Volume 1 – Arco 3
Capítulo 23:(Especial) Era uma Vez um Amor que Resiste
Minha alteza
Meu coração também não consegue parar de bater por ti, me enche de felicidade saber que quer lutar por mim, que está disposto a tal.
Eu também estou disposta a isso, peço que me espere um pouco mais, irei para o castelo real.
Se esse amor ainda estiver vivo, adorarei passar mais tempo com você.
Com carinho.
Elengaria
Mais um pouco.
Precisava de mais um pouco para que finalmente estivesse junto a Elengaria, precisava se preparar para tal, sabia que não seria fácil lidar com aquela situação, seu pai parecia extremamente feliz com o futuro noivado, sua mãe se tornou menos falante sobre aquilo após revelar para ela seu segredo.
Por baixo dos panos, Ricardo fazia seu planejamento.
Ia a joalherias para pedir novas jóias para Elengaria, coisas que ele mesmo desenhou.
Seu pai tinha lhe ensinado isso, que para firmar um compromisso, como rei deveria fazer coisas exclusivas para ela, como sua mãe tinha, uma coroa de ouro e prata com um belo diamante no centro, a coroa de céu e terra, como seu pai chamava. Ele realmente desenhou aquela coroa.
E tinha muito orgulho daquela coroa que deu à sua mãe, mesmo que estivesse planejando pedir em casamento uma outra mulher e não aquela que ele planejou.
Mas ainda sim, iria casar, então que mal tinha?
Muito mal, iria quebrar um acordo entre duas famílias nobres e influentes, afinal a família Navarra era extremamente influente no meio nobre, como uma das mais antigas que existia, perdendo apenas para três outras familias, sendo uma delas a família D’Ank, a família real.
Mas isso não importava para o garoto apaixonado que sorria escolhendo jóias para ela.
Não iria se demorar muito ali, já tinha feito suas encomendas, e agora iria voltar para seu lar, tinha que pensar logo e rápido, falar com seu pai de uma vez, mesmo que tivesse medo da reação dele.
O rei Luís, seu pai, era um homem de guerra, bruto e forte, mesmo sem ter uma aura como o filho, era extremamente habilidoso, só o viu feliz de fato duas vezes: Quando seu filho despertou e quando ele se graduou, nem mesmo quando o acordo foi finalizado, sentiu aquele sorriso de orgulho.
Mesmo sendo um homem baixo, o rei era conhecido por ser letal e cruel em campo de batalha.
Por muito tempo o admirou, mas agora sentia medo de falar com ele.
Medo daquela letalidade se voltar contra si.
E agora voltava para casa na carruagem, pensando em como abordar aquele assunto, em tantos cenários possíveis que poderia fazer:
Cenário 1: Poderia aceitar aquilo afinal eram da mesma família.
Cenário 2: Poderia negar tudo e obrigar a casar mesmo assim. Para esse cenário já tinha um plano de fuga traçado.
E claro o pior e mais doloroso cenário: ser deserdado.
Não por perder o trono, mas a ideia de perder seus pais também lhe era assustadora, mesmo que amasse Elengaria, queria evitar esse cenário absurdo.
Pensou tanto naquilo que simplesmente não notou a carruagem entrando no castelo, apenas quando o cocheiro abriu a porta para que descesse:
— Vossa alteza…
— Ah? Desculpe-me, estava perdido em pensamentos.
E finalmente desceu, sentindo o cheiro das flores ao redor, flores que agora lembram de Elengaria, especialmente lírios brancos que plantou recentemente.
Andou pelos corredores do castelo pensando em como conseguiria falar com seu pai, era tudo tão nebuloso, tão incerto que simplesmente não sabia como proceder por hora, seu pai era mais distante de si que sua mãe, seu pai sempre foi uma figura que impunha respeito e não carinho.
Mas amava Elengaria.
Queria poder falar disso mais abertamente.
Nem prestou atenção quando acabou esbarrando numa pobre empregada que carregava alguns panos, a pobre mulher já estava se abaixando se desculpando, mas Ricardo a dispensou com a mão:
— Eu derrubei, eu recolho.
E com um sorriso começou a dobrar e recolher o que estava no chão, ajudou ela a empilhar tudo de novo, mesmo que quisesse levar para ela, mas precisava pensar um pouco e ficar sozinho ajudaria.
A cabeça estava cheia de pensamentos, seja sobre Elengaria, sobre seus pais, como falaria, mas em nenhum momento pensava em Vivany.
Mas agora pensava.
Precisava pensar em como explicar a ela aquela situação, a moça parecia estar tão empolgada com o casamento, sentia uma pontada profunda como se estivesse traindo ela, mesmo que ela nem fosse noiva ainda.
Ela deveria ter expectativas, então deveria lidar com aquilo como um homem maduro que era.
Queria poder escrever ela, mas sempre que sentava para escrever algo, um pedido de desculpas que fosse, suas palavras eram dedicadas unicamente para sua amada, agora que sentia que era correspondido. Sempre que uma carta nova chegava, seu coração disparava.
As cartas dela sempre eram perfumadas com cheiro de lírio, aparentemente a flor favorita de sua amada.
“Pequeno Lírio Branco”
Gostou dessa nomenclatura, desse apelido.
Meu pequeno lírio branco.
Chamaria ela assim na próxima carta que fosse escrever a ela, será que gostaria?
Entrou em seu quarto e jogou seu corpo na cama macia e espaçosa, seu caderno de desenho pulo no processo, mas nem perto de cair no chão, era onde estava desenhando Elengaria de forma quase compulsiva.
Não queria esquecer o rosto dela, mas sentia que mais fantasiava do que realmente era o rosto dela.
Com suas pesquisas descobriu que Elengaria era uma divergente. Ou seja, alguém que tinha uma aura diferente das comuns, era uma tocada pelas fadas, pouco sabia sobre isso, na verdade muitos dos divergentes não sabiam sobre isso, especialmente os de fadas.
Fadas eram seres místicos extraplanares, ainda não sabiam como entravam com contato com elas, apenas sabiam que poucos lembram como a conheceram.
E Elengaria era uma delas.
Queria perguntar mais a ela sobre isso quando tivesse tal oportunidade.
Se perguntava o que ela estava fazendo agora, será que já tinha almoçado? Estava deitada? Ouvindo sua irmã?
Bem, Elengaria estava no jardim do pequeno palácio de sua família, tinha finalmente saído de perto de Vivany, ela precisava se preparar para a viagem que aconteceria daqui a alguns dias.
Tocava os botões de rosa com seus dedos pálidos, fazendo eles desabrocharem, não sabia o que tinha acontecido naquele dia.
Lembrava que foi um dia que sentiu-se um pouco melhor e saiu para caminhar, não sabia como, mas passou quase uma semana fora, quando voltou seus pais já estava em completo desespero, mas ela voltou.
Voltou com as flores lhe obedecendo, se curvando a sua vontade sem que ela percebesse, foi naquele único momento que viu um sentimento genuíno de sua mãe por si, correndo até ela e a abraçando, beijando seu rosto e chorando, agradecendo aos deuses por ela estar viva.
E também foi naquele momento que viu os olhos de Vivany terem um sentimento diferente, e conforme os dias passaram após aquele incidente sua irmã começou a ser diferente.
Nunca foram próximas, mas aqueles comentários passivo-agressivos começaram, sobre como ela era especial por ter magia, como mesmo assim sempre seria doente, mesmo que nunca mais tivesse tido um ataque de fraqueza, a aura realmente ajudou naquilo.
Mas logo Vivany voltou a ser a princesa da casa, enquanto ela se contentou com aulas particulares de magia, que duraram dois anos antes de pararem, pois não valia a pena.
Elengaria não era tão empenhada naquilo, ao menos isso disseram, e ela não se importou, o importante era que estava mais forte, mesmo que o sol na sua pele ainda machucasse sensível, nunca mais desmaiou.
Mas então quando chegou a idade de casar e os pretendentes começaram a chegar uma coisa estranha acabou acontecendo, todos eles mostravam uma preferência por Vivany e não eram bons o suficientes para si.
Depois de um tempo aceitou.
Nunca se casaria antes de Vivany.
E ela queria ter o príncipe herdeiro, o mesmo príncipe que agora estava apaixonado por Elengaria, e ela por ele.
Ainda pensava em como contaria a sua família. A sua irmã e sua mãe que a idolatrava.
Provavelmente seria deserdada, isso se não fossem abertamente contra aquele casamento, mas como poderia conter seu coração?
Não.
Como poderia conter o coração de Ricardo?
Talvez seja isso que realmente conquistou ela, aquela determinação que ele teve ao dizer que se ela quisesse, ele seria seu marido.
Não amante, mas marido de verdade, aquela determinação que sentia naquelas cartas, cartas que guardava agora numa caixa secreta, escondida consigo para que Vivany não visse.
Ela reclamava que não recebia cartas ou presentes de Ricardo, mas sua mão a confortava que quando fosse ao palácio iria imperial ganharia todo tipo de jóia, seria coberta de ouro, ganharia conjuntos inteiros inéditos dedicados a ela, e o mais importante, teria o príncipe só para ela.
Ela ria daquilo, as vezes dizendo que logo Elengaria saberia o que era aquilo quando pudesse se casar, mas a mais nova dava uma risada sem jeito e desconversa.
Seu pai não ficava em casa, não sabia se não ligava, não suportava ou realmente estava ocupado, e também nem sabia se importava:
— Elengaria! — Ouviu a voz da sua mãe lhe chamando.
Esqueceu que ainda era parte daquela familia, se levantou do jardim, limpando as mãos no vestido simples que sempre usava e foi até a mãe que lhe chamava na entrada do palácio.
Lady Mikaela estava sempre bem arrumada encarava a filha mais nova, sempre com aquele olhar julgador que só era direcionado a sua caçula:
— Seu vestido está sujo.
— Estava brincando com terra, do que precisa mamãe.
A lady segurou o rosto da filha, movendo de um lado pro outro, inspecionando seus traços, a pele muito alva, o corpo magro e sem curvas, o cabelo muito branco, tudo era insuficiente para a mãe. No final só soltou o rosto de sua filha:
— Você vai ao palácio com Vivany. — Disso sabia. — E arrumará um marido.
— Certo.
Não questionava isso, na verdade nem lembrava quando ela de fato questionou algo da sua mãe, ou da sua irmã:
— Agora que sua irmã vai casar com o príncipe, não precisa mais se polir para outro homem, afinal não vai conquistar nada melhor que sua irmã. — Sorriu como se fosse algo amável de falar.
Talvez fosse amável para Vivany, mas não era para Elengaria, a irmã mais nova sempre deveria viver à sombra da mais velha, nunca brilhar mais, nunca se sobressair.
Vivany era a estrela daquela família, que brilhava mais que todos acima nos céus.
Lady Mikaela fez carinho no rosto da sua filha mais jovem, como se ela fosse uma criança que tivesse acertado o que falar:
— Você foi uma boa garota, vai ser recompensada agora, eu prometo.
— Eu sei, mamãe.
Ela foi criada para ser isso, a sombra de Vivany, e agora ela não conseguiria sair mais dela, nunca mais, afinal ela seria rainha, o que brilha mais que uma rainha linda e carismática como Vivany?
Sua mãe a deixou entrar, logo atrás enquanto começava a falar como sua irmã mais velha teria tudo do bom e do melhor, e que sua família seria para sempre lembrada por todos como a poderosa família da mais bela rainha que já existiu.
Aquelas falas eram as que tiravam o peso de dentro do peito de Elengaria, não era amor, era apenas uma busca por poder desenfreada, o que ela não deveria julgar, era uma nobre, nobres buscavam por poder acima de tudo.
O casamento de seus pais foi uma aliança, o de Vivany também seria, a única coisa que mudava era que o futuro noivo era o amor da vida de Elengaria.
Como o coração é complicado não é? Com tantas pessoas, porque justamente Ricardo? Não apenas isso, porque seus sentimentos foram correspondidos? Talvez se ele não tivesse aceitado e corrido atrás dela, seus sentimentos seriam enterrados, engolidos, esquecidos.
Iria conseguir conviver com aquela dor, não precisaria ir para o castelo.
Mas quando ele retribuiu ela precisou lutar.
Mesmo que não desse certo, não poderia viver com a incerteza do “E se?” E se corresse atrás? E se tivessem tentado? Isso a mataria aos poucos, por isso tentava.
Se despediu de sua mãe, se trancando no quarto que era menor que o da irmã, porém sempre arejado e com vista para o belo jardim que construiu. Isso a deixava feliz e calma.
O corvo de Ricardo voava no céu em direção a sua janela, fazendo um sorriso animado brotar no rosto de Elengaria, era uma carta nova!
O corpo com uma fita vermelha pousou na sua janela, abaixando a cabeça para o carinho que receberia da moça, como sempre recebia, e assim ela fez, passando o dedo pela sua cabeça enquanto pegava a carta nas costas do corvo:
— Obrigada querido. — Elengaria beijou o topo da cabeça do corvo.
Se afastou para pegar uma tigela com ração para o corvo, que já estava tão acostumado com aquilo que já foi para seu local de sempre, em cima da mesa de centro de Elengaria.
A moça sentou-se entre as almofadas do chão para ler a carta, não apenas isso, mas junto com a carta tinha um pequeno pacote que Elengaria ignorou por hora:
Meu pequeno lírio branco.
Não sei se gostará do apelido, mas eu lembrei de você quando vi os que plantei.
Soube que sua viagem para cá está cada vez mais próxima, estou muito ansioso para te ver mais uma vez.
Preparei diversos passeios e presentes para que eu possa te dar, espero que goste de cada um deles.
Para começar mandei um par de brincos para você, me encheria de alegria se os usasse quando viesse para cá.
Espero que logo possa beijar seus lábios, provar o sabor de seu beijo, não consigo parar de pensar nisso, me arrependo por não ter o feito ai.
Estou ansioso p
Com amor, o seu rei.
Seu rosto estava vermelho, e foi só uma simples carta, e estava completamente sem jeito com uma menção de beijo.
Mas aí lembrou que tinha um presente! Se apressou para pegar o pacote e ver um par de brincos dourados com uma pedra avermelhada em cada, colocou a mão na boca contendo o grito de emoção.
Ele estava mesmo a amando!
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