Volume 1 – Arco 4
Capítulo 33: Uma Boa Notícia!
As espadas se chocaram mais uma vez, fazendo faíscas saírem dela, de um lado o prodígio real do reino humano de Serphs, com sua espada de duas mãos, encarando com certa… Raiva? Seu adversário era um meio elfo de cabelos negros, olhos esverdeados que tinha uma espada mais fina em sua mão e lutava com uma mão atrás das costas, era mais alto que o príncipe, e tinha um sorriso animado:
— Por que você não para de sorrir? — Ian reclamou mais uma vez, tentando acertar o oponente.
Um golpe direto, erguendo a espada, mas que foi desviado pro lado com um aparar do seu adversário, que mesmo assim, não parava de sorrir:
— Sua expressão irritada é tão bonitinha. — O meio elfo cantarolou.
Aquilo foi suficiente para Ian perder a concentração por um momento, e foi nesse momento que foi derrubado no chão, fechou os olhos por impulso, quando reabriu a espada do seu rival estava apontada para si:
— Venci. — A voz ainda era divertida.
O príncipe bufou irritado, batendo na espada apontada para si com a mão, desviando ela de seu rosto e erguendo seu corpo:
— Idiota.
— Ah qual é? Por que me detesta tanto? — O meio elfo quis saber.
Mas tudo que recebeu do garoto foi um olhar irritado, fazendo ele encolher os ombros. Elborony, o meio elfo alto de longos cabelos negros, pele negra e olhos esverdeados não sabia a frustração de Ian, desde que se trombaram na escola, o herdeiro real o odiava.
No começo acho que era preconceito, mas o garoto era amigo de elfos, anões, e até outros mestiços como ele, então por que o detestava tanto? Talvez fosse rivalidade, afinal o garoto era o único de mesma idade que conseguia bater de frente com Ian, mas de meses para cá aquele comportamento piorou.
Não chegava a xingar coisas além de “idiota” mas o tom era diferente, mais estressado que o normal, tentava não pensar naquilo, mas machucava.
Encarou as costas de Ian se afastando e chutou o chão frustrado, irritado, por que ele era tão malvado consigo?
— Irritado? — A voz sempre calma lhe tirou de seus pensamentos sobre o outro garoto.
Ali estava, Ferrer, o irmão mais velho de seu rival declarado, os cabelos loiros do príncipe estavam penteados de forma impecável, os fios loiros do mesmo já chegavam até os ombros, conhecido como “O Inalcançável” que conseguiu, mesmo com pouca idade na época,usar o uniforme branco dos destaques da academia, mesmo que fosse o mais informal, ainda chamava atenção no meio dos uniformes predominantemente pretos da academia, consistia numa camisa branca com botões dourados, e uma calça também branca com detalhes na lateral dourada, os sapatos pretos sempre lustrados.
Oferecia uma garrafa d’água para o meio elfo, sempre com um sorriso calmo.
Ferrer já tinha um título próprio, “A chama Contida” graças a sua personalidade e tipo de luta, o conseguiu ao conquistar seu lugar ao lado das Estrelas de Malial, mas entre os alunos era conhecido como Inalcançável, seja por nunca ter interesses amoroso, seja por manter uma relação muito restrita com todos:
— Obrigado, alteza.
— Aqui não sou um príncipe, sou apenas um aluno como você. — Ferrer corrigiu com sua polidez.
Era verdade, naquele lugar todos eram iguais assim que entram, a Academia de Magia da Trindade de Malial era a melhor escola de magia entre todas dos dois continentes, sempre foi conhecida como território neutro onde indicações e títulos nada valiam, apenas sua própria força para entrar.
Antes de tudo precisavam ser notados pelos olheiros da escola que ninguém sabia quem são, e então receber uma carta para que possam prestar o exame, foi assim com todos, inclusive com os dois príncipes:
— Perdoe meu irmão, ele está muito estressado nesses últimos meses.
— Mas por que desconta em mim?
— Você insiste em ficar por perto. — Ferrer respondeu analisando o jeito do garoto.
Já tinha reparado, desde o primeiro ano no interesse que o meio elfo de cabelos longos tinha no irmão mais novo, sempre implicando, sempre perto para chamar atenção, nenhum dos dois era considerado Estrelas, mas ainda sim eram destaques positivos na escola, principalmente em batalha, onde Ian simplesmente era um gênio, mesmo sem usar seus elementos:
— Ele me odeia.
— Ele não te odeia, ele te considera um rival e trata assim. — A fala de Ferrer pareceu ter o atingido como um soco.
Passou esse tempo todo e foi isso que conseguiu? Ser um mero rival? Não era isso que queria, queria genuinamente ser amigo dele, por isso se esforçava tanto para o talento natural do príncipe de muitos elementos:
— Mas por que ele ‘tá tão estressado? — Finalmente a conversa voltou para Ian.
— Aconteceu uma coisa com nossa irmãzinha, e Ian sempre foi muito próximo a ela, então ele está sendo muito afetado. — Explicou do melhor modo que pôde.
Aquilo foi mais um baque para Elborony, não era nada com ele de fato? Toda a relação que tinha com Ian e não tinha reparado, talvez… Aquele caminho que tomou para ficar perto do príncipe não foi o melhor. Isso era um fato:
— Eu pisei na bola não foi?
— Um pouco, mas sempre tem espaço para melhorar. — Ferrer sorriu e deu um tapinha no ombro do mais novo.
Iria se retirar e deixar o mestiço refletir sozinho sobre suas ações, nunca pensou que aquele garoto forte estaria tão irritado e estressado por conta da irmãzinha mais nova, realmente não conhecia ela.
Começou a andar para fora da arena de treino, uma das muitas, a Academia de Magia da Trindade de Malial era enorme, tomava três ilhas inteiras, interligadas por pontes suspensas no ar por magia ancestral. Era algo lindo de ver.
O centro da escola era um grande castelo antigo que existia antes mesmo da guerra dos cinquenta anos, diziam as lendas que ali era um reino que foi à muito esquecido até mesmo dos livros, e ninguém se importava muito, ao redor do castelo ficavam agora vários palacetes bem equipados para algumas aulas específicas que precisavam.
Cruzando os corredores de pedra antiga via várias pessoas com os diversos tipos de uniforme, alguns usavam as calças, outros os shorts, alguns usavam saias curtas e outros a longa, todos podiam fazer essa escolha de dois uniformes diferentes uma vez a cada seis meses, ele próprio usava o uniforme com shorts nos dias mais quentes.
Revisava toda sua interação com Ian desde que se conheceram e percebeu que não conhecia ele, quatro anos de rivalidade e nada tinha evoluído sua relação mais fraterna com o garoto de cabelos castanhos.
Elborony não notava, porém, os olhares dos outros sobre ele. mesmo que não percebesse, ele era popular, tanto pros que invejavam sua força como para aqueles que o cobiçavam apenas com o olhar, mas nesses quatro anos sua atenção era apenas de seu rival.
E agora a relação dos dois estava sendo abalada, se é que existia alguma relação entre eles.
Passou o resto do dia pensando em como iria se desculpar com o príncipe, e por fim acabou na frente da porta do garoto, esperando ele aparecer após bater:
— O que foi…? O que você…
Logo Ian foi surpreendido pelo buquê de jacintos roxos e azuis, atrás daquelas flores tinham um Elborony sem jeito, com o rosto corado e sem encarar o humano:
— E-Eu quero pedir desculpas pelo meu comportamento nos últimos dias, e por não entender sua dor, e por… Não me importar com seus sentimentos durante esse tempo e…
— Opa Opa, cara, o que foi? Eu fiz algo errado?
Ian estava completamente perdido olhando o meio elfo que também parecia perdido:
— Você… Não, eu, eu achei que éramos próximos mas… Eu nunca conversei com você de fato, eu não sei nada sobre você e é estranho por que eu falo com você de mim o tempo todo, você sabe minha comida favorita e eu não sei nada de você.
Elborony falava de forma desesperada, começando a mover as mãos e andar de um lado pro outro, no meio das frases se desculpava de novo:
— Eu achei que você não gostasse de mim.
— Oi? Por que?
— Você implica comigo desde que a gente se conheceu, compete comigo por tudo, achei que você só me detestasse.
Era isso que o garoto pensava? Encarava ele sem acreditar que ele deu essa impressão ao garoto que admirava:
— Não! Eu te admiro muito, nossa, você enfrentou um dos generais e passou por ele, é o “gênio de batalha”! Eu me esforcei para ficar à sua altura!
— Mas por que?
O meio elfo não sabia explicar aquilo, apenas ficou calado, puxando a barra da camisa meio sem jeito, olhando para o lado:
— Eu não sei, eu só achei que desse jeito você seria meu amigo.
Ian não conseguiu se conter, caiu na risada, uma risada que o elfo nunca viu, ao menos não tão perto como daquele modo, encarava quase encantado com aquela risada, ele estava se abrindo mesmo:
— Bem, de qualquer modo, obrigado pelas flores, quer… Entrar? — Ian ofereceu com a cabeça.
Elborony sentiu o peito explodir em felicidade, o garoto que sempre quis fazer amizade, nesses cinco anos finalmente sorria e convidava ele para dentro de seu quarto:
— Claro! — Falou animado antes de entrar.
Como esperado, o quarto de Ian era bagunçado, livros em cima da cama, roupas na cadeira da escrivaninha, as espadas de treino jogadas num canto do quarto, era amplo e ainda tinha seu banheiro próprio, como todos os quartos do local.
Os olhos esverdeados vasculharam o local, quase sentiu um tique no olho, sentindo toda aquela bagunça que já esperava, mas ainda sim o incomodava:
— Pode sentar se quiser.
Ian tentou falar enquanto o meio elfo tentava se conter para não mexer num quarto que claramente não era seu, mas mesmo assim:
— Elberony? Está me escutando? — Ian chamou passando sua mão na frente do rosto do quase amigo.
Elberony piscou, voltando a si aos poucos, teria que ignorar aquilo, não era seu quarto, então por que se preocupar? Tinha que se recolher a sua insignificância:
— C-Certo, eu estou, bem, esse tempo todo eu só falei de mim e dos meus problemas.
— Mas eu…
O meio elfo ergueu o dedo para interromper o humano que levantou a sobrancelha:
— Me deixa acabar, ok? Eu agora quero ouvir sobre você e quero saber por que você está se sentindo mal.
Era isso, finalmente deu espaço para Ian falar, o que era raro, porque Elberony era conhecido por simplesmente não calar a boca quando começava a falar.
Ian respirou fundo, tentando ver se deveria ou não falar para seu rival o que estava acontecendo, mesmo que seu título não lhe valesse de nada ali, o problema acontecia fora dali e sua irmã era uma princesa:
— Minha irmãzinha está doente, em tratamento. — Ian finalmente falou após seus longos instantes. — Não recebi nenhuma notícia desde então e estou preocupado.
Nunca tinha visto ele tão… Pequeno como naquele momento, percebeu que ele realmente estava passando por um momento delicado da sua vida, e Elberony sequer reparou, se sentia péssimo naquele momento, não sabia o que fazer para o consolar, não tinha conhecimentos sobre o humano como achou que teria.
Ficou parado por um tempo, encarando seu rival declarado, os ombros caídos, os olhos focados num ponto qualquer do quarto, mas não pareciam estar mais prestando atenção, conseguia ver o brilho de tristeza pairando nos olhos dele.
Ian estava tentando pensar em como continuar a conversa, uma piada para aliviar o clima, mas não conseguia, estava realmente preocupado com sua irmãzinha.
Quão grande foi sua surpresa quando sentiu os braços do mestiço ao redor do seu corpo, o puxando para um abraço desengonçado, Ian sentiu o rosto esquentar, não sabia como reagir, ao menos aquele momento o fez esquecer por alguns minutos, naquele constrangimento de não saber como agir.
O silêncio logo se tornou confortável quando Ian finalmente aceitou o abraço mais caloroso de Elberony, mesmo sem retribuir, ainda sim, era confortável, fechou os olhos aproveitando aquele contato ainda novo.
Não sabiam quando deveriam parar, os dois estavam ali naquele silêncio deles, até que o mestiço se cansou de ficar calado:
— Se sente melhor? — Finalmente quebrou o silêncio, mas falando baixinho para não assustar.
— Sim… Mas pode continuar em silêncio?
— Ah, claro, claro. — E voltou a ficar calado.
Até mesmo ele estava ficando confortável com aquele silêncio, até se perdeu em seus pensamentos, era o momento que mais estava perto de Ian, talvez agora tivessem um relacionamento de verdade e não algo que criou na sua cabeça meio sonhadora.
Se assustaram quando batidas foram ouvidas na porta, Elberoby se afastou voltando a cair na cama, Ian se levantou, já conhecia o jeito de bater na porta, ao abrir lá estava Ferrer, esbaforido como se tivesse corrido uma maratona:
— Que foi? Aconteceu algo?
Antes de abrir a boca, Ferrer reparou em Elberony sentado na cama, olhou seu irmão tentando não demonstrar tanto o olhar brincalhão:
— Fala logo.
— Ah sim! A Eliassandra acordou.
Ferrer D'Ank (16 anos)
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