Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 5

Capítulo 232: Casa Da Mãe Joana

Em sua mente, o pensamento era o de estar preparado contra Azazel van Elsie, contudo as pernas trêmulas e a garganta secando diziam o contrário.

“Não é possível, nem quando eu era mais fraco fiquei com tanto medo dela…”

Cecily possuía um sorriso de vitória estampado no rosto, apesar da sua situação. Era como se dissesse “eu sabia!”.

Um combate direto contra a demônia era o pior cenário possível, foi ingênuo ao imaginar que a sua ideia de espalhar a aura pelos continentes não atrairia aquela que mais temia. 

“Eu sou burro pra caralho sem a Nie…”

— Há um abrigo de emergência no porão do orfanato. Irmã Daisy, leve as crianças para lá! — gritou Loright, também apavorado com aquela presença esmagadora no ar. — Loright, pegue a Luminus e saía daqui! — Arremessou a sua nova espada ao garoto.

— Como você vai lutar sem ela?!

— Não se preocupe, a Luminus é a nossa prioridade, e essa espada vai mais me atrapalhar do que ajudar.

Suspirou. Claro, Loright percebeu ao tocar na arma pela primeira vez que aquela não era uma lâmina comum, não era sábio lutar com algo instável contra um oponente comum, quem dirá contra um inimigo de poderes avassaladores.

— Então fica com essa! — gritou Kurone, jogando a faca de combate militar, algo outrora em posse de Clay Alyson, o Psicopata Reencarnado.

Tirando a sua habilidade de resistência, era apenas uma faca comum, porém sabia da inexperiência de Loright no uso de armas de fogo, aquela pequena lâmina era mais vantajosa que a Spas-12 ou a Boito .20 de canos serrados.

Após a rápida troca de armamentos, pegou com força na mão da garotinha e impulsionou-se no chão, mesmo sentindo a relutância por parte da menina. Nem queria olhar o rosto dela, podia ler seus pensamentos: Luminus queria ficar ao lado de Loright.

— Para onde vamos?! — questionou a órfã.

— A gente tem que aproveitar o tempo que o Loright tá comprando e cair fora daqui, as outras crianças vão ficar seguras se você não tiver por perto.

— Mas e quanto ao irmão Loright… ele vai ficar bem? Eu sei que ele é forte, mas também consigo sentir a força esmagadora de quem está nos atacando.

Kurone apenas engoliu em seco e continuou a correr, obrigando Luminus a acompanhar-lhe. Era patético, aquele medo só aumentava a cada momento, jamais sentiu algo como aquilo, nem quando confrontou a Besta Negra.

No entanto, seus pensamentos autodepreciativos foram afastados por um aperto de mão firme de Luminus, a garotinha tremia, mas fez uma tentativa de confortá-lo.

[Surpreendente, a excitação toma conta do meu ser. Tu, meu Vassalo, acabas de desencaminhar o destino desta linha temporal.]

Sentiu arrepios com aquela voz repentina, mas apenas suspirou profundamente ao reconhecer a quem ela pertencia.

“Minha mente virou a casa da mãe Joana? E para de me chamar de Vassalo como se eu tivesse aceitado, eu disse que ia pensar no caso.”

[Certamente, são inúmeras exigências que tu tens, entretanto, gostaria de aconselhar-lhe: o caminho que está sendo tomado é incerto e pode levar-te a um futuro que não desejas.]

“Porra, então o que é que eu vou fazer?! Entregar a Luminus pra Azazel?!”

[Isto seria ainda pior, seria o fim deste mundo. Tu deves confiar a menina à deusa.]

— I-Iolite, por que você está com essa cara? 

Mesmo em uma situação crítica como aquela, a menina ainda tinha a preocupação de notar aquilo, certamente ela tinha um bom coração, mas não era hora de admirar a gentileza de Luminus. 

— Tá tudo bem, só continua correndo e não solta a minha mão!

[A deusa aproxima-se, é a tua chance de levar o futuro desta linha temporal a um destino já explorado. Tudo dependerá de tua escolha.]

Foi Cecily quem matou os inocentes da vila. Foi Cecily quem mandou o homem possuído para o orfanato, então, por que confiaria nela?

Notou, desde o primeiro encontro, as divergências entre essa e a divindade que conheceu no seu pós-morte, imaginou que algo aconteceu para ela chegar naquele estado, mas também cogitava que, talvez, tudo aquilo também fosse atuação.

Não sabia mais em quem confiar naquele mundo. “Se pelo menos a Nie tivesse aqui…” Cerrou os punhos.

— Você devia tentar escutar a sua própria voz às vezes — Luminus enunciou repentinamente, fazendo o jovem projetar uma parada brusca de repente.

— O que você…

— Posso ver pelos seus olhos que você está indeciso sobre o que fazer. — A menina segurou a outra mão dele. — Talvez haja muitas vozes em sua cabeça, os pensamentos vêm e vão, a dúvida muitas vezes cria cenários terríveis em sua imaginação.

Da maneira que falava, parecia algo que a própria Luminus vivenciara. Não, tinha certeza, era algo que a menina tinha autoridade de dizer, podia dizer pelo seu semblante.

Toda aquela maturidade da garotinha provinha dos seus traumas, das suas experiências, afinal era considerada uma criança amaldiçoado desde o seu nascimento.

— Esvazie sua mente, Iolite, e tente ouvir a sua própria voz.

Isso era diferente do que Annie fez.

Luminus não o ajudaria a superar os problemas atormentando a sua cabeça, mas incentivava-o a superá-los sozinho.

Decidiu esquecer da situação um pouco, fechou os olhos e, após um suspiro profundo, meditou.

Hyze advertiu-lhe para não mexer na linha temporal, conhecia os riscos das suas ações, um mínimo movimento poderia alterar a história do mundo, e certamente fez mais que “um mínimo movimento” ali.

Mas não confiava em Azrael ou Cecily. Luminus ficaria realmente bem se a deixasse aos cuidados da deusa?

Azrael era suspeito.

Não queria mais acreditar em ninguém daquele mundo, mas seria idiotice fechar os olhos para tudo e fingir ser o dono da razão e da verdade, mesmo um inimigo podia ser um aliado conveniente às vezes, como Asmodeus di Laplace ou a Besta Negra.

Enfim, após todas as ponderações, desacompanhadas dos pensamentos indesejáveis, decidiu-se.

— Luminus, sei que a gente se conhece há pouco tempo, mas… você confia em mim?

— Sim, Iolite, eu confio em você. — Ela sorriu. — Não sei bem o motivo, mas sinto uma aura familiar ao seu redor. Iolite, não precisa chorar, e eu não vou me preocupar, sei que você, o irmão Loright e a irmã Daisy só querem o meu bem… embora eu não mereça toda essa gentileza.

A menina parecia ter lido a mente de Kurone, aquela sua despedida dava a entender, explicitamente, o seu conhecimento da decisão de Kurone.

— Cecily, eu sei que você tá aí, mostra essa tua cara feia logo — comentou o garoto, soltando as mãos de Luminus e apontando para os arbustos.

A figura da deusa em questão projetou-se alguns metros à sua frente.

— Eu não queria interromper esse momento tão lindo, pirralho — comentou Cecily, a sua arrogância habitual continuava estampada em seu rosto. — Parece que você mudou de ideia, não foi?

— A gente não tem tempo pra perder aqui, se livra da Azazel logo e depois conversamos.

— Que pirralho mandão. Escute, mesmo um deus precisa ser cuidadoso quando se trata de Azazel van Elsie. Mas veja só, vou dar um gostinho do meu poder a vocês.

Após pronunciar aquelas palavras, a divindade afastou-se e direcionou a mão direita ao alto, materializando uma pequena esfera negra, que se expandiu lentamente.

Aos poucos, o lugar foi engolido pela escuridão invocada pela deusa Cecily. Era uma cena similar à de quando o Vassalo da Morte apareceu para aqueles da ilha Lou Souen pela primeira vez.

— Esse é um mundo separado de todos — explicou a divindade. — Mesmo um ser muito poderoso teria dificuldade em invadir. Meus poderes são fabulosos, não é mesmo?

— E o Loright? E a irmã Daisy?

Ela pareceu irritada por não ser glorificada pelos seus talentos, mas, após um suspiro de desgosto, respondeu:

— Eu trouxe eles também, a única que continua lá é aquela aberração. Ah, e não fique pensando que eu tive medo de enfrentá-la, mas é como eu disse, preciso ser cautelosa.

Era medo. Cecily possuía medo de enfrentar aquela demônia sádica, e o fato de até mesmo um deus temer Azazel van Elsie o deixou perturbado.

Ao olhar para o lado, viu a figura conhecida e Loright, as irmãs do orfanato e diversas crianças, todos foram transportados para locais aleatórios, mas próximos uns dos outros.

— É melhor você não fazer a Luminus chorar — Kurone falou de repente, no tom mais sério que a sua voz infantil permitia.

— Não se preocupe, pirralho, eu não vou deixar ninguém tocar nela.

Ainda estava hesitante sobre a sua decisão, mas tentaria não pensar nos piores cenários e rezar para não ter problemas. “O Loright vai surtar quando eu contar isso, mas eu vou tentar tapear ele.”

[Tu fazes bem. Embora ainda seja incerto, caminhamos para um destino conhecido, onde poderemos lutar para mudá-lo.]

“Não fica falando comigo tão casualmente, só a Nie pode fazer isso.”

{A existência deste ser incomoda Ellohim, ele devia morrer.}

Kurone quase gritou ao escutar aquela voz familiar.

Ellohim, A Celestial, este era seu nome. 

{Não me estranha a surpresa, mas A Celestial, na verdade, faz parte de sua alma, por isso ela não pode se separar como a deusa. Ela estava se resguardando, mas ela cansou da presença deste ser imundo.}

“Parece que minha mente virou uma casa da mãe Joana mesmo…”



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