Volume 5
Capítulo 246: Um Descuido De Sylford
Nunca explorou o Tipo Elemental Escuridão antes, utilizava-o apenas para gerar as chamas negras.
Mas, enquanto treinava sozinho na floresta de Sophiette, percebeu algo: precisava melhorar todas as habilidades em seu poder. Não tinha um mestre auxiliando, por isso foi obrigado a pensar em muita coisa sozinho.
Kurone não era um Gênio de verdade, muito menos alguém com talento natural como os membros do clã Sophiette, porém ainda possuía a experiência ao seu lado.
Um ano em Niflheim, sempre em apuros e correndo risco de vida, deixou-o à frente de muitos guerreiros.
Esforçando-se sozinho, desenvolveu novos feitiços do Tipo Elemental Fogo e Sombra, além de melhorar os que já tinha.
A Ocultação de Presença foi uma das suas últimas criações, a essência por trás daquele truque era simples: usava as sombras para sobrepôr a sua aura.
Porém, havia um problema ali.
Aquela habilidade seria útil apenas se o ambiente fosse escuro ou se estivesse se aproximando do inimigo sem ele perceber. Em teoria, era algo inútil apagar a aura no meio do combate quando já sabiam sua localização.
Por isso, usou um segundo truque.
Uma névoa similar àquela de Belphegor espalhou-se do corpo de Kurone. Eram trevas densas que formaram uma cortina de fumaça para o garoto.
O Duque do Inferno praguejou diversas vezes.
Naquele momento, ele não era o único a ter a vantagem naquele território, sua névoa e a do garoto de cabelos loiros eram semelhantes e lutavam por espaço ali.
— Que foi, por que não vem atrás de mim? — vociferou o menino. Após a voz desaparecer, bolas de chamas negras foram arremessadas das trevas, visando a cabeça do demônio.
Belphegor foi obrigado a realizar um movimento brusco: levantou a mão o mais rápido que conseguia e criou uma espécie de barreira com os insetos metálicos à sua frente.
Em resposta aos projéteis flamejantes, enviou mais animais de metal, embora fossem suficientes para repelir os ataques, não conseguiam penetrar a névoa de trevas, eram logo incinerados por uma barreira de chamas negras ali atrás.
Kurone possuía a vantagem, com a sua presença oculta, Belphegor não conseguia lançar ataques precisos, ele poderia estar em qualquer lugar atrás daquela cortina de fumaça, mas, em contrapartida, o Olho Sagrado revelava a localização do Duque em meio à névoa branca.
O demônio possuía Loright como seu refém, mas, desde que não pudesse matá-lo, não havia maiores problemas.
Só precisava vencer.
A força do seu inimigo baseava-se completamente nos insetos metálicos, seria muito fácil vencê-lo em um combate corpo-a-corpo, mas era difícil se aproximar daquela maneira.
Não poderia entrar no território inimigo, precisaria trazê-lo para o interior da névoa negra.
— Haha, é claro… — murmurou Belphegor — todos se baseiam no conceito de que eu controlo os insetos… no entanto, saiba que isso é uma fachada, você foi presunçoso e ignorou a cautela.
As mãos do demônio foram erguidas de repente, o movimento foi seguido de um grito furioso. Com ódio nos olhos, o Duque baixou as mãos bruscamente, agarrando o chão repleto de gramíneas com força.
A terra tremeu.
Uma fissura foi gerada ao redor de toda a extensão das trevas de Kurone. O chão rachou-se e aquela parte dentro da área da fissura foi elevada.
[Magia de Levitação], o garoto logo entendeu o que acontecia ali. Belphegor estava levitando o pedaço de terra que pisava.
Não cogitou aquela ideia de que ele poderia ser um usuário da rara [Magia de Levitação], pois, devido às suas ações, todos imaginavam que ele possuía controle sobre os seus insetos, não que apenas os fazia flutuar de um lado para o outro.
O pedaço de terra com Kurone começou a elevar-se, em uma velocidade que só aumentava cada vez mais, eliminando a possibilidade do menino saltar dali.
Mesmo com as habilidades de aprimoramento físico, ainda seria arriscado.
Loright tentou libertar-se, mas os insetos que lhe prendiam aumentaram a força da pegada. Ele estava fraco demais para relutar.
— Ele não vai morrer com essa queda… só não vai ficar no melhor estado — comentou o demônio. Após levar o pedaço de terra para o alto, começou a comprimi-lo com uma magia de vento.
Choveu poeira. Quando todo aquele pedaço do chão fosse comprimido, não haveria mais superfície para manter o garoto no ar. Ele simplesmente despencaria.
Havia algumas maneiras de Kurone sobreviver, no entanto, ainda se machucaria muito. “Mas machucado é melhor que morto”, pensou ao perder a sensação do chão nos seus pés.
Assim que o último pedaço de terra tornou-se poeira, ele caiu. Sentiu o seu corpo ser empurrado por uma força invisível — provavelmente, Belphegor estaca acelerando a sua descida para evitar imprevistos.
O controle do demônio sobre a gravidade era impressionante e sua cautela, admirável.
Mas nem todo o seu cuidado pôde impedir o surgimento de um clarão repentino. O garoto despencando sentiu algo segurando o seu corpo e levando-o ao campo de batalha em segurança.
Era Sylford, mais brilhante que o normal.
O jovem Sophiette trajava uma armadura dourada reluzente, isso, mesclado aos seus fios amarelados e a aura de mesma cor, dava-o um aspecto quase divino.
Era Tipo Elemental Luz. Os insetos tentavam desesperadamente saírem da área da aura de Sylford, contudo, como eram controlados pela magia de Belphegor, não conseguiam se mover por conta.
O líder do clã chegou ali facilmente, destruindo os insetos bloqueando o seu caminho, essa era a diferença do poder do talento natural para o daqueles que precisavam se esforçar.
Vendo a figura daquele jovem aparecer, Belphegor guinchou como um animal assustado.
— Maldito, imaginei que poderia te matar na missão de excursão da Guarda Real, mas você não apareceu lá. Pensei que estivesse longe, mas não acredito que chegou aqui tão rápido.
Conhecendo o talento extraordinário dos jovens da casa Sophiette, não seria estranho se Sylford dissesse que estava no Continente Oriental e teria voltado, correndo, ao escutar sobre a situação das suas terras.
Belphegor passou a olhar para os lados, apreensivo.
Alguém que se preocupava tanto com a segurança não travaria uma batalha contra um oponente tão formidável como aquele. Assim como sempre fazia, ele devia estar buscando uma brecha ou uma situação oportuna para agir ou fugir.
— Só vou te pedir uma coisa, — começou Kurone, recuperando o fôlego — não mata ele.
Sylford olhou confuso.
Tendo treinado junto ao garoto por um tempo, conhecia um pouco mais sobre ele, por isso estranhou o pedido. Kurone podia ser tudo, menos piedoso, havia um motivo por trás daquele pedido.
E, milagrosamente, Sylford concordou com aquilo sem protestos. Claro, vivo não era sinônimo de bem, bastava deixá-lo de uma maneira que ainda pudesse sobreviver após a surra.
— Escute, jovem Sophiette, acho que podemos negociar — começou o demônio. — Um desses dois tem algo muito importante para mim, talvez possamos discutir um preço.
Era patético, como alguém com o título de Duque do Inferno conseguia ser tão covarde? Custava acreditar que aquele demônio fazia parte de um grupo tão terrível quanto o Conselho do Inferno.
Vendo que Sylford apenas ignorava as suas palavras e continuava a avançar, Belphegor calou-se e levantou a sua mão direita.
Não importava o quão covarde fosse, ele estava obstinado a levar os dois garotos.
O jovem Sophiette apenas sacou a sua espada perante aquela ação.
Hordas e mais hordas começaram a seguir na direção dele, mas a lâmina era suficiente para abrir os insetos ao meio. Estava claro que aquela não era uma arma comum.
Belphegor afobou-se. Suas mãos balançaram rapidamente, cada movimento era uma ordem para que as hordas de insetos atacassem.
Suor pingou do rosto do demônio.
Não importava quantos insetos fossem para cima, Sylford cortava todos com destreza, fazendo movimentos precisos e econômicos. Havia movimentos do estilo Sophiette ali.
A afobação do demônio aumentou a um ponto que ele usou tudo ao seu redor, lançou pedaços do chão, pedras, troncos e o que mais houvesse ali.
Contudo, a lâmina e a esquiva do seu oponente eram perfeitas.
Kurone precisou esconder-se na cratera ao lado, não queria ser alvo daqueles destroços — aquele era o local que tivera um pedaço de terra arrancado antes.
Embora não fosse atingido, Sylford não conseguia avançar, o demônio estava ocupando-o propositalmente, buscando uma situação perfeita para fugir.
Foi então que a expressão naquele rosto suado mudou.
Com um movimento da mão esquerda, o Duque lançou algo em uma velocidade insana na direção do jovem Sophiette, algo que aquele jovem não podia apenas cortar ou desviar.
Era Loright, que, até aquele momento, esteve preso pelos insetos metálicos.
O líder do clã usou sua magia do Tipo Elemental Vento para reduzir a velocidade do jovem voando em seu sentido e amorteceu a queda dele com uma barreira de luz, contudo, aquela brecha foi suficiente para uma investida da outra parte.
Belphegor lançou insetos e mais insetos, seguidos por grandes pedras, na direção do seu oponente. Era uma investida fácil de esquivar, se Sylford não tivesse se preocupado com o companheiro na hora que o demônio usou.
A lâmina cortou diversos animais metálicos enquanto o jovem Sophiette se movimentava para evitar os pedregulhos, mas, com a vantagem recebida, o Duque conseguiu transformar as grandes pedras em mísseis teleguiados.
Ficou difícil para o jovem loiro recuperar o controle da situação, antes evitava cada ataque e não dava tempo para os projéteis se amontoarem, mas, naquele momento, a vantagem era claramente do demônio.
— Aprenda algo, jovem Sophiette, até mesmo o mais fraco pode dar trabalho se você for muito descuidado…
Mas a fala de Belphegor foi interrompida quando ele sentiu algo gelado tocando as costas do seu pescoço. Com cuidado, ele olhou de canto para aquela direção. — Co-como?!
— Acho que, dessa vez, você que foi descuidado — disse Kurone, segurando a Boito .20 de canos serrados na altura do pescoço do inimigo. — Um movimento brusco e tua cabeça vira camisa de saudade.