Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 5

Capítulo 224: Iolite E Loright

O sentimento estranho não desaparecia, era desconfortável andar ao lado de alguém que tinha a sua aparência, na verdade, não era apenas isso, até o modo de agir e falar eram como os dele.    

— Então, você chegou aqui recentemente e já está se jogando na minha irmãzinha? — comentou Loright. — Desculpe, mas eu não vou entregar a Luminus para qualquer um, haha.

Kurone não abriu a boca desde que começou a seguir aquele jovem que tinha o rosto semelhante ao seu do futuro, Luminus ia em silêncio ao seu lado, encarando o suposto irmão com religiosidade.

— O que foi? O Sophiette cortou a sua língua? — disse Loright com um sorriso brincalhão, tocando o ombro do garotinho de cabelos loiros.

— Você também vive no orfanato? — Após recuperar-se do choque, questionou a Loright.

Ah, não exatamente, eu já sou velho para ser criado pelas irmãs, eu trabalho para viver aqui, sou segurança, fazendeiro e diversas outras coisas, ou seja, um pau para toda obra.

Apesar de parecer que trabalhava apenas para morar ali, Loright não parecia se importar com isso, aquele sorriso radiante não desaparecia do seu rosto bronzeado pelo sol.

O que levou aquele jovem a tornar-se o Vassalo da Morte exatamente? Sabia que era algo relacionado a perder Luminus, mas não via como esse evento ocorreria ali, Hyze poderia ter se enganado?

O passeio foi silencioso até certo ponto, mas a calmaria desapareceu quando um barulho incomum surgiu na entrada do orfanato.

Dali, podiam ver uma multidão revoltada.

— Droga, são aqueles velhos de novo, — murmurou Loright — eles vivem dizendo que é culpa do orfanato a falta de chuva… Evite sair do orfanato, esses velhos podem fazer coisas terríveis.

O que cercava todo o território do orfanato eram grades desgastadas pelo tempo, não seria difícil um homem saudável escalar por elas, mas havia algo ali que os mantinha daquele lado, algo que não conseguia entender o que era.

Seria um acordo? Superstições ou o próprio Loright que trabalhava como guarda do local?

— Vamos sair daqui, eles podem atirar pedras e laminas se nos notarem.

Naquele momento, notou que Loright agia como um verdadeiro responsável, não era de se impressionar que as irmãs do orfanato confiassem a ele tantos trabalhos.

Luminus e Kurone foram deixados na área de recreação e orientados a não se aproximarem do portão por algum tempo.

A área em questão era apenas um espaço de terra batida em meio ao gramado, as crianças corriam de um lado para outro por ali, enquanto outros apenas rolavam pela terra.

— O que você está fazendo? — Luminus indagou, curiosa, o balanço da cabeça quando ela falava com curiosidade era adorável.

— Tô me exercitando um pouco, esse lugar aqui é perfeito pra isso — respondeu o garoto.

O corpo de Kurone Nakano era totalmente modificado, com um braço artificial, coração demoníaco e mana infinita. 

Em contrapartida, aquele novo corpo, da criança que se autonomeou “Iolite”, era o de um garotinho comum, não sabia se ainda possuía a energia vital interminável, se não desenvolvesse pelo menos um pouco de músculos, seria morto em um instante por qualquer inimigo.

— Então você quer ficar musculoso como o irmão Loright?

“Acho que a Luminus tem um problema de visão nessa época, ela acha que aquele cara tem músculos?”

— Você pensou algo ruim de mim, não foi?

Ah, só tava pensando em como você ficaria se usasse um óculos.

— Óculos? O que você quer dizer com… 

— Que tal me ajudar aqui? Só precisa colocar algumas pedras em minhas costas quando eu pedir!

— Você está tentando mudar de assunto logo após ter pensado algo ruim de mim.

Aquele olhar de quem queria ler os pensamentos era conhecido, a garotinha do futuro que conhecia sempre o fazia antes de invadir a sua mente sem permissão, por sorte aquela menina não podia fazer aquilo.

Na verdade, havia outra saída do território do orfanato, um local desconhecido pelas crianças e pela maioria das irmãs.

Loright costumava sair por ali quando fazia suas rondas pelo lado de fora do orfanato, não podia confiar naqueles velhos religiosos.

“Parece que não tem ninguém por aqui, mas o que é esse sentimento ruim? Não devia haver mais demônios nesse continente.”

Algo que todos sabiam, mas ninguém falava, era o fato de Luminus ser um alvo, haviam diversos e diversos motivos para determinados grupos querê-la.

Os mais insistentes eram estranhos de algo chamado “seita da deusa Astarte” e os velhos agricultures que supervalorizavam suas antigas tradições.

Muitos tentaram tomar Luminus à força, contudo Loright sempre esteve lá para ajudá-la, por baixo daquelas roupas velhas e largas havia o físico de um guerreiro habituado ao campo de batalha.

— Devo parabenizar-lhe, seus sentidos são formidáveis, meu jovem. Mesmo sendo um humano comum, você conseguiu identificar a minha presença.

A voz provocou arrepios no corpo do jovem, ele buscou o mais rápido possível, mas só viu o dono dela após alguns segundos. 

Era um sujeito esbelto, à primeira vista parecia ser o mordomo de alguma casa nobre, mas a aura que o envolvia revelava a sua verdadeira identidade.

— Você é o jovem Loright, certo? Não estou em busca de confusão, apareci apenas para averiguar o cenário. Oh, onde estão os meus modos, não me apresentei. Sou Baal, seu humilde servo.

A única arma que tinha em posse era uma faca curta na cintura, usada normalmente para cortar algumas ervas-daninhas, seria suicídio encarar um demônio apenas com aquilo.

Loright podia parecer, além de fraco, um idiota, mas ele calculava os seus passos, o ser à sua frente não parecia querer briga e nem demonstrava sinais de quem desejava atacar o orfanato.

— É um homem sábio, jovem Loright, sabe quando deve ou não atacar, quando não envolve a sua irmã, por isso lhe darei um aviso: é melhor se preparar, pois a aura opressora que você vem sentindo não é a minha.

Com “aura opressora”, o demônio devia estar se referindo à sensação ruim atormentava o jovem naquele dia.

— Eu não vou agradecer…

Bastou um piscar de olhos para a figura daquele que se apresentou como Baal desaparecer sem deixar rastros.

— Droga, sinto que isso não é coisa boa.

Com o corpo mais jovem, Kurone conseguiu fazer quarenta flexões com duas pedras em suas costas.

Naquele momento, os músculos ardiam como o inferno e o peito subia e descia descontroladamente, percebeu ali que o seu novo corpo era realmente fraco.

Não tentou usar nenhuma das suas habilidades até aquele momento porque sempre estava com alguém do orfanato, e como não viu ninguém dali usando magia, decidiu guardar os seus testes para quando estivesse só.

— Você está bem?! Se-seu corpo está tremendo, eu não devia ter te escutado, essas pedras são muito pesadas! — gritou a garotinha, preocupada.

Um riso foi formado no canto da boca de Kurone, imaginou que, se fosse a menina que conhecia, Rory, ela certamente teria o chutado diversas vezes após chamá-lo de fraco.

— Não se… preocupa… eu… tô bem… só preciso de um tempo para me recuperar…

Aquilo não foi o suficiente para fazer Luminus relaxar, mas ela sentou-se e ficou encarando o garoto de respiração pesada.

— Não entendo muito bem o motivo de você fazer isso, crianças não deveriam se preocupar com músculos ou aprender a lutar, seria melhor você ler um livro…

Kurone não respondeu, queria economizar suas forças para se recuperar logo, por isso elevou a cabeça e encarou o céu.

“Ela ainda é bem inocente, não é, Nie? Nie… Ah, é mesmo, você não tá mais aqui. Pra onde você foi, sua deusa adorável?”

Era estranho não ter sua companheira ao seu lado, Annie sempre tinha um comentário bondosa, sempre tentava ver o lado bom de tudo para animar Kurone. Sentia falta da divindade, até mesmo das repreensões que ela dava quando o jovem tinha pensamentos pervertidos.

“Preciso ficar mais forte, eu sei por experiência que só tem gente roubada nesse mundo.”'

— Se você quiser… — Luminus começou de súbito — eu posso te ensinar um estilo de luta que eu sei.

— Por que isso tão de repente?

— É que eu vi você apertando sua mão com força quando eu falei sobre você não precisar aprender a lutar como um guerreiro. Você deve ter os seus motivos, então o mínimo que eu posso fazer é ajudar.

— E que tipo de luta você sabe? Não quero ofender, mas você não tem cara de quem luta.

Hmpf, eu aprendi muitas artes marciais em minha vila, com o Grande Ancião, e com o Loright também.

— Sendo assim, por que não mostra um pouco das suas habilidades? — desafiou Kurone, ficando de pé e entrando em sua posição de batalha.

Iria pegar leve com ela, achou que a garotinha só estava brincando sobre ser forte e tudo mais, mas se enganou ao receber um golpe que nem viu o momento, um chute rápido e preciso.

— O que… 

Não conseguia entender como aquele pé pequeno lhe golpeou com tanto força e velocidade, julgou o livro pela capa e estava pagando o preço. 

— Bem, fique de pé, Iolite, você disse que queria aprender a lutar, não foi? Então vamos — falou Luminus, com entusiasmo.



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