Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 5

Capítulo 226: Cecily ou Elsie, escolha!

Certa vez, Cecily dissera-lhe que deuses não envelheciam como os humanos, a própria divindade mantinha a aparência de uma jovem de vinte anos, por isso não via diferença entre essa à sua frente e a deusa que conheceu após a sua morte.     

Na verdade, não havia diferença física, mas a postura dessa Cecily era diferente, ela passava um ar de alguém mais imponente, e a sua armadura dourada e azul acentuava ainda mais esses traços.

A deusa lançou um olhar estranho para a dupla no escritório, mesmo sendo ela a invasora ali.

— Acho que assustei vocês, não foi? Desculpa, desculpa, não queria aparecer assim de repente, mas é muito burocrático para entrar nesse orfanato. 

Não houve qualquer ruído por parte daqueles dois, mas Kurone sentiu-se incomodado ao notar os olhos da divindade encarando-o. 

Tinha ciência do problema enfrentado, alguém em posse de algum poder relacionado ao tempo notaria, nem que fosse pelo menos um pouco, algo estranho naquele garoto, um viajante do tempo.

Não sabia exatamente qual era o limite do poder de Cecily, mas conhecia a sua habilidade de enviar alguém de volta ao passado, pois prometera a Kurone, quando se conheceram, que o reviveria novamente no Japão, dez minutos antes do acidente responsável por ceifar a sua vida. 

Ela podia usar o “Arcano do Tempo” livremente ou a promessa foi apenas uma mentira para fazê-lo aceitar a reencarnação no mundo de Niflheim? 

Muitas dúvidas perturbavam o seu juízo.

— Por que essas caras? Parece que nunca viram um deus antes, acham que ainda estamos na Primeira Era, quando os deuses se escondiam em seus buracos?

Estudando ao lado de Lou Xhien Li, na biblioteca da ilha, aprendeu um pouco sobre a linha do tempo desse mundo, que possuía três períodos: Primeira Era, Era dos Deuses e Era Mágica.

Pouco se sabia sobre a tal Primeira Era, se comparado ao conhecimento das outras duas, mas todos tinham ciência do marco que fez a transição de uma Era para a outra: o desaparecimento dos três deuses principais — Astarte, Agni e Erébos.

Se sua dedução não era equivocada, o período que reencarnou só podia ser a Era dos Deuses, o tempo da convivência, nada pacífica, dos deuses com os humanos. 

Nessa época em questão, a humanidade não possuía muito controle sobre a mana como as outras raças, e nem desejavam controlar devido às suas crendices, por isso o seu poder “atrofiava” após os doze anos, devido ao desuso.

“Então fiz bem em não testar minhas habilidades aqui.” Era bem provável que a perseguição de Luminus era causada pelo poder em sua posse. “Mas esse corpo tá na idade que tem um fluxo de mana alto, preciso treinar isso escondido.”

Em Grain, Brain disse-lhe, na véspera da batalha contra a Besta Negra, que crianças com idade entre dez e doze anos possuíam um fluxo de mana maior, pois era naquela idade que o seu poder começava a desenvolver-se, por isso eram a comida favorita da monstruosidade que enfrentaram.

Outra cena invadiu-lhe a mente: a garotinha meio-humana contado-lhe sobre como as Armas Lendárias eram despertadas nos reencarnados de 2° e 3° Geração nessa idade específica.

“Caraca, parece que eu aprendi muita coisa ao longo desse tempo, mas agora não é hora de me distrair, eu preciso saber o que a Cecily quer.”

Sua olhada sorrateira foi percebida imediatamente pela divindade à frente, e era exatamente isso o que queria.

— Você não é um menino comum, sinto algo diferente vindo da sua aura, mas não consigo dizer o que é… — a deusa aproximou-se e o examinou de perto, talvez sua presença foi modificada após a viagem no tempo, algo ótimo para ele.

— E você também é bem estranha, que negócio é esse de invadir a casa dos outros sem permissão?

— I-Iolite! 

A irmã Daisy não sabia exatamente como agir, suas pernas belas, porém trêmulas, demonstravam a sua falta de experiência naquelas situações envolvendo deuses.

— Então, o seu nome é Iolite? Hmm, interessante. Diga-me, Iolite, por que está tão arisco em relação à minha presença? Não lembro de nos encontrarmos antes, mas desde o início você me encara com familiaridade.

Esqueceu-se das reações involuntárias e comprometedoras de uma criança. Em sua mente, pensou estar disfarçando bem, mas ficou óbvio para a deusa que Kurone possuía algo estranho, pelas suas caretas. 

— Você tá sendo mal-educada. Quem deve perguntar as coisas aqui são os anfitriões, né, irmã Daisy?

— E-eu?! Bem.. é…

— Viu só? — interrompeu movendo a mão com drama — Até a irmã Daisy concorda com isso, então você deve nos responder primeiro: o que você tá querendo aqui?

Um esboço de sorriso formou-se no canto da boca da deusa. “Que menino ousado”, dizia o seu semblante dizia. 

— Já que insiste, então vou dizer, mas não me culpe por não entender assuntos de adultos, pirralho atrevido. — Como se fosse a dona do local, Cecily tomou uma cadeira e sentou-se de maneira relaxada, encarando aqueles dois à sua frente com olhar de desafio.

— Eu estou atrás da menina chamada Luminus, acho que essa fala já criou barba pra vocês, não foi? 

Houve uma confirmação por parte da irmã Daisy, um gesto tímido com a cabeça seguido de um sorriso amarelo. 

Claro, ouviu que muitos tentaram fazer mal à garotinha que no futuro seria chamada de “Rory”, e Loright sempre esteve lá para afugentar todos que ameaçavam aquela criança, mas o problema era que, daquela vez, o seu inimigo seria uma deusa.

— Seu olhar diz que isso não é suficiente, não é mesmo? Mas não tenho problema em dizer, afinal era isso que eu diria para a freira aí do lado mesmo. Luminus tem um poder que me interessa, então preciso dela.

— Você não vai levá-la! — a irmã Daisy ergueu a sua voz repentinamente, algo inesperado por todos naquela sala, devido à sua presença submissa.

“Parece que o negócio muda quando é a Luminus que tá envolvida, mas a irmã não tá passando muita credibilidade com as pernas tremendo igual vara verde.”

— Nossa, você me assustou agora, — suspirou Cecily, com deboche — então essa é a verdadeira face da irmã Daisy? Eu já estava começando a achar que era mentira quando ouvi falar das figuras que você já confrontou à altura. Contudo…

Em instantes, o cenário moveu-se, essa foi a impressão de Kurone, até perceber a verdade: foi o seu corpo quem fez um movimento inesperado.

Com um simples mover de dedos, Cecily conseguiu prendê-los no chão.

— Não se preocupem, é um feitiço simples que serve para fazer os mais fracos se submeterem a mim.

Talvez essa deusa estivesse acostumada a lidar com pessoas pacíficas e medrosas, por isso não esperava que aquele garotinho loiro iria revidar.

Não era a sua intenção tentar usar as suas habilidades sem testar antes, mas não tinha outra opção, por isso fechou os olhos e buscou aquilo que sempre esteve dentro da sua cabeça: o seu Inventário Interno.

Tudo à sua frente era escuridão, temeu não ter mais acesso ao seu mundinho particular, mas uma ponta de luz surgiu no fundo do poço.

Sem perder tempo, materializou um dos seus revólveres, tomados de Clay Alyson, e apertou o gatinho.

A deusa mal teve tempo de reagir, apenas saltou ao sentir a ardência da bala perfurando a carne da sua perna.

O grito da irmã Daisy foi maior que o de Cecily, a mulher no chão quase desmaiou ao ver o sangue espalhando-se pelo chão de madeira velha.

Kurone não sentiu qualquer remosso ao fazer aquilo, a Cecily que conhecia era a do futuro, com uma personalidade idiota, aquela à sua frente ainda não era aquela deusa, logo a trataria como uma inimiga desconhecida.

Grrr… eu não imaginei que encontraria alguém que sabe usar a mana aqui… mas essa arma… você não é um menino normal, não é mesmo?

Cometeu um erro ao revelar sua Arma Lendária para a divindade, mas não tinha outra opção, habilidades como o Fogo Infernal eram ariscadas, ainda precisava saber qual era o seu limite.

Seu corpo estava pronto para disparar novamente, mas ao senti-lo mais leve, parou por um momento. “Ela me tirou do feitiço?”

Cecily pôs a mão sobre a parte ferida e, em um passe de mágica, tanto a pele quanto o pedaço da armadura foram restaurados.

“Deve ser uma habilidade como aquela da Hyze, de voltar as coisas que toca no tempo. Porra, esses usuários de magia temporal são roubados pra caralho.”

A reação da deusa com o pé recém-restaurado foi diferente da que imaginou, mas sentiu-se aliviado ao constatar a ausência de hostilidade, apesar do deboche manter-se em sua face.

— Creio que vocês não tem muita escolha. Se eu não levar a Luminus pacificamente, aquele outro ser vai destruir tudo aqui e levar ela a força, isso se não matar a menina primeiro, ninguém consegue entender aquela aberração.

Sentiu um arrepio na espinha familiar e o coração acelerou instintivamente ao escutar aquilo, mesmo sem a deusa citar o nome, sabia a quem ela se referia, mas queria confirmar — torcia, silenciosamente, para que estivesse errado.

— D-de quem você tá falando?

— Azazel, Azazel van Elsie, a Presidenta do Inferno.



Comentários