Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 5

Capítulo 247: Por Enquanto, É O Bastante

Durante o seu treino secreto na floresta, desenvolveu uma habilidade similar ao [Trocar de Lugar] de Rory.

Na verdade, podia considerar a sua até superior àquela da garotinha, pois usava objetos que lhe pertenciam para trocar a sua localização.

Planejava fazer aquele movimento desde o início do combate, por isso lançou a espada com o fragmento do Suserano da Morte junto às suas bolas de chamas negras. A lâmina fincou no chão atrás de Belphegor sem ele perceber.

Mesmo usando os insetos metálicos para enxergar, seu foco no combate era muito para prestar atenção em algo tão trivial.

E aquele algo trivial foi a chave para a vitória da outra parte.

O Duque sabia que o estrago causado por aquela arma nas mãos do garoto não era pouco. Como um covarde, só podia aceitar a sua derrota.

Sem hesitar, Kurone moveu o pé e deu uma rasteira em Belphegor, levando-o ao chão em uma velocidade que seus olhos não acompanhavam. O inimigo saiu do alcance do cano da arma, mas não havia problemas.

O menino loiro foi ao chão, acompanhando o corpo do demônio e, após uma montada, disparou socos sem parar na direção do rosto daquele ser miserável.

No instante em que a mão do garoto chegou a centímetros do rosto do Duque do Inferno, uma Máscara Infernal foi materializada, protegendo a cabeça frágil dele.

Mas aquilo não assustou Kurone. Os braços moveram-se em uma velocidade inacreditável, como se fossem movidos a pistões.

Um som de algo quebrando ecoou pelo ar. Podia ver, por trás da Máscara em pedaços, a surpresa de Belphegor, ele não esperava que um único golpe do menino fosse suficiente para quebrar o objeto demoníaco.

Impiedosamente, Kurone continuou os ataques, cada soco era carregado de fúria, a dor do impacto impossibilitava a movimentação do demônio.

Cada golpe poderoso era dedicado a uma das vítimas daquele ser.

O supervisor do Instituto de Eragon. Flugel. A garotinha sequestrada. Os soldados de Andeavor. Os moradores de Eragon. As Amazonas Aladas.

Se pudesse, eliminaria aquela ameaça ali mesmo, mas tentou controlar-se, não podia causar danos ao futuro. No momento, aquela surra era suficiente até chegar o momento de destruí-lo de vez.

As lágrimas escorrendo no rosto do demônio foram sobrepostas pelo sangue das feridas causadas pelos socos vorazes do garoto.

— N-não… Pare… pare…! — implorou o demônio, estendendo as mãos, demonstrando que não usaria os insetos metálicos para atacar.

Era uma cena lastimável, alguém covarde daquela maneira só merecia a morte, mas sabia o que devia fazer. 

Após um último soco que foco no nariz do demônio, Kurone afastou-se um pouco. Suas roupas, punhos e rosto encharcaram de sangue. 

“É suficiente por enquanto…”

Assim que respirou fundo, puxou o Duque pelo colarinho e encarou fundo nos olhos dele, podia ver claramente o medo cravado no rosto de Belphegor.

— Nunca mais ouse aparecer em Andeavor ou em qualquer outro lugar que eu tiver, entendeu?

Kurone soltou o demônio com um empurrão, sentiu algo ruim aproximando-se. Embora não tivesse com a guarda baixa, sabia que ele não tentaria mais reagir, pois Sylford e Loright estavam ao redor, com as lâminas voltadas na direção dele.

Repentinamente, uma rajada de ar feroz soprou naquele lugar, obrigando os jovens a cravarem os pés no chão com força e usarem as espadas como apoio, caso contrário seriam arremessados para longe.

Um outro ser surgiu. Era da espécie Anjo, seu corpo musculoso estava coberto por feridas e as asas o seguravam no ar de maneira instável.

Contudo, o foco daquele ser era o demônio no chão. O Anjo planou o mais rápido que podia e segurou o corpo de Belphegor, subindo em seguida.

Havia como impedi-los de fugir de várias maneiras, mas Kurone fez um sinal com a mão para que ninguém reagisse. Por algum motivo, Sylford o obedeceu de novo e apenas embainhou a sua lâmina.

— Apenas dessa vez vou ser benevolente e realizar o seu desejo, mas a única razão disso é por Belphegor dé Halls não simbolizar um perigo muito grande. 

Aquela luta ensinou a Sylford que não poderia vacilar mesmo em frente ao mais fraco dos inimigos. O único motivo do Duque encurralá-lo foi o seu descuido.

Por isso Kurone não subestimava mais os seus inimigos.

Após o desaparecimentos das duas figuras no ar, a névoa causada pelos insetos metálicos desvaneceu aos poucos. Em cinco minutos, puderam avistar os soldados de Andeavor — tanto os vivos quantos os mortos.

Os mais fortes sobreviveram por pouco, havia feridas graves na maioria e as suas espadas foram destruídas pelos impactos contra os animais de metal.

No fim, a presença deles ali foi inútil, ninguém além daquele trio conseguiu ultrapassar a névoa e chegar até Belphegor. Mesmo alguém conseguisse, morreria facilmente se não tivesse, no mínimo, o nível de Loright.

Sylford sustentou o jovem de cabelos negros e o levou na direção da entrada de Sophiette. Kurone, no entanto, ignorou as suas feridas e correu para as carruagens.

Deixou Cynthia lá, esperando pelo seu retorno.

Sentia-se nervoso, afinal, aquela garotinha loiro reencarnaria como Flugel no futuro. Desde que aquele evento começou, teve medo da cena de Eragon se repetir ali, no entanto, embora não fosse dos mais fortes, estava melhor que naquela época.

Conseguiu derrotar aquele Duque do Inferno, embora não tivesse matado, era suficiente. Se treinasse mais, não teria qualquer problema no futuro.

Ao alcançar as carruagens, deparou-se com a figura da menina preocupada. Ela abriu um longo sorriso no rosto ao ver que o seu primeiro amor estava seguro.

Kurone quase derreteu com aquele sorriso inocente. Sim, aquele era o resultado dos seus esforços. Se fosse forte o suficiente, poderia ter matado Azazel van Elsie e recebido um sorriso como aquele, de Rory e Frederika, em Eragon.

Mas não era hora de se lamentar, a vez de Elsie logo chegaria também.

“Parando pra pensar, Belphegor mencionou alguma coisa sobre uma mulher que revelou nossa localização, será que aquela desgraçada tem alguma coisa a ver com isso?”, ponderou enquanto caminhava, devagar, no rumo das carruagens.

“Mas não tem o que fazer, a partir de agora, preciso ser mais cuidadoso… porra, falei igual ao Belphegor dessa vez.”

Teve trabalho em enfrentar o mais fraco dos Conselheiros do Inferno, o que faria se fosse alguém mais poderoso? Precisou contar com Cecily no orfanato e ali ainda foi ajudado por Sylford e Loright, não podia depender do poder alheio para sempre.

Satiel foi obrigado a aterrissar em uma cidade de Sphynx, no norte, após horas de viagem.

Em seu ápice, ele podia voar por todo o Continente Ocidental sem problemas, mas estava muito fraco naquele momento, sobreviveu apenas pela misericórdia daquele garoto de cabelos loiros.

— Mestre Belphegor, está muito ferido.

— Não se preocupe, Satiel, eu fui muito descuidado, mas me lembrei de usar Magias Passivas. Nós vamos tentar de novo, só precisamos de mais um tempo, vamos esperar o menino sair de Sophiette.

Satiel não disse mais nada.

Desde que Azazel van Elsie disse que um daqueles dois jovens com a aura semelhante conhecia a localização do Cálice da Ressurreição, seu mestre esteve agindo de maneira estranha.

A ideia de ressuscitar sua mulher e sua filha mexeu com ele, fazendo-o ignorar um dos pilares do seu princípio: a cautela. Contudo, aquela batalha pareceu ter trazido o seu mestre de volta ao normal.

Em outras circunstâncias, teriam eliminado primeiro Sylford Sophiette em uma armadilha, depois esperado um momento oportuno, quando os dois jovens estivessem distantes.

A falta de cautela e a ansiedade de Belphegor dé Halls foram sua ruína.

— Não podemos voltar para o Continente Demoníaco. Por enquanto, vamos apenas nos esconder aqui, em Sphynx, e esperar a poeira baixar. Precisamos ser cautelosos com Azazel van Elsie — disse o Duque.

De fato, houve um preço por aquela informação da Presidenta do Inferno: ela queria os dois jovens vivos após Belphegor obter a informação. Desapontar aquela criatura perversa era algo terrível.

Satiel encarou o cenário alaranjado à frente. Era nostálgico, foi no deserto de Sphynx que ele conheceu o seu mestre, retornar para aquele lugar após tanto tempo lhe dava uma sensação estranha.

— Não se preocupe, mestre Belphegor, com certeza conseguiremos a localização do Cálice. Eu prometo que irei ficar mais forte até o nosso próximo encontro com aquele menino.

Jamais imaginou que uma criança pudesse ser tão forte, começava a desconfiar do motivo dele ser alvejado pela Presidenta do Inferno. Sabia que alguém como ele não ficaria parado, por isso, Satiel também precisava se esforçar para o bem do seu mestre.

 — Sim, eu também vou dar o meu melhor e ser mais cauteloso, mas por enquanto, por que não vamos comer na capital? — sugeriu Belphegor com o seu sorriso gentil. Era um sorriso que apenas o seu servo Anjo havia visto.

Sabia que ele estava forçando aquele sorriso, mas, com certeza, um dia o veria com um verdadeiro, quando conseguisse trazer a sua família de volta à vida.

Com um suspiro, ambos começaram a andar pelas areias de Old Desert, seguindo na direção da capital de Sphynx. Sentia-se impotente por não conseguir voar até o local, andar por aquelas areias novamente podia trazer memórias ruins para o seu mestre. 

Ah, cuidado com as armadilhas na areia, Satiel, não queremos afundar areia abaixo… — comentou o mestre, com uma expressão amarga no rosto.



Comentários