Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 5

Capítulo 225: A Cecily Do Passado

Imaginou que Luminus não fosse tão forte naquela época, mas estava enganado, aquilo era um estilo de luta totalmente diferente daquele que “Rory” utilizava.   

Sim, a base era a de uma verdadeira arte marcial, quase não via aberturas e os pés dela estavam enraizados, mesmo um lutador de grande porte teria dificuldade para movê-la. Por que a Luminus do futuro não lutava daquele jeito? Preferia ser irresponsável para acentuar seus traços delinquentes? 

— Regra número um do estilo de luta do Grande Ancião: mantenha seus pés sempre enraizados e as mãos protegendo a sua cabeça. Sempre proteja a cabeça!

Quando ensinava, ela tinha um ar de professora, mesmo nervosa por essa parecer a primeira vez que lecionava o seu estilo de arte marcial a alguém, provavelmente estava imitando o seu mestre, o suposto Grande Ancião.

Kurone ajeitou a sua postura e encarou essa criança de força incomum.

Esse era um estilo de luta assustador, a postura lembrava muito o Wing Chun, mas todos os golpes e defesas focavam na cabeça, Luminus explicou que havia ataques para todos os ângulos daquela parte tão sensível do corpo, os mais letais eram aqueles focados no queixo e na têmpora.

— Por isso você deve fortalecer cada parte do seu corpo, para não sentir dor quando alguém atacar elas.

— Acho que você tá exagerando, vai ser fim de jogo se alguém me der um chute no saco.

— Então treine a resistência do saco!

Ficou em silêncio por alguns instantes, pensou que talvez Luminus não tivesse entendido o que disse, ela era muito inocente. “Mas não tenho outro mestre por enquanto, então vou aprender esse estilo, posso usar o treino do Lado Shi para treinar golpes extras.”

Por sorte, o corpo de criança era bem flexível, ainda sentia uma ardência infernal dos exercícios de força, mas conseguiu fazer uma posição semelhante à de Luminus e ficou em frente à garotinha.

— Vamos começar com algo bem básico, eu vou dar um soco na direção da sua cabeça e você vai defender.

Parecia algo simples, como o treino de uma aula experimental de karatê. Aprendeu com o Arquifeiticeiro Grau 10 que bastava acompanhar o movimento do ombro do adversário para saber a posição do braço.

Mas aquilo não funcionou.

Em um piscar de olhos, o braço fino e pálida da garotinha já estava em seu campo de visão.

Hein…? — Ela parou o ataque há poucos milímetros de tocar a sua testa, mas sabia que doeria muito se fosse atingido por aquele golpe.

— Foi rápido demais para você? — provocou a garotinha, com um sorriso nervoso, ela ainda precisava regular a sua força para treinar com um principiante. — Foi o irmão Loright que me ensinou a parar o golpe antes de machucar. Vamos tentar de novo.

Precisaria de muita concentração para acompanhar o braço rápido de Luminus, por isso afunilou a visão e focou totalmente naquele treino.

— Luminus! O que aconteceu com ele?! — perguntou a irmã Daisy, preocupada ao ver Kurone sendo carregado nas costas pela garotinha.

Estava exausto, contudo conseguiu defender dois ataques de Luminus, foi um grande avanço, apesar de saber que ela provavelmente pegou leve naqueles golpes.

“Que sentimento nostálgico…”, pensou, aproveitando o balanço da carona. Lembrou-se do primeiro dia no mundo de Niflheim.

Assim que foram reencarnados, Kurone e a garotinha delinquente tentaram invadir a vila de Grain, e, em determinado momento, o jovem precisou ser carregado pela companheira nas costas. “Sempre tão forte…”

Após levá-lo ao dormitório, Luminus desceu com a irmã Daisy. Os dormitórios eram mistos devidos à situação do orfanato, e a cama de Kurone era bem ao lado da de Luminus, mas, naquele momento, apenas ele estava no cômodo.

De barriga para cima e encarando o telhado encardido de madeira, começou a meditar, torcendo para que seu corpo se recuperasse da fadiga logo, logo.

“Aqueles velhos me fizeram pensar que Luminus é alvo de muita coisa por causa do poder dela… não posso deixar ela sozinha, mas Hyze disse que meu foco precisa ser o Loright. Se eu olhar o Loright, nada de mau vai acontecer com a Luminus?”

Recentemente, começou a sentir algo ruim no ar, e aquele sentimento era familiar, sabia o que era: o dom de detectar a presença. Seu corpo era o de uma criança naquele momento, então aceitou que seria comum despertar habilidades a qualquer momento.

“Mas esse sentimento… eu preciso conhecer melhor o campo de batalha, e isso não vai acontecer se eu ficar deitado só porque meus músculos tão ardendo.”

Decidido, saltou da cama e preparou-se para explorar ainda mais. Se Annie estivesse ali, certamente reclamaria da imprudência do jovem. “Só dessa vez!”

Durante o dia, o local era silencioso, a maioria das crianças estava na área de recreação, e a única pessoa ali era a irmã Daisy. Seria suspeito iniciar uma conversa repentina com a mulher, afinal era uma criança que supostamente chegou ali recentemente, mas não tinha outra opção.

Esgueirando-se, vasculhou o lugar. Esqueceu-se de algo crucial: não sabia aonde a irmã estaria. Talvez existisse um escritório ou algo assim, mas demoraria até encontrar… foi isso que pensou, mas um par de vozes reverberou pelo ar do local.

O piso de madeira velha não era confiável e provocaria barulho no menor dos descuidos, por isso Kurone seguiu com o máximo de cautela para a origem das vozes.

O lugar em questão era um quarto pequeno, com a porta um entreaberta — provavelmente ninguém esperava que houvesse um espião ali, naquela hora.

Ainda em seus passos delicados, aproximou-se da parede e encostou o ouvido para escutar melhor o que conversavam dentro daquele quarto.

Bastaram poucas palavras para descobrir a identidade daquelas dialogando: a irmã Daisy e o jovem Loright.

— … Queria poder te dar mais que isso, Loright, mas a nossa situação não permite, então só poderei contribuir com isso — disse a irmã.

Fico agradecido, irmã Daisy, vou comprar a melhor espada que eu encontrar com esse dinheiro.

O diálogo estava em seu fim, contudo Kurone conseguiu captar a essência de tudo: a mulher religiosa dava dinheiro para o jovem comprar uma nova arma. 

Mas precisava de mais contexto.

Por que Loright necessitava de uma espada? Ele sabia de algo que poderia prejudicar o orfanato ou a própria Luminus?

Ao escutar o som de passos indo em direção à porta, correu para a saída. As únicas pessoas que lhe dariam mais contexto sobre a situação seriam um daqueles dois, por isso decidiu apostar na mulher.

Bastou Loright deixar o local para ele esgueirar-se novamente e seguir em direção ao escritório. 

Como iniciaria o diálogo?

Não quis ficar pensando muito e, após prender a respiração, adentrou a sala, assustando a irmã que arrumava alguns papéis.

Ah, Iolite, precisa de algo? Você devia estar repousando — falou a mulher, com um tom de voz gentil.

Parecia que todos naquele lugar eram boas pessoas, sentia até ódio ao imaginar alguém querendo prejudicá-los.

— Eu… bem… eu queria saber se você não precisa de outro vigia! Sim, você não precisa me pagar, a Luminus me contou que os arredores andam bem perigosos recentemente…

— Puxa, a Luminus não devia ficar assustando os outros assim — a irmã aproximou-se com o seu sorriso doce e tocou os cabelos loiros de Kurone. — Não se preocupe, não vai acontecer nada ruim, o Loright está nos protegendo, e o nosso orfanato é guardado pelos nossos deuses…

A irmã Daisy mal tinha terminado de falar quando um barulho incomum invadiu a sala, seguido de uma presença esmagadora.

Mesmo a detecção de presença fraca do garoto captou o quão poderosa era aquela presença, mas havia algo estranho: seu subconsciente lhe dizia, de certeza, que era impossível ser a aura de Azazel van Elsie.

— Iolite, saía daqui e volte ao dormitório! 

As palavras da mulher entraram em um ouvido e saíram pelo outro. Aquele novo corpo podia ser fraco, mas não abandonaria alguém preciosa para Luminus, ainda mais se fosse uma pessoa tão gentil quanto a irmã Daisy.

A base assumida pelo garoto foi aquela aprendida com Luminus, ainda não fazia perfeitamente, mas conseguia proteger razoavelmente a cabeça.

Passos e mais passos ecoaram.

A irmã Daisy possuía um nervosismo claro em seu semblante, mas a sua postura dizia algo como “é alguém irritante, mas não é nosso inimigo.”  Talvez fosse um político ou alguém influente que oprimia a donzela?

Assim que a porta, já entreaberta, foi empurrada, a primeira coisa que visualizaram foi uma mão fina, mas revestida em uma manopla delicada, colorida com azul e amarelo.

Longos fios loiros, sobre uma silhueta esbelta, invadiram o local, roubando a atenção daqueles dois que há pouco conversavam. 

A postura da irmã Daisy mudou totalmente ao ver aquela figura, ela tremeu, não tinha reação, provavelmente não era a pessoa que esperava.

Quanto a Kurone… sua surpresa era por rever aquele rosto familiar, e também estava com medo, isso poderia deixá-lo em problemas, afinal aquela à sua frente era…

“A Cecily do passado!” 

E Cecily era a Deusa do Tempo.







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