Volume 1 – Arco 4
Capítulo 37: A Dor de Quem Ficou para Trás
Com aquela viagem rápida e cansativa, chegaram ao último hotel, dessa vez apenas para se arrumarem, e para o desconforto de Elengaria, Eliassandra exigiu usar um vestido que tinha trazido da vila dos aures, não era um vestido, aos olhos de sua mãe, a altura de sua princesa.
Eliassandra por outro lado não parecia se importar com a opinião de sua mãe nesse momento, seu cabelo estava solto com algumas flores por ele, o vestido azulado estava perfeitamente alinhado no corpo, usava o colar que tinha ganhado da vovó.
Ana observava sua rainha arrumando a criança pequena, tinha planejado tantas roupas fofas para sua filha, sabia que provavelmente tinham organizado toda uma celebração para a volta da pequena princesa.
E a pequena não queria aparecer.
Ver a frustração de Elengaria era quase engraçado, ver ela tentar negociar com uma criança de cinco anos que claramente não abriria mão do que queria era quase cômico.
Quando finalmente conseguiram chegar ao acordo de Eliassandra ao menos usar sua própria coroa, após longos minutos de negociação, poderiam seguir viagem.
Aquela foi a última parada, de lá seguiriam diretamente para o castelo, onde a águia de Elengaria já tinha avisado Ricardo que estavam chegando.
Pela primeira vez desde que começou aquela jornada de volta, Eliassandra sentiu aquele frio na barriga, e se seus irmãos não gostassem mais dela? Se seu pai lhe desprezasse por sua mudança? O corpo estava gelado, movendo seus pés para dentro da carruagem com pégasos.
E logo alcançaram voo, Ana Bael estava ao lado do cocheiro do lado de fora, ventos nos cabelos, Elengaria estava ao lado de sua pequena filha, segurando sua mão enquanto a massageava levemente, mesmo que Eliassandra parecesse distante, com olhos focados à janela, ainda estava grata pelo toque de sua mãe.
Lhe acalmava de tal modo que nem sabia descrever.
O amor materno sempre foi algo que pessoas como ela nunca teriam, será que ainda existiam crianças que passam por isso? Não apenas a ausência de pai e mãe, mas a ideia do abandono, da ideia de que alguém não os quiseram, ou que… Foram vendidos em troca de comida.
Seu coração infantil batia forte enquanto aos seus olhos o palácio real finalmente era visto da carruagem, começou a ficar inquieta, querendo ver mais, mas ainda sim, daquela distância, nunca veria os rostos que procurava com tanto afinco:
— Estamos chegando, querida. — Sua mãe sorriu olhando seu rosto.
A mão macia de Elengaria acariciou o rosto de sua filha, tirando alguns fios de cabelo da frente de seu rosto redondo e agora cheio de expectativa:
— Estamos descendo! — A voz animada de Ana gritou.
E Eliassandra não entendia essa animação, sempre que desciam sentia o estômago revirar, em uma dessas vezes até vomitou, mas para a segunda consorte parecia adorar a sensação, cada um com suas loucuras não é? Elia gostava da sensação da mana percorrendo seu corpo quando ia lançar um feitiço.
Fechou os olhos agarrando ao braço da sua mãe como fazia todas as vezes naqueles momentos, Elengaria achava a coisa mais fofa do mundo, sorrindo com carinho, e então… Pousaram.
Logo a comoção foi escutada, muitas pessoas estavam ali para ver a pequena princesa pela primeira vez, essa que ergueu o rosto para sua mãe com uma careta:
— Por que tem tanta gente aqui?
— Querida, estão animados em te ver.
“Mas eles nunca me viram, como infernos eles querem me ver agora?”
Quis bufar, reclamar, mas do que adiantava? Agora já estava feito.
Se levantou ajeitando o vestido simples que usava, claro, por isso sua mãe queria lhe vestir ainda mais cheia de bugigangas brilhantes, seu ato ali também era político, para mostrar a filha da rainha em seu esplendor.
Ou vê-la fracassar.
Não queria decepcionar sua mãe, então respirou fundo, sorrindo com com toda a arrogância que tinha:
— Então vamos, se eles querem ver a princesa, que vejam.
No pátio do palácio três figuras, dentre todas aquelas pessoas ansiosas, se destacavam. O mais alto, Ricardo, o rei, sua pose imponente, cabelos presos num rabo de cavalo baixo, a coroa dourada em sua cabeça, suas vestes vermelhas como as chamas que dominava.
Ao seu lado direito estava seu primogênito, Ferrer René D’Ank, um garoto relativamente alto, os cabelos soltos e a coroa também dourada sobre a cabeça, usava roupas azuladas, como as cores de sua mãe.
Em contraste com o corpo esguio de Ferrer, no lado esquerdo estava Ian D’Ank, o segundo filho, com os cabelos sempre rebeldes adornados com uma coroa dourada, vestia verde assim como sua mãe, sempre representando de quem eram filhos.
Estavam ansiosos pelo reencontro da irmãzinha, tentavam não demonstrar muito, mas era impossível. Quando aquela carruagem pouso, tiveram que se conter para não correr até lá.
E lá estava ela.
Eliassandra D’Ank, a primeira filha de Elengaria, com seus cabelos brancos adornados com a coroa e flores que pareciam brilhar, um vestido simples mas bem arrumado e seus olhos, agora diferentes, procurando sua família.
Quando os olhos avermelhados encontraram os outros, Ian não se importou com etiqueta, mesmo na frente de tantos nobres e alguns empregados, ele correu em direção a irmãzinha, finalmente a abraçando com força e girando no ar:
— Eu senti sua falta! — Falou sentindo as lágrimas de alívio e felicidade.
Ela tinha voltado.
Não demorou para o irmão mais velho chegasse, mesmo que não corresse, ainda chegou rápido, passando seus braços ao redor de seus dois irmãos, os abraçando também, estavam juntos, depois de meses finalmente estavam juntos.
O último a se aproximar foi Ricardo, sempre imponente. Ian ergueu a irmãzinha mais nova para seu pai, que não se demorou para abraçar sua filha:
— Que bom que voltou, pequena…
Ao longe, alguém ainda observava aquela cena, claramente irritada com a situação.
Vivany estava de braços cruzados, vendo a felicidade daquela família, agora que aquela pirralha estava de volta, como iria conseguir se aproximar do rei? Lembrava bem de como ela poderia ser chata, parecia uma vigia de sua irmã:
— Minha senhora? — Saffy, sua fiel criada a chamou.
— Não se incomode com isso, é só… Um pequeno contratempo.
Mas olhar como aquele homem amava sua família, seus filhos, e até mesmo suas esposas, viu as duas se aproximando do monarca, que beijou ambas de forma respeitosa, aquela era uma linda família.
Só faltava uma, a bela e distante Leopolda, talvez em seu plano poderia usar aquela mulher tão fria para derrubar sua irmã e assumir seu lugar.
Se passaram anos e ainda não conseguia superar aquela afronta a si, era para ela ser rainha! Eliassandra era para ser sua filha, se fosse a esposa dele, sequer existiria Ana Bael e Leopolda.
Eliassandra estava de volta ao seu quarto, olhava as coisas com certa estranheza, tinha se acostumado a um quarto menor, dividindo com Ahrija, e agora estava sozinha, até mesmo sua mãe lhe deixou sozinha ali, logo as criadas iriam chegar para lhe ajudar a tomar banho e colocar uma roupa bonita para se apresentar para a nobreza.
Só aquilo já a deixava enjoada e cansada, sentiu falta de sua família, mas não de ser nobre.
Mas não deveria reclamar de barriga cheia, aquela vida era muito melhor que a sua antiga, mas ainda sim se sentia sufocada as vezes, mas tentava não ser ingrata e mesquinha.
Era complicado.
Subiu na cama grande e espaçosa, agora estava vendo o quão vazia estava, dividir com com Ahrija lhe acostumou mal com uma presença sempre ali, como seria ter que lidar com essa solidão agora?
Que logo foi embora quando Lynn pulou em sua cama, procurando sua… Dona? Amiga? Mãe?
— Acho que ‘tô meio nova pra ser mãe. — Elia brincou fazendo carinho nos pelos azulados do coelho.
Ainda não sabia bem o que iria fazer de agora em diante, sua vida parecia estar virada de cabeça pra baixo de novo, com Quevel e Ahrija era tão mais simples…
Tapou o olho avermelhado com uma das mãos, se concentrando no outro para conseguir observar a mana ao redor de si, era bonito de se ver, ao menos para ela. Tentava se convencer que era uma pessoa profunda, mas a cada momento que se entendia, sentia que era bem mais simples do que pensava.
Se permitia aceitar que gostava de magia, que magia não era mais uma arma de guerra, era só… Magia.
Algo divertido que não lhe era cobrado, nunca pensou que magia seria divertida como estava sendo, mesmo sendo mais fraca do que era na sua vida passada, ainda era bem mais divertido de aprender.
Sem gritos, sem cobranças, sem alguém esperando que ela fosse forte, apenas… Apenas uma criança aprendendo magia.
Batidas foram ouvidas na porta, Lynn se assustou dando um pulo, Eliassandra apenas virou o rosto para a porta, ainda estava com seu vestido simples da vila aure, talvez fossem as empregadas, pensou se deveria apenas fingir que dormiu:
— Elia? — A voz infantil fez dar um pulo da cama.
Correu até a porta, abrindo com certa dificuldade, era pequena afinal e aquelas portas eram pesadas demais para uma criança de quatro anos:
— Daphne! — E ali, naquele momento, percebeu o quanto sentiu falta de sua amiga.
Do seu rosto meio pálido, os cabelos daquele tom de loiro apagado, agora os dentes estavam incompletos, dando um ar infantil e divertido.
Como uma boa criança que era, a pequena garota magrela de olhos castanhos grandes e redondos pulou para abraçar a amiga que passou meses fora:
— Você voltou!
— Sim!
Aquela pequena alegria de rever sua amiga lhe trouxe de volta aquela animação de estar em casa, sentiu falta de Daphne também.
Puxou ela para dentro, reparando nas mangas longas da garotinha loira, o que era estranho, estavam em pleno verão, por que ela usaria roupas pesadas assim? Não queria acreditar que algo tinha acontecido enquanto ela estava fora… Será que não deveria se preocupar?
— Como foi esse tempo todo sem mim? Se divertiu? Fez novos amigos?
— Heh, claro que não.
Se sentaram no chão, as duas, junto com outros brinquedos e livros que Elia ainda não tinha tocado, estava com preguiça de ver seu quarto, mesmo que tivesse impressão que estava exatamente como deixou.
Daphne tinha muitas perguntas, a maioria infantis e sobre sua condição, e Elia contava tudo, do que podia claro, de seu desmaio, de quando acordou, mas notou o bico quando falou de Ahrija, aquilo era ciúmes?
— Que foi?
— Você fez um novo amigo, e ele é mais legal que eu… Já é seu melhor amigo.
— Mas você também é minha melhor amiga. — A menininha de olhos bicolores se defendeu.
— Não pode ter dois melhores amigos!
— Não? Por que?
Daphne não soube responder, mas cruzou os braços fazendo bico, claramente indignada com aquilo, o que fez Elia dar risada e abraçou sua amiga loira, o que se fez uma péssima ideia, já que a loirinha gemeu de dor:
— Eu só caí. — Daphne tentou se afastar.
Mas Eliassandra não deixou, segurou uma das mãos de sua amiga, levantando a manga de seu vestido, mostrando uma série de hematomas, alguns quase sumindo, outros mais recentes.
Os olhos bicolores ficaram mais sombrios, encarou sua amiga que não a olhava de volta, o papel de parede do quarto de Eliassandra ficou tão interessante agora…
— Daphne…
— Não foi nada.
— Mostra. Agora.
A voz cortante da princesa lhe fez tremer, desde que conhecia só escutava a voz fria de Eliassandra, e hoje conheceu o lado mais animado dela, e agora… Aquele cortante.
Não conseguiu ir contra, se levantou começando a tirar o vestido quase de inverno que usava, o corpo realmente estava machucado, mas analisando aquilo como a pessoa mais madura que era, percebia que não eram feitos por adultos, então só sobrava aquelas crianças que já importunavam sua amiga.
Ajudou a loira a se vestir em silêncio tentando não mostrar sua raiva, eram crianças, não deveria sentir tanta raiva, mas eram crianças cruéis, agora queria tanto empurrar cada uma delas da escada.
Mas não podia, daria trabalho demais para se justificar para os nobres que eram pais deles:
— Desculpa por ser fraca…
Estava tão irritada que só naquele momento percebeu as lágrimas de sua amiga começando a se formar, piscou um pouco antes de se aproximar e abraçar seu corpo, tinha percebido que algumas pessoas gostavam.
E pelo corpo começando a tremer com o choro, Daphne parecia ser uma daquelas pessoas:
— Não é sua culpa… Você não fez nada errado. — Garantia.
Mas ela faria algo errado, esperaria ter a oportunidade para lidar com aquele problema irritante que machucava sua amiga querida, só precisava de tempo…
No momento só se preocupava em cuidar de sua amiga que chorava em seus braços.
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