Volume 1 – Arco 3

Capítulo 26:(Especial) Era um Vez um Amor que se Aviva

Finalmente.

Nada preparou Ricardo para aquilo.

Nada para ver aquela carruagem com pégasos descendo dos céus, sabia que lá estava o amor de sua vida.

Quando a carruagem branca e fechada pousou, alguns criados correram para jogar o tapete vermelho para a Lady Vivany, que por certa estaria linda, mas seu coração batia por outra.

Quando finalmente a porta da carruagem foi aberta, Vivany apareceu, um vestido vermelho impecável, um corpete justo que ressalta seus seios, uma saia bufante que parecia tomar conta de toda a carruagem, quem desceu primeiro, sua criada, ajudo-a a descer estendendo a mão.

Mas logo atrás dela vinha Elengaria com um vestido branco e sem graça, parecia bem menos chamativa que Vivany, mas algo lhe chamava atenção, para Ricardo… Ela parecia uma fada, e algo chamou ainda mais a atenção dele, ela usava os brincos que ele tinha dado de presente.

Arrancou um leve sorriso do príncipe:

— Meu príncipe. — Fez uma reverência para Ricardo.

Mas ela reparou, mesmo que ele fizesse uma reverência, seus olhos não brilhavam para ela, seu olhar não estava focado nela.

Estava em um ponto que não podia identificar agora, além de si, mas manteve o sorriso ensaiado, com os lábios pintados de um batom leve:

— Lady Vivany. — Fez uma reverência para ela.

Mas seus olhos estavam em Elengaria, focados nela, completamente nela, e pela primeira vez, seus pais, os reis, repararam nisso.

Os olhos frios do rei Luís encontraram os amorosos de sua esposa, que sorriu, como se já soubesse, o rei suspirou, pensando em como aquilo era uma ironia do destino: Seu filho mais velho apaixonado pela garota frágil que era Elengaria, mas não poderia reclamar tanto, só estava ansioso para saber como as coisas iriam se desenrolar com Vivany, que claramente chamava mais atenção de todos:

— Lady Vivany. — Ricardo retribuiu a reverência do melhor jeito que pôde.

Sentia o olhar de seu pai sobre si, ele poderia falar o que quisesse, poderia tentar não demonstrar, mas estava nervoso.

Muito nervoso, se sentia julgado por seu pai, claro que ele julgaria, sabia das doenças de Elengaria, sabia que era frágil e talvez não fosse a melhor pessoa para ter filhos, mas era ele que amava.

Foram amenidades trocadas e logo, para a insatisfação de Vivany, Ricardo instruiu que ela fosse levada ao quarto, e logo falaria com ela, precisava se acalmar, mesmo que isso apenas a fizesse ter mais raiva.

Tão irritada que não reparava nas trocas de olhares cheios de amor entre sua irmã e seu quase futuro noivo, mas Safy reparou.

Como uma sombra, sempre observando, Safy reparou em algo que lhe perturbou, a irmã mais nova de sua senhora parecia ameaçar a felicidade que deveria ser dela.

Mas deveria estar vendo coisas.

Iria apenas ajudar Vivany indo para o quarto, pois ela já não estava de bom humor, assim que se viram no quarto, sozinhas, Vivany deixou a máscara de boa moça cair:

— Como ele ousa sequer olhar para mim?! — Ela berrou irritada, jogando o leque no chão.

— Talvez ele não goste de garotas, minha senhora. — Safy tentou amenizar, pegando o leque do chão.

— Como?

Safy deixou o leque em cima da mesinha de centro enquanto se apressava para tirar o vestido de Vivany:

— Como poderíamos explicar ele sequer lhe olhar? — Safy sugeriu começando a tirar os laços do corpete. — Ele não deve gostar de garotas, o apetite do jovem herdeiro deve ser de outras coisas.

— Bem, faz sentido. Ou talvez ele só esteja envergonhado. — Vivany riu. — Afinal ele não deve ver pessoas tão lindas quanto eu por ai.

E sua autoestima tinha voltado completamente a normalidade e seu humor também.

O quarto que ela estava era duas vezes maior do que o que tinha na sua casa, e pensava como seria a suíte da rainha que ela teria após casar-se com Ricardo, deveria ser enorme. E era com isso que se importava.

O quão rica e conhecida seria, o importante seria ter um filho de Ricardo a mais rápido possível, esperava conseguir engravidar logo após a noite de núpcias, era seu plano ideal de vida:

— O príncipe Ricardo logo estará aqui, deve se preparar, quem sabe não consiga consumar o casamento antes da troca de beijos. — Safy brincou.

Vivany riu, mas agora estava completamente sem roupas, pedindo para que sua criada arrumasse seu banho, realmente precisava tomar um banho, quente e longo para o corpo relaxar daqueles dias de viagem e se preparar para seu príncipe, mesmo que não tivesse nenhum interesse real em Ricardo.

No fundo ficaria feliz se ele não tivesse apetite por mulheres, não iria se preocupar com bastardinhos correndo perto de si se ele quisesse apenas homens, ele poderia se deitar com ela apenas de mulher e ter seus amantes.

Mas talvez o problema de Ricardo fosse mais simples de saber, um problema que tinha nome, sobrenome, e agora estava ali, sorrindo boba com um buquê de lírios que tinha recebido dele:

— Oh alteza…

— Ricardo, já disse que pode me chamar pelo nome.

Ambos estavam sem jeito, sem se olhar direto, sabiam dos conteúdos das cartas mais quentes que acabaram trocando após algum tempo, e agora estavam ali, um diante do outro, sem jeito, com o rosto avermelhado.

Claro que estavam sem jeito, era o primeiro encontro que tiveram de fato, desde aquela conversa da sala de música no palacete dos Navarra, agora estavam ali, tentando manter uma conversa normal, sempre que abriam a boca, não conseguiam falar nada, então apenas desistiram:

— Ricardo eu…

— Você está linda. — Ricardo falou por cima.

O rosto de Elengaria ficou vermelho, e logo desviou o olhar entre risadinhas sem jeito:

— Está me deixando sem jeito, alteza.

— O que posso fazer? Você é belissima. — Garantiu aquilo, estendendo a mão devagar para tocar o rosto dela.

Uma pequena fada branca, que parecia tão frágil, mas ao mesmo tempo tão linda… Ela era bela para Ricardo, queria poder tocá-la, abraçá-la, beijá-la.

— Eu não sei o que dizer. — Elengaria admitiu.

Encostou o rosto na mão de Ricardo, o contraste da pele sem pigmento de Elengaria com a pele negra de Ricardo era lindo, as mãos mais calejadas de Ricardo tocaram a pele macia de Elengaria, duas peles quentes se tocando finalmente.

A mulher se aproximou mais do príncipe herdeiro, os olhos lilases encontrando os vermelhos sangue dele, o vestido simples de mangas longas de cor branca deixando a garota quase etérea, já Ricardo que usava uma roupa mais simples, mas ainda elegante, digna de um príncipe, com suas calças pretas e a camisa branca perfeita alinhada.

Era como se o mundo parasse ao redor dos dois, que apenas os dois estivessem em movimento naquele momento, o mundo por um momento pareceu mais lindo.

Mais colorido.

Mais vivo.

A mão livre de Ricardo tocou o ombro de Elengaria enquanto ela se aproximava mais, seus olhos desviando das orbes vermelhas do príncipe para seus lábios, então aquela curta distância dos dois foi finalmente erradicada quando os lábios se tocaram.

Um beijo tímido, casto, que não ia além daquele toque de lábios, mas que para eles foi tudo.

Quando se afastaram, Elengaria riu, Ricardo porém nem parecia piscar, antes de abraçar sua amada, a rodando no ar:

— Eu te amo, pequeno lírio.

— Ora…

Ainda não sabia como responder aquilo pessoalmente, mas o príncipe não se importou, colocou a garota no chão, começando a beijar seu rosto repetidas vezes dizendo eu te amo a cada beijo.

Eles combinavam, ao menos na visão deles, era simples e puro para os dois, mais uma vez, Ricardo segurou o rosto de Elengaria, beijando seus lábios, dessa vez um pouco mais demorado, com os lábios se movendo de forma harmônica.

Eles se amavam, era isso que importava.

Ainda precisavam resolver o problema de Vivany, mas parecia que aquele problema sequer existia enquanto os beijos evoluíam gradativamente, ficando mais profundos a cada novo toque.

Ricardo agora já abraçava o corpo de Elengaria contra si, os corpos mais juntos, os beijos cada vez mais quentes, aquilo era como um sonho se realizando para ambos, finalmente estavam juntos:

— Elen… Case comigo. — Finalmente pedido entre beijos. — Por favor, case-se comigo belo lírio.

— Caso. — Elengaria respondeu ainda abraçando o pescoço de seu amado. — Mas e Vivany? 

Finalmente aquele assunto foi abordado, era algo sério que precisava ser mesmo resolvido, mas ainda sim, não queria estragar o momento.

Não tinha o que fazer:

— Falarei com Vivany hoje mesmo para falar sobre isso. — Ricardo falou se afastando. — Serei honesto sobre isso, não temos nenhum contrato de noivado ainda, deve ser simples.

— Nada é simples com Vivany.

— Ela não deve ter se apaixonado por mim em uma tarde…

Mesmo que tenha precisado muito para que se apaixonasse:

— Não, ela não te ama, mas ama a coroa, ama tudo que você representa, ela não vai abrir mão disso facilmente, ainda mais quando descobrir que eu sou a pessoa que irá a substituir.

— Você não está substituindo ninguém, ela nunca teve esse local para começo de conversa. — Ricardo a cortou.

— Eu sei, eu entendo, mas Vivany pode…

Não queria pensar que a irmã fosse ficar violenta, mas nunca tinha visto como era quando ela não conseguia o que queria, seria algo inédito até mesmo para ela. Estava com medo, não mentiria.

Ricardo a abraçou, fazendo carinho nos cabelos esbranquiçados de Elengaria, com esperança que aquilo lhe acalmasse:

— Eu vou dar um jeito nisso, por favor não se preocupe.

Mesmo que não soubesse como ela iria reagir, ainda sim tinha um quase compromisso com ela, e deveria ao menos acabar com aquilo antes de começar para deixar tudo a mesa, mas não mencionaria Elengaria, se alguém fosse sofrer um surto, seria ele, apenas ele.

Se mantiveram ali, aninhados num abraço terno e quentinho, aproveitando que finalmente, após meses, estavam juntos daquele modo, um modo romântico e amoroso, como se já fossem um casal.

Quando finalmente sair do quarto, nem notou que tinha alguém ali, quase como uma sombra, o observando, observando de onde saía, e logo os pés ágeis de Safy voltaram para dentro do quarto onde Vivany esperava tomando um suco frutado:

— O príncipe Ricardo estava no quarto de sua irmã, minha senhora. 

Vivany engasgou, tossindo com o rosto ficando vermelho até voltar ao normal devagar, com sua criada lhe dando um copo d’água:

— O que raios ele estava fazendo no quarto dela?

— Eu não sei, mas ele parecia feliz. — Fazia uma pequena massagem nas costas de sua senhora.

Mas Vivany dispensou a massagem, se levantando da cama com raiva, uma raiva que parecia que iria explodir tudo:

— Ela está dormindo com meu noivo?! Não, ela não seria capaz, não é?

— Lady Elengaria? Não, ela é muito frágil para sequer aguentar o tranco de uma relação sexual.

— O que ele foi fazer no quarto dela?

— Não sei, só o vi saindo todo alegre.

— E por que veio aqui sem a explicação toda, sua inútil?

Vivany segurou a camisa de Safy que não demonstrou uma reação exagerada de medo, apenas parecia acostumada com aquilo, apenas segurou as mãos de Vivany para não se machucar:

— Me perdoe, mas o que fará se ela realmente estiver dormindo com o príncipe?

O rosto vermelho de raiva  de Vivany se intensificou, empurrou Safy contra a cama, subindo as mãos para o pescoço de serva, enquanto sentava sobre o corpo dela:

— O que eu vou fazer? O que acha que eu vou fazer? — A voz era um sussurro.

— Vai colocá-la no devido lugar? — Safy arfou sentindo as mãos de Vivany apertarem mais.

— Exatamente. E o que eu faço com você?

Mesmo naquela situação, com as mãos de sua senhora restringindo seu ar, o sorriso quase deleitoso de Safy não morria, com os olhos focados nela, sem piscar:

— Deveria me punir?

— Sim. Eu deveria.

Apertou mais fazendo a criada perder o ar e precisar abrir a boca para tentar procura-lo, o corpo de Vivany se inclinou sobre o dela, falando baixo contra seu rosto:

— Eu deveria te usar como meu noivo está usando minha irmã, sabia?

E no final se afastou, soltando o pescoço de Safy e jogando o corpo para o lado, levou as mãos aos cabelos, passando os dedos pelos fios castanhos e jogando para trás:

— Preciso falar com minha irmã, não acredito que ela se perdeu com o príncipe… Mas se for talvez seja bom, se ela tiver um filho, o que eu duvido, ele pode ser meu.

Safy ainda estava completamente focada nos momentos de antes, olhando para sua senhora ainda perdida, com um sorriso frouxo:

— Pare de sorrir assim, bem, se ele for como os outros homens, Ricardo provavelmente se deitará comigo hoje, e se ele fizer isso não desfará o noivado.

Ela sorria com seu plano, se levantando e apontando o dedo para sua criada:

— Preciso de um vestido que seja fácil de tirar. 

O sorriso animado era um contraste perfeito com o assustador de antes, e logo as duas estavam andando de um lado pro outro, mexendo nas malas para achar um bom vestido, antes do herdeiro finalmente chegar.

Mas lá no fundo, Vivany não sentia qualquer vontade real de se deitar com Ricardo, nem mesmo uma faísca de felicidade ou ansiedade, era como se no fundo, não quisesse isso, mas levantava a cabeça e pensava na coroa, na riqueza, no título, em tudo aquilo.

No orgulho que sua mãe sentiria ao vê-la finalmente ter alcançado a honra máxima que uma mulher em sua situação poderia alcançar, afinal, sem magia, apenas a beleza poderia lhe conseguir locais, beleza e seu útero que logo estaria gerando herdeiros.

Teria tudo que conseguisse.

Nem que precisasse rebaixar sua irmão ao posto deplorável de amante.

 

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