Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 5

Capítulo 233: Belo Sophiette

Passaram pelo menos metade de um dia ali, na escuridão familiar a Kurone Nakano. 

Nas palavras da divindade, era um mundo à parte daquele que estavam anteriormente, como o Hangar dos Mortos, mas não parava de questionar-se o motivo pelo qual conheceu Rory e Cecily lá, após morrer na rua fria de Tóquio.

— Suponho que aquela coisa já tenha desistido, mas vou sair primeiro, apenas por precaução — falou a deusa, em pé no local que devia haver um trono dourado.

Kurone apenas meneou a cabeça, sair dali indicava a chegada do momento da despedida de Luminus, não queria aceitar aquilo, mas não tinha outra opção, descumpriu realmente a sua promessa.

“Você sabe o que vai acontecer com a Luminus depois que ela for com a Cecily, não sabe, Azrael?”

[Se tudo sair conforme o planejado, o destino no aguardo da menina Luminus é velho conhecido meu, entretanto, tu não deves pensar muito sobre isto, meu querido Vassalo, apenas deixe que os eventos se deem à sua própria maneira e não interfira.]

{A Celestial não confia neste ser profano, no entanto, ela tem total confiança no coração de Kurone Nakano. Ela respeitará a sua decisão.}

[Que jeito adorável de referir-se a ti mesma.]

{O nome dela é Ellohim, e ela não deseja conversar com seres profanos.}

“Tá bom, tá bom, fiquem quietos aí.”

Sobrepondo os passos de Cecily, distanciando-se e saindo daquele pequeno mundo infinito, para explorar o exterior, escutou os de Luminus, uma caminhada tímida, demonstrando o medo sentido pela menina naquele momento.

Ela era muito inteligente para a sua idade, sabia exatamente o que aconteceria no retorno da deusa para aquele local, e também conhecia o seu dever de aceitar aquilo sem reclamar.

— O irmão Loright disse que vai deixar tudo em suas mãos, Iolite — choramingou a menina, Kurone mal podia manter o contato visual com aqueles pequenos olhos repletos de água.

Loright não tinha coragem de fazer aquilo, ele preferia morrer a entregar a sua querida irmã, por isso deixou tudo ao encargo de um terceiro, e esse terceiro, sendo também parte da alma do jovem, sentia o mesmo peso no coração, mas precisava manter-se firme.

— Eu não queria que você fosse… — começou Kurone, ainda sem fazer o contato visual — mas as coisas tem que ser assim, você vai tá mais segura com a Cecily que com a gente. 

— Eu sei, será mais seguro para todos, mas também sei que o irmão Loright deve estar se culpando por não ser forte o suficiente para ficar comigo… Iolite… você pode me prometer uma coisa? Será um pedido egoísta.

Apenas balançou a cabeça, a garganta seca não produziu qualquer som.

— Cuida do irmão Loright. É até engraçado a ideia de uma criança cuidando de alguém muito mais velho, mas só eu sei como o irmão Loright é frágil, por mais que ele tente parecer forte por fora, e como você é maduro para a sua idade.

Kurone também sabia, afinal era como aquele jovem de cabelos negros, esforçava-se para parecer um guerreiro, um herói carregando em suas costas um fardo mais pesado que os músculos suportavam, mas, no fim, era apenas uma criança, aquela aparência lhe servia mais que a sua do futuro.

Sempre esteve segurando o choro, se pudesse, deixaria ao encargo de um terceiro as suas responsabilidades, só queria ter as pessoas que amava ao seu lado, em um mundo tranquilo, porque sentia que lhe faltava a força necessária para proteger alguém, não importava o quanto se esforçasse no treinamento.

Sem Annie, as figuras de Flugel, Frederika, Edward no corpo daquela criança de Grain, Asmodeus di Laplace, Lou Xhien Li e de tantos outros amigos e companheiros que perdeu em seu caminho retornavam à sua mente a cada minuto.

Nem viu o momento que encarou as próprias mãos, mãos frágeis de uma crianças, com pequenos calos devido aos treinamentos intensos, mas ainda longe de serem aquelas que costumava ter.

Deixou o mundo dos pensamentos ao sentir uma mão fria, na mesma escala da sua. Era a de Luminus. 

— Você não tem motivos para se culpar também. Escute, o Grande Ancião da minha terra natal costumava me dizer que não deveríamos sentir vergonha da nossa fraqueza, ser forte é uma escolha. Ele repetia constantemente que, desde que nos esforcemos para melhorar a cada dia, não há motivo para baixarmos a cabeça.

E a sua cabeça estava baixa, mas Luminus podia ver as suas lágrimas caindo e desaparecendo por aquele chão escuro. A garotinha deu-se satisfeita com aquilo e caminhou, seguindo na mesma direção que Cecily fora há pouco.

— Ela está voltando, e, pela sua postura, deve estar tudo bem. Não se preocupe em olhar para trás se não consegue se despedir, Iolite.

Com essas palavras, deixou-se cair de joelhos. 

Escutou o som da fala da deusa, só prestou atenção na parte que dizia “podem sair”, depois disso, tudo não passou de um barulho incompreensível. Os sons foram misturando-se, a corrida das crianças, a mão da irmã Daisy batendo em seu ombro, alguém gritando o seu nome, contudo, não levantou a cabeça em nenhum momento até que se fizesse um silêncio completo.

Ao elevar a cabeça, notou uma figura em uma posição similar à sua — de joelhos e cabeça baixa. Ficou de pé e andou um pouco, reconhecendo a silhueta: era Loright.

— Uma vez… — ele falou de repente, a voz rouca seria inaudível em outro ambiente que não fosse aquele mundo escuro — uma vez eu prometi a Luminus que ficaríamos juntos para sempre. Eu achei que fosse forte para protegê-la de tudo…

Vendo os olhos vermelhos e a expressão depressiva naquele rosto, sentiu como se encarasse um espelho.

Viu-se no chão, embaixo do seu antigo manto de Santo, lágrimas vertendo por causa da morte de Flugel, culpando o demônio Belphegor Halls, mas se amaldiçoando por ser fraco.

E, cerrando os dentes, jogou aquela memória para o fundo da sua mente. Estendeu a mão para aquele jovem que, de joelhos, tinha a sua estatura. Entendia plenamente o que aquele garoto estava passando naquele momento.

— É como a Luminus disse, ser fraco é uma escolha. Então, vamos ficar forte para encontrarmos ela logo, não é?

Huh?

— A Cecily é só nosso seguro temporário. Se pudermos ficar fortes o suficiente para derrotarmos Azazel van Elsie, podemos pegar a Luminus de volta, e se aquela deusa achar ruim, a gente chuta a bunda dela.

Escutou uma exclamação de Azrael no fundo da sua mente. 

Apesar de tudo, não podia deixar Luminus morrer, só precisaria ficar forte o suficiente para moldar o destino daquele mundo com as suas próprias mãos. Se necessário, estaria disposto a ascender até os domínios de um deus ou se entregar às profundezas do inferno para salvar aqueles que amava. As últimas palavras da garotinha reavivaram seu espírito guerreiro, anteriormente abatido.

Loright tocou a sua mão, com um aperto firme e um sorriso surgindo em meio àquele rosto depressivo.

— Se é assim…. se prepara, Iolite, porque a gente vai treinar até os nossos ossos pedirem piedade!

O cenário à frente parecia bem familiar, lembrava Kurone a vila Grain logo após o ataque dos orcs.

Provavelmente, em um acesso de fúria por suas presas escaparem, Azazel van Elsie destruiu todo o orfanato, deixando apenas os escombros das construções. 

Havia sangue de animais que estavam por ali, as árvores foram arrancadas pelas raízes e a grama foi totalmente incinerada.

A irmã Daisy parecia desolada, quase não conseguia manter-se de pé, por isso Loright antecipou-se e a segurou com um abraço caloroso.

Ambos acabavam de sair daquele mundo escuro. Quando o último a sair, Kurone, deixou totalmente a escuridão, a entrada para aquele lugar desapareceu.

Examinou o local, mas logo entendeu que Cecily e Luminus deixaram o orfanato ao sair do pequeno mundo infinito. 

O seu campo de visão só captava a destruição, a pele era incomodada pelas cinzas das gramas tostadas, que às vezes entravam pelo nariz, e o lamento dos órfãos ecoava incessantemente em sua mente.

O que fariam sem um lugar para ficar? Demoraria pelo menos a metade de um ano para que tudo fosse reconstruído.

A irmã Daisy estava prestes a pronunciar-se, suportando-se no ombro de Loright, mas o som do trote de cavalos impediu-a, e chamou a atenção de todos.

Avistou uma carruagem, mas o que mais lhe chamou a atenção foi o brasão estampado no veículo, algo que conhecia bem. “O símbolo de Sophiette…”

Noah, a empregada de Sophia, explicou-lhe sobre os brasões quando foi à capital de Andeavor pela primeira vez. Então, se não estava errado, a pessoa dentro da carruagem só poderia ser alguém influente do clã dos descendentes de dragões, se não fosse o próprio líder dos Sophiette da geração.

[Consigo notar uma diferença no tempo, é certo que Cecily tenha controle sobre a passagem de tempo daquele mundo.]

“Então faz algum tempo desde o ataque da desgraçada a Elsie. É claro, bem que estranhei essa velocidade deles, eles são como os policiais, só aparecem depois que a desgraça acaba.”

Em sua crítica, não citou o fato de que Cecily importou-se com eles, afinal avançou o tempo em um ponto que tinham ajuda. “Não, prefiro acreditar que isso não foi intencional.”

Ignorou a ideia da ajuda por parte da deusa e decidiu focar naqueles estranhos chegando ali, além da carruagem, havia pelo menos vinte cavaleiros com a armadura da Guarda Real de Andeavor. “Que cena familiar… isso aqui é uma reprise do ataque de orcs ou falta de criatividade mesmo?”

Quando pararam, a porta do veículo com o brasão do clã Sophiette foi aberta e um jovem, aparentemente em seus dezoito anos, saiu de lá. Sua presença era esmagadora, diferente daquela de Sophia, que mal tinha mana em seu corpo, contudo, Kurone atentou-se para outra coisa.

“Porra, que cara bonito.”

[Oh, tua luxúria não tem fim, meu querido Vassalo.]

{A Celestial só deseja deixar claro que, apesar do rosto, esse humano possui o órgão reprodutor masculino.}

 



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