Volume 1 – Arco 4

Capítulo 29: Aprendizado... Eu acho

 

Para que serve esse olho?

Elia se perguntava isso enquanto olhava seu reflexo no espelho, desde que voltou ainda não teve vontade de tentar descobrir o que era aquilo.

Na verdade, sentia que talvez tivesse um pouco de medo daquilo.

Ainda tinha lembranças de Pollux, tinha medo de perder aquelas lembranças, e quem sabe esquecer tudo sobre manipulação de mana de novo e ter que recomeçar do zero, não queria lidar com isso.

Manteve seu olhar no espelho, precisava de coragem.

Na casa tinha apenas ela e Salis, Quevel saiu após o almoço com Ahrija para treinar um pouco, então… Por que não tentar?

Se sentou de costas para o espelho, começando sua concentração na sua mana, com o pouco treinamento ela já envolvia seus antebraços completamente e se mantinha, afinal mais do que ter muita mana, uma mana consistente era ainda mais importante para praticar seus feitiços.

Sentiu a sua aura por alguns minutos e depois deixou ela de dissipar a olho nu, sentindo ela movendo por baixo da pele, entre as veias, ainda não era boa o suficiente para não sentir aquilo, mas quem sabe em alguns anos.

Sua mana seguia pelo seu corpo até finalmente chegar em seus olhos, precisou  fechá-los quando sentiu a visão ser ampliada, como já era de se esperar, já tinha tentado isso na sua vida passada para enxergar além do que era permitido, esperou um tempo e logo depois tapou apenas o olho comum, abrindo o novo olho que tinha.

E então conseguia ver pequenas partículas brilhantes voando pelo local, arregalou mais o único olho visível, aquilo era lindo.

As partículas de mana dançavam pelo ar, quase como se pudesse tocá-las, nunca pôde vê-las a olho nu como via agora, estava maravilhada com essa visão tão bela, demorou anos para conseguir isso na sua vida passada, e com aquele olho conseguiu fazer em semanas que despertou.

Manteve a mão sobre o olho comum, se levantando e andando pelo local, com um sorriso animado e bobo, eram alguns dos momentos que ela realmente parecia uma criança com seus quatro anos.

Focou seu olhar em Lynn que dormia na sua paz em uma almofada, e como esperado, Lynn não era um coelho comum, era um animal feito completamente de mana, conseguia ver um aglomerado de pontos brilhantes num local só, se mexendo quando o coelho despertou.

Continuou andando pela casa, procurando Salis, quando o encontrou, sentado na cadeira de sempre seu sorriso se alargou, conseguia ver a mana dele, como se aglomeravam de modo parecido com Lynn, como uma besta de mana, mas ainda sim não tinha tanto quanto Lynn:

— Senhorita? O que está fazendo? — Salis desviou o olhar para Elia.

— Eu consigo ver mana! — Falou animada, tirando a mão da frente do olho.

Salis ficou surpreso, incrédulo, aquilo era possível?

— Mana? Mana mesmo?

Fez um sinal com a mão para a criança se aproximar, segurou seu rosto para ver melhor, aquele olho mágico a fazia ver mana? Mas mesmo que ela visse mana não tinham garantia que ela realmente seria útil em algum momento, logo não havia por que se importar com isso, mas ainda sim… Era impressionante.

Sorriu soltando o rosto da criança, ela era mesmo uma figura curiosa:

— Você me surpreende cada vez mais, senhorita.

— Heh, fico feliz. — Elia se afastou para pegar uma das cadeiras e puxar para sentar perto do leão. — Então… A sua perna…

— Ah, isso? Foi um ferimento antigo.

Ferimento antigo? Então ainda tinha como consertar, se achasse o símbolo certo para essa magia… Já tinha descoberto que o símbolo de cura da magia celestial servia como símbolo de voo na magia estelar… Talvez o de voo sirva pra isso?

Ficou em silêncio, ela não reparava, mas aquelas pausas para pensar eram bem desconfortáveis para quem olhava de fora, já que ela ficava parada olhando para o nada enquanto refletia sobre dezenas de coisas:

— Senhorita?

— Preciso ir lá fora, posso? — E levantou-se num pulo esperando permissão de Salis para seguir.

O aure não entendeu absolutamente nada daquele surto dela, mas acenou com a mão a dispensando, de fato, Elia era uma peça rara que não se via sempre, podia chamar até de excêntrica, mas o que mais chocava era como a idade mental dela parecia variar entre uma pessoa adulta a uma criança de quatro anos, que era o que ela era.

Elia saiu da sala e foi até a porta dos fundos, agora  tinha mais motivos para tentar descobrir mais sobre magia e como sua magia funcionava, as duas únicas magias que sabia ainda eram aquele brilho e flutuar, o que era surpreendente para uma criança de quatro anos, e ainda mais pelo estilo de vida que tinha antes.

Magias funcionais assim eram coisas que não deveria saber, deveria apenas saber magias de destruição e as vezes de cura.

Se abaixou no chão para riscar o símbolo de cura no chão, já tinha aceitado que o significado dos símbolos mudaram conforme a aura, então iria testar com aquele outro.

Após terminar de desenhar colocou as duas mãos para energizar o símbolo, e quão grande foi sua surpresa quando uma lâmina se ergueu quase perfurando sua mão, teve que afastar num pulo, olhando aquela laminha meio translúcida com brilhos que pareciam se mover dentro da lâmina:

— Isso… Salis! — Chamou em voz alta seu responsável nesse momento. — Vem cá!

Seus olhos brilhavam com aquilo, mas então caiu a ficha que não tinha mana suficiente para manter aquilo, sentiu a fraqueza quando a lâmina oscilou e sumiu, nesse momento o leão aure chegou com sua bengala, sem entender o que estava acontecendo.

Olhou para Elia e depois para o símbolo mágico no chão, conseguia sentir a mana no ar, será que ela tinha tentado algo?

— Senhorita? O que houve?

— Me… Me dá um minuto. — Pediu com as mãos no joelho recuperando o fôlego.

Após conseguir isso, e a fraqueza passar, foi até o símbolo de novo, energizando ele mais uma vez fazendo aquela lâmina surgir novamente. Salis arregalou os olhos, dando um passo para trás.

Como ela conseguia fazer isso?

Como aquela criança tinha acesso a essa magia? Uma magia tão avançada para alguém da idade dela?

— Como?

E agora vinha a real pergunta: Como? Eliassandra não sabia como explicar como justificar aquilo, ter acesso àqueles símbolos daquela forma não era normal, e agora? Como explicava?

— Eu… Não sei bem, quando acordei sabia desses símbolos. — Mentiu olhando a lâmina desaparecer.

Não tinha como ter outra resposta fora isso, deveria ter pensado melhor nisso antes de começar a mostrar seus dons desse modo.

Salis não sabia o que falar, aquela criança não deveria ser normal, seu poder pareceu ter destrancado e evoluído num ritmo assustador, nem adolescentes chegavam naquele ponto tão facilmente, esse era o poder dos humanos, ou o poder dela?

— Você… Você é mesmo uma peça curiosa. — Um prodígio da raça humana talvez?

Da última vez que um pródigo humano surgiu, uma guerra se iniciou, e pessoas como ele, na base da sociedade, ainda estavam se recuperando daquilo, sua perna mostrava isso, desde aquele golpe não tinha se recuperado totalmente.

Era assustador.

Mas aquela garota não parecia ser ameaçadora, meio estranha? Com toda certeza, mas preferia ela àquela maga inimiga, que fim teria levado ela?

Logo a voz de Quevel se fez presente, chamando atenção de Salis e Eliassandra, Salis se afastou para ver o dracônico.

Quevel estava com um animado Ahrija todo sujo de terra:

— Elia! Eu consegui voar! — Ele correu até a amiga, abraçando ela e sujando de terra.

— Jura? Vento te faz voar?

— Sim! 

E Ahrija começou a falar como usou o ar para voar, e como caiu várias vezes no chão, por isso estava sujo, não parava de falar enquanto gentilmente, Elia lhe guiava para tomar banho, deixando Quevel e Salis sozinhos:

— Salis… O que foi?

— A garota… — Deu uma longa pausa olhando para onde as crianças sumiram. — Ela invocou um tipo de lâmina estelar, não sei como.

Quevel ficou encarando seu companheiro, piscando um pouco antes de olhar por onde as duas crianças sumiram, mas então sorriu:

— Não duvido, essa garotinha é mesmo uma coisa estranha e curiosa. — Sorriu fazendo carinho na juba de Salis.

— Ah, consegui as roupas para nós e para os dois, hoje será que vai dar neles?

— Talvez não em Eliassandra, ela é pequena até para um humano.

Deram risada daquilo enquanto os dois estavam tomando banho, dessa vez Ahrija foi primeiro, sozinho, já que segundo Elia, ele estava imundo, mas ela permaneceu ali na porta do banheiro escutando ele falar.

E falar.

E falar.

Ele nunca calava a boca mesmo.

Mas Elia o olhava fixamente, tentando entender como seu corpo funcionava. Diferente dos humanos, onde as veias de mana não saiam ou se ligavam a um núcleo só, as de dracônico se ligavam ao núcleo de mana que eles tinham, o de Ahrija era pequeno e mal desenvolvido, não tinha despertado nem a dois meses, era normal.

Conseguia ver como ele poderia evoluir de um jeito muito parecido que o seu: acumulando mana ao redor, talvez fosse isso que precisasse, alguém mais experiente para ajudar a acumular mana:

— Alteza? Elia! — Ahrija chamou, despertando Elia de seus pensamentos.

— Que? Foi mal. Falou algo?

— Eu disse como seria legal ter outro elemento. — Ahrija comentou.

— Se fosse ter, qual teria?

Ahrija nem pensou, com um sorrisão falou alegremente:

— Fogo! Que nem o mestre Quevel!

Elia deu uma risada, mas dessa vez não pareceu ser um adulto falando com uma criança, realmente parecia duas crianças conversando. Algo que até fez ela ficar levemente surpresa e desconcertada:

— O mestre Quevel ficaria emocionado.

— Acha mesmo? — Ahrija virou o rosto para Elia.

Duvidava que o pequeno tivesse outro elemento, mas não queria o deixar frustrado, então sorriu medindo bem as palavras a partir de tal momento:

— Na verdade eu tenho certeza que ele já é bem orgulhoso de você.

O sorriso de Ahrija crescia, claro que crescia.

Ele parecia se importar muito com a aprovação do médico dracônico, o que fazia Elia pensar: Como aquele guerreiro acabou na situação de cuidar de um provável órfão como Ahrija? Não que iria reclamar, só era curioso que ele não estava tendo toda a glória que deveria ter no reino dos dracônicos, o que será que houve?

Sequer sabia como perguntar sem dar na telha que sabia de algo, afinal fora apresentado como um médico da família, e nada mais que isso.

Mesmo que não sentisse ameaça nele, ainda era uma curiosidade de saber como acabou assim.

Ficou mais uma vez perdida em pensamentos, com aquele olhar sem vida que sempre ficava quando refletia sobre sua vida passada.

Só acordou quando sentiu água jogada contra seu rosto por Ahrija, ficando sem ação por um longo momento antes de encarar seu amigo que ria.

Foi como voltar a ser realmente uma criança, rindo e jogando água nele também, fazendo uma grande bagunça que sequer poderia imaginar.

Duas crianças brincando de jogar água um no outro, molhando o banheiro todo, logo depois começaram a correr pela casa sem ligar para aquela bagunça, para aquela molhadeira toda.

Quevel e Salis arregalaram os olhos vendo duas crianças completamente molhadas correndo pela casa e rindo.

Salis estava pensando em toda aquela bagunça que faziam, mas no final sorriu, e Quevel estava vendo aquela criança sempre tão estranha e adulta, brincando normalmente, fazendo bagunça e rindo. Isso era estranho para ele naqueles meses que conviveu com ela, ao menos não estava sendo estranha e distante:

— Que bagunça…

— São crianças. — Quevel riu.

Assim que Eliassandra e Ahrija passaram por ele, segurou os dois, pelo braço e impedindo que corressem molhando mais a sala do aure leão:

— Vocês dois acabaram com o banho?

— Não. — Os dois responderam juntos, ambos ofegantes, ainda rindo com os rostos vermelhos.

— Voltem agora pro banheiro, amanhã temos uma coisa especial.

Ahrija correu para o banheiro, afinal estava sem roupas e sempre era facilmente manipulável por promessas de Quevel:

— Pra onde vamos?

— Amanhã começa o festival. E claro, você prometeu ir.

Sim, tinha prometido, como podia ter esquecido aquilo não é mesmo? Elia acenou com a cabeça e seguiu para o banheiro, tirar aquela roupa molhada que estava pingando pela casa:

— Você limpa.

Salis disse simplesmente sentando na sua poltrona, encarando o médico dracônico com um sorriso presunçoso, ele tinha um álibi, Quevel revirou os olhos antes de rir:

— Deveria ter colocado eles para limpar.

— Sim, deveria.

Salis concordou com uma risada, vendo o dracônico ir pegar o todo e um pano para limpar a casa finalmente.

 

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