Extras 1
Extras 2: Pedidos às Estrelas

Seraphs estava penteando os cabelos longos e brancos, enquanto ouvia a voz de Ferrer pela bola de cristal que tinha ganhado do príncipe do reino humano.
Ele tentava falar coisas mais complexas, com aquele sotaque humano forte que Seraphs achava uma graça, mas ainda se embolava, o que deixava Seraphs mais sorridente:
— Não não, é assim.
Seraphs falou com calma a palavra certa, ajudando na pronúncia, não conseguia dizer que aquilo era algum tipo de relacionamento, mas ao menos sentia aquele calor gostoso no peito enquanto falavam por aquela bola de cristal:
— Certo, o que acha?
A linda elfa se aproximou da bola de cristal, mostrando o rosto após se arrumar, ela não usava uma maquiagem forte, talvez um costume dos elfos? Mas as pálpebras e uma parte abaixo dos olhos estava cintilante, até seus lábios estavam levemente brilhantes.
Aquilo fez o rosto de Ferrer corar levemente, as vezes achava Seraphs tão linda que sua mente insistia que não era de verdade, que era um tipo de magia esquisita que ela usava para encantar todos ao seu redor:
— Linda. — Disse aquilo com o rosto avermelhado, mas sorrindo.
Não tinha como não achar ela a pessoa mais linda que já tinha conhecido, colocava Seraphs no mesmo patamar de Elengaria, não, acima.
Elengaria tinha uma beleza doce e amável, mas Seraphs? Ela parecia quase uma deusa etérea, algo que não era desse mundo, e Ferrer sequer acreditava que era ela de verdade.
A jovem princesa elfa deu uma risadinha, meio sem jeito, mas adorou aquele elogio tão sincero, sem muitas palavras, apenas um brilho no olhar e uma palavra simples.
Ela adorou:
— Vou colocar meu vestido!
— Baile? — O príncipe humano perguntou curioso.
— Não é exatamente isso, mas gostamos de nos vestir bem para soltar as lanternas. — Ela disse se afastando até indo para trás da cortina que usava para se trocar. — É uma cerimônia que fazemos todo o ano, soltamos lanternas com nossos pedidos mais sinceros para que a deusa nos atenda.
Ferrer tinha lido vagamente sobre isso, a deusa da lua era a deusa principal dos elfos lunares, aquela que escolhia os monarcas que reinariam por séculos a fim.
Mas aquela tradição era curiosa, afinal eles tinham algo minimamente parecido! Mas no caso deles eram fogos de artifício, onde diziam seus desejos para o novo ano.
Era bonito saber que ambos tinham algo parecido:
— Temos algo parecido, mas são fogos de artifícios. — Ferrer não sabia como falar aquele termo, então optou por falar em comum mesmo.
— Nossa! Eu adoraria ver isso! Já ouvi falar!
Ferrer sorriu, vendo uma oportunidade, talvez fosse mesmo um aproveitador arteiro como seus tutores diziam:
— Eu te mostro quando vier de novo.
Seraphs deixou de se mover, encarando o brilho da bola de cristal por trás das cortinas, não conseguiu deixar de sorrir daquele convite indireto:
— Sim. — Ela respondeu simples, mas o sorriso estava ali.
Ele não veria, mas estava feliz por aquilo, por alguém como ele oferecer aquilo, era quase um encontro! Um encontro de verdade. Seraphs sabia que era linda.
Tinha completa noção de sua beleza.
Mas a beleza lhe afastava das outras pessoas, não sabia explicar como, mas nenhuma pessoa realmente se aproximava dela de verdade, era sempre com um tom de adoração, colocando-a num pedestal como se ela fosse algo divino.
Seraphs não era uma deusa, era uma pessoa! Uma pessoa de verdade, que deveria ser vista como tal.
Mesmo sendo a sétima filha, ela era mais próxima do povo que seus outros irmãos, Amashis, o primeiro filho, o mais cotado para ser o monarca, não tinha a proximidade que ela tinha com os súditos.
A sétima filha, o anjo entre os doze, a mais amorosa, linda, a divina Seraphs… Queria ser normal, queria ter a felicidade que os outros irmãos tinham.
Enquanto pensava naquilo, se arrumava devagar, um belo e longo vestido de cetim azul, com uma camada de brilho por cima, parecia brilhar, seus cabelos ainda estavam soltos, não conseguia pensar em qualquer penteado para aquele visual:
— Então…
Abriu as cortinas, mostrando o vestido, conseguiu ver a boca do garoto abrir, fechar de novo, repetindo o processo algumas vezes, completamente imerso naquele momento como se não soubesse o que falar, e isso apenas fez Seraphs sorrir ainda mais com aquilo.
Aquela admiração de Ferrer era diferente da admiração que tinha normalmente, era mais palpável, mais real.
Era bom sentir aquilo:
— Acho que eu nunca vi uma pessoa tão linda quanto você. — Ele acabou soltando isso em comum.
Seraphs não entendia de fato aquilo, mas o peso daquelas palavras a fez sorrir ainda mais:
— Obrigada. — Ela respondeu naquele humano carregado de sotaque, fazendo o coração do príncipe disparar completamente. — Eu preciso ir, e acho que você também.
— O que? Ah sim. — Por um momento ele se perdeu, voltando ao elfico enferrujado que estava treinando. — Seraphs, feliz ano novo.
— Feliz ano novo, Ferrer, espero que seus desejos se realizem.
A bola de cristal se apagou, deixando novamente o quarto apenas iluminado pelas luzes roxas, mas o sorriso de Seraphs não se perdia. Não era forçado ou ensaiado, ela estava mesmo muito feliz e animada com aquilo, já sabia qual era o presente que queria.

Shelyah era quase um fantasma.
Vagava pelos corredores sem ser notado quase sempre, sua mana diminuta quase não notada, os passos leves, os movimentos silenciosos.
O fantasma dos elfos do pico da lua, como era chamado pelas costas.
O filho esquisito, a decepção, aquele que não deveria ter sido adotado, mas também era aquele que mais tinha segredos a guarda, inclusive de seus irmãos.
Era o que segurava intrigas, que era responsável por segredos continuarem segredos, por certas coisas nunca chegarem aos ouvidos dos outros.
E era isso que fazia agora.
Parado no corredor como um fantasma, um fantasma de pele pálida, olhos vazios e sem vida que espantava a todos que tentavam passar por ali:
— Está ficando descuidado, irmão. — Disse quando os passos mais pesados atrás de si foram ouvidos.
Atrás dele, Balis apareceu, acompanhado de uma mulher com a roupa levemente bagunçada, como se estivessem num momento mais intimo, mas era exatamente isso. Os cabelos curtos e loiros, normalmente sempre bem penteados agora estavam uma bagunça:
— Não pedi babá, Shelyah.
— Então pare de agir como se precisasse. — O garoto rebateu sem emoção.
Abaixou o corpo quando as mãos do irmão mais velho tentaram lhe segurar, mas o menor era mais ágil, e logo estava mais á frente do irmão, encarando como se não fosse nada mais que um pedaço de chiclete em seu sapato:
— Não se atrase, irmão mais velho. — Ele disse e assim como sempre aparecia, sumiu entre as sombras do corredor, deixando seu irmão irritado para trás.
Isso era Shelyah, um incômodo para todos, mas também um pilar importante na vida palaciana dos irmãos, um pilar que eles sequer sabiam que existia.
Todos sempre assumiam que ele era apenas um esquisito, e talvez em parte fosse sua culpa, e gostava daquilo, gostava de não ser mais do que um móvel na vida das pessoas.
Facilitava seu serviço.
Mesmo que no fundo aquilo o machucasse, afinal não era parte de fato daquela familia, ninguém nunca o veria assim:
— Shelyah?
Outra voz lhe tirou dos pensamentos, virou em direção a ela, vendo a pequena Mizandra ali com sua lanterna feita a mão, seus olhos encontrando os de seu irmão:
— Que foi?
— A varanda é para lá. — Apontou infantilmente.
Shelyah queria dizer que não iria, que não estava com vontade, mas aqueles olhos cheios de expectativa fizeram seu coração, ou seja lá o que tinha no peito, amolecer:
— Eu esqueci minha lanterna no quarto. — Tentou se desvencilhar.
— Você sequer fez ela.
Shelyah suspirou, de fato não tinha feito, sequer pensava que iria participar, mas acabou sendo capturado pela mãozinha pequenina da irmã mais nova:
— Eu divido a minha com você. — Ela sorriu puxando para o local certo.
Não queria, era um fato, mas o que poderia fazer? Ignorar uma criança pequena? Não queria isso.
Então lá estava ele, um ser que não deveria ver a luz, indo para um local onde todos o veriam, onde a luz da lua o tocaria diretamente, tocaria aquela pele imunda, exporia seus pecados, quem sabe apagaria seus erros?
Não.
Nem mesmo a luz mais pura seria capaz de tal coisa, e ele sabia disso, mas mesmo assim…
Mesmo que não fosse digno
Um sorriso brotou em seus lábios ao ver seus irmãos ali reunidos com suas lanternas nas mãos:
— Você veio! — Amashis, o mais velho, o primeiro, sorriu ao ver o irmão mais novo.
Um sorriso sem ensaios, uma surpresa que todos teriam ao ver aquele cara esquisito ali:
— Ele ‘tá sem lanterna. — Mizandra entregou.
— Não quero fazer pedidos. — Shelyah disse naquele tom sempre apático.
— Ora, não quer ao menos pedir por paz? — Amashis sorriu.
— Ou quem sabe para arrumar uma namorada. — Elesis riu.
— Ou um namorado. — Estareh riu.
Os irmãos gêmeos idênticos que sempre tinham algo bobo para falar, com seus sorrisos divertidos, seus cabelos brancos e pele azulada. Idênticos até na personalidade, como podia?
— Eles estão certos, meu filho. — A voz calma do monarca chamou atenção de todos.
Até mesmo Shelyah demonstrou aquela reação de surpresa por seu pai estar ali, todos estavam, a lua majestosa que era o pai, e suas doze estrelas que giravam ao seu redor:
— Jovens têm o que pedir.
— Mas pai…
— Escute seu velho pai. — pediu colocando uma lanterna nas suas mãos.
Olhou ao redor, vendo seus irmãos sorrindo, acendendo suas próprias lanternas, juntos, rindo.
O próprio monarca sorriu, se afastando para acender a sua própria, mais uma vez Sheyla se via sozinho no meio de sua família, como se fosse um estranho, todos tinham uma dupla, um alguém e ele…:
— Ei, Shelyah, me ajuda aqui. — A voz de Mizandra lhe chamou, com sua lanterna toda colorida.
Soltou um suspiro, como se não quisesse estar ali, mas por dentro estava muito feliz em ser escolhido por alguém, que algum dos seus irmãos.
Alguém o via, fora seu pai, claro.
Ajudou sua irmã em silêncio, acendendo as duas lanternas com cuidado, abaixo da varanda, muitos súditos já esperavam a primeira lanterna, sempre do monarca, se erguer no céu.
E assim foi feito, a lanterna pálida do rei foi a primeira a voar, se erguendo primeiro, solitária, com o desejo de seu monarca. Logo as lanternas de seus filhos acompanharam, Mizandra sussurrando seu desejo infantil de “não ficar para trás” enquanto o de Seraphs era mais pessoal.
Mais egoísta.
“Gostaria de vê-lo uma vez mais.”
O de Amashis era amplo, era cuidadoso, mas ainda sim…
“Gostaria de ser feliz.”
Eram coisas pessoais que pediam, poucos pediam pelos outros.
Logo os desejos do povo começaram a se erguer no céu.
“Gostaria de um emprego.”
“Quero que minha mãe melhore logo.”
“Que nos guarde da guerra”
Entre tantos dos mais variados que ninguém saberia exatamente o que seria, mas uma lanterna ainda não se erguia.
Shelyah não sabia o que pedir de fato, não.
Não sentia que era digno de pedir ao final de tudo…
Mordeu o lábio, abrindo os dedos e finalmente deixando sua lanterna flutuar para os céus…
— Ei irmão, o que pediu? — Seraphs foi a que perguntou, sempre sorrindo angelicalmente.
O irmão deu de ombros sem se importar:
— Algo bobo…
— Bem, mesmo assim, espero que se realize. — A sinceridade dela era tocante.
O sorriso animado de Mizandra, o olhar calmo de Amashis, as expressões animadas de seus irmãos…
Tudo aquilo mexia mais com ele do que gostaria de admitir.
E ali fez seu pedido.
Seu pedido egoísta que não merecia ser atendido.
“Que meus pecados um dia fossem perdoados…”
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