito, aqui Miza, eu te ajudo. — Nehys, a sexta filha, disse com seu sorriso que sempre parecia ter segundas intenções.
Era uma mulher baixa, de olhos de um amarelo que mais parecia uma cobra, os cabelos negros como sde Mizandra estavam presos em um coque alto, a pele era azulada também, e se destacava contra a pele da caçula enquanto a ajudava a sentar na cadeira adapatada para ela:
— Quanto simpatia. — Shelya disse sem emoção.
Os olhos sem vida do garoto se encontraram com os cheios de malícia da irmã mais velha, essa no final apenas sorriu, sempre escondendo suas cartas na manga, como uma boa cobra:
— Vocês dois, parem, logo o pai estará aqui, mantenham o decoro, por favor. — A voz de Balis estava impaciente, era o segundo filho.
Assim como Grandir, tinha cabelos curtos, mas era mais esguio que o grande urso, tinha pele acinzentada e cabelos de um loiro claro, os olhos azuis gélidos estavam focados na outra porta, de onde o monarca iria vim:
— Querido irmão, não fale assim, seja um pouco mais brando com seus irmãos. — Vilysys, o quinto… Ou quinta filha, não sabiam ao certo, falou com sua voz mansa.
Sua estrutura era andrógina, o corpo magro, adornado de diversas camadas de panos, escondendo sua pele pálida, os olhos eram esbranquiçados e os cabelos um degradê do branco para um rosa e depois roxo, longos e sempre bem cuidados.
Balis revirou os olhos, mas murmurou um pedido de desculpas sem jeito, fazendo os outros darem uma leve risada:
— Vilysys sempre sabe como dobrar o Balis. — Elesis riu.
— Sim, sempre. — Estareh concordou.
Elesis e Estareth eram gêmeos, os únicos que tinham um real laço sanguíneo ali, eram iguais, ambos tinham cabelos brancos, ambos tinham pele azulada, ambos eram de estatura mediana, tinham o mesmo sorriso sapeca de cumplicidade, ocupavam o posto de quarto e terceiro filhos, respectivamente:
— Não encham seus irmãos, por favor. — Ateler, o oitavo filho, era um garoto alto, de cabelos acinzentados e olhos da mesma cor pediu, os braços magros de pele branca, estavam adornados de belos braceletes.
A voz era calma, mas era claramente firme, de alguém que dava bronca nos irmãos, esses abaixaram a cabeça, murmurando um pedido de desculpas:
— O papai chegou. — A voz melodiosa de Seraphs, a sétima filha, anunciou.
Seraphs era quase um anjo, a pele completamente preta, os cabelos longos e brancos, os olhos também esbranquiçados, como uma pessoa cega, a voz era melodiosa e atrativa.
Era dos filhos, a mais linda.
E dito e feito, as portas atrás da cadeira maior se abriram revelando o cara alto, de pele pálida, cabelos prateados como a lua, seus olhos eram de um azul escuro e profundo, como o céu noturna, sua estatura esguia e magra dava um ar quase celestial ao homem.
Todos os doze filhos ficaram de pé quando seu pai chegou, e com um aceno de cabeça, todos sentaram, até a pequena Mizandra, com sua dificuldade de subir nas cadeiras altas:
— Meus filhos, que felicidade ter todos reunidos aqui após tantas luas. — A voz era calma, mas soava firme para os filhos.
— Meu pai, meu rei, por que nos chamou aqui? — O primeiro filho questionou.
O rei deu uma leve risada daquilo, uma risada que só era reservada para as pessoas que mais amava, nesse caso, seus filhos:
— Não posso querer ver minha família reunida?
O primeiro filho encolheu os ombros, de fato, sabia que seu pai gostava de ver os filhos reunidos ali, interagindo entre si daquele modo, era uma de suas alegrias:
— Mas sim, tenho um motivo, de fato. — Ele se endireitou no trono. — Fomos formalmente convidados para o aniversário da pequena princesa humana.
Todos ficaram em silêncio.
Um silêncio pesado que poderia ser cortado com uma adaga sem problemas:
— O que? — Ateler finalmente falou sem acreditar.
Nunca eram chamados para esses eventos, e agora receberam um convite?
— Eles… Eles querem a gente lá? — Seraphs perguntou antes de sorrir juntando as mãos. — Eles nos convidaram mesmo!
A alegria da mais bela e angelical entre os irmãos, logo contagiou alguns, outros pareciam desconfiados com aquele convite repetindo, será que queriam humilhá-los? Mas por qual motivo?
— Vamos… Vamos todos? — Elisis comentou completamente sem acreditar.
A maioria nunca saiu dali, talvez apenas Vilysys que estudou fora, mas o resto sequer sonhou com isso:
— Eu não quero ir. — Grandi disse direto.
De todos, parecia o menos inclinado para ir à uma festa, talvez por ser um guerreiro? Não saberiam dizer sem perguntar diretamente:
— Não se preocupem, nem todos vão, se não quiserem. — O Monarca garantiu aquilo com um sorriso calmo.
— Eu quero ir! — Seraphs levantou a mão, com aquela aura animada que contagiava a todos.
— É claro que pode ir, querida, Mizandra. — O Monarca chamou diretamente sua caçula. — A princesa humana tem quase sua idade, seria bom você ir.
Mizandra ficou em choque, encarando seu pai da outra ponta da mesa, a boca moveu sem emitir som, fazendo os gêmeos darem uma risada divertida daquela situação:
— E-Eu?
— Sim, seria bom você conhecer outras raças, não acha?
Ele sorria com calma, mesmo vendo o pequeno desespero nos olhos de sua filha mais nova.
Como os outros, Mizandra foi adotada em seu nascimento, nunca conheceu sua mãe, foi criada por uma serva destinada a isso, a quem reconhecia como figura materna, aprendeu a ler e escrever com ela.
Sua mente infantil estava a todo vapor, não sabia se deveria ou não concordar com aquilo, seus olhinhos vagaram pelos irmãos, e suas expressões eram confusas.
Uns pareciam incentivar ela a aceitar tal proposta, outros pareciam não querer que ela fosse… Quem deveria seguir? Qual o caminho para agradar a todos? Então a voz sempre polida de seu primeiro irmão chamou a atenção:
— Tenho certeza que Mizandra será uma ótima companhia para irmos. — Ele sorriu para a irmãzinha.
Ele iria.
Com isso, três dos doze aceitaram ir, os outros pareciam ainda relutantes em aceitar tal coisa, como se achassem que fosse uma armadilha para a humilhação:
— Não os forçaria a irem comigo, mas são bem vindos para tal, Balis, como Amashis irá, você será o príncipe no comando.
— Sim, meu pai. — Balis concordou fazendo uma leve reverência.
— Aos que aceitaram ir, preparem seus trajes, partimos em dois dias. — O monarca avisou se levantando.
Todos os doze filhos se levantaram, esperando seu pai sair da sala para voltarem a falar mais livremente:
— Uuuuh, a pequena Miza vai ver os humanos! — O primeiro a falar foi Elesis, um dos gêmeos.
Ele se aproximou com aquele sorriso malandro, como se soubesse de algo, mas talvez só quisesse assustar a irmãzinha, se sentou na cadeira ao lado dela:
— Humanos não gostam de elfos como nós sabia? — Elisis sorria.
— Como sabe disso? — Ateler cruzou os braços.
Uma conversa começou a evoluir, e logo um pequeno bate boca se iniciou entre eles, sobre se humanos gostavam ou não dos elfos lunares como eles, e aquilo só deixava a pequena Mizandra cada vez mais aflita, precisava ser agradável para uma pessoa que poderia lhe odiar?
Sua cabeça começava a fervilhar de tantas hipóteses!
Uma mão tocou seu ombro, lhe chamando atenção, os olhos mortos de Shelya pareciam estar um pouco menos densos, sinalizou com a cabeça para que a seguisse, e como dois vultos, ambos saíram da sala.
Andava em silêncio atrás de seu irmão mais velho, encarando as costas do outro, Mizandra queria puxar assunto, mas não sabia como, mesmo com o mais velho sempre presente, ele ainda parecia tão distante de todos que parecia nem pertencer àquela família:
— Sinto seu olhar em mim, pode falar. — Shelya disse ainda andando na frente.
A pequena princesa respirou fundo, inflando o peito para conseguir coragem finalmente:
— O que você acha?
— Acho que é uma boa oportunidade para estreitar laços. — Foi uma resposta fria, como normalmente era.
— E se eles não gostarem de elfos como nós?
Shelya parou de andar, se virando para olhar a irmãzinha, dessa vez podia ver algo diferente no olhar dele, algo mais determinado, mas logo se suavizou com aquela indiferença de sempre:
— Se eles não gostam de nós apenas por isso, então eles não merecem nossa atenção. — O garoto, mesmo com aquele olhar distante, parecia falar a verdade.
Verdade essa que arrancou um sorriso de sua irmãzinha mais nova, essa se aproximou do mais velho e lhe deu um abraço apertado:
— Obrigada irmão.
— Que seja, agora vai arrumar suas roupas, precisa estar bonita não é?
— Sim! Verdade! Até mais.
Então a pequena criança correu em disparada para seu quarto, deixando seu irmão ali, parado com aquele olhar distante:
— Espero que tudo dê certo…
Confidenciou ao vento que corria pelos corredores iluminados por pedras roxas e azuis do castelo.
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