Volume 5
Capítulo 241: Belphegor Foi Avistado
Inesperadamente, aqueles de joelhos eram Salas e Kurone, de frente para a menina limpando as suas roupas caras repletas de poeira.
“Ainda bem que o dano da explosão foi menor do que eu imaginei…”
A cabeça da moça ao seu lado estava baixa, ela não tinha forças para encarar a irmã. Desejava falar algo para romper o silêncio inquietante, mas não encontrava as palavras certas.
— Eu sabia que vocês estavam aprontando algo, — Cynthia olhou com raiva para aqueles que, de joelhos, estavam quase do seu tamanho — não acredito que estava me traindo com essa pessoa.
— Ei, não confunda as coisas, eu e a Salas não temos esse tipo de relacionamento. Ajuda aí, Salas…
Mas a jovem não levantava a cabeça, ela estava completamente derrotada.
— Ei, idiota, não precisa ficar assim. — A irmã mais nova suspirou e encostou na parede, em uma pose arrogante. — Não pense que eu te perdoei, mas eu escutei a conversa de vocês na carruagem… eu não vou contar nada para o meu querido, pelo menos por enquanto.
Ela acalmou-se naturalmente. Kurone sentiu-se aliviado.
Não deixou de reparar no quão forte fisicamente Cynthia era, apesar de não absorver a explosão completa de uma mina terrestre, ela não parecia ter se machucado, até seu vestido tinha apenas poucos rasgos.
— Mas estou realmente decepcionada com você, Iolite.
— Ei, eu disse que ia passar a noite com você depois do treino… não, pera aí, isso pegou mal, mas você entendeu o que eu quis dizer!
— Você é um tarado, mas o que esperar de um simplório?
“Que menininha da língua afiada.”
Apenas colocou a mão em seu cabelo e levantou com um suspiro.
— Bem, a gente já tá aqui mesmo, por que não vamos passear pela cidade?
Sua frase chamou a atenção das duas garotas. “Puts, tá parecendo até que fiz uma proposta indecente. Quero dizer, sair com duas garotas não é algo tão descarado…”
{A Celestial gostaria de dizer que isso é mentira, e que você está claramente excitado com essa ideia.}
“Para de ficar lendo meus pensamentos secretos!”
— Não tem o que fazer mesmo… — Cynthia avançou em um dos braços do garoto, agarrando-se nele. — Apenas por hoje eu vou dividir sua companhia com essa pessoa.
Mesmo ainda um pouco cabisbaixa, Salas conseguiu forças para se levantar e, em um ato de atrevimento, segurou o outro braço de Kurone. “Só elas tendo uns atributos a mais no busto pra esse momento ficar ainda melhor…”
Era o único defeito da família Sophiette, as mulheres não tinham seios grandes. Cynthia ainda cresceria, mas sua versão mais velha, Salas, demonstrava que não ganharia mais que alguns centímetros de peito.
Sophia devia ser uma exceção à regra, apesar de não ser algo extraordinário como os de Linda, possuía dois melões médios.
O trio atraía os olhares curiosos dos moradores e visitantes de Fallen, os homens claramente invejavam aquele menino, enquanto as mulheres cochichavam críticas.
Logicamente, era difícil para Salas lidar com tudo aquilo, mas sempre que o seu corpo tremia, ela agarrava ainda mais força a mão do garoto ao seu lado.
Cynthia andava naturalmente, apesar de estar irritada por conta da sujeira no cabelo e os buracos no vestido.
Naquele momento, já tinham passado por mais de cinco barracas.
As primeiras renderam um pouco de conflito, pois Salas e Cynthia não chegavam a um consenso de qual fruta comprar, mas, após um tempo, finalmente esqueceram um pouco aquela rivalidade e até conversaram como se fossem boas amigas.
“A Salas falou que elas se davam bem antes, então acho que o cérebro delas esquece da briga e inicia diálogos como antes. Tô meio curioso de saber o que aconteceu pra elas brigarem, mas vou deixar pra perguntar em um momento mais oportuno.”
— Eu quero ver algumas roupas! — falou Cynthia.
— De novo? Você já comprou um vestido novo com aquele senhor… — retrucou Salas.
Kurone só pôde sorrir, elas realmente pareciam apenas duas irmãs que se davam bem, aquele tipo de rivalidade era algo que apenas irmãos que se amavam tinham, sabia disso, pois Rin e Eriko normalmente agiam daquela maneira.
— Do que você está rindo?
— Ah, nada, não, senhorita Cynthia, só pensei em uma coisa engraçada, mas você não ia entender.
E aquele clima só foi tranquilizando-se com o passar do tempo. Cynthia e Salas interagiam mais a cada barraca nova visitada, a moça com fobia social nem percebeu o aumento no número de pessoas ao seu redor, ela estava realmente se divertindo.
— Achei que você não conseguisse mais lidar com as pessoas… mas parece que você já tá bem melhor, hein? Está até usando esse vestido.
Salas não deu uma resposta à irmã e apenas continuou andando, com um sorriso ainda estampado no rosto.
— Tem muitas coisas que eu quero fazer, agora que estou perdendo o meu medo de interagir com os outros. Ainda não é o momento, mas quando eu estiver pronta, quero me desculpar com você apropriadamente…
— Hmmm… eu vou pensar se vou aceitar as suas desculpas.
“Esse papo só tá me deixando ainda mais curioso.”
— Espero que vocês consigam se reconciliar… Ei, aqueles não são soldados de Andeavor? — Kurone apontou para um grupo ali perto, quase todos os homens repousavam com as costas na parede. — Parece que tão voltando de uma batalha.
— Meu irmão falou que alguns soldados de Andeavor estavam em uma missão, mas não imaginei que fosse algo tão perigoso assim, devia ser apenas exploração — explicou Cynthia.
— Pelos deuses, o que será deixou eles daquela maneira…? — Salas comentou, indo em direção aos homens.
Ela sempre hesitou em aproximar-se dos outros, mas ver aqueles homens machucados despertou o lado protetor da moça. Sem dúvidas, os jovens da casa Sophiette eram boas pessoas.
— Com licença… po-podem nos dizer o que aconteceu com vocês? — Salas perguntou, quase prendendo a respiração, ela esqueceu-se de como era tenso interagir com outras pessoas, mas ainda assim forçou-se a terminar aquela pergunta.
— Porra, não tá vendo, mocinha? A gente levou uma surra! O rei disse que era pra ser só a porra de uma missão de exploração, mas tinha a desgraça de um demônio lá!
— Quem dera fosse só um demônio qualquer… — interrompeu um soldado mais velho, passando ataduras no que restou da sua mão esquerda. — Era um daqueles membros do Conselho do Inferno, Belphegor dé Halls, o que anda com o enxame de pragas de metal.
Aquele nome era um gatilho.
Odiava todos os demônios pertencentes ao Conselho, todos mereciam morrer da pior maneira possível, mas nutria um ódio sem igual contra três deles em especial: Azazel van Elsie, Mamon von Faucher e, claro, Belphegor dé Halls, aquele que tirou a vida de Flugel e do Supervisor.
— Ei, pirralho, você tá legal?
— Onde o Belphegor tava? — Kurone perguntou em um tom sombrio, sua aura hostil deixou o clima mais pesado. — Onde?
— Bem, nós encontramos ele nas masmorras de uma vila perto da capital, mas só escapamos com vida porque ele tava só de passagem, se entendi bem, ele tá procurando por algo, e essa coisa pode tá lá nas terras de Sophiette.
Quem fez uma expressão séria dessa vez foram as duas irmãs ao lado do menino.
— Mas isso não é algo que crianças como vocês devem se preocupar, vão pra casa, nós já mandamos um mensageiro avisar ao rei, e as terras de Sophiette têm Sylford.
— Se aquele mimado tivesse ido com a gente, o demônio não ia tá mais respirando a essa altura, — o soldado mais velho interrompeu novamente — mas aquele moleque só faz o que quer.
O trio não prestou mais atenção nos soldados que começaram a murmurar sobre o líder do clã Sophiette, cada um deles possuía uma preocupação diferente na cabeça.
— Precisamos voltar agora para a mansão, se o demônio chegar lá, vai matar muitos inocentes — alertou Salas, aquele sorriso em seu rosto antes desapareceu, dando lugar a uma expressão de preocupação.
Kurone não tinha palavras para confortar a jovem, afinal apenas a figura de Belphegor aparecia em sua mente. Não o via como um Conselheiro do Inferno, ele era o “demônio que matou Flugel”, apenas o sentimento de vingança vinha à sua mente.
[Gostaria de lembrar-te, meu querido Vassalo, que…]
“Cala a porra da boca, ninguém tá te perguntando nada.”
[Que resposta fria, tente controlar teus impulsos, pois se fizer…]
“Se você não ficar quieto, vou bater na minha cabeça até eu conseguir te tirar dai.”
[Creio que é melhor pronunciar-me mais tarde, tu estás alterado agora.]
Sabia exatamente o que Azrael queria dizer, matar Belphegor traria sérios problemas no futuro, e pensava como se realmente pudesse vencer aquele demônio com a sua força atual.
Mas não precisava matá-lo naquele momento, deixá-lo à beira da morte seria suficiente, se fizesse um ataque surpresa e conseguisse pegá-lo, teria muito vantagem.
“Eu vou matar ele no futuro, mas, por enquanto, vou fazer ele ter só um gostinho do que eu aprendi desde o nosso último encontro, mesmo que esse corpo seja um pouco mais fraco.”
E com aquele pensamento, conduziu a carruagem em direção às terras de Sophiette o mais rápido que podia.