Volume 5
Capítulo 223: O Que Aconteceu No Presente
Tendo um vislumbre do passado, retornemos um pouco ao presente, segundos após Kurone Nakano ser mandado ao passado e o corpo de Hyze cair sem vida no chão da arena, logo antes da luta em Dart entre Teruhashi Nakano e Hime.
Um silêncio mortal tomou conta do ar da vila de Hyze, todos olhavam com horror para a cena — quem outrora fora a sua xamã não estava mais nesse plano.
O elfo de armadura negra certamente foi quem mais sofreu com tudo aquilo, mas juntou forças para andar e anunciar, com a voz firme, respeitando a vontade da sua mestra:
— A senhora Hyze está… morta e, segundo a sua vontade, a senhorita Lothus é a nova…
— Não! — a demônia Idaten ergueu a voz. — Não apenas Lothus, mas assim Asmodeus di Lothus.
Logicamente, os olhos dos elfos quase saltaram com aquela sentença, e não se limitou a isso, afinal a garota quis confrontar a ordem daquele mundo ainda mais.
O que estava em sua mão, o maldito objeto que pertencera a Asmodeus di Laplace, era uma Máscara Infernal, a marca que provava a afiliação do ser ao Conselho.
— Senhorita Lothus, o que você…
O elfo de armadura negra queria entender o motivo daquela mudança repentina da garota de cabelos castanhos, ela era sempre gentil e calma, sua rebeldia era sem fundamento…
Sem fundamento para quem não escutou o último diálogo entre ela e o garoto que voltou para o passado.
Os rumores sobre o novo Arquiduque do Inferno espalhavam-se como uma doença viral, no entanto Kurone Nakano ainda não era reconhecido oficialmente como um membro do Conselho.
Isso abria uma brecha para Lothus, que possuía uma Máscara e familiaridade com toda a hierarquia do Inferno.
Kurone entregou o objeto a Lothus exatamente para desafiar a ordem desse mundo, fazia parte do seu plano para destruir o Conselho do Inferno quando retornasse, faria de tudo para acabar com aqueles malditos, até mesmo fundar o seu próprio grupo.
Além de Lothus, o elfo de cabelos prateados de origem suspeita, Shirone Nakano, também possuía um título, apesar de não existir mais a patente de Margrave na hierarquia.
Por último, e não menos importante, havia a Besta Negra, um ser ancestral poderoso. Ao seu lado, Kurone Nakano tinha pessoas de poder avassalador, quando ele retornasse, faria um estrago no mundo.
“Tudo depende do que eu vou ver no passado.” Essas foram as últimas palavras que o garoto disse a Lothus, porém outra coisa perturbou a sua mente quando pensou naquilo.
Hyze dissera que os resultados da viagem ao passado apareceriam em instantes, no entanto tudo continuava igual… ou pelo menos foi isso o que imaginou.
Ao direcionar sua atenção para a arena, onde jazia o corpo de Kurone e Hyze, notou algo estranho vindo do corpo do jovem.
Um sentimento ruim tomou conta do seu corpo. Se estava certa, ele deveria ter retornado no tempo e adquirido o corpo de uma pessoa aleatória, não havia sentido conseguir se mover naquela situação.
Mas, antes que pudesse sinalizar ou verbalizar o seu pensamento, uma risada sádica chamou a atenção de todos.
O corpo de Kurone levantou-se como se fosse possuído por uma entidade maligna, vários dos seus ossos fizeram um barulho perturbador após ele ficar de pé, encarando com desprezo todo o cenário.
Havia algo diferente no semblante do garoto.
Os olhos, às vezes castanhos, outras, amarelados, estavam com um tom roxo reluzente, que pareciam “sugar” as tatuagens espalhadas pelo seu corpo.
Buscou a ajuda dos seus aliados, apenas para vê-los estáticos, aterrorizados de medo. Percebeu que para os orcs, não parecia ser a primeira vez que viam aquilo.
— A viagem no tempo… — balbuciou o elfo de armadura negra — a viagem no tempo falhou, Hyze morreu em vão! Ele não conseguiu!!
Desespero e fúria eram nítidos na face daquele elfo, a xamã era como uma mãe para ele, o sentimento de aceitar que ela entregou a sua vida em vão era horrível.
Um rugido que dizia “maldito!” ressoou antes que Lothus fizesse qualquer coisa. O jovem foi imprudente e nem sequer se deu ao trabalho de sacar sua lâmina.
Uma das características da adrenalina era fazer o sujeito afetado ficar irracional, e foi isso que aconteceu com o jovem elfo, ele deu um soco com toda a sua força sem pensar duas vezes, e só recobrou a sanidade após escutar o barulho de metal amassando e a mão ardendo.
Outro motivo de espanto.
O corpo de Kurone Nakano segurou o punho explosivo como se não fosse nada e, se não bastasse, amassou a manopla negra, que aparentava ser bem resistente.
— Que criatura tola, — a voz sombria causou arrepios nos presentes — achou mesmo que apenas sua fúria seria suficiente para me ferir? Não seja patético, não estamos em um conto de fadas.
Não havia dúvidas, o que habitava o corpo jovem não era Kurone Nakano, mas sim o ser maligno que devia ser derrotado no passado: o Vassalo da Morte.
O Vassalo puxou o jovem elfo e o jogou no chão como um pedaço de qualquer coisa, sem se dar o luxo de conferir se ele não tentaria atacar novamente.
As manchas roxas, outrora tomando conta da pele de Kurone, desapareceram, ou melhor, foram expelidas para o chão, formando um grande círculo mágico no mesmo local que Hyze fizera o seu para ativar Heth, o Arcano do Tempo.
Os caracteres negros, distribuídos ao redor do círculo brilhando em roxo, formavam a palavra “AZRAEL”. Após aquilo girar duas ou três vezes, o Vassalo sorriu.
— Nem mesmo vocês conseguiram me impedir, isso é patético, eu avisei, o único jeito de purificar este mundo é por meio da força. Vou destruí-lo, e em seguida vou destruir todos aqueles outros que estiverem ao meu alcance, não restará pedra sobre pedra.
Seguido das palavras, um raio surgiu do círculo mágico aos pés daquele ser maligno e subiu só céus, espalhando trevas ao explodir como fogos de artifício.
Aquilo fez o próprio Monarca do Oriente tremer em seu trono.
Suas concubinas e esposas ajoelhavam-se e pediam clemência a diversas divindades, mas a escuridão só se alastrava cada vez mais pelo ar.
— Mensageiro! Mensageiro! Consiga uma daquelas magitelas ou
traga o Arquifeiticeiro o mais rápido que conseguir, isso não é um bom sinal!
— Espero que aqui não seja o que eu estou pensando… — murmurou Lou Souen, ou melhor, Lou Xhien Eiai, ao ver o mundo sendo coberto pelo manto negro.
A nova rainha das ilhas das garotas artificiais não queria acreditar que o jovem que depositou a sua confiança falhou em sua missão.
E não acreditaria nisso até ver o mundo sendo destruído pelo próprio Vassalo da Morte.
— O mestre vai ficar bem, tenho fé nele — comentou Bramman, o orc especializado em luta à curta distância.
Tanto ele quanto o seu parceiro, Bhor, o orc arqueiro, colhiam alimentos das plantações perto da praia quando notaram aquele espetáculo.
Lou Xhien Eiai suspirou. — Reúnam os orcs, sinto que teremos uma longa batalha pela frente, não apenas com os demônios ou o Vassalo, Kurone está do lado que é considerado um perigo.
— O que tem a dizer a respeito disso, Baal? — comentou Azazel van Elsie, ela não parecia assustada com o céu sendo engolido pelas trevas, seu rosto era adornado por um sorriso incomum.
— É algo que a senhorita não calculou, senhorita Azazel?
— Alguém está brincando com fogo. Tanto a Voz do Mundo quanto esse acontecimento são resultados de mudanças no destino, chuto que dessa vez foi Hyze, não imaginei que aquela velha tivesse coragem de sacrificar a própria vida.
Apesar de aparentar se divertir com a situação, Baal mais do que ninguém sabia que esse era um dos raros momentos que a sua mestra estava furiosa.
Ela odiava quando mexiam no seu playground.
— Baal, ele virá atrás de nós, acho que vou me exercitar um pouco, não posso fazer feio para o nosso velho amigo. — Ela levantou-se, provavelmente ia para a arena, levando consigo tanto a Falx do Ceifador quanto o Orbe Amarelo. — Ah, parece que você depositou muita fé naquele garoto, duvido que ele faça algo a respeito disso.
Baal apenas sorriu, mas após a demônia deixar a sala do trono que pertencia à família real de Andeavor, verbalizou o que guardava:
— Em minha opinião, esse será o evento perfeito para Loright al Mare mostrar sua verdadeira face, sua aberração.
No telhado do maior prédio da cidadela, as orelhas de uma garotinha travessa balançavam de um lado para o outro.
— Nyah! Parece que alguém está tentando competir com o meu último espetáculo — murmurou Kawaii Kyuto.
Dali, ela podia ver a escuridão tomando conta de todo o mundo, assustando os jovens reencarnados que treinavam na arena.
— Nyah, acho que vou reunir alguns meninos, por precaução, vai ver tem dedo da van Elsie nisso…
O sinal no céu também atingiu um cenário conhecido: o fim da luta da Dama da Lâmina Cega contra o Demônio do Oriente.
As duas garotas olhavam aterrorizadas para a figura das pessoas que deveriam ser Alan e Ari.
Segundo a bruxa Ana, os dois eram aventureiros pobres que viviam como moradores de rua, então, como eles podiam estar ameaçando Teruhashi e Hime nesse momento?
— Não temos tempo a perder, assuma a condução da carruagem, e você vem com a gente também — ordenou Alan, apontando para Hime.
Teruhashi não sabia o motivo, mas sentia um misto de conforto e opressão desse garoto. Ela decidiu não reagir e apenas pulou no assento de cocheiro.
A sacerdotisa suspirou ao ver a outra obedecendo sem reclamar, relutantemente, ela entrou no fundo da carruagem. Alan e Ari iam na parte de cima do veículo.
Os olhos curiosos dos moradores e visitantes de Dart acompanharam a carruagem com tripulantes incomuns indo na direção da floresta de Hyze, a origem das trevas.