Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 5

Capítulo 230: Ataque Inesperado Ao Orfanato

Moveu os dedos, sentindo a textura macia daquilo abaixo da sua mão. 

Oh, ele está acordando. — Uma voz feminina e infantil invadiu os seus ouvidos. — Pode relaxar agora, irmão, não é culpa sua isso ter acontecido.

Ao separar as pálpebras, viu a figura de uma garotinha, com um olho vermelho-carmesim e outro castanho, um misto de cores incomum, assim como os seus cabelos, que possuíam tanto a tonalidade branca quanto preta. 

Era Luminus.

Era a garotinha que precisava proteger.

Quando o rosto da menina foi afastado, viu a duas figuras conhecidas: a irmã Daisy e Loright, ambos com expressões de preocupação nos rostos.

“Bem, pelo menos não parece que eles tão em perigo…”

— Nunca mais faça algo tão arriscado assim, Iolite! — gritou Luminus, perdendo a sua compostura repentinamente e saltando sobre a cama que Kurone repousava.

Ser abraçado daquela maneira por aquela garotinha era uma nova experiência, afinal os únicos contatos físicos recebidos da Rory do futuro eram socos e chutes.

Aquela menina só o conhecia há poucos dias, mas, ainda assim, sentia aquele nível de preocupação, o quão sensível era ela?

Pensou em relaxar e aproveitar um pouco daquela sensação, contudo, algo fez todos os pelos do seu corpo se eriçarem. “Ela ainda tá aqui!”

Antes de apagar, sentiu uma aura estranha no orfanato, e ela estava ali novamente, no lado de fora. 

Mas por qual motivo todos estavam ali, preocupados com a sua saúde, ao invés de estarem fugindo de Azazel van Elsie?

— Não é ela — Loright disse repentinamente, como se lesse a mente do garotinho loiro. — Mas ainda é alguém problemático. — Fez um sinal com a cabeça em direção à janela.

Com relutância, deixou o abraço caloroso de Luminus e seguiu em direção à parede. — O que ela faz aqui?! Ainda temos mais um dia — murmurou ao avistar aquela figura.

Andando de um lado para o outro, impaciente, estava a divindade de longos cabelos loiros e a armadura portadora de um misto de azul e verde. 

— Você não estava totalmente errado. A deusa Cecily disse que o incêndio na vila foi culpa da demônia Azazel.

Não conseguiu evitar de fazer aquela expressão de fúria, sabia que nenhum outro ser seria doentio suficiente para incendiar uma vila de inocentes, mas escutar a confirmação só fez aquela raiva arder ainda mais.

— É culpa minha… — Luminus suspirou, seus ombros mantinham-se baixos e um suspirou ocasional escapava da sua boca. — As outras crianças estão em risco por minha culpa.

— Não, Luminus, não é — disse Loright. — Você não é responsável pela loucura dessa demônia, os demônios são assim, psicopatas que não ligam para a vida dos outros.

“Mesmo nessa época, parece que já existe o preconceito contra os demônios. Azazel desgraçada, não dúvido nada que ela seja o motivo do mundo ter medo dos demônios.”

Tanto a irmã Daisy quanto o garoto loiro decidiram deixar aqueles dois sozinhos, compartilhando de um momento reservado para irmão e irmã.

— Você parece ter ossos de ferro, Iolite — a mulher religiosa soltou o comentário. — Tem certeza que não quer descansar no seu quarto? Cair daquela altura não é saudável para uma criança.

— Depois, depois, agora eu tenho uns assuntos pra resolver com aquela maluca lá fora.

— Iolite… tome cuidado. Ela pode ser uma deusa, mas isso não significa com o seu coração é puro.

— É, tô ligado.

A irmã Daisy deu um último suspiro. Desde que entrou ali, aquele garoto envolveu-se em diversos problemas e desmaiou algumas vezes, mas logo levantava e continuava a seguir em frente.

Àquela altura, a mulher religiosa entendia que ele não era alguém de esperar suas feridas cicatrizarem para retornar à ação.

— Veio mais rápido do que eu pensei, pirralho, você é duro na queda — disse a deusa com um sorriso presunçoso. 

— Não duvido nada você ter aumentado a velocidade da queda só pra eu me esborrachar no chão.

O silêncio foi a resposta da deusa, algo que provocou calafrios no garoto.

— Você já sabe nossa resposta — Kurone disse de repente. — A Luminus fica, eu e o Loright conseguimos dar conta de Azazel van Elsie ou de qualquer outro que tentar tirar ela de nós — falou com um olhar direcionado a Cecily no fim.

Um suspiro escapou da boca da divindade e ela moveu os olhos em um verde vibrante para o menino à sua frente.

— Seja como quiserem, mas estejam avisados, não haverá uma segunda chance, assim que falharem, eu tomarei a Luminus.

Cecily virou as costas, pronta para deixar aquele local como da última vez, seus ombros eram o de alguém confiante, tinha certeza que Kurone ou Loright não conseguiriam proteger a garotinha que tanto amavam.

— Você pertence à Seita de Agni, não é mesmo?

Havia hesitação no tom de voz do garoto, isso era mais um chute que afirmação, entretanto foi o suficiente para chamar a atenção da deusa, que falou, ainda de costas:

— Você é atrevido demais para uma criança da sua idade… Cuidado, crianças levadas são levadas pelos demônios e condenadas ao tormento eterno.

Após a sua “ameaça”, Cecily estalou os dedos e desapareceu, mas a presença no ar entregava que continuava ali perto, rondando o orfanato como um urubu.

“Ela nem tentou negar…”

Antes de despedir-se de Azrael, o Suserano da Morte, recebeu algumas dicas e conselhos, e um deles foi exatamente para não confiar em Cecily.

Como impedir o renascimento de um deus rival também era trabalho dos membros das seitas, nada impedia alguém que juntava os Fragmentos de estar, na verdade, coletando todos para jogá-los no Cálice de Morte.

As últimas palavras do Anjo Caído foram as mais impactantes.

Tanto Érebos quanto Agni esconderam quase todos os seus Fragmentos na Terra, nos corpos de humanos comuns, no entanto foi diferente com a deusa Astarte.

Segunda o Suserano da Morte, a divindade escondeu os pedaços de sua alma em crianças, algo que tornava a busca mais fácil, já que era fácil identificar os Fragmentos naquelas com a faixa etária entre dez e quatorze anos.

Sabia que devia haver outro motivo por trás do ato de usar crianças, mas não importava naquele momento, afinal uma última peça encaixou-se.

Quando estava em Eragon, na época do ataque de Belphegor dé Halls à ilha flutuante, Rory declarou que era ela a responsável pela morte de diversas crianças.

Naquele tempo, não entendeu o motivo, mas as lágrimas no rosto daquela garotinha foram o suficiente para ter em mente que não era algo que ela tinha controle.

A décima sétima criança da vila de Grain, aquela criança inocente de Eragon, e diversas outras foram mortas por Rory Nakano, e, nesse momento, entendia o motivo:

“Todas possuíam um Fragmento da deusa Astarte em seus corpos…”

E essa realização só lhe fez ter mais ódio. A culpada era Astarte. Por conta da deusa, Rory foi obrigada a matar crianças inocentes, algo que chegava a ser até mesmo repugnante.

Não sabia o que Cecily tinha a ver com essa história, mas uma coisa era certa: a deusa não tinha boas intenções ao convocar pessoas de outro mundo e mandá-los para Niflheim com a garotinha.

Mas, apesar de toda aquela situação revoltante, havia algo de bom naquilo: Rory, Luminus, ou fosse lá qual fosse seu nome, não quis realmente fazer tudo aquilo.

“Cecily, Azazel van Elsie, Belphegor dé Halls, Mamon von Faucher, Edward Soul Za, Lao Shi… Astarte, Érebos e Agni, eu vou acabar com esses desgraçados, só preciso ficar ainda mais forte.”

 A expressão “ter o olho maior que a barriga” era perfeita para descrever a sua lista de inimigos, e a situação só ficava pior se levasse em consideração aquele seu estado.

Mesmo no corpo de Kurone Nakano, mal conseguiria enfrentar um daqueles sem correr risco de vida. Como Iolite, precisaria treinar duro para ficar mais forte, apesar de haver a limitação de ser uma criança em seus treze ou quatorze anos.

“E tem você também, né, Nie?” Tocou os lábios, relembrando daquele contato que selou o seu pacto com Annie.

Embora o caos sempre estivesse ao seu redor, não tirava a sua deusa da cabeça e nenhum momento, a preocupação sempre estava ali, no fundo da sua mente, mesmo enquanto era arremessado por Loright em direção ao orfanato, pensava nela.

Annie estaria bem? Onde ela poderia estar? Quem poderia estar com ela? Qual seria a sua aparência física? E se estivessem a maltratando… 

Sua cabeça inundava de maus pensamentos, mas precisava ter controle, sabia que sucumbir à loucura não era a solução, aquela divindade gentil ensinou-lhe isso.

Suspirou.

Nem sabia mais quanto tempo perdeu ali, inverso em seus pensamentos, mas reconheceu que era hora de voltar, ou Luminus ficaria preocupada.

Porém, não seguiu com a ideia de retornar, pois viu aproximando-se duas irmãs do orfanato, cada uma de um lado e, no centro, usando as mulheres como apoio, estava um homem em péssimo estado.

Considerando as queimaduras em seu corpo e o estado de suas roupas, que pareciam estar aos trapos há tempos, deduziu que só poderia ser um sobrevivente da vila incendiada por Azazel van Elsie.

— Eu vou chamar Loright! Coloquem ele para descansar ali por enquanto! — Kurone gritou para as mulheres e seguiu em busca do jovem de cabelos negros e a irmã Daisy.

Sabia que ainda não podia correr à toda força, mas decidiu se esforçar um pouco. Contudo, foi impedido por um empurrão.

Escutou o grito de assombro das irmãs antes ser empurrado com força, e o que mais lhe surpreendeu foi quem fez aquilo: o homem que era carregado pelas irmãs, e o mais assustador era ela estar correndo de quatro, como uma besta selvagem.

— Precisamos ir atrás dele, as crianças correm risco! — gritou uma das mulheres.



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