Extras 1
Extra 1: Primeira Troca

O dia todo foi uma coisa animada, fim de ano era sempre algo animado por ali, e essa era a primeira vez que o pequeno Ahrija iria passar junto com alguém de verdade, com uma grande família!
Nunca tinha visto seu mestre tão feliz, estava feliz, com um sorriso divertido e amoroso com Sallis, às vezes os pegava cantando baixinho juntos, como se estivessem juntos a anos!
Era animador ver seu mestre feliz!
O pequeno dragão andava pela vila, feliz da vida conversando com os outros, era engraçado como ele estava extremamente feliz em estar finalmente comemorando aquela data com outras pessoas.
O medalhão com os cabelos esbranquiçados de Elia ainda pendia no peito dele, mostrava com orgulho:
— O pequeno Ahrija está arrasando corações. — Cantou um pequeno homem veado enquanto o garoto falava como trocou presentes com sua melhor amiga.
— Por que?
— Ora, deixe o garotinho em paz, ele não quer dizer nada, pode seguir sua vida, querido.
Ahrija estava completamente perdido, mas aceitou apenas seguir seu caminho pelas casas, checando se todos estavam bem para o evento da noite, mas seus pensamentos sempre voltavam para um pequeno detalhe: Será que Elia estava bem? Será que ela ganharia muitos presentes?
Ele mesmo queria lhe dar um presente, mas não poderia!
Nem sabia o que daria para uma princesa como ela, o brinco de dente de dragão foi um feito e tanto, não poderia arrancar outro dente para dar a ela…
Quem sabe quanto tivesse escamas poderia dar algumas para ela quando caísse? Poderia perguntar ao seu mestre depois.
Chegou ao centro da vila, onde uma grande árvore tinha sido trazia estava enfeitada com algumas bolinhas brilhantes que pareciam refletir a luz do sol da tarde, imaginava como seria a noite quando a lua se erguesse completamente.
Ele sorria todo sonhador, passou seus primeiros anos vivendo sozinho e isolado com seu mestre, e agora teria companhia com outras pessoas!
Se perguntava como seu mestre estava feliz com aquilo, mas deveria, estava cantarolando sempre por aí, como poderia estar triste ou irritado?
Mas talvez talvez o termo certo fosse “angustiado”:
— Ele está cada vez mais parecido… Quanto tempo mais…?
— Quando ele estiver pronto, eu juro. — Quevel estava arrumando as roupas novas de seu pupilo.
O leão humanoide, Salis, suspirou, se aproximou do dracônico, abraçando o corpo de seu companheiro, respirando devagar perto dele:
— Sabe que eu estou aqui, não sabe?
— Salis, eu sei só… Estou preocupado.
— Me fala.
Quevel se deu por vencido, se afastando de Salis para se sentar na cadeira, deixando o corpo descansar:
— E se nossa paz for ameaçada?
Aquela pergunta pairou sobre os dois, Quevel com sua angústia e dúvida, e Salis com aquela compreensão cristalina que sempre tinha, no final o rosto do leão mostrou um sorriso calmo, se aproximou do parceiro, abraçando seu corpo com calma:
— A gente se protege, como sempre fizemos.
— Mas Salis…
— Quevel. — A voz do leão se tornou mais séria, encarando o dracônico. — A gente conseguiu da última vez, faremos de novo.
Ele estava com aquela seriedade calma que só ele sabia dar, era belo e inspirava uma confiança que dava vontade de Quevel conseguir ir contra o mundo.
Ele adorava aquela sensação:
— Já arrumou o presente do Ahrija?
— Claro que sim, tenho isso a umas quatro semanas. — O dracônico sorriu largamente.
E logo a criança que falavam chegou sorridente e esbaforido!
— O sol está se pondo! Vamos vamos! — Ele movia as mãos animado.
Quevel e Salis não conseguiram conter a risada, realmente pareciam uma família feliz e amorosa, era fofo ver aquilo, por que no fundo ninguém ali tinha laços de sangue. Os dois mais velhos um momento tiveram um pequeno caso no passado, mas Ahrija?
Ele não era filho biologicamente de nenhum dos dois, mas isso importava de fato?
Tratavam Ahrija como uma cria deles, Salis como um pai amoroso e gentil, que trabalhava a parte mais teórica das coisas com o pequeno e Quevel que era mais rígido, mas também, para Ahrija, era divertido pois treinava mais físico.
Encararam o pequeno dragãozinho antes de rir daquela cena, era minimamente fofo!
— Ah certo, que tal eu te levar para tomar banho? — Salis sugeriu.
— Eu sou um garoto grande! Não preciso de ajuda!
Ele dizia tudo com um sorrisão, e então saiu correndo feliz, com toda a animação que ele tinha, sempre animado:
— E sobre a princesa? — Salis perguntou.
— Ah, não contei? — Quevel se levantou alongando o corpo. — Ele deu o primeiro dente para ela, e ela cortou uma mecha de cabelo e entregou a ele.
Silêncio.
Ambos ficaram se encarando como se finalmente notassem algo:
— Se eles fossem um pouco mais velhos…
— Ela é uma princesa! — Quevel riu. — Ela vai se casar com algum nobre engomadinho.
— Os tempos mudaram… Mas espero que essa amizade deles dure um pouco mais tempo.
Era um pedido de ambos, aquela amizade era fofa, mesmo sendo apenas duas crianças em dois mundos diferentes, gostaria que durasse bem mais do que normalmente era isso que acontecia.
Amizades de infância se perdiam:
— E… Sobre a academia?
Quevel, que foi checar as roupas do seu pupilo parou no caminho, suspirando e virando para seu parceiro:
— Sabe que precisamos de uma recomendação e receber uma carta, até hoje não sabemos como isso funciona.
— Se ele for selecionado?
Quevel segurou a roupa passada do seu pupilo, era nova, bem feita, perfeita para um novo ano, não parecia que sabia responder aquela pergunta, ou quem sabe não tivesse gostado. Salis até abriu a boca para se desculpar, mas foi calado:
— Então ele será o melhor aluno, eu não treino pessoas fracas e medíocres. — Virou o rosto para seu parceiro. — Ele será incrível.
Salis sorriu aliviado, ele estava apenas refletindo:
— Eu sei que ele será, é o nosso garoto.
— Nosso? — Quevel sorriu, deixando a roupa de lado para abraçar Salis.
— E-Eu falei sem querer, ok? Ele está morando aqui há um tempo e…
— Ele é sim nosso garoto. — Quevel o calou, beijando o rosto do aure, se não fosse pela camada de pelo, estaria vermelho. — Nosso pequeno garoto… Pena que nunca será maior que eu.
Salis deu uma risada gostosa! Achando engraçado aquela constatação dele:
— Por que acha isso? Dracônicos crescem muito! Olha aí você! — Levantou as mãos para medir a altura de Quevel, que era maior que ele.
E Salis já era uma pessoa relativamente alta!
Quevel riu também, negando com a cabeça, mas soltou seu parceiro, finalmente se afastando em direção ao banheiro:
— Vamos? Quero ajudar ele a se vestir.
— Ele é um garoto grande! Ele sabe se vestir sozinho!
Mais risada dos dois adultos, precisavam se arrumar!

E ali estava Ahrija, bonitinho com suas roupas novas, uma camisa vermelha sangue, muito bonita que lembrava o olho da sua amiga, usava calças marrons, tudo novo, como se fosse uma data especial.
E era!
Pois era o primeiro romper de ano que passaria com alguém, comendo algo diferente de frutas e carne caçada, era um evento especial!
E ele estava radiante!
As pessoas passavam por ele e elogiavam o quão bonito estava, claro que estava! Seu mestre sempre escolhia bem suas roupas! Sorria orgulhoso enquanto as pessoas começavam a ficar perto de suas famílias, mas ele… Não tinha.
Até mesmo aquela loba estava junto com a vovó Margarida!
Mas ele não tinha ninguém…
O senhor Salis estava lá na frente, limpando a garganta para chamar a atenção de todos:
— Ei garoto, o que está fazendo aqui? — Quevel apareceu por trás, cutucando o garoto.
— Que?
O médico não pensou, apenas segurou o garoto pela camisa rapidamente, e quando percebeu já estava nos braços de Quevel, indo para a frente com a criança no colo.
Pareciam uma… Família.
Ahrija sequer escutava o que Salis disse, seus olhos estavam no rosto de Quevel e no de Salis, eram… Duas pessoas perto dele.
Duas pessoas importantes para ele.
Não era bem uma família feliz, mas no fundo aquilo mexia com ele.
Os olhos do pequeno dracônico se encheram d’água, e logo estava chorando silenciosamente, escondendo o rosto no ombro de Quevel, o médico não entendeu o que estava havendo com seu aprendiz.
Ele estava chorando? Por que?!
— Que comecem a troca de presentes! — Salis finalmente falou e todos comemoraram.
Quevel por outro lado se afastou do pequeno palco para falar com seu aprendiz que chorava sem fazer muito barulho, mas ainda sim chorava.
O que… O que ele tinha feito? Por que esse pirralho estava chorando?
— Ahrija? O que foi?
Colocou o menino sentado numa cadeira, se abaixando na altura dele, tentando olhar seu rosto, por que isso?
— N-Nada é que eu…
Ele nem conseguia falar, e ver Salis se aproximando fez ele só chorar mais, que raios?
Por que uma criança estava chorando desesperadamente perto dos dois? Completamente do nada!
— Eu fiz algo? — Salis estava entrando em desespero, tinha feito algo para aquela criança, tinha certeza absoluta!
Mas o que tinha feito? Repensava todos os seus passos, se tinha falado algo durante o discurso, feito algo que não se orgulhava, mas nada vinha a mente:
— Ahrija, querido… O que foi? — Salis perguntou de novo.
— Eu tenho uma família…
O garotinho choroso confessou para ambos, os dois estavam meio perdidos, até darem uma risada divertida daquilo, era disso que se tratava?
— Ora essa… Não me assuste assim! — Salis pediu com a mão no peito, rindo de nervoso também.
Achou que tinha feito algo para o garoto, mas ele só estava feliz por serem uma família, e… Aquilo secretamente aqueceu o coração de leão do aure.
Saber que ele os via como família o deixava ainda mais aliviado e bem com aquilo, como se Ahrija tivesse aceitado totalmente a nova vida, que era um medo do médico. E agora… Estavam ali, sorrindo daquela situação.
— Certo, já que somos uma família…
Quevel pegou uma pequena caixinha e entregou a Ahrija, era uma caixa de madeira simples, nada trabalhado, o garoto abriu com curiosidade, vendo ali um pedaço de ferro.
Não qualquer metal, Ahrija sentia um tipo de energia nele, uma energia que ressoava consigo:
— Isso é… — Salis começou, focado naquela cena.
— Pedra de dragão, um dos metais mais resistentes que existem, que reagem a um dragão. — Quevel sorriu. — É seu, Ahrija.
— Mestre…
Ele sequer sabia o que falar, era algo importante demais! E então se jogou nos braços do médico dracônico, apertando com força, se é que ele tinha força naqueles braços gordinhos de criança.
Mas tentou.
Com todo seu carinho e amor:
— Obrigado, mestre! É o melhor presente do mundo!
Melhor que a mecha de cabelo que ele tinha recebido da sua amiga? Quevel duvidava muito, mas ele não entendia que não era sobre o metal que o pequeno falava.
Não.
Ele tinha ganhado algo que levou pelo menos meio ano para se concretizar, e seria um presente para a vida toda. Para Ahrija, um garoto que sabia que não tinha pai ou mãe, que não tinha parentes vivos… Aquele era o melhor presente que poderia receber, que nem mesmo o dinheiro de sua amiga poderia lhe dar.
Ahrija tinha ganhado uma família.
Era estranha? Sim, não tinha laços de sangue? Claro que não! Mas ainda sim era sua pequena família, a família que recebeu e amava ela de todo coração, mesmo que sequer soubesse os sacrifícios feitos para chegar até ali inteiro, mas quem liga? Ele mesmo que não.
Só tem seis anos!
Era sua primeira troca de presentes com alguém que não era seu mestre, até mesmo de Salis ganhou uma camisa nova, estava nas nuvens!
Era o seu melhor ano, do que poderia reclamar? Ganhou uma melhor amiga, novos amigos incriveis, uma casa nova, despertou como mago! E ainda estava vendo seu mestre feliz com seu companheiro!
O que mais poderia pedir?
Mas ainda tinha uma dúvida na sua mente infantil e bobinha, uma dúvida que surgiu quando viu os pais de outros amigos e de sua melhor amiga!
— Vocês são um casal? — Perguntou assim, na lata.
Salis se engasgou com o que bebia, Quevel parou no meio da mordida, ambos estavam completamente sem jeito, não só pela pergunta, mas por que todos estavam encarando a dupla, esperando uma resposta:
— Ah pequeno nós estamos indo devagar…
— Sim. — Quevel interrompeu. — Somos um casal sim.
O rosto do leão passou por uma expressão surpresa, chocada e depois feliz da vida, se jogando nos braços do dracônico, o abraçando apertado. Ao redor os moradores da vila comemoraram animados por tal confirmação, não que muitos já não suspeitassem, mas é sempre bom ter aquela certeza.
O médico dracônico e o chefe da vila aure eram oficialmente um casal!
— Então… Vocês vão ter um filhote? — Ahrija continuou na sua curiosidade infantil.
— Vai comer, moleque. — Quevel ordenou, calando seu pupilo, ao menos por enquanto.
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