Volume 5
Capítulo 227: Preparando-se Para Proteger Luminus
— Há uma lenda, desde a Primeira Era, sobre um demônio da raça dullahan, por curiosidade, essa é a raça mais fraca que existia no continente dos demônios, por isso essa história é tão inacreditável, mas, ao mesmo tempo, real.
— Não se sabe muitos detalhes sobre isso, afinal ela possui o poder de manipular as memórias, mas o certo é que ela, Azazel van Elsie, era um dullahan, e, mesmo assim, foi a responsável por trazer caos a esse mundo.
— A história de que Belzebub é nosso algoz é uma falácia, o verdadeiro ser que nos aterroriza sem motivos há anos é ela, por isso desconfie de alguém que diz que o nosso inimigo é o Rei Demônio.
— Inclusive, algo estranho é que, quando atacou a antiga torre do Conselho do Inferno, Elsie matou todos os Duques e Arquiduques, poupou alguns Grãos-Duques, Margraves e Notáveis, mas ela nunca chegou ao Rei Demônio.
— Ninguém sabe exatamente se foi por medo ou se ela tinha segundas intenções, mas, até hoje, Elsie nunca esteve em confronto contra ele, mesmo ela quebrando todas as regras do Conselho e assumindo a frente em tudo.
— Vê? Você tem noção, pirralho, do quão forte é esse demônio? Se vocês não confiarem em mim e não me entregarem Luminus, Azazel van Elsie virá e tomará à força.
Ao término da história, Kurone só pôde dar um sorriso de escárnio. A deusa falou tudo muito rápido de propósito, mas conseguiu entender, captou algo que jamais esqueceria.
“... O verdadeiro ser que nos aterroriza sem motivos há anos é ela, por isso desconfie de alguém que diz que o nosso inimigo é o Rei Demônio”, recordou as palavras da divindade ditas há pouco.
A Cecily que conheceu no pós-morte dera-lhe um rápido tutorial, explicando sobre como o mundo de Niflheim funcionava de maneira superficial, e, nessa introdução, ela falou que o mundo era aterrorizado por Belzebub.
“Você cavou a sua própria cova, Cecily, não vou confiar em nenhuma das suas palavras, já tô puto com os mentirosos iguais a você desse mundo.”
— E, pela sua cara, parece que você não vai dar o braço a torcer mesmo depois dessa historinha, não é? — A deusa suspirou. — Tudo bem, tudo bem, vou dar três dias para vocês pensarem melhor no que vão fazer, mas saibam que, se escolherem enfrentar a Elsie, eu aparecerei assim que vocês estiverem perdendo, e tomarei Luminus.
Com aquelas últimas palavras, Cecily deu um “tchauzinho”, acompanhado de aceno lento, e desapareceu pela porta daquele escritório, aliviando um pouco da pressão ali.
A irmã Daisy precisou de alguns minutos para recuperar-se, aquilo ali provou que a mulher não era habituada a situações tão tensas.
— O-obrigada, Iolite… muito obrigado, eu não consegui fazer nada, me senti tão impotente, fui patética, não é fui?
— Não mesmo. É a presença, Cecily tava usando a presença dela para pressionar você, não há muito o que você possa fazer contra a aura de um deus.
— Mas e quanto à situação da Luminus? Eu prometi que ia proteger ela, mesmo que aquela mulher seja uma deusa, não posso entregar a menina. O Loright também jamais concordaria com isso.
Um suspiro escapou do garoto.
— Azazel van Elsie e Cecily não são pessoas que Loright possa derrotar facilmente, se vamos ficar contra elas, precisamos pensar bem em nossos próximos passos.
Notou os olhos arregalados da mulher religiosa, claro, não era de se estranhar, afinal Kurone estava sério, e falava como alguém que conhecia aquelas duas inimigas há tempos.
Por mais incomum que fosse aquele mundo, não era normal uma criança ter aquela atitude em uma situação daquele tipo.
Mas não tinham tempo a perder.
— Nossa primeira tarefa será descobrir a localização de Azazel. Eu sei que ela consegue viajar rapidamente de ponto para o outro, mas ela deve ter algo em mente, senão nem iria deixar Cecily chegar aqui primeiro.
A habilidade por trás da velocidade insana de Elsie ainda era uma incógnita. Escutou sobre como ela conseguiu entrar e sair de países em segundos, por isso desconfiou logo daquela situação.
— Podemos perguntar se o Loright ouviu algo sobre isso, quando ele voltar. Por enquanto, vou ficar de olho nas crianças, os demônios são cheios de estratégias sujas… E, Iolite, precisamos conversar seriamente mais tarde.
Um único aceno com a cabeça foi a resposta do menino, antes de deixar o escritório.
“Azazel van Elsie pode nos atacar a qualquer momento, preciso pelo menos de uma armadilha para pegar essa desgraçada de surpresa.”
E, antes mesmo de deixar a sala da irmã Daisy, já tinha a arapuca para demônios perfeita em mente. Faíscas azuladas pairaram pelo ar após ele invocar aqueles objetos esverdeados: minas terrestres, mais um dos espólios de guerra, coletado após matar Clay Alyson, o Psicopata Reencarnado.
Não podia plantar os explosivos em áreas como o playground de terra ou ao redor das construções. “Vou focar na entrada e em algumas áreas que eu posso usar se eu travar combate direto contra uma das duas.”
Aquelas não eram armas comuns, não importava se era deusa ou demônio, certamente o ser não sairia ileso após pisar em uma daquelas minas terrestres, e, se plantasse várias no mesmo ponto, o estrago seria maior.
— Posso saber o que está fazendo com esses objetos estranhos? Você devia estar descansando, Iolite — falou Luminus, irritação era nítida em seu tom de voz.
— Ah, Luminus, sabe… isso aqui é um sistema de segurança que a irmã Daisy pediu para eu instalar, mas é segredo de todos. Não conta a ninguém, tá?
— Por que isso assim tão de repente? E quando a irmã comprou isso? Ela não saiu do orfanato recentemente, e não vi nenhuma caixa que pudesse estar guardando isso nas correspondências.
— É muito feio bisbilhotar a correspondência dos outros, sabia, Luminus?
— Não tente mudar de assunto…
“Droga, como essa garotinha consegue ser tão esperta?!”
— Eu prometo que depois te conto, mas me jure que você não vai mexer nelas, tá bom? Eu vou te dar uma, coloca em um lugar que você sabe que ninguém vai pisar, mas que dê pra você usar em caso de emergência.
A menina obedeceu, mas não saiu sem lançar um olhar questionador para Kurone. Não adiantava, aquela menina era esperta demais, ela certamente sabia que havia algo de errado ali.
— Acho que vou plantar algumas minas nas janelas…
Loright não era nenhum especialista em espadas, mas reconhecia uma arma ruim quando a via.
Todos tentaram vender-lhe espadas velhas, usadas ou de material ruim, era um saco comprar uma arma em um lugar que não fosse a ferraria.
— Mas não tenho tempo de esperar o ferreiro fazer a arma, eu preciso de uma nova espada urgentemente.
— Então, acho que tenho o artefato perfeito para você, menino. Tem interesse?
A voz que lhe abordou era de um vendedor estranho, sentado no chão, segurando um embrulho com forma de haste.
A princípio, sentiu um arrepio inexplicável, afinal as vestimentas do vendedor não eram nada amigáveis, ele usava um manto negro cobrindo tanto o rosto quanto o resto do corpo.
— Eu lhe vendo a espada pela primeira moeda que você tirar do seu bolso, porém só pode desembrulhar ela quando chegar em casa.
Não havia dúvidas, aquilo era uma armadilha, estavam tentando lhe passar para trás, no entanto, a oferta era tentadora, e alguém imprudente como Loright não resistiria àquilo. “Desculpa, irmã Daisy, mas vou arriscar o dinheiro que você me confiou.”
Todas as moedas no seu bolso eram idênticas, por isso não hesitou em entregar a primeira que tirou ao vendedor, sem nem mesmo conferi-la.
— Foi ótimo fazer negócios com você, menino. Honre a sua palavra e não terá nenhum problema com a sua nova arma.
Loright pensou em fazer um comentário maldoso, porém, ao mirar o local que o vendedor estivera sentado, teve ao surpresa ao não encontrar mais o homem.
“Sinto que fui enganado, mas, por enquanto, vou deixar a espada embrulhada…”
Seu único objetivo naquela vila era comprar a nova arma, mas como lhe sobrou dinheiro, pensou em comprar uma lembrancinha para Luminus.
“Não, é melhor trazer a Luminus aqui para ela escolher o que quer, e vai ser uma ótima oportunidade para ela sair...”
— Ah, desculpe!! — gritou ao esbarrar de repente em um dos transeuntes, porém o mais estranho foi aquela força presente no ombro daquela pessoa.
Moveu os olhos em direção ao rosto da pessoa que esbarrou, apenas para ser amedrontado por aquela aura assustadora que, sem dúvidas, pertencia a um deus.
— Sem problemas, hoje estou de bom humor — disse a mulher de longos cabelos loiros e olhos esverdeados, a origem de todo esse peso sentido antes era a ombreira, parte de sua armadura.
— Seu olhar parece ser o de alguém que possui o dom da mana, intrigante. Sou Cecily, é um prazer.
— E eu sou Loright, muito prazer, senhorita Cecily. Eu gostaria de dar um pedido de desculpas apropriado, mas preciso ir.
— Oh, sem problemas… tenho certeza que nos encontraremos mais vezes. Certamente eu vou me lembrar de você, Loright, e do pedido de desculpas que me deve — a mulher comentou com um sorriso questionador.