Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 5

Capítulo 237: Gênio Da Geração

Annie jamais aprovaria isso, e Kurone não faria algo desse nível na frente de uma garota tão pura. Mas a sua deusa não estava ali. Não tinha motivos para se segurar nesse duelo.

Com a mão ensanguentada ainda na altura da cabeça, Graint Atrex levantou-se, um pouco trêmulo, e apertou o punho da sua arma.

— Eu não vou deixar isso barato, pirralho desgraçado.

O tom não foi ameaçador o suficiente para amedrontar aquele garoto, pois ele continuou em sua postura presunçosa, olhando com desdém para o oponente. 

“Merda, eu tô sendo filho da puta demais… mas essa sensação tá muito boa.”

Tentava não ser dominado pela insanidade ou pela arrogância, assim como fora no passado, mas tornava-se difícil sem aquela deusa que sempre estava ao seu lado.

Aproveitando-se daquela brecha do menino, Graint investiu com tudo o que tinha, um golpe veloz mirando no antebraço. 

— Tô fora, já senti a dor de perder o braço uma vez, não quero isso nunca mais — Kurone respondeu, defendendo-se com a sua lâmina. 

“Tenha olhos nas costas!”, foi um dos ensinamentos de Lao Shi. Mesmo “viajando”, ainda conseguiu perceber a movimentação no ambiente, algo inferior à capacidade de percepção do Olho Sagrado, mas útil em uma luta como aquela.

Graint tropeçou ao sentir o impacto da lâmina do seu oponente. Àquela altura, ninguém nem ficava mais surpreso com a força incomum de alguém tão novo.

— Acho que a espada tá sendo muito apelona — Kurone murmurou, fincando a sua arma no chão. — A partir de agora, eu só vou usar artes marciais.

Sem dúvidas, aquilo ferveu o sangue de Graint. Lentamente, ele deixava de lado a sua racionalidade para abraçar o ódio, exatamente o que o garoto queria. Não existia nada pior que ser abandonado pela razão no campo de batalha, Kurone conhecia bem isso.

 A base montada pelo menino surpreendeu alguns dos presentes, acostumados a ver os membros do clã Sophiette usando-a. 

Esse corpo ainda não possuía muita flexibilidade ou força, contudo era suficiente para vencer o duelo, só precisava aplicar toda a teoria e experiência obtidas desde que chegou àquele mundo.

Em uma passada rápida, Graint tentou diminuir a distância para tentar cortar a região do ombro do seu oponente, seria fácil esquivar, entretanto, Kurone pensou em algo melhor.

Seguindo o movimento do braço do inimigo, ele entrou em uma forma conhecida do estilo Sophiette, uma pose estática com os braços abertos, algo tão inesperado que foi capaz de parar o ataque de Graint segurando o seu antebraço.

Conforme o kata, girou o braço do oponente, movimentando o seu, desarmando e levando-o ao chão com um movimento semelhante ao ippon-seoi-nage, o arremesso tradicional do judô.

Sangue saltou da boca de Graint quando suas costas tocaram o chão com brutalidade. O movimento foi rápido, Kurone precisou treiná-lo inúmeras vezes com Lou Xhien Li para alcançar aquele nível de perfeição. 

Teria sido mais eficiente se estivesse com o seu corpo original.

— Acho que isso já é suficiente — falou o vice-capitão, com um olhar de desdém direcionado ao seu subordinado. — Isso é realmente algo vergonhoso, mas é esperado do dono daquela presença esmagadora que sentimos há um tempo.

Kurone cerrou os olhos para o homem. 

Quando expandiu a sua aura, na expectativa de chamar a atenção da Besta Negra, não levou em conta as consequências. Claro que pessoas habilidosas como Cecily, Azazel van Elsie e o vice-capitão notariam a sua presença.

Mas, diferente do que esperava, a atitude desse homem mudou. 

— Me desculpe por fazermos você passar por isso, garoto. Sinceramente, você é um prodígio e te fizemos passar por uma situação como essa. — Deixando toda a marra que possuía antes, o vice-capitão fez uma reverência. Sou Paltraint Atrex, irmão mais velho desse idiota.

O mais novo ainda agonizava no chão, com sangue caindo do lado da cabeça, mas Paltraint ignorou isso e focou apenas no menino à sua frente.

Um olhar hostil ainda era direcionado àquele homem, Kurone odiava pessoas falsas como ele, e, para acentuar o seu ódio, ele era uma autoridade que gostava de abusar do seu poder. Mas iria tentar se controlar.

— O rei de Andeavor vem investindo muito na busca de prodígios, ou “Gênios da Geração”, como ele chama. Garotos talentosos como você, menino. 

“Claro, é a mesma coisa de criar um animal, ele tá alimentando pra depois aproveitar no futuro.”

Era o mesmo com os Sophiette. O rei dava suporte e tratamento especial aos membros dessa família, isso porque eles seriam úteis em disputa de poder militar ou politico. 

Ainda naquela época, notou que as terras de Sophiette ainda não eram tão grandes como no futuro, o governante ainda bajularia muito os membros desse clã, dando terras e recursos, nos próximos anos, até a geração de Sophia.

— Andevoar possui universidades dedicadas para Gênios, apesar de ter mais filhos de nobres que prodígios, é um lugar perfeito para você desenvolver suas habilidades… — continuou Paltraint. — Assim que voltar para a capital, eu vou notificar o rei sobre você e pedir o seu exame para ser admitido na universidade…

“É só uma cópia daquelas universidades de Nova Canaan, mas isso tá caminhando por um caminho bem favorável pra mim.”

— Isso parece interessante, mas… — Kurone olhou para Loright, entre os espectadores — eu quero ficar por aqui enquanto você vai pra capital, e quero recursos para treinar nesse tempo.

O vice-capitão acenou com a cabeça, concordando com aquilo mais fácil que Kurone esperava, porém, o motivo daquilo logo foi explicado com a chegada do líder do clã dos Sophiette.

— Devo dizer, o senhor é ardiloso como uma cobra, vice-capitão Paltraint Atreix. Esse menino parece ter um futuro brilhante, o rei lhe dará muitos royalties pela descoberta. 

Sylford não estava ali no momento do duelo, mas apenas analisando a cena, ele podia notar que Kurone não era um garoto qualquer.  O menino sentiu um arrepio na espinha ao notar aquele olhar estranho do jovem nobre.

— Eu terei muito prazer em treinar esse pobre garoto enquanto o senhor estiver na capital, vice-capitão.

Era quase inacreditável aquela mudança na atitude de todos aqueles nobres desgraçados apenas pela demonstração do valor comercial do garoto. Se tivesse perdido o duelo, estaria sendo pisado naquele momento, assim como o seu oponente agonizando era ignorado como se fosse um animal qualquer.

— Bem, sendo assim, senhor Sophiette, eu irei me preparar para partir o mais breve possível, o rei certamente ficará muito contente com a notícia de uma criança tão talentosa em nosso reino. 

— Certamente será um rival à altura dos prodígios de Canaan.

Como aquela conversa ignorou a presença de Kurone, o menino afastou-se devagar e foi na direção de Loright, quem ainda possuía um olhar de assombro no rosto.

Certamente ele não esperava que um duelo entre um adulto e uma criança fosse se escalar para aquilo, mas, em seus olhos cansados, havia também admiração.

— Você é incrível, Iolite. — falou o jovem, pegando na mão do seu companheiro. — Eu não conseguiria ser tão frio. — Ele olhou para o guarda no chão, em cima de uma poça de sangue.

— Acho que não vão deixar ele morrer… e pelo menos assim esse idiota aprende uma lição.

Loright concordou movendo a cabeça.

— Mas já que você vai para a capital, como vai ficar a Luminus? É bem provável que as coisas mudem quando você for, o Sophiette não vai ter interesse de treinar apenas eu…

— Vamos deixar pra pensar nisso quando a hora chegar, Loright. Por enquanto, a gente aproveita ao máximo o treinamento para ficarmos mais fortes. Aquele desgraçado pode ser daquele jeito, mas ele é o líder do clã Sophiette, um dos guerreiros mais fortes do mundo.

Sophia não possuía o dom da mana e mesmo assim havia poucas pessoas que conseguiam lutar de igual para igual contra ela, com a vantagem da magia, Sylford seria algo próximo de um “guerreiro perfeito”.

— Bem, então acho que…

— Loright, venha aqui! Você prometeu que não se arranjaria problemas e aprontou algo assim, envolvendo o Iolite em uma situação tão perigosa — quem falou em um tom repreensivo foi a irmã Rose, fazendo o jovem de cabelos negros suar frio.

Ele buscou ajuda em Kurone, mas o garoto apenas virou o rosto para o outro lado, sem interesse em se envolver com aquela sacerdotisa irritada.

Um sorriso formou-se em seu rosto quando a irmã levou Loright puxando pela orelha enquanto o repreendia. Aquela garota lhe lembrava um pouco a Annie, gentil, mas séria quando se tratava de repreender-lhe por um erro cometido.

Quando pensou em descansar, Kurone sentiu uma mão tocar o seu ombro. 

— Querido, espero que não tenha se esquecido do seu banho.

Ao virar a cabeça, viu a figura de Cynthia, com uma expressão de quem não aceitava um “daqui a pouco eu vou” como resposta.

“Acho que ser oprimido por garotas assim é a sina de Kurone Nakano mesmo…”



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