Volume 1 – Arco 3

Capítulo 28:(Especial) Era um Vez um Amor que se Perpetuará

O dia amanheceu, mas Vivany não tinha dormido, nem um pouco, estava furiosa, sentada na cadeira de seu enorme quarto destruído, Safy tentava em vão arrumar aquela bagunça, mas era impossível.

Sozinha não iria conseguir.

Vivany se levantou, pegando um vestido formal, mantendo o padrão vermelho que estava usando desde que chegou ali, precisava agir, precisava dar um jeito naquilo:

— Minha senhora?

— Irei falar com o rei.

— O que?

— Vou revelar esse caso, dizer que Ricardo dormiu comigo.

Safy abriu a boca para dizer que aquilo era mentira, mas o olhar beirando a insanidade de Vivany lhe fez calar a boca, encolhendo os ombros com certo medo.

A lady começou a se maquiar, tirando as olheiras pesadas, o rosto irritado, mas o olhar que continha raiva ainda ali, quem olhasse iria ver.

Ela não se despediu da sua criada, saiu do quarto, seus saltos batendo com força no chão a cada passo pesado, precisava dar seu movimento, não podia deixar sua irmã ganhar daquele modo. Ela precisava ganhar!

Bateu na grande porta do carvalho negro que era o escritório do rei, sabia que aquilo poderia ser considerado uma afronta, mas precisava fazer sua jogada, sabia que a irmã tinha passado a noite com Ricardo, iria fazer ela ser a outra.

Rebaixar ela àquele papel de amante tão degradante seria o fim perfeito para sua irmã mais nova, não podia pensar num momento melhor para aquilo, precisava conter o sorriso maquiavélico que queria brotar em seu rosto.

A resposta positiva logo veio, dizendo que ela deveria usar, Vivany abriu a porta vendo o escritório amplo, o rei sentado na grande cadeira, com seu olhar focado e frio, mesmo com aqueles olhos vermelhos, no sofá estava a rainha que lia de forma tranquila:

— Lady Vivany, estávamos a esperando. — Leonor falou séria.

— Minha rainha, me desculpe, mas algo imperdoável aconteceu, eu exijo uma compensação. — Vivany disse com uma profunda reverência.

— Sim, eu concordo, afinal o que meu filho fez não foi acordado, mas ainda sim, se manteve em família, correto?  — O rei falou.

— Mesmo assim!

— Vamos mandar uma quantidade boa de dinheiro para sua família pelo casamento, não se preocupe, não voltará para casa de mãos abanando. — A rainha suspirou.

— Mas eu não vou me casar?

— Bem, podemos arrumar um casamento com um duque se assim quiser… — O rei comentou olhando os papéis sem muito interesse naquele drama. — Afinal sua irmã já casou com o herdeiro.

Vivany deu passos para trás, sentindo seu plano ruir, caiu sentada em uma das cadeiras, sem acreditar naquilo:

— C-Como? — Quase não tinha voz, apenas um sussurro desacreditado.

— Ricardo e Elengaria se casaram a luz da vela sagrada da Donzela e consumaram o casamento, achei que fosse sobre isso que veio falar.

— Não é possível, então ontem…

Não tinha sequer como pôr seu plano em prática agora, ambos eram testemunhas um do outro, ambos iriam atestar que estavam juntos.

As lágrimas quiseram descer, mas se guardou, não iria chorar ali, não na frente deles, se levantou reunindo sua dignidade, fez uma reverência para ambos os monarcas e saiu da sala fechando a porta atrás de si, estava com raiva, triste, com inveja.

Aquilo não era justo!

Ela deveria estar no lugar de Elengaria, deveria ser a futura rainha da nação em guerra, Elengaria não deveria ser aquela pessoa, esse papel era seu! Apenas seu!

Era um senso de direito que sempre teve desde sua infância, e agora lhe era tirado por alguém que nunca pensou que seria alguém na vida, tinha certeza que Elengaria estaria sempre à sua sombra, se certificou disso durante sua vida, e agora ela estava lhe roubando seu título por direito.

Como ela poderia fazer isso? Como ela ousava?

Seus saltos batiam no chão com força, não escondia sua raiva naquele momento, queria descontar em algo, mas preferia ir embora o quanto antes, não ficaria ali sendo humilhada por aquele casal traidor.

Elengaria? Elengaria estava feliz, deitada sobre o peito desnudo de Ricardo que brincava com seus cabelos, tinham voltado para o quarto do herdeiro após falarem com os reis, foi algo que a fez tremer como vara verde, mas no final, tudo foi resolvido, mesmo com os olhos frios do rei em si.

Agora estavam juntos, deitados na cama tal qual dois amantes antigos após meses sem se ver, isso era a perfeição para ela, algo que nunca pensou que teria, e agora estava ali com o futuro rei da nação, e seu atual marido:

— Sabia que vamos ter que casar de novo? — Ricardo comentou.

— Por que?

— Precisamos de uma cerimônia pública. 

— É mesmo necessário? — Elengaria se encolheu contra o peito de Ricardo.

Ele deu uma risada, abraçando a esposa contra si e puxando ela para cima de si, deixando o corpo exposto dela sem o lençol que usava para se proteger dos olhares:

— Claro que é, quero que todos vejam que você é minha, minha mulher, minha Elengaria. — Ele sorria fazendo carinho nas costas dela. — Você é linda.

O rosto de Elengaria ficou vermelho, usou as mãos para para esconder seu rubor, sem jeito, com os cabelos bagunçados caindo pelo corpo,

Ainda não tinha se acostumado com aquele carinho todo pessoalmente, ficava sem jeito por aqueles elogios tão diretos de Ricardo, e ele sabia elogiar bem mais além do linda, sabia dizer tanto sobre ela, chamar ela de linda era a coisa mais básica que ele poderia dizer, assim como “Eu te amo”, ele poderia fazer bem mais do que isso.

Elengaria se curvou sobre Ricardo, beijando seus lábios com carinho.

Mas Ricardo estava certo, precisaram de outra cerimônia.

Os reis apenas avisaram aquilo, disseram que tudo ficaria por conta deles, foi como dizer que eles não tinham escolha e de fato não tinham.

Vivany retornou para as terras do sul no mesmo dia da notícia, deixando uma carta bastante… Curiosa, para dizer o mínimo.

Não tinham xingamentos ou coisas parecidas, apenas alguns elogios as artimanhas que Elengaria para conquistar Ricardo em tão pouco tempo, desejou para o melhor, e finalizou a carta com um “Com amor e carinho da sua irmã amada, Lady Vivany”.

Ficou horas relendo a carta, mas por fim desistiu, afinal não poderia saber o que se passava na cabeça de Vivany, ela sempre foi assim, e sempre seria, só desejava que um dia ela mudasse e achasse sua própria felicidade sem precisar estragar a de ninguém.

Ao longo dos dias e a cerimônia se aproximava, alguns dos costumes da realeza eram apresentados.

A cerimônia seria quase uma semana inteira, pois ela começava na preparação dos noivos no primeiro dia da semana, onde ambos seriam preparados ao mesmo tempo com banhos e rituais para os deuses.

No primeiro dia tomariam banho de sol e de lua para o deus solar e lunar, acenderiam uma vela para ele que deveria durar as 24 horas do dia, para que seu deitar e seu levantar sejam abençoados pelo deus.

No segundo dia tomariam banho na água do lago para que a deusa das águas abençoasse a união dos dois, no dia acabou chovendo, o que implicou que deveriam tomar banho na chuva também.

Ricardo adorou, quase como uma brincadeira na chuva, se sentia uma criança, coisa que mesmo tendo pais amorosos, não lhe era permitido, afinal era um herdeiro, e herdeiros precisavam ser preparados para reinar.

O terceiro dia não foi para nenhum deus específico, mas podiamos dizer que foi para o deus da beleza, uma entidade andrógina que apreciava não só a beleza, mas rituais de autocuidado, como massagens com óleos, cuidados com pele ou cabelo, passaram todo o dia nesses cuidados, ambos separados em locais diferentes, próprios para eles.

Quarto dia voltaram a se reunir numa sala cerimonial para fazer oferendas à deusa-mãe, a figura que representava não só a mãe de todos, mas também a deusa da fertilidade, para garantir bons herdeiros.

Naquele dia em específico, uma das velas se apagaram, a vela que representava Elengaria, Ricardo sorriu tranquilizando que não deveria significar muita coisa, e seguiram os preparativos.

No quinto dia finalmente os pais foram envolvidos, e por uma surpresa de todos, os pais de Elengaria vieram, com sorrisos animados no rosto, sua mãe pela primeira vez foi gentil consigo, mesmo que fosse falso. Ela sabia. O quinto dia era a troca de presente entre as famílias.

A família DAnk ofertou o colar real da própria rainha para Elengaria, já a família Navarra ofertou os anéis do patriarca da família, era mais do que dinheiro, era uma troca que significava que ambas as famílias estavam juntas para sempre.

O sexto dia foi finalmente a prova de roupas, a cor real era necessária para esse momento, nada de branco, nada de cores claras, era importante que casassem de vermelho, a cor dos olhos de todos os membros reais.

Elengaria ganhou um belo vestido vermelho que deixava os braços dela à mostra que seriam enfeitados por belos braceletes e pulseiras, tal qual ela gostava, Ricardo iria usar um belo terno vermelho, combinando com sua esposa, afinal aquilo era só uma formalidade, já estavam casados de qualquer maneira.

E então veio o sétimo dia.

O local estava simplesmente deslumbrante, todos os magos reais estavam ali para a benção do casal, o alto sacerdote no centro, junto com o casal.

O local era circular, no centro como dito estavam o sacerdote vestido de forma simples, e o casal trajado de vermelho, o primeiro círculo era formado pela família direta, ou seja, os pais de Ricardo, de Elengaria e sua irmã que olhava para eles como se ainda sim fosse superior.

O segundo círculo era formado pela família indireta, tios, tias, primos e afins, no terceiro os magos do reino estavam reunidos, juntamente com a nobreza:

— Estamos aqui hoje reunidos para presenciar a união de duas almas diante dos deuses, sua alteza real Ricardo D’Ank e Lady Elengaria Navarra, filha das casas do sul, estão aqui para terem a benção do sagrado matrimônio. aqui eles prestarão seus votos para seus cônjuges e também para os deuses. Vossa alteza, por favor comece.

Ricardo respirou fundo, dessa vez estava bem mais calmo do que da primeira vez:

— Posso dizer que sinto que nossas almas estavam destinadas a ficar juntas, esse laço que nos une é mais forte que algo carnal, é algo além do plano material, algo que parece ser algo até espiritual. Desde o primeiro dia que te vi senti meu coração desejar o seu, minha alma querer se conectar com a sua.

“Como seu marido eu lhe prometo meu amor, meu carinho, minha lealdade e respeito, como rei lhe prometo minha coroa, meu reino, minha riqueza, como guerreiro lhe prometo minha espada e escudo, como mago lhe prometo minha magia, que minhas chamas sejam suas para o que precisar.”

Os olhos de Elengaria estavam cheios d’água, a emoção que sentia naquele momento era indescritível:

— Lady Elengaria, sua vez.

— Eu não tenho palavras para descrever como me sinto com seu amor e carinho, é como se eu tivesse nascido para você, para ser amada por você, e para te amar, não existe mais nenhum lugar que eu queira estar que não seja ao seu lado. Como sua esposa eu te prometo meu corpo, meu coração, meu amor e carinho, para todo sempre e além dele.

Se Elengaria estava tentando conter as lágrimas para não borrar a maquiagem, Ricardo já chorava como o bom apaixonado que era:

— Pelo poder investido em mim, pelos deuses e pelos planos, eu vós declaro marido e mulher, que suas almas sejam enlaçadas pela eternidade. Podem selar com um beijo.

Ricardo e Elengaria se aproximaram, ele segurou o rosto dela entre as mãos, e ela segurou as mãos ali, tocando seus lábios  num beijo apaixonado mas ainda sim casto na frente de todos, que aplaudiram o novo casal, e futuros reis.

Até mesmo Vivany batia palmas e sorria, mesmo que o sorriso não chegasse aos olhos, ainda tinha uma certa raiva ali, uma raiva que ela não iria abandonar tão cedo, mesmo que talvez devesse, era sua irmã, mas ela não pensava assim, ainda se sentia traída.

Mas o que iria fazer agora? Eles já estavam casados…

Mas ela não iria superar isso, não ainda.

A comemoração foi pelas ruas do reino, um pingo de felicidade no meio daquela guerra que já se estendia por tanto tempo.

O casamento foi bem recebido, finalmente os amantes estavam juntos para a felicidade de todos, bem, quase todos.

Vivany ainda respirava desgosto e vingança, aos poucos sua casa foi ficando mais sombria e vazia, se tornando a Senhora das Terras do sul por falta de opção clara, ninguém lhe agradava, ninguém estava a sua altura, ao seu lado, fielmente apenas Safy se mantinha.

Com seu sorriso calmo e suas comemorações a cada gradivez perdida da irmã de sua senhora, até que naquele dia ensolarado, naquele momento de felicidade de sua senhora um mensageiro chegou com a fatídica notícia que fez um surto de Vivany começar:

— A rainha deu à luz à uma menina!

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