Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 5

Capítulo 236: Ensine-me A Respeitar Os Mais Velhos

Hm? Posso ajudar você, moleque? 

Foram pegos no pulo do gato.

Subestimou a capacidade de percepção de um soldado de Andeavor. A força daquele homem também era incomum, pois Kurone percebeu na hora a impossibilidade de desvencilhar-se daquela mão segurando a sua.

Ergueu o rosto, a mente a todo vapor, tentando formular uma desculpa para evitar a prisão. Por sorte, estava na frente, eles não notaram Loright esgueirando-se pelos arbustos.

— Que criança tola, pensou mesmo que ia conseguir roubar a arma do vice-capitão? Eu fico até ofendido com um ato desses, e logo depois de termos ajudado esses sem-teto — comentou um segundo soldado, tocando no ombro daquele que dizia ser o vice-capitão.

— Devíamos dar uma surra nesse moleque pra ele aprender a não tentar roubar quem o ajuda — falou o vice-capitão com uma risada sádica. — O que acha, menino? Suas palavras não me parecem convincentes.

Ah! Iolite! Então é aqui que você estava, não saia correndo por aí assim!

Arregalou os olhos. A velocidade de Loright era impressionante, há poucos instantes ele estava posicionado nos arbustos ali atrás, mas conseguiu dar a volta na grande mansão e chegar fingindo não saber o que se passava.

Sem perder tempo, aquele jovem avançou e segurou o braço de Kurone, contudo, ambos foram parados pelas lâminas dos soldados logo à frente.

Ei… vocês acham mesmo que somos tão idiotas assim? — resmungou o vice-capitão, aproximando a sua arma do pescoço de Loright. — Eu notei sua presença ali atrás, mas devo parabenizar sua velocidade e seu atrevimento.

Cerrou os dentes, forçando a mente a trabalhar com mais agilidade, a intromissão do seu alter-ego, o jovem de cabelos negros, só tornou a situação mais complicada. 

Os soldados estavam duplamente ofendidos.

“E esses filhos da mãe já buscam um motivo pra abusar da autoridade, porra!”

— Acho que poderíamos cortar o mindinho de cada um… — sugeriu o subordinado ao lado do vice-capitão — ou melhor, fazer um cortar o mindinho do outro!

Engoliu em seco. Não podia demonstrar ser fraco naquele momento, pois aquele tipo de gente alimentava-se do medo. Odiava com todas as suas forças autoridades como guardas, soldados e policiais que usavam do seu poder para assediar os mais fracos.

— Por que não fazemos uma aposta? — Kurone falou, pondo o seu dedo na lâmina à frente.

— Que moleque abusado, não é mesmo? — disse o vice-capitão. — Mas vamos ver o que você vai sugerir, se for um jogo infantil entediante, vou cortar dois dos seus dedos.

— Um duelo — Kurone enunciou com um sorriso presunçoso. — Se vencermos, ficamos com suas armas, mas se vocês vencerem, podem nos dar a ordem que quiserem.

Escutou Loright engolindo em seco, contudo não era hora para aquele tipo de coisa. A expressão dos homens revelava que a sugestão foi agradável aos seus ouvidos.

— E quais seriam as regras, menino? — indagou o vice-capitão.

— Perde quem desistir ou for apagado primeiro. Simples, até um idiota como você consegue entender, não é mesmo?

— I-Iolite, não provoque eles assim!! — murmurou o jovem de cabelos negros ao seu lado.

Mas um Nakano nunca deixaria de ser imprudente. A adrenalina começava, lentamente, a tomar conta do seu corpo. 

Loright não tinha prática com espada, mas, em contrapartida, Kurone ganhou experiência lutando com a tantou, a pequena espada de Lou Xhien Li, por tanto tempo. Não havia segredo em usar uma lâmina maior, fosse ocidental ou oriental.

— Eu vou lutar contra esse cara do seu lado, até porque seria uma humilhação derrotar o vice-capitão.

Os homens franziram o cenho com a afronta.           

O vice-capitão era alguém experiente, percebeu isso apenas ao ver que ele conseguia notar a presença de maneira tão precisa, sem falar que o seu cargo não era apenas de enfeite, sabia que, pelo menos no futuro conhecido, Andeavor levava o treinamento dos seus soldados a sério.

Seu oponente possuía o físico notável de um guerreiro que treinava há pelo menos cinco anos, sua habilidade com a espada provavelmente estava acima da média, mas, se comparado com o seu superior, seria mais fácil derrotá-lo.

Um não conhecia o estilo do outro, o que era tanto vantagem quanto desvantagem. Aquele era o momento perfeito para testar o seu Olho Sagrado e seus limites.

— Vice-capitão, dá uma das nossas melhores espadas para o moleque, não quero ele reclamando que perdeu tão rápido porque demos uma arma ruim.

— Não precisa, eu já tenho a minha espada. 

Era aquela lâmina com um fragmento de Azrael. Ela parecia ser apenas uma arma comum se tirasse o poder de estabelecer uma conexão com o Suserano da Morte.

— Eu vou raspar esse teu sorriso arrogante da tua cara com a minha espada, pirralho.

“Pfff!”

O local escolhido para o duelo foi uma parte qualquer da entrada da mansão, o chão repleto de grama. A “arena” era delimitada por estacas, eles notariam aquela fronteira facilmente pela presença dos espectadores.

Alguns soldados, órfãos, empregados da mansão, irmãs do orfanato e Cynthia, que foi ali apenas para chamar Kurone para o banho, assistiam à luta.

Os oponentes estavam posicionados nas extremidades da “arena”, tendo os ouvidos perturbados pelos seus companheiros que agiam como treinadores conversando com o boxeador antes do início do primeiro round.

— Tem certeza que você não quer que eu lute, Iolite?

— Sossega aí, Loright, eu quero ver como eu vou me sair em uma luta real. E, se eu não puder derrotar esse cara, não vou chegar nem aos pés da Azazel van Elsie.

Após sussurros, sussurros e um “tome cuidado, querido” de Cynthia Sophiette, o duelo começou. Era nítido no semblante do soldado que ele ainda não estava levando aquilo a sério, na verdade, a maioria dos espectadores via aquilo como uma piada, afinal era um soldado da guarda de Andeavor contra um órfão qualquer.

— Grant Atrex — começou o homem, erguendo a sua espada. — Sou Grant Atrex, lembre-se desse nome, menino, o nome do homem que vai te ensinar o que acontece quando não se respeita os mais velhos, e não vou te dar apenas palmadas.

Suas falas depreciadoras tiraram risadas da plateia, algo que só provou que aquela batalha era uma piada.

Kurone suspirou, focando naquele homem com uma posição tão relaxada. Havia a possibilidade de atacar pelos dois lados, só precisava ser rápido o suficiente para mover-se antes que o olho dele conseguisse acompanhá-lo.

{A Ellohim pensa o mesmo. Imbuir mana nos pés e avançar pelas extremidades é a melhor estratégia.}

“Tô ligado.”

Porém, Kurone esqueceu de um detalhe que só notaria no futuro. 

No seu antigo corpo, precisava da ajuda de Annie para transportar a mana do seu interior para o exterior de maneira eficiente, havia o trabalho da comunicação da alma com a carne, mas aquele seu novo corpo era diferente.

Aquele era um corpo formado apenas por mana, espírito e carne estavam misturados, segundo as palavras de Hyze, logo o transporte da energia vital era muito mais rápido.

— Grant! — gritou o vice-capitão, alguém que conseguia notar o menor dos detalhes.

Em instantes, aqueles risos tornaram-se sons de assombro e horror. Ninguém viu o momento que Kurone movimentou-se, afinal a atenção de todos estava dispersa, até mesmo do seu oponente, provavelmente ele esperava uma aproximação lenta.

Foi apenas um golpe limpo, a investida rápida da lâmina cortou a orelha esquerda do soldado. Os olhos dos espectadores acompanhavam aquele pedaço de carne com gotículas vermelhas voando pela “arena” até tocar a grama.

Instintivamente, Grant Atrex levou a mão ao local atingido. Foi algo tão rápido que ele só podia sentir uma leve ardência por conta da adrenalina. 

A espada do soldado foi ao chão quando ele ficou de joelhos para buscar a sua orelha decepada. Quando encontrou o que buscava, olhou para o alto, com a mão ensaguentada segurando o lado da cabeça, surpreso ao notar uma sombra: a sombra de Kurone Nakano.

— Ei, não me diga que você vai desistir só por causa disso? Achei que os soldados da Guarda Real fossem mais durões — provocou Kurone, pisando sem piedade na orelha que jazia no chão.

O homem até tentou levar sua mão até os pés do garoto, mas logo recuou, ao sentir uma ardência nos dedos. Fumaça e o fedor de grama verde e carne humana pairaram pelo ar. 

“Pelo menos ainda consigo usar o Tipo Elemental Fogo.”

— Ei, você desiste? Acho que ainda dá tempo de salvar a sua orelha, ela só deve tá um pouco mal-passada. — O menino olhou com desprezo para aquele homem na altura das suas pernas, com lágrimas nos olhos.

Apesar de tudo, o soldado decidiu manter o seu orgulho e, agarrando o punho da espada com ódio, projetou um semicírculo no ar, algo que poderia ter cortado o joelho do seu oponente, se ele não tivesse desviado.

Graint Atrex planejava fazer Kurone recuar e deixar a sua orelha ali, caso errasse, mas nada saiu como o planejado, pois o garoto movimentou-se arrastando a orelha pela grama como se fosse um skate — alguns pedaços carbonizados do membro ficaram para trás.

— Ei, por quanto tempo você vai continuar aí no chão? Se não quer desistir, então a gente vai até o fim! — o menino rugiu a última parte liberando sua presença hostil. — Vamos lá, venha me ensinar como é que se respeita os mais velhos.



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