Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 5

Capítulo 234: Reencontro Eletrizante

A irmã Daisy foi a intermediadora.

Como esperado de alguém com o histórico de confrontar nobres e pessoas influentes para alcançar os seus objetivos, a mulher religiosa dominou aquele diálogo com o jovem nobre da casa Sophiette.

Kurone descobriu, escutando sorrateiramente a conversa de duas sacerdotisas, o nome daquele nobre. Sylford Sophiette, o líder do clã estampado em seu sobrenome.

Só suspeitou da sua descendência por conta do brasão cravado em sua carruagem, pois a aparência do chefe do clã não denunciaria isso. Aquele jovem parecia uma garota metida em um uniforme de batalha masculino.

Os cabelos loiros presos em um rabo de cavalo, os cílios longos e as curvas em sua cintura confundiriam qualquer um, mas a sua postura era notável, diferente daquela de Amélia, que entregava o seu gênero.

Sophia possuía cabelos rosas, responsável por provocar repulsa naqueles que odiavam o clã dos Sophys. Lou Xhien Li, também portadora do sangue Sophiette, também possuía um cabelo rosado.

E o próprio Karllos Sophiette, o fundador do clã, tinha aquela tonalidade incomum em seus fios — claro, isso se aquela memória mostrada por Azrael fosse confiável. Ver alguém com aquele tom amarelado enfeitando a cabeça era novo para o garoto.

— A irmã Daisy disse que pediram para que fôssemos para as carruagens, eles vão nos levar para as terras de Sophiette, no ocidente. 

Foi Loright quem falou aquilo, o aviso era para todos ali perto, mas seus olhos permaneciam fixos no garoto que supostamente chama-se Iolite. Aqueles olhos diziam “vamos nos esforçar lá, Iolite!”. 

Kurone mais do que ninguém sabia, as terras nobres de Karllos eram o local perfeito para ficar mais forte. Alimentação, armas e instrutores. Se aquele jovem Sophiette fosse alguém amigável, conseguiriam os melhores recursos para um treinamento decente.

“Se bem que eu fiquei forte treinando igual condenado com o Lao Shi, o filho da mãe nem me dava comida direito.”

“Agora que paro pra pensar, o que será que o Lao Shi tá aprontando a essas horas? Ele disse que ia dar suporte pra Sophia e os outros, mas não confio naquele cara.”

{A Celestial gostaria de lembrar que a lealdade dos orcs pertence a você, aquele humano não conseguiria controlá-los tão facilmente.}

“Tem razão, o Baltazhar vai conseguir manter os outros na linha, então eu não tenho que me preocupar muito… só espero que eles não se machuquem na guerra.”

Em momentos como aquele, uma memória desencadeava outra, afastando o seu foco. Além daqueles em Sophiette, havia também os que ficaram na vila de Hyze, se algo desse errado ali, no passado, eles teriam que enfrentar o Vassalo da Morte ressuscitado. 

“É melhor eu ir logo pra carruagem, vou entrar em depressão se ficar toda hora pensando no pior.”

Ajudar a organizar os órfãos nas carruagens demandou um pouco de tempo, mas finalmente terminou. 

Kurone suspirou profundamente, buscando um veículo com espaço para acomodar-se, entretanto só ouvia o barulho dos pirralhos. “As crianças se recuperam bem rápido deses choques…”

Ainda havia aqueles apavorados, chorando ou tremendo, contudo também tinha os que esqueceram o terror do ataque de Azazel van Elsie e voltaram a sorrir, e esses meninos sorridentes tentavam compartilhar a sua alegria com os amigos.

Era um dos ensinamentos da irmã Daisy. “Sempre sorriam, não importa o quão ruim seja a situação”. Começava a entender o motivo de Loright gostar dela, apesar de parecer errado alguém ter interesse amoroso por uma serva dos deuses.

{A Celestial gostaria de lembrar que você possui interesses matrimoniais com uma divindade, sem mencionar o fato de que está sempre cortejando a Ellohim.}

“A Annie é diferente! E de onde você tirou isso que eu tô te cortejando?!”

[Tu devias ser mais amável ao falar com uma dama, meu querido Vassalo.]

“Fica quietinho aí, tá legal?”

Oh, não consegue encontrar uma carruagem com espaço, pobre garotinho? — questionou o jovem bonito, Sylford Sophiette. 

Ele possuía um sorriso solidário, o de alguém com pena daqueles pequenos órfãos, mas a impressão de Kurone foi inesperada. Mentiras! Podia sentir mentiras emanando da aura daquele nobre.

— Acho que deve estar um pouco assustado, não é mesmo? Pode entrar nesta carruagem… acho que ela não vai se importar, apenas fique em silêncio — falou Sylford, abrindo a porta de uma carruagem com o brasão de Sophiette.

Os modos eram os de alguém refinado, a maneira de falar lembrava um pouco Edward, apesar de haver uma arrogância diferente naquele jovem, sua postura revelava os seus pensamentos: “Oh, sou tão benevolente”. 

“Ele acha que é o Messias? Não gostei desse cara.” E continuou olhando para aquela figura até ele desaparecer, com a sua aura emanando mentiras.

O que o fez voltar à realidade foi uma sensação macia embaixo da sua palma. Por reflexo, olhou para a origem daquela maciez, apenas para ver um braço fino brotando da sua mão.

Seguiu o braço, encontrou os ombros, o pescoço adornado por ouro e, no fim, o rosto bonito e cintilante preso sobre ele, porém com uma expressão de nojo — a qual, diga-se de passagem, estava calejado de ver.

“Merda, é uma pirralha daquelas bem arrogantes.”

Podia dizer apenas de ver aquele rosto. Em sua jornada, viu muitos tipos de pessoas, por isso podia usar alguns padrões como referência, e usou o rosto de Lou Xhien ali.

Quando conheceu a ex-princesa das garotas artificiais, ela era alguém insuportável, arrogante e repleta de ódio contra os outros. Mas havia uma diferença nítida ali: a menina à sua frente não possuía a mesma presença gentil de Lou Xhien.

— Me desculpa, eu não queria tocar em você. 

Disse apenas aquilo e, soltando a mão da menina, virou o rosto na direção oposta à do rosto dela, fingindo mirar a estrada pela janela, porém isso não foi suficiente para evitar provocar a ira da garotinha.

— Um ser simplório como você ousa tocar a minha pele divina e fingir que nada aconteceu? E quem lhe deu permissão para entrar em minha carruagem?!

Kurone continuou estático, fingindo não escutar aquelas palavras arrogantes, em sua mente, talvez aquilo fosse o suficiente para fazê-la esquecer da sua presença, mas essa ação teve o efeito oposto.

A menina explodiu ao ser ignorada daquela maneira. As mãos finas foram ao encontro do colarinho do garoto olhando a estrada, puxando com violência o seu rosto para encarar o dela.

Os olhos azulados da garotinha, abaixo da sua cabeleira angelical, fixaram-se naquela face suja do menino à sua frente. E aquilo aconteceu em um instante, como se um choque percorresse seus corpos.

— O que foi isso…? — a menina questionou, um pouco zonza devido àquela corrente elétrica repentina. Não era natural aquilo acontecer apenas por encarar uma pessoa.

A nobre garotinha podia estar confusa, mas não demorou para Kurone entender o que aconteceu. “Não interfira no passado, e evite pessoas que você teve contato no futuro”, foi uma das orientações rápidas de Hyze.

Sentia um pouco de incômodo ao interagir com Luminus e Loright, mas eles pareciam ser uma exceção à regra de alteração do passado. 

“Essa pessoa na minha frente…”

{De fato, A Celestial conhece esta alma, é a meio-humana que foi morta pelo Duque Belphegor, para ser mais precisa, ela é a primeira encarnação daquela mulher.}

Flugel.

Era Flugel.

Suas habilidades de notar a presença desenvolveram-se ao longo do tempo, podia dizer quem estava próximo apenas pela sua presença, por isso não podia estar se confundindo, nem havia como, afinal Ellohim confirmou a sua suspeita. Aquilo se tornava tão natural quanto discernir frutas pelo cheiro.

Na época que Flugel, uma reencarnada de 1.º Geração, foi morta pelo Duque do Inferno, A Celestial ainda pertencia ao supervisor do Instituto para Reencarnados, ela presenciou aquela cena terrível — e foi nessa mesma época que a sua posse foi passada para Kurone Nakano.

{Aquela era a segunda vida da pessoa que você conhece como Flugel, e ela pode ter alguma importância no futuro, por isso esse choque. A Celestial aconselha a manter distância dela.}

Seu coração estava acelerado. Na época que a conheceu, ainda não sabia a verdadeira identidade de Amélia, apesar de começar a desenvolver sentimentos por ela.

Por isso a gentileza e sinceridade de Flugel pegou-o despreparado. Passaram pouco tempo juntos, mas foi suficiente para cogitar que aquela seria a pessoa perfeita para passar o resto da vida. 

A ideia de ajoelhar-se e pedir desculpas passava-se pela sua cabeça diversas vezes, mas não adiantava, a tragédia ainda aconteceria no futuro, e Flugel não entenderia nada, a menina à sua frente nem sabia quem era.

Sem falar que interagir podia gerar problemas no futuro.

— Você não achou isso estranho?... Ei! Por que continua me ignorando?! Vai fingir que isso não aconteceu?? — Furiosa, a menina tentou aproximar-se, segurá-lo pelo braço ou pelo colarinho mais uma vez, contudo Kurone estava preparado dessa vez.

— Isso não foi nada, vamos esquecer. — Virou o rosto.

— Me desculpa pela maneira que falei antes, se você está com raiva… — a menina parou de repente — eu só não me dou bem com as pessoas… eu só quero entender o motivo de… — ela aproximou a mão, pronta para segurar a sua.

Até mesmo Kurone se surpreendeu com o seu movimento reflexivo em seguida. Ele deu um tapa na mão dela, não foi muito forte, mas provocou um estalo agudo.

“Droga, foi sem querer, mas não posso arriscar…”

O espaço para esquiva era pouco, começava a pensar que a melhor ideia seria utilizar alguma habilidade para apagá-la por alguns momentos, contudo, a voz irritante de Azrael ressoou em sua cabeça:

[Isto não é bom, meu caro Vassalo, desta maneira tu estás direcionando este mundo para o destino onde a menina possui androfobia. Isto é péssimo para a tua jornada.]

Sentiu culpa ao ver a menina com a cabeça baixa, acariciando a mão que recebeu o tapa repentino. 

[Imagine um futuro onde ela pensa que os homens têm nojo da sua presença, e ela é evita todos do sexo masculino, tu não conseguirias formar laços com esta menina, e isto mudaria o rumo da tua jornada na Cidade-Estado.]

A situação só piorava. 

Kurone realmente não conseguia pensar em outra maneira de mudar aquilo, por isso apenas fechou os olhos e avançou, surpreendendo aquela menina com um beijo.

Onde estava com a cabeça? Só podia ter perdido o seu último neurônio.

[Oh, aquele que consegue surpreender até mesmo este eu, que possui a habilidade de prever as surpresas.]

{A Celestial acha que ele é um tarado.}

— Não há outra explicação… este choque é nada menos que a paixão percorrendo nossos corpos, minha cara — Kurone tentou dizer de maneira sedutora, segurando o queixo da menina e com um sorriso em seu rosto.

Enquanto ele tremia internamente, a menina estava paralisada, encarando-o com brilho nos olhos enquanto aquela sensação percorria seu corpo.

 



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