Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 5

Capítulo 244: Anjo Demoníaco

Mesmo Salas esquivando de grande parte dos golpes rápidos do Anjo, era nítida a diferença de força entre eles, sem falar que a moça não usou magia desde o início do combate.

O rosto dela estava encharcado de suor, e os nós dos dedos possuíam feridas devido ao número de golpes mortais desferidos.

Ela chegava aos seu limite, porém se esforçava para continuar sua sequência de ataques rápidos. Os chutes altos iam na direção da cabeça do inimigo, enquanto os socos mais baixos buscavam abrir um buraco no abdômen.

— Idiota… — murmurou Cynthia.

— Ei, a Salas tá se esforçando ali, não é legal chamar ela de “idiota”.

— Não é “legal”? Ela está naquela situação porque quer, afinal ela pode usar magia e outros estilos… mas ela quer te mostrar a força do estilo Sophiette.

Kurone arregalou os olhos, jamais se passou por sua cabeça aquela possibilidade. Por que a jovem faria aquilo? Ela não percebia que aquela era uma batalha de vida ou morte?

— Salas! Para de ficar se reprimindo e luta com toda a sua força, ou você vai morrer!! — bravejou o garoto, mas foi ignorado, a Sophiette continuava a usar apenas aquele estilo de arte marcial contra o Anjo.

“Ei, agora que tô reparando, eu já vi esse cara antes.”

{A Celestial viu este sujeito em suas memórias, é o Anjo que ajudou Edward Soul Za em Eragon, provavelmente se trata de um subordinado de Belphegor Halls.}

“Agora eu lembrei.”

Foi quando Edward, no corpo de criança, roubou o Orbe Amarelo, ele estaria morto se não fosse resgatado por aquele Anjo. 

A atenção do garoto retornou à batalha quando ele escutou o som de algo quebrando, por sorte, foi apenas uma pedra que explodiu com um chute violento de Salas. 

Os destroços da pedra voaram pelo ar, e a jovem aproveitou deles para criar uma nuvem de poeira, cegando temporariamente o seu inimigo. Aquela brecha foi suficiente para permiti-la bombardear o abdômen definido do Anjo com socos explosivos.

Aqueles ataques eram poderosos, qualquer um podia perceber, talvez tão poderosos a ponto de destruírem muros bem reforçados, mas o grandalhão que recebeu todo aquele impacto apenas cuspiu um bolo de sangue, antes de afastar-se.

Ele não parecia muito ferido, apenas surpreso por ser atingido daquela maneira por uma garota de aparência tão frágil.

— E eu só estou começando! — bravejou a moça, avançando os olhos carregados de fúria. Ela começava a atacar com uma besta, obrigando o oponente a esquivar dos seus socos, contudo ele cometeu um erro ao levantar o braço quando se abaixou, pois Salas aproveitou a chance para segurar o seu membro. 

Era aquele golpe semelhante ao ippon-seoi-nage do judô, um arremesso violento no chão repleto de gramíneas. A jovem montou no corpo volumoso do Anjo, desferindo socos ininterruptos no rosto dele.

Por reflexo, o inimigo levou a mão ao rosto, para defender-se, mas não havia brecha para fugir daquela montada apenas com força física, por isso provocou uma explosão de ar ao seu redor, lançando Salas em direção a uma árvore.

Kurone cerrou os dentes ao escutar o barulho violento da cabeça dela batendo contra a madeira. A jovem Sophiette simplesmente apagou com aquele choque brutal, sangue podia ser visto naquele tronco que ela ficou recostada. 

O Anjo levantou-se, não sofreu muito dano, como esperado, mas sua fúria era nítida, aquela adversária era uma afronta à sua honra.

— Ei, idiota, por que não enfrenta alguém do seu tamanho?! — Cynthia gritou, atirando pedrinhas na cabeça do grandalhão, porém ele respondeu com uma lâmina de ar rápida na direção da garota.

O menino ao lado estava pronto para saltar para salvá-la, esqueceu-se de que Cynthia era uma Sophiette, mesmo tão nova, seus reflexos eram de primeira, ela esquivou do ataque em uma velocidade impressionante, mas seus movimentos estavam limitados devido à dor no joelho de quando saltou da carruagem.

Vendo que a irmã mais nova era inútil em combate, o Anjo continuou a caminhar na direção da mais velha, claramente com a intenção de finalizá-la.

— Acho que é a minha vez. — Kurone suspirou, também acertando a nuca do grandalhão com uma pequena pedra. Para a surpresa de todos, ele montou a mesma base de Salas no início da luta. — Eu não sei o motivo, mas parece que te derrotar com esse estilo é muito importante pra ela, então eu vou fazer, mas no estilo Nakano.

Cynthia olhou um pouco confusa. Não era para menos, o “estilo Nakano” era algo da autoria daquele menino, uma mistura do estilo Sophiette com as suas armas de fogo.

A princípio, o Anjo não levou aquilo a sério, mas mudou de expressão ao ver a intenção de luta do garoto. Ele lançou diversas lâminas de vento e uma onda de ar veloz, todas na direção dos braços e pernas de Kurone, ele claramente não tinha a intenção de matá-lo.

Logicamente, aquilo não era nada para a velocidade do garoto, ele esquivou dos ataques sem problemas, conseguindo chegar o mais perto possível do inimigo. Foi recebido com um soco rápido daquela mão grossa.

O oponente usou muita força no golpe, sabendo que poderia ser pego por aquele golpe de arremessar se fosse mais devagar, mas arrependeu-se de fazer aquilo ao sentir uma ardência estranha.

Kurone não teve medo e deu um soco também, sendo empurrado para trás quando os dois membros encontraram-se, mas foi pior para o grande inimigo. A pele do anjo foi cortada pela faca militar que o garoto convocou no meio da trajetória.

Sem perder tempo, saltou pelo ar, dando um chute giratório do estilo Sophiette, mas o chute era apenas um meio de ganhar mais tempo no ar, seu objetivo foi lançar minas terrestres lá de cima e explodi-las com tiros dos seus revólveres.

Desceu da fumaça com um foguete e aproveitou o impulso do toque no chão para avançar no anjo, materializando mais uma vez a faca de combate militar.

A base usada era a da arte marcial dos Sophiette, mas ao invés de socos, desferia facadas rápidas, mudando a lâmina de uma mão para a outra, seguindo o princípio do estilo daquele clã: atingir sempre os pontos vitais.

O Anjo estava confuso, não sabia o que esperar o seu oponente, o estilo dele era imprevisível e não sabia como lidar com aquela armas desconhecidas usadas por ele.

Ahhhhhhhhhh!

Em um acesso de fúria, o grandalhão investiu sem se importar com a defesa, dando socos explosivos em sequência que, com a ajuda da sua magia de vento, tornaram-se ainda mais rápidos e mortais, ele planejava reduzir o corpo de Kurone a simples pedaços de carne com aquela velocidade.

De longe, qualquer um diria que era algo semelhante aos socos insanos do Jotaro.

Porém, não era difícil desviar daquilo quando se tinha uma habilidade de clarevidência. Mesmo sem a sua deusa ao seu lado, o garoto ainda possuía a sua habilidade de prever os movimentos adversários: o Olho Sagrado.

Sentiu aquela ardência familiar ao ativar sua habilidade. Em instantes, o seu campo de visão tornou-se completamente amarelado, mas como vantagem, podia ver os movimentos do inimigo mais lentos.

Os ataques frenéticas e as esquivas tornaram-se invisíveis aos olhos mais destreinados, eles estavam dando tudo de si naqueles movimentos.

Podia ver como o Anjo se esforçava para aumentar ainda mais a força e a velocidade dos ataques, seus músculos aumentaram de tamanho, deixando-o ainda maior, e encheram-se de veias. A ira daquele ser era quase palpável, como alguém de aparência angelical podia tornar-se tão demoníaco?

Para conseguir distância, pisou no chão com força e ergueu uma barreira de fogo média, o que afastou aquele Anjo descontrolado, ele sentiu que aquelas não eram chamas comuns.

— Caraca… você ficou grandão, hein? — brincou, quase sem conseguir respirar direito, toda aquela esquiva levou seu corpo não tão treinado ao limite. — Agora vou te mostrar a sequência de golpes que eu aprendi com o Sylford, só que adaptada.

Em sua mão, foi materializada a arma de fogo mais pesada do seu arsenal: a Franchi Spas-12. Naquele corpo, a escopeta tinha quase o seu tamanho, o que tornava o manuseio difícil, por isso treinou muito com ela em suas sessões secretas.

O Anjo nem deu atenção, estava irritado, seu rosto estava completamente vermelho, com diversas veias à mostra, e o seu corpo não parava de aumentar com o crescimento dos músculos.

Sem mais paciência, o grandalhão avançou, aumentando sua velocidade com a magia de ar. Kurone precisou defender o ataque insano daquela mão enorme com o corpo da escopeta, o que o fez escorregar pela grama como se tivesse um patins nos pés.

Pow! Pow! Pow!

Disparou sem misericórdia, mas o seu oponente colocou o braço na frente, seus músculos estavam tão rígidos que impediram ele de sentir qualquer dor do chumbo rasgando a pele.

E a troca de socos e tiros continuaram, Kurone estava claramente mais cansado, manter o Olho Sagrado por muito tempo era o que mais consumia a sua energia, sem falar na quantidade de mana que transformava em munição para a tirar, e havia também as esquivas e bloqueios rápidos que precisava fazer.

Por outro lado, o Anjo só parecia ficar cada vez maior, ele não se incomodava com os disparos perfurando seus membros, só focava em dar golpes cada vez mais fortes.

Uma vez que aceitasse, seria o fim de Kurone, aqueles braços enormes estourariam a sua cabeça sem misericórdia, por isso se esforçava ao máximo para esquivar.

Enfim, ele parou, chutando o chão com força para tomar distância. Dessa vez, não precisou se preocupar em ser seguido pelo grandalhão.

— Você é só um grandalhão com cérebro de músculos mesmo — ele disse, quase sem conseguir respirar ou ficar de pé, foi obrigado a usar a escopeta como uma muleta improvisada. — Eu te disse que eu ia usar uma técnica do estilo Sophiette adaptada.

O menino apontou para o braço do inimigo.

— O Sylford ensinou essa técnica recentemente, ela foca em usar golpes rápidos para romper os ligamentos, mas como tu tava forte pra caralho, eu precisei usar os tiros da espingarda ao invés dos golpes de mão.

O Anjo ajoelhou-se, espalhando o sangue feito pelos tiros nas pernas pela grama. Ele cometeu um erro grave ao pensar que não precisaria se defender dos disparos por ter um corpo musculoso.

Aquela batalha poderia ter outros desdobramentos, mas Kurone tinha em mente que não poderia matar aquele ser, afinal isso poderia modificar o futuro. 

Levaria tempo para os ligamentos do Anjo se recuperarem, tempo suficiente para eles saírem dali e partirem em direção às terras de Sophiette. 

— Porra, acho que a Cynthia vai ter que carregar a gente até lá… — o menino fez sua última piada antes de cair, sem mais forças para se manter acordado. 

Aquele corpo não estava acostumado a gastar tanta energia.

— Cynthia… não mata… o… grandão… enquanto eu tiver… capotado…

Ele apagou.



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