Volume 1 – Arco 3

Capítulo 27:(Especial) Era um Vez um Amor que se Realiza

Ricardo estava nervoso, não conseguia sequer parar de pensar naquilo, já estava diante da porta de Vivany, contou de um até dez antes de bater na porta, quem atendeu foi sua criada, se curvando e depois o deixou entrar no quarto dela, diferente do quarto de Elengaria que tinha uma aura amorosa e acolhedora, ali era quase como se tudo quisesse lhe seduzir.

O local estava em meia luz, o cheiro parecia meio inebriante, e a própria Vivany parecia estar com uma roupa mais simples, mais justa ao corpo, mostrando mais a pele desde que tinha a visto:

— Lady Vivany. 

— Vossa alteza, estava lhe esperando. — Ela sorriu quase sugestiva.

Quase não.

Estava:

— Me esperando? Eu avisei que viria?

— Eu senti.

A lady apontou para a cadeira ao seu lado para que o herdeiro se sentasse. Obedeceu, tentando não ficar tonto com todos aqueles cheiros, piscou algumas vezes, não encarando ela. Logo a criada saiu do quarto, os deixando sozinhos.

Aquela situação deixava Ricardo desconfortável, mas precisava resolver logo isso, era o mínimo que poderia fazer por ela, não a enganar:

— Lady Vivany eu…

— Gostaria de vinho? — Ofereceu e antes mesmo da resposta, ela já estava servindo.

— Não, senhorita.

— Pode me chamar de Vivany.

Ela continuava com aquele tom sugestivo, tocando as mãos de Ricardo com as suas, mas esse recuou as mãos, respirando fundo, tentando não perder a paciência com ela:

— Lady…

— Sim?

Vivany sorria, achava que ele estava apenas nervoso, talvez se sentindo culpado por se deitar com sua irmã? Ou talvez seja só seu jeitinho mais tímido? Estava se esforçando para achar aquilo adorável e não patético.

Ele seria o marido dela afinal:

— Eu gostaria de conversar sobre a situação atual do nosso noivado…

— Não precisa se preocupar, eu aceito.

Ricardo levantou a sobrancelha, sentia que ela estava pensando em outra coisa, e não no que ele realmente deveria falar, queria esclarecer, mas parecia que ela não deixava!

A lady já começava a falar de como seus filhos seriam lindos, como gostaria de engravidar logo após a noite de núpcias, ter pelo menos cinco filhos, aquilo estava realmente irritando o príncipe, ela não escutava!

— Não vamos ter filhos, porque não vamos nos casar. — Ele finalmente interrompeu.

Vivany encarou aquele homem à sua frente, tentando enxergar bem seu rosto, procurando traços que ele estava brincando, uma brincadeira de mau gosto? Sim, mas ainda sim, uma brincadeira, um sorriso frouxo e sem jeito se moldou nos lábios dela, tentando se agarrar na ideia que ele tinha um humor esquisito:

— O que? — A voz é trêmula, as mãos tentaram alcançar as de Ricardo.

— A senhorita entendeu, não vamos nos casar.

Conseguiu ver ela desviando o olhar para suas mãos, previu choro, mas estava firme naquilo, se apressou a levantar, sua presença ali poderia piorar a situação da moça, mas quão grande foi sua surpresa quando as mãos de Vivany seguraram seu braço:

— Quem você acha que eu sou? — A voz era fria, cortante.

— Como?

Vivany se levantou, empurrando o príncipe que se desequilibrou, caindo contra o chão de pedra do quarto:

— Quem você pensa que é para me trocar por Elengaria? Acha que pode me dispensar assim?! — Vivany se pôs por cima dele.

Ricardo estava com os olhos arregalados enquanto as mãos de Vivany segurava sua camisa, tentando entender o que estava acontecendo ali:

— Acha que pode fazer isso comigo? Quem você pensa que é?

Aquele surto não combinava com aquela expressão sempre ensaiada dela, parece que sua máscara perfeita finalmente caiu, e aquela era ela de verdade.

Ricardo era mais forte que ela, claramente  era, então não teve qualquer dificuldade, empurrando ela de cima de si, a deixando no chão e se levantando:

— Eu sou o herdeiro, Vivany, e eu decido com quem eu caso ou não.

A voz era firme, e até mesmo ele se surpreendeu com aquilo, nunca pensou que teria aquela postura, sempre foi conhecido como alguém simpático e calmo, e agora estava sendo firme e frio:

— Você vai se arrepender disso! — Vivany se levantou, quase gritando.

— Abaixe o tom para falar comigo, eu sou o príncipe desse reino, e você é apenas uma nobre. — Avisou caminhando até a porta.

Quando abriu a porta, Safy ainda estava ali como uma sentinela, abaixou os olhos, mas conseguia sentir uma certa raiva vindo dela, não conseguia se sentir tranquilo com aquilo.

Se afastou das duas, deixando ambas para trás, no meio do caminho parou, refletindo sobre as palavras de Vivany, ela não podia fazer mal a ele diretamente, sabia disso, mas ela já percebera que era Elengaria a pessoa que tinha “atrapalhado” seu casório.

Olhou para trás vendo a porta de Vivany fechada, precisava resolver logo isso de uma vez, não podia deixar ela sozinha com aquela maluca por ali.

Vivany estava em surto, em completo surto.

Jogava coisas pelo quarto, irritada com a situação que se encontrava:

— O que ela tem que eu não tenho?! Por que ela?! Por que sempre?!

Safy desviava e recolhia as coisas que não quebraram com a fúria de sua senhora:

— A perfeitinha Elengaria, a dama das flores Elengaria, a fadinha, sempre ela! Sempre!

Vivany gritava andando pelo quarto em pura fúria, descontava sua fúria no que suas mãos conseguiam alcançar, Safy por outro lado não falou nada, tinha certo medo dela piorar ainda mais.

Os olhos cheios de fúria da lady se voltaram para sua criada, que andou para trás até sentir suas costas contra a parede, enquanto sua senhora lhe encurralava ali:

— Quem é melhor que eu, Safy? — Perguntou numa voz perigosamente baixa.

— Ninguém, minha senhora.

— Mentira. Ela é melhor que eu, sempre ela, não é mesmo? Você acha isso, Safy?

Safy negou com a cabeça rapidamente, naqueles momentos, naqueles únicos momentos: Tinha medo dela.

Tinha presenciado aqueles surtos psicóticos de sua senhora, nem ela escapava daquela fúria descontrolada, e agora não tinha nem como fugir, se esconder, gritar por ajuda sem acabar com a reputação de Vivany.

A mão da nobre alcançou seu rosto, tocando gentilmente antes de apertar entre os dedos, olhando nos olhos da serva, que temia pela sua integridade:

— Quem é melhor que eu, Safy?

— N-Ninguém, minha senhora. — Repetiu aquilo com a voz trêmula.

O corpo todo tremia, esperava pelo pior, só ela estava ali para aplacar o ódio e raiva da sua senhora, sabia o quão violenta ela podia ser naqueles momentos, tinha marcas pelo corpo de algumas vezes mais recentes, mas não pensou que aquele príncipe desgraçado seria a causa disso.

Ele era a razão daquilo, aquela rejeição que ela não esperava.

Não apenas ele.

Não…

Tinha ela.

Sempre teve ressentimento por Elengaria, sempre quis ter o que ela tinha, a jovem calma que encantava a todos por ser culta e casta, enquanto ela? Ela sempre ficaria à sombra de sua irmã, por isso fazia o que fazia.

Era a mais bonita, a mais carismática, mais chamativa.

Logo todos os supostos pretendentes de Elengaria voltaram os olhos para ela, e ela os dispensava, não aceitaria nunca ser a segunda opção, nenhum deles jamais alcançou seus padrões.

Baixos demais, magros demais, pobres demais, claro que seriam aqueles que se interessavam por ela, sempre menos do que Vivany queria, nada era suficiente. Nenhum deles jamais atingiram os padrões dela.

Então veio o príncipe, pensou que finalmente iria estar eternamente à frente de sua irmã, mas então veio aquele baque. Um baque que não estava preparada, quanto tempo fazia?

Se sentia traída, enganada, ferida, aquela raiva aumentava  quando voltava a repassar tudo que tinha acontecido nos últimos meses, aquele maldito passáro que via era isso? Eles estavam se correspondendo o tempo todo? Como isso passou por ela sem notar?

As mãos de Vivany estavam apertando  a roupa de Safy que estava assustada, olhando para sua senhora, então a soltou, deixando a criada cair de joelhos no chão, sem forças.

A lady marchou para fora do quarto, indo até o quarto de Elengaria, bateu com força na porta, chamando por ela com raiva, mas a porta apenas se abriu levemente, revelando o interior do quarto: Elengaria não estava ali.

Onde raios ela estava?

Andou irritada pelo quarto, mas não sabia como a procurar, parecia estar completamente vazio.

Elengaria já estava longe, de mãos dadas com Ricardo, correndo pelo castelo juntos.

Os cabelos brancos de Elengaria estavam enfeitados por flores que deixavam um cheiro agradável por onde ela passava, o vestido longo de cores claras estava esvoassante como sempre, já Ricardo tinha um cabelo solto mas bagunçado, ambos pareciam estar com pressa, o herdeiro até carregava consigo uma bolsa, como se estivesse fugindo:

— Sua irmã é louca. — Ele alegou. — Se tivesse algo para me machucar, tinha feito. Isso não é normal!

— Eu não pensei que ela chegaria a tanto, mas tem certeza disso?

— Não confio nela.

— Mas casar? Não que eu não queira, mas e seus pais? Minha mãe?

Ricardo parou de correr com ela, as portas do castelo, olhando sua quase esposa, estavam ofegantes pela corrida, mas ela continuava linda, sempre estava linda, como poderia dizer que essa mulher um dia ficou feia?

— Eu me caso com quem quiser, como quiser, se você quiser, claro. — Ele riu. — É isso que quer, Elen?

Os olhos da garota brilharam e ela acabou rindo, sem jeito, apertando a mão de Ricardo:

— Sim, eu quero.

E voltaram ao seu caminho, seguindo para a capela mediana que era propriedade do castelo.

Tinham vários deuses ali, a deusa mãe, protetora das mães e das crianças, e mais ao lado a deusa donzela, padroeira do amor romântico e dos casais, Ricardo colocou a mochila no chão enquanto Elengaria se ajoelhava diante da Mãe para pedir perdão por desonrar a família daquele modo.

Ricardo por outro lado estava montando o altar diante da Donzela, um prato de porcelana que continha os dois aneis labiais, a vela para iluminar, duas taças e uma bebida abençoada.

Logo Elengaria terminou suas orações de desculpas se ajoelhou diante da donzela com Ricardo, estava com um sorriso animado nos lábios, mesmo que não fosse a melhor das cerimônias, ainda era cerimônia deles.

Ricardo respirou fundo, estava nervoso, sua mão até tremia quando ele concentrou a chama na ponta dos dedos para acender a vela:

— Está pronta?

— Sim. — Elengaria respirou fundo. — Eu começo.

Elengaria se virou para Ricardo, com um sorriso calmo e determinado, não estava sendo forçada a fazer isso, estava ali por querer:

— Ricardo D’Ank, príncipe de Serphs, eu posso dizer que desde o primeiro dia que nossos olhares se cruzaram meu coração já pertencia a você, nunca estive tão certa de meus sentimentos como estive agora.

“Eu, Elengaria Navarra, filha das casas do sul, prometo a você meu amor, minha lealdade, minha alma e meu corpo, enquanto a chama da vida me permitir, enquanto o sopro dos deuses estiver sobre mim. Asseguro que manterei esse vinculo até o final da minha vida, enquanto você permitir”

Ela segurava as mãos de Ricardo, os olhos brilhando com as lágrimas de emoção que brotavam nos olhos rosados da dama das fadas.

Ricardo apertava as mãos de Elengaria, com certo tremor, estava nervoso, mesmo estando os dois ali sozinhos, á luz da vela cerimonial:

— Eu, Ricardo D’Ank, príncipe do reino de Serphs, devo dizer que compartilho de seu sentimento, minha alma ansiou pela sua no momento que nos vimos pela primeira vez, desde aquele momento eu te amo, e só posso dizer que esse amor parece crescer dia após dia, hora após hora, minuto após minuto.

“Elengaria  Navarra, bela filha das casas do sul, te prometo meu amor, meu carinho, minha devoção e minha proteção, até o fim dos tempos, ou até enquanto minha força perdurar, o que vier por último.”

Nesse ponto, Elengaria não conseguia parar de sorrir, completamente envolvida naquela aura romântica e intima dos dois:

— Príncipe Ricardo D ‘Ank, você aceita à mim, Elengaria Navarra, como sua esposa para proteger e amar para sempre? — Ela perguntou sorrindo.

— Sim! — Ele disse antes mesmo dela acabar, dando uma risadinha. — Lady Elengaria  Navarra, filha das casas do sul, aceita a mim, Ricardo D ‘Ank, como seu esposo para amar para sempre.

— Sim, eu aceito.

Ricardo pegou o anel labial, beijo-o com carinho, e colocou encaixado no lábio inferior de Elengaria, essa por sua vez, segurou o anel labial e colocou encaixado no lábio inferior de Ricardo. Entrelaçaram as mãos, sorrindo apaixonados:

— Como príncipe herdeiro do reino, pelo poder investido em mim pelos céus, eu nos declaro marido e mulher… Que a Donzela nos abençoe por todos os tempos.

E finalmente selaram aquela união com um beijo apaixonado, um pouco desajeitado pelos novos adereços de boca, aquele geladinho que os fez rir quando se separaram, finalmente… Juntos, para sempre:

— Eu te amo, Ricardo.

— Eu te amo, Elengaria. — Falaram ao mesmo tempo, rindo daquilo.

A vela brilhava forte, projetando as sombras do casal na Donzela, o ambiente quente e acolhedor parecia ser projetado para eles, como se… A própria deusa estivesse abençoando a união, mesmo em segredo dos dois.

Os beijos continuaram, consumando finalmente aquele amor.

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