Volume 1 – Arco 3
Capítulo 25:(Especial) Era um Vez um Amor que Machuca
Querido quase rei
Eu aprendi a apreciar muito o vermelho sangue de seus olhos, mas também gosto muito de lilás, azul e rosa, mas odeio amarelo.
Ao menos em mim, me sinto muito sem graça com essa cor.
Em relação a comida, devo dizer que gosto muito de doces, mas prefiro coisas azedas, por exemplo adoro limão.
Quem sabe uma torta de limão seria uma boa ideia para nosso encontro, o que acha? Parece ser algo que nós dois vamos gostar, doce de frutas azedas.
E falando sobre coisas que gostamos, quais seus livros favoritos? Soube que é um leitor ávido de romances.
Infelizmente não sou a melhor leitora, adoraria que me recomendasse alguns de seus favoritos para conversarmos mais quando eu chegar ai.
Essa é a última carta que irei lhe escrever, que nossa próxima conversa seja pessoalmente.
Com amor.
Seu Lírio.
O coração do herdeiro estava a mil, finalmente se veriam de novo após aquele encontro que pareceu arrebatar sua alma daquele modo, já planejava todos os passeios que teria com ela, cada um deles enquanto andava pelo quarto.
Mas junto com Elengaria viria outra pessoa: Vivany.
Precisava conversar com ela sobre aquilo, não sabia como abordar esse assunto, mas era necessário, não podia continuar com aquele teatro, seu pai lhe dava indiretas sempre que podia, afinal para ele, estava deixando a lady Vivany vir aqui apenas para ser humilhada, mas não era isso.
Ela precisava vir com Elengaria, não podia revelar que sua amada era a irmã mais nova de Vivany.
Aquilo poderia ser humilhante, mas talvez pela coroa ficar em sua família, ela não sentiria tanto? Ou talvez fosse pior, mas não conseguia explicar bem aquilo.
Mas mesmo que quisesse pensar, sua mente voltava para Elengaria, aquela pobre e frágil flor que estava agora numa carruagem junto com sua irmã que deveria estar falando do casamento que não iria acontecer.
Mas estranhamente Vivany estava calada, sentada olhando pela janela, com a mão sendo massageada por Safy, que sorria sempre com aquele olhar apaixonado.
Elengaria estava em silêncio também, seu coração estava martelando contra o peito, tão ansiosa que tinha medo de sua irmã notar, mas talvez associasse isso ao fato de ser a primeira vez que estava fora de casa.
Dois dias de viagem.
Com duas paradas em cidades no caminho, nos melhores quartos, suas costas doíam de tanto ficar sentada naquela posição enquanto ia para o castelo, pois Vivany se recusou a usar os pégasos pois iriam arruinar seu cabelo em um dia inteiro no ar:
— Chegamos. — O cocheiro parou.
— Não estamos no castelo ainda. — Elengaria questionou.
— Vamos terminar o caminho de carruagem de pegasus. — Safy respondeu se levantando.
Ela ajudou Vivany a descer com calma, sorrindo apenas para sua senhora.
Elengaria revirou os olhos, claro que ela iria querer uma entrada triunfal, nem sabia por que teve o vislumbre de que sua irmã não tentaria algo nesse nível.
Pararam num hotel, e Elengaria agradeceu, ao menos poderia dormir numa cama confortável já que Safy iria cuidar da beleza de sua irmã, não que precisasse, afinal Vivany era linda.
Poucas mulheres seriam tão lindas quanto Vivany e sabia disso, se não fossem a situação que se encontra, estaria feliz pela sua irmã ter aquele casamento, era muito lucrativo para sua família e para a autoestima de sua irmã.
Seguiu para dentro após sua irmã que foi direto para o quarto, não fez diferente, precisava tomar um banho quente e tirar aquelas roupas mais pesadas.
Quando se viu sozinha no quarto espaçoso, menor do que o de Vivany obviamente, ela sempre precisava disso. Foi até o banheiro ligando a água que era naturalmente quente por conta das pedras de fogo que tinham ali, e então começou a tirar aquelas roupas pesadas.
O vestido de mangas longas que odiava, a anágua por baixo, e as roupas intimas, se sentia presa, e agora livre. Massageou o corpo sentindo alguns lugares doloridos por todo aquele aperto. Seus olhos caíram sobre o espelho do local, vendo seu corpo.
Magro demais.
Branco demais.
Pequeno demais.
Mais uma vez começou a se questionar se Ricardo gostaria daquele corpo, se ele a acharia verdadeiramente bonita ou se tinha uma visão distorcida dela, uma visão mais bonita do que ela realmente era.
Balançou a cabeça espantando aqueles pensamentos ruins, prendeu os cabelos e foi finalmente tomar um banho quente para relaxar seu corpo cansado e dolorido da viagem.
Um descanso.
Um descanso que Vivany não se permitia ter de fato.
Mal chegou e já estava focada em se preparar para o dia de amanhã, quando finalmente veria seu futuro noivo de novo, mesmo que não estivesse muito ansiosa para ele e sim pelo que poderia acontecer:
— Espero que ele faça um pedido decente, com um belo anel. — Falava enquanto Safy fazia massagem em suas costas.
Não iria admitir isso para sua irmã, mas sentia dores também, aquela viagem mais longa que o normal foi péssima para ela, mas não daria o braço a torcer.
Soltou um gemido longo de alivio quando um ponto de tensão foi desfeito, então ela relaxou, fechando os olhos e focando em qualquer outra coisa que não fosse o encontro próximo.
Passou o resto do tempo conversando com Safy sobres qualquer bobagem, falando mal de criados, do quarto, as vezes de algumas nobres, dizendo coisas que queria comprar.
Deixava sua criada preparar seu banho, massagear seus pés, pentear seus cabelos e aplicar seus cremes, eram funções que delegou a ela afinal era sua dama de companhia, treinada para servi-la.
E em algum ponto, ama-la.
Mesmo conhecendo a personalidade vazia e fútil de Vivany, Safy ainda a amava profundamente, um amor que ultrapassava o sentimento de criada e senhora, e duvidava que estava apenas em mulher para mulher.
Não ansiava por toca-la, não se sentia digna disso.
Não esperava ser retribuída, nem que um dia Vivany tomasse ciência daqueles sentimentos.
A idolatrava.
Queria que ela fosse feliz acima de tudo, acima de qualquer felicidade, era disposta a tudo pela sua querida senhora.
De tudo por ela.
Apenas para receber um olhar, um obrigado, apenas um aceno de cabeça… Um sorriso que fosse, mesmo que não fossem destinados a si, ela faria aquilo que precisasse pela felicidade dela.
Ao longo do tempo não saíram do quarto, apenas Safy na verdade, para pegar a comida, sem encontrar a irmã mais nova de sua senhora, talvez tivesse dormido, ou só ficado no quarto, tão tímida e pequena era aquela garota.
Voltaram a conversar sobre trivialidades, os olhos de Safy não saiam de sua senhora, em momento nenhum sorrindo boba quando ela lhe olhava:
— Ah, o que eu faria sem você, Safy? — Vivany sorriu tocando o rosto de sua criada.
— Ainda seria a mais bela entre as belas.
Vivany riu, diferente dos risos ensaiados e belos, era um riso mais solto que só ela via, e por isso Safy se sentia especial por aquilo, eram seus momentos secretos.
A mão de sua senhora continuava no rosto da criada, fazendo carinho devagar:
— Safy… Estou nervosa. — Confessou aproximando mais o rosto de sua criada. — E se eu não for uma boa rainha?
— Você será a melhor de todas. — Safy garantia aquilo sem se afastar.
Não importa quantas vezes passasse por aquilo, quantas vezes sentisse os lábios de sua senhora contra seu rosto, seus toques mais firmes, ainda sim seu coração sempre batia forte.
Ela era importante para sua senhora, sua senhora precisava de si, precisava de seus abraços, não importa o quanto aquilo a machucasse, seria tudo que Vivany precisasse.
Deixou que ela adormecesse em seus braços, abraçada contra ela, se deitou na cama com uma Vivany adormecida ali, não conseguia deixar de sorrir.
Elengaria por outro lado não conseguia dormir, como deveria se vestir? Como deveria se portar? Como Ricardo iria agir? Como sua mãe iria reagir àquela revelação? Sabia que ela surtaria, mas esperava que ela mantivesse a compostura, mesmo que duvidasse.
Se revirava na cama, movendo-se de um lado para o outro até desistir de dormir, levantou da cama com sua camisola branca de seda e começou a caminhar pelo quarto tentando organizar seus pensamentos.
Talvez estivesse apenas ansiosa e pensando em tudo que podeira dar errado, e muita coisa poderia, coisas que sequer poderia pensar que dariam errado.
Ainda sim sua principal preocupação era que Ricardo poderia não gostar dela pessoalmente, talvez fosse diferente pelas cartas? Não sabia. E seu coração não parava de ser ansioso, queria poder acalmar aquela ansiedade.
Mas não conseguia.
Voltou a se sentar na cama após longos instantes andando de um lado para o outro por suas pernas doerem, não foram instantes na verdade, olhando pela janela a lua já estava alta, indicando que era mais de meia noite, e ela ainda não dormiu.
Se jogou na cama, olhando o teto tentando entender o que estava acontecendo, como sua vida foi virar assim?
Mas mesmo assim… Sorriu…
Com tudo aquilo estava extremamente ansiosa e feliz, iria ver seu amado depois de meses e finalmente resolver isso cara a cara, sem intermédio por cartas, aquilo lhe deixava feliz.
Teria seu Ricardo para si, mas… E se irmã?
E se sua família lhe odiasse?
Aqueles pensamentos começaram a lhe rodear começando a lhe tirar seu ar, seu coração batia tão rápido que conseguia ouvir, seu ar não conseguia alcançar seus pulmões. Seus olhos começaram a arder como se fosse chorar, mas as lágrimas não saiam.
Apertava seu peito procurando seu ar.
Seu oxigênio.
Mas nada vinha.
Sua voz parecia se perder naquele grito mudo que queria dar, tentou se levantar e caiu de joelhos no chão, abraçava seu corpo trêmulo tentando parar.
Parecia que tinham passados horas daquela situação horrível, quando o ar finalmente entrou, as lágrimas finalmente desceram.
Lágrimas grossas, pesadas, de um choro antigo que finalmente se fazia presente depois de meses.
Aquele medo de Ricardo não lhe aceitar.
Aquele medo de sua família a odiar para sempre, que sua irmã ficasse brava, mesmo odiando o tratamento que sua família lhe impunha, mas ainda eram sua família, afinal, sua única família.
Quanto tempo ficou ali, chorando com o corpo trêmulo até sentir suas forças se esgotarem completamente, mal conseguiu se levantar do chão, se apoiou na cama, deixando seu corpo cair nela.
Abraçou seu corpo, ainda chorava, mas estava melhor, bem melhor, parece que aquele peso de anos saiu de seus ombros, nunca pode chorar assim em casa, mas agora chorava.
Nem percebeu que a porta estava meio aberta e um par de olhos lhe encarava: Safy.
Tinha saído para pegar algo para sua senhora comer, e acabou vendo toda aquela cena, uma cena dolorosa, vendo ela sofrendo daquele jeito, mas o que poderia fazer?
Elengaria não teve uma serva tão fiel quanto ela, não sabia se não deixaram ou se ela apenas não valia a pena, mas não era problema seu.
Fechou a porta, seguindo seu caminho para pegar o suco para sua senhora, quando retornou, sua senhora tinha voltado a dormir, sorriu com aquilo deixando o suco na mesa.
Se ajoelhou perto da cama, vendo a expressão tão serena de sua senhora, dormindo como se não tivesse nada que lhe afligisse, e era isso que queria, que nada a tocasse, nenhuma dor, nenhuma perturbação, nada. Queria que ela ficasse daquele modo pacifico para sempre.
Se aproximou do rosto dormindo dela e beijou sua testa com calma, cuidado e carinho:
— Eu amo você. — Falou baixinho, voltando ao seu lugar.
E ali ficaria, velando seu sono, garantindo que nada lhe incomodasse, por que isso era amar para ela, lhe dar tudo pela sua pessoa amada.
Nada mais lhe importava fora a paz e felicidade de Vivany.
Seus olhos sequer pregavam, as vezes, na calada da noite se perguntava que… Talvez, se fosse rica, Vivany olharia para ela, talvez pudesse ter sua senhora em seus braços, como sua mulher e não como uma amante secreta.
Não como se fosse descartada quando ela achasse alguém melhor, alguém mais útil que si, por isso precisava continuar sendo útil, precisava continuar se esforçando para que cada vez mais fosse insubstituível para sua senhora.
Não esperaria o amor um dia fosse retribuído, mas ao menos queria continuar ali, perto dela, esperando o momento que ela sempre voltasse para seu aconchego.
Ela sempre voltava…
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios