Volume 1 – Arco 3
Capítulo 24:(Especial) Era uma Vez um Amor que Continua
Meu querido futuro rei
Eu adorei o novo apelido que deu para mim, lírio acabou de se tornar minha nova flor favorita.
E devo confessar que eu estou extremamente ansiosa para o ver daqui a alguns dias, e também para conseguir conversar contigo de outra forma que não seja por cartas.
E desde sua carta sonho dia após dia em como será nosso beijo, se vai gostar tanto quanto eu sei que gostarei.
Mando como lembrança, essas sementes de lírio, espero que fiquem lindos em seu jardim.
Com amor, seu pequeno lírio.
A carta cheirava a lírio, um cheiro que agora era associado completamente a Elengaria. Aquilo arrancou um sorriso apaixonado de Ricardo.
Enquanto o momento se aproximava, ele se preparava para tudo, a guerra estava ficando acirrada, mas ainda eram apenas confrontos isolados entre dois continentes, mas claro, todos estavam assustados.
Por isso seu pai queria tanto o casamento.
E ainda mais com uma mulher que poderia ter filhos de forma mais… Fácil? Será esse o nome que deveria dar a isso?
Ainda não tinha falado com seu pai sobre aquilo, mas com o tempo se aproximando precisava o confrontar finalmente, mas cada dia que passava ele parecia estar ainda mais animado, especialmente por ver o filho começar a comprar e encomendar jóias que ele julgava ser para Vivany.
Mas não daria para fugir para sempre.
Ele iria falar em algum momento, mas deveria ser pelos seus termos, mas claro, o mundo não girava em torno de suas vontades e as coisas não saiam como ele queria, por isso seu pai apenas abriu a porta do quarto enquanto ele guardava a carta de Elengaria:
— P-Papai! — Falou surpreso depois de dar um pulo.
— Qual o problema? O castelo é meu, vou aonde quiser. — Falou sempre com aquela serieda. — Como estão os preparativos?
Claro, nem um bom dia, nem um “como está?” Queria saber dos preparativos para o casamento. E ele estava certo:
— Soube que já está comprando jóias, isso é algo que um homem deve fazer, especialmente para uma mulher como Vivany que parece adorar o luxo.
Seu pai não deixaria falar facilmente, precisava criar coragem, mas ele, mesmo sendo um homem menor, tinha a presença de um exército inteiro, que fazia Ricardo se sentir uma criança:
— Pai…
— Espero que já tenha encomendado o anel labial também.
Anel labial, mais valioso que qualquer aliança que poderia ter, o símbolo do primeiro casamento que seu pai e sua mãe ostentava com orgulho.
Ricardo tinha, mas não para Vivany…
— Pai.
Mas seu chamamento caía em ouvidos mudos enquanto seu pai mantinha um discurso como aquele casamento seria benéfico para ele, uma mulher bonita e de boa família, e tudo que poderia.
Ele não se calava:
— Eu não vou me casar com Vivany. — Finalmente falou.
Seu pai parou, encarando o filho como se tivesse ouvido que ele tivesse dito que roubou uma velhinha na feira:
— Perdão?
— Eu não vou me casar com Vivany.
O pai se sentou na cadeira, olhando para seu filho, firmemente, seu corpo ereto, como uma estatua:
— E com quem você vai se casar.
— Não direi.
Era uma armadilha. Se dissesse quem era, sabia que proibiria de ter qualquer envolvimento com ela.
Seu pai respirou fundo passando a mão pelo rosto, de todas as coisas que seu filho poderia fazer, tinha que ser isso? Tinha que dar uma de criança agora? Nesse momento?
— Vivany já está vindo para cá e agora você inventa que não quer casar com ela, Ricardo?
— Eu não pedi esse casamento.
— Você é o herdeiro. — Seu pai levantou um pouco a voz.
— Exatamente, eu sou o herdeiro, eu caso com quem quiser! Não com que você quer!
A voz de Ricardo foi firme, alta, fazendo seu pai arregalar os olhos, pela primeira vez o rei não enxergava ali aquele garoto bobo e apaixonado que sempre via, ou aquele soldado cheio de esperança.
Via um homem.
Um homem com sua decisão firme encarando outro homem.
Mas tinha que ser aquilo?
Tinha que ser logo agora?
Mesmo naquela situação ele não conseguia não sentir orgulho por aquele garoto que se tornou um homem que finalmente lhe enfrentou, não conseguiu deixar de sorrir para o seu filho:
— Ricardo… Eu nunca estive tão orgulhoso de você meu filho, mas não posso carregar esse fardo por você. — O rei Luís sorriu, era a pegadinha.
O filho poderia estar livre, mas teria que resolver suas coisas sozinhos, ele seria um rei afinal.
Ricardo pareceu mais calmo, ao menos não foi uma negação completa de seu pai, só precisava contornar agora Vivany, o que agora parecia um grande problema, não conhecia como ela era de fato, Elengaria não falava dela nas cartas, e o pouco que conheceu não foi a coisa mais agradável.
Ela parecia ter certeza que o teria e já se comportava como sua esposa.
Seu pai se levantou da cadeira, apertando o ombro de seu filho com firmeza, não iria fazer nada para o ajudar, mas também não tentaria se opor, não diretamente.
Ricardo ainda precisaria de um casamento, e ele que teria que cancelar as coisas com Vivany, não ele.
Saiu do quarto deixando seu filho sozinho, com um misto de alívio e preocupação, não sabia o que seu pai pensava, o que precisaria fazer, mas ao menos ele sabia que seu pai não estava contra de forma explícita ao seu casamento.
Não quis falar que era Elengaria a pessoa que amava.
Não iria dar mais problemas para ela daquele jeito, já bastava estar “roubando” o pretendente de sua irmã, mesmo que nunca tivesse inclinado a casar com ela.
Se perguntava como ela estava…
Se debruçou sobre a mesa e se pôs a escrever uma carta para sua amada.
Amada essa que estava observando sua irmã provar uma infinidade de vestidos com sua mãe, alguns que valorizavam o busto da moça, outros os quadris largos, mas tudo era para deixar mais bela, o que fazia Elengaria baixar os ombros.
Nunca seria tão bela como ela, tão sensual como sua irmã, então por que Ricardo se apaixonou tanto por ela? Será que valia a pena?
Será que aquele amor todo era apenas uma chama que se apagaria e ele se arrependeria assim que visse sua irmã tão linda naqueles lindos vestidos?
Vivany era linda, isso era inegável, mas sua personalidade rasa era algo que sempre a incomodou, sua aparência sempre foi o que mais chamou atenção, e ela moldou sua personalidade ao redor dela:
— O que acha desse, irmãzinha? — Vivany se virou com um belo vestido branco.
Era muito volumoso, grande, mas ainda sim destacava seu corpo, o rosto ficava livre, afinal era seu trunfo:
— Ficou ótimo em você.
— Não é? Mas é difícil algo ficar feio em mim não é? — Vivany riu acompanhada por sua mãe.
— Sim, quase impossível querida. — Concordou entre risadas.
— Mas mãe, como ficará a Elen? Ela não fica bem de branco.
E ali estava os comentários.
Comentários com um falso tom de tristeza, preocupada com a irmã, mas ao longo da vida aprendeu que aquilo era para se reafirmar como a mais bonita, a princesa da casa:
— Tenho certeza que o futuro marido irá entender aquilo, não é mesmo? Quem sabe possa casar-se de vermelho? A cor da paixão. — A mãe sorriu.
Não sabia se Lady Mikaela era burra ou extremamente cruel por nunca perceber o que Vivany fazia.
Deixou de tentar entender aquilo, talvez só não fosse amada:
— Eu tive uma ideia! — Vivany se aproximou segurando suas mãos sorrindo. — Elen, querida, quero que faça o meu buquê!
Vivany sorria, mas parecia que não chegava aos olhos, analisava as expressões de sua irmã, vendo se algo quebrava. Tinha reparado que ela estava mais feliz, talvez com a ideia de que finalmente teria um casamento?
E quebrou.
A mais velha viu os ombros da irmã mais nova cederam como se tivesse sido acertada em cheio, os olhos perderam o brilho por um momento, mas logo depois forçou um sorriso desconcertado:
— Eu vou adorar, Vivany. — Falou com a voz tremida.
Aquilo encheu o peito de Vivany de felicidade, tinha uma raiva mortal de Elengaria, uma raiva que não sabia por que, na infância era só um sentimento ruim, mas após a irmã começar a ser elogiada por ser exótica, colocou na cabeça que sua irmã não merecia.
Mesmo com sua mãe lhe dando tudo, ainda sentia que Elengaria tinha coisas que não merecia, seja a atenção quando ficava doente, seja a magia das fadas que agora carregava.
Ela não merecia.
Vivany era a mais velha, a mais bonita, mais interessante, ela merecia aquilo. Não Elengaria.
E agora estaria acima dela para sempre, não importa o que Elengaria fizesse agora, ela se casaria com Ricardo, mesmo que não sentisse nenhuma atração por ele, ou por qualquer um dos pretendentes que já lhe foram apresentados, quem se importava?
Nunca sentiu qualquer atração por qualquer um deles, mas eles sentiam o mínimo de afeto por sua irmã, e isso a irritava muito.
E nem sabia o porquê daquela raiva.
Mas isso importava? Ela seria rainha afinal! Seria a mãe de uma nação, não deveria se importar com aquilo, mas se importava.
Não queria a felicidade da irmã acima da sua, por que no fundo sentia que nunca seria feliz, era um sentimento que lhe corroía, então ninguém deveria ser feliz, especialmente a pequena e sem graça Elengaria.
Após aquela quebra de sua irmã, voltou a provar vestidos, e depois voltou para o seu quarto, desfazendo aquele sorriso que sempre usava para os outros, dentro do quarto logo avistou sua melhor amiga e única confidente: Safy Lister.
A mulher de olhos esverdeados e pele alva sorriu ao ver sua senhora, mas logo parou de sorrir quando ela começou a marchar pelo quarto tirando seus brincos, sapatos, colares, vestido, tudo. Safy andava atrás dela, pegando o que podia e colocando nos seus devidos lugares:
— Parece irritada senhora, o que houve?
— Ela estava com aquele sorriso bobo de novo, ela acha que vai se livrar de mim e ficar com as terras?
— É o esperado, a senhorita vai casar com o futuro rei. — Safy tentou falar.
— Levarei ela como minha dama de companhia, estou fazendo um favor, Elengaria sequer consegue ter filhos.
Vivany deitou com o peito contra um divã, logo Safy procurou entre os frascos da sua senhora para pegar o óleo que sempre usava para massageá-la:
— Minha senhora, não acha que está ficando um pouco obcecada pela sua irmã? — Soltou no ar enquanto despejava o óleo nas costas nuas de sua senhora.
— Eu estou protegendo a família da vergonha que vai ser ela não engravidar.
Safy já tinha escutado aquelas lamúrias tantas vezes que nem se deu de questionar mais, apenas massageando as costas dela, indo nos pontos de tensão que já conhecia de cor e salteado:
— E seu futuro noivo? Gostou dele?
— Ele vai ser rei.
Vivany ficou em silêncio, soltando às vezes um gemido de satisfação quando um ponto de tensão era tirado, as mãos de sua criada eram habilidosas naquela quesito.
Após longos minutos, Vivany estava mais calma, se levantando do divã, alongando o corpo mais leve sem aquela tensão toda que acumulava sempre que interagia com sua família:
— Só isso que lhe atraí nele? Ele é rei?
— Do que preciso mais?
Safy começou a desfazer o penteado de sua senhora devagar, escutando aqueles comentários dela, não se referia a aparência dele, a sua personalidade que quase não conheceu, apenas a sua riqueza, seus títulos, quantos filhos teria, apenas isso importava para ela:
— Já sabe o nome do seu herdeiro?
— Não sei, quem sabe Ricardo segundo? — Mais algo que não parecia se importar.
— E se for menina?
— Eliassandra, igual ao da minha avó, mamãe vai adorar essa homenagem e meu pai ficará satisfeito.
Safy sorriu com o nome, parecia mesmo um bom nome, abraçou sua senhora, encostando seu rosto no seu ombro:
— E quanto a mim, senhorita? Como eu ficarei?
Se Elengaria seria sua dama de companhia, qual seria seu destino? Cresceu com Vivany, sua vida foi sempre servir a ela e nada mais, desde pequena foi apenas a dama de companhia e criada particular de Vivany.
O que seria dela afinal?
Aquilo inquietava:
— Uma rainha não tem apenas uma dama, acha que se livrará de mim assim?
Safy sorriu mais calma ao saber que teria seu espaço, beijando o rosto de sua senhora com uma intimidade diferente das demais criadas. Amava Vivany.
Não sabia quando começou aquele sentimento, mas ainda sim o tinha, sabia que nunca teria Vivany para si, mas aceitava a servir e cultivar sua felicidade, mesmo que fosse em detrimento da felicidade de Elengaria.
Mesmo que custasse a sua própria.
Vivany se aninhou mais no corpo de Safy, ainda falando sobre coisas fúteis como vestidos e jóias, enquanto sua criada fazia carinho em seus cabelos em tons claros de castanhos, até que ela ficou satisfeita e pediu um banho.
Amava sua senhora.
Era tudo que importava.
Elengaria por outro lado estava tentando não detestar sua irmã, aquilo tinha sido de propósito, Vivany tinha reparado na sua felicidade, e agora queria a destruir, ao menos aprendeu a fingir muito bem seus sentimentos naquela casa, esconder sua própria felicidade.
Abraçava a carta de Ricardo contra o peito, uma de muitas que tinha recebido durante o dia, o corvo já estava ali, descansando enquanto esperava a nova carta que levaria entre o casal apaixonado.
Elengaria trocava cartas sempre que podia, aumentando o amor que sentia por Ricardo, agora falando de assuntos banais e bobos, como se já fossem namorados à anos, aquilo a alegrava muito:
Querida Elen
Eu estive pensando, qual sua cor favorita? Descobri que além de vermelho gosto muito de tons claros como lilás ou rosa claro, talvez por combinarem com você.
Também gosto muito de doces, qual sua comida favorita? Tenho um fraco por doces de frutas em geral.
Quando puder lhe ver, vou adorar provar com você muitas das minhas comidas favoritas, e as suas também.
Aguardo sua chegada com ansiedade.
Com amor
Sempre seu.
Lady Vivany de Navarra
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