Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 5

Capítulo 245: No Âmago Da Névoa

O que viu ao abrir os olhos foi um teto de madeira.

Sua cabeça balançava de um lado para o outro, deixando-o um pouco atordoado. Conhecia aquele movimento, estava em uma carruagem.

Virou o rosto e viu a figura de Cynthia. A menina de longos cabelos dourados tinha uma tala de madeira na perna ferida na luta contra o Anjo.

— A Salas…

— Ela está bem — a garota respondeu ao entender o que ele queria dizer. — Colocaram ela na carruagem da frente e fizeram um desvio para Vim, para cuidar dela lá.

Vim era uma cidade próxima de Sophiette, como não sabiam a situação das terras de Karllos, seria perigoso levar alguém ferido para lá.

— Querido, obrigado…

— Obrigado pelo quê? — Kurone forçou a seu corpo a levantar e, naquele momento, percebeu que tinha diversas ataduras espalhadas pelo seu corpo, não percebeu que havia se machucado tanto no combate.

— Você nem sabia o motivo pelo qual minha irmã estava se reprimindo, mas mesmo assim honrou ela usando o estilo Sophiette para derrotar aquela coisa.

Um sorriso surgiu em seu rosto, afinal, pela primeira vez, Cynthia dirigiu-se a Salas como “minha irmã”. Aquela era a mesma sensação de quando Rory deixou de chamá-lo de “idiota”.

A menina de olhos azuis cintilantes não entendeu o motivo da alegria do seu amado, mas continuou:

— Nossa mãe era apaixonada pelo estilo Sophiette, usar ele daquela maneira, para provar que a sutileza pode vencer a força bruta, foi uma questão de honra.

Embora conhecesse a moça há pouco tempo, tinha certeza que a batalha não teria aquele mesmo fim se Salas usasse toda a sua força. 

No fim das contas, um Sophiette sempre possuía o talento natural ao seu lado, algo que fazia alguém fraco como Kurone lembrar-se que sempre haveria alguém mais forte que ele, não importando o quanto de esforço ele fizesse em seus treinos.

— Reportando a situação! — gritou o homem no assento de cocheiro, chamando a atenção dos dois meninos no interior do veículo. — Estamos chegando em Sophiettte, no entanto, há uma névoa densa ao redor da mansão, os cavalos estão assustados!

Belphegor.

Kurone conhecia bem aquela névoa, e o ser responsável por colocá-la ali. 

— Ei, você vai mesmo nesse estado? — Cynthia questionou ao ver o menino levantando-se, sua intenção de lutar era visível a todos ali. 

— Sim, o Loright pode tá com problemas agora…

— O meu irmão já deve estar lá, mas algo me diz que tem algo a mais nessa névoa que interessa você.

A menina de cabelos dourados não protestou dessa vez, ela entendeu, desde que deixaram Fallen, que o seu companheiro tinha assuntos a resolver com o demônio causador de toda aquela confusão.

— Fica aqui, é mais seguro, e você tá com a perna machucada, não vai ajudar muito no combate.

Sabia como era sentir-se impotente diante de uma situação como aquela, por isso tentou confortar a menina. Não gostou dela a princípio, mas ao ver como Cynthia era forte à sua própria maneira, passou a respeitá-la — ela só precisava melhorar a personalidade, assim como os irmãos.

Antes de deixar a carruagem, recebeu um abraço caloroso da menina em um “boa sorte” do homem no banco de condutor.

Muitos soldados ficaram para trás, a fim de cuidarem da segurança da Sophiette mais nova.

Kurone seguia um pouco distante dos outros homens, todos caminhavam pela grama com cuidado, mal conseguiam enxergar um palmo à sua frente após adentrarem a névoa circundando a mansão.

Adentrando o âmago do nevoeiro, tiveram outra preocupação: os insetos metálicos. Além de soltarem aquela fumaça que densificava a névoa, aquelas coisas semelhantes a gafanhotos portavam ferrões dolorosos.

Matá-los era uma tarefa quase impossível, devido à sua carapaça de metal. A única opção que tinham era encontrar o seu mestre, o Duque do Inferno.

Contudo, pessoas comuns não conseguiam sentir a presença de ninguém ali.

Pessoas comuns não conseguiam. Embora não fosse realmente um Gênio, Kurone não era tão baixo a ponto de ser alguém ordinário.

Fez a mana percorrer o seu rosto e sentiu aquela ardência familiar mais uma vez. Era o Olho Sagrado, o poder que sempre lhe ajudou em situações como aquelas.

Para melhorar o alcance da sua habilidade, rasgou um pedaço da sua manga e usou como tapa-olho no lado direito do rosto. 

Naquele momento, tudo em seu campo de visão era o cenário amarelado, o Olho não mostrava a névoa, apenas pontinhos que simbolizavam os pequenos insetos de metal e a aura das pessoas naquela área.

“Te encontrei.”

Conhecia bem o fluxo de mana daquele demônio. 

Desde que ele matou Flugel, o supervisor e uma garotinha em Eragon, cuidou de nunca esquecer aquela assinatura, estava sempre alerta, apenas esperando o momento de ter a sua vingança.

Agradeceu por Cynthia estar ferida, não queria que ela chegasse ali com a sua teimosia e a cena nas fazendas de Eragon se repetisse, seria algo problemático até mesmo para o futuro.

“Preciso me acalmar.”

Embora o seu lado delinquente berrava para avançar como um louco e retalhar o corpo do Duque até que não restasse nada, o racional, o lado despertado por Annie, lembrava-o de que as suas ações imprudentes causariam problemas para todos.

Imbuiu mana nas pernas para aumentar a velocidade e limpou o cenário com os tiros da sua Franchi Spas-12 — os insetos metálicos não morriam, mas o impacto do chumbo mesclado à mana e o metal era suficiente para afastá-los.

Em instantes, chegou na local que emitia a presença familiar de Belphegor, na verdade, havia duas presenças ali, sendo o outro a do seu aliado. 

— É inacreditável, a aura de vocês é quase idêntica… — comentou o Duque, já esperando a chegada daquela garoto. Ficou claro que o demônio usava os insetos como seus olhos. — Se você está aqui, significa que Satiel está morto…

— O grandão? Eu não sou um monstro como você, eu só ensinei uma lição pra ele. 

Na verdade, teria matado aquele Anjo que o Duque chamou de “Satiel” se não houvesse impactos no futuro, mas não podia. Sem aquele grandalhão, Edward Soul Za não seria salvo em Eragon, e isso mudaria drasticamente toda a história.

Kurone franziu o cenho ao ver o estado de Loright. O jovem estava em seu limite, havia muitas feridas em seu corpo, ele lutava para não desabar de vez.

Mas, na verdade, aquilo era um feito surpreendente. 

Aquele jovem não era mais forte que um soldado comum da Guarda Real e, mesmo assim, conseguiu sobreviver até aquele momento, embora não tivesse dado qualquer ataque no inimigo. 

— Iolite…

— Eu tô ligado, esse cara é bem forte, mas pode deixar que eu vou acabar com ele.

O jovem de cabelos negros ajoelhou-se, usando a espada em mãos como um suporte, ele reconhecia a sua fraqueza, ainda não estava pronto, mas todo aquele tempo que passaram juntos fez ele ter muita confiança naquele garoto loiro.

— Não está sendo cauteloso, garoto — Belphegor enunciou. — Acha que conseguiu chegar aqui por seu esforço? Fui eu quem abri caminho, por que acha que os soldados estão morrendo antes de caminharem um terço do que você caminhou?

Já estava pronto para algo como aquilo, afinal estranhou toda aquela facilidade. “Isso só foi melhor pra mim, que não precisei passar na marra.”

— É corajoso… — o demônio comentou vendo que o garoto à sua frente deu alguns passos. — Mas eu já falei para o outro ali, isso pode acabar rapidamente se vocês se renderem.

— Eu não sei qual é o interesse você tem na gente, mas eu não tô nem aí também, eu só quero chutar essa tua bunda hoje.

Mentiu um pouco, não fazia muito sentido o Duque do Inferno está buscando exatamente ele e Loright, mas faria perguntas depois daquilo acabar.

— Repetirei também o que disse antes, não pense que é uma vantagem eu não poder matar vocês, isso só vai causar ainda mais sofrimento — assim dizendo, Belphegor levantou as mãos, lançando uma horda de insetos na direção do garoto.

Claro, com o auxílio do Olho Sagrado, conseguia ver o fluxo de mana de cada um dos animais metálicos, porém o verdadeiro problema era esquivar, eles eram mais rápido do que imaginou.

Por sorte, treinou muito o estilo Sophiette, os movimentos delicados ajudavam muito na esquiva, e encontrou uma vantagem naquele corpo se comparasse com o do futuro: o tamanho. Era mais rápido desviar com uma musculatura menor.

— Loright, você precisa usar o combate corpo-a-corpo!!!

— Não se intrometa na luta dos outros, devia priorizar mais a sua segurança.

Com um movimento da outra mão, Belphegor lançou outra horda para cima de Loright, obrigando o jovem a usar toda extensão da sua espada para defender-se. Apesar reduzir os danos, ainda foi arremessado e rolou pela grama.

— Segurem ele aí.

Diversos dos insetos juntaram-se, formando um tipo de corrente, e seguraram o corpo de Loright no ar, aprisionando-o. Ele estava fraco, seria mais difícil escapar daquilo.

Aproveitando-se daquele pequeno momento de distração, Kurone arriscou mais uma técnica que treinou em segredo: Ocultação de Presença. 

— Tipo Elemental Sombra, que garoto desonesto — resmungou Belphegor, visivelmente nervoso por conta da mudança da situação, provavelmente ninguém o avisou que o seu alvo dominava o elemento Sombra.  

{A Celestial acha que o seu inimigo está com medo. Patético.}



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