Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 5

Capítulo 221: Demônio Do Oriente E Dama Da Lâmina Cega

Para chegar a Dart, a cidade fronteiriça, Teruhashi Nakano, O Demônio do Oriente, gastou quase uma semana. 

Era um incômodo viajar nessa velocidade, mas não podia pegar os atalhos perigosos de sempre, pois Ari e Alan, companheiros da bruxa Ana, estavam ali também.

Nakano deixou as terras de Sophiette com a desculpa de que faria uma visita rápida a Dart para comprar suprimentos raros no ocidente e conseguir novos aliados, contudo o seu verdadeiro objetivo era uma única coisa: encontrar Hime, a Heroína Ádvena.

Confiou a Hime e às sacerdotisas de Lou Xhien o papel de cuidarem do corpo de Kurone, tinha fé que a medicina do oriente podia realizar o milagre de curá-lo, mas após escutar sobre o jovem que derrotou o Arquiduque Asmodeus di Laplace, percebeu o erro cometido.

A mente da sacerdotisa de cabelos loiros era dominada pela vingança, ela estava disposta a arriscar quantos inocentes fossem necessários para destruir os Heróis Ádvenas.

Se essa mulher, conhecida como a “Dama da Lâmina Cega”, usou o recém-curado Kurone Nakano para ajudar em sua vingança, não hesitaria em matá-la, tirou o irmão de perto de Sophiette exatamente para ele não se envolver mais com os problemas desse mundo.

Lao Shi dissera que vira Hime indo para Dart, aquele homem não era confiável, mas se tinha uma coisa que poderia acreditar, essa coisa era o desejo dele de ver aliados fortes lutando entre si.

Tanto Hime quanto Teruhashi foram alunas do Arquifeiticeiro, apesar de ser uma Notável e a Dama da Lâmina Cega não poder usar o fio da sua espada, sabia que a sede de vingança dela não podia ser subestimada.

Dart não era uma cidade muito grande, mas, como o Japão da Terra, possuía uma população enorme, a prova disso era a praça repleta de pessoas à frente.

Pensou que encontrar Hime ali seria como procurar uma agulha no palheiro, e já que estava do lado de Sophia na guerra contra Azazel van Elsie, não podia destruir tudo como sempre fazia. Enquanto refletia, notou uma movimentação estranha no segundo portão de entrada da cidade-fronteira.

— Ari, Alan, me esperem aqui, vou ver o que é aquilo. — Ela olhou para os dois jovens, pareciam dois coelhos assustados, provavelmente era a primeira vez deles em uma cidade movimentada como essa. — Não falem com ninguém estranho ou façam contato visual até eu voltar.

Um sorriso discreto apareceu em seu rosto, lembrou-se de quando fazia recomendações como essas para o seu irmão, no Japão. 

[É assustador te ver sorrindo, você tem um complexo de irmão pesado.]

“Já mandei você ficar de boca fechada, Kastella, preciso mesmo falar sobre o que você pensa da Elisabella?”

Era um incômodo dividir sua mente com outra pessoa, ainda mais com alguém de personalidade passiva e gentil, contudo Kastella Andeavor era a verdadeira dona desse corpo, Teruhashi Nakano era a invasora que um dia acordou nele e assumiu o controle.

A fim de abrir espaço, o Demônio do Oriente empurrava todos à sua frente, seu corpo possuía uma aparência frágil, mas por baixo das roupas nobres estavam músculos bem definidos, resultados de anos de treinamento intenso.

— Ei, vadia, olha por onde anda… Argh! — um aventureiro com aparência clichê de delinquente, que mal valia o esforço da narração, foi silenciado por um único golpe de cotovelo da garota, os outros que viram a cena deram espaço para ela passar, com a cabeça baixa e as pernas trêmulas.

[Acho que vi alguns dentes daquele homem rolando pelo chão…]

“Assim ele aprende a ser mais educado.”

— Ei, você, — Teruhashi apontou para um homem que parecia ser um guarda descansando — o que está acontecendo ali na frente?

Ah, são carruagens com o brasão do Monarca do Oriente, não se aproxime muito, tem alguns guardas mal-encarados lá. Parece que alguns protegidos do governante estão no comboio.

O Monarca do Oriente era alguém ligado a Lao Shi, Hime também era… o Arquifeiticeiro não deu a sua dica por nada, Hime certamente estava em uma das carruagens, porém atacá-los significava confrontar o governante, e como Nakano estava do lado de Sophiette, podia acabar criando muitos conflitos.

[Teruhashi, pense na Sophia, ela vai ter problemas se você fizer isso…]

“Quantas vezes eu tenho que te dizer, Kastella? A única coisa que importa para mim…”, o Demônio do Oriente apoiou os pés no chão com força e, com um impulso, saltou sobre a multidão à frente, “... É o meu irmão, Kurone Nakano.”

As pessoas olharam para o alto com espanto. Em poucos instantes, Teruhashi Nakano estava bloqueando o espaço que os outros deram para que as carruagens pudessem passar.

— Tirem aquela garota dali — ordenou um dos guardas da vanguarda, com a aparência típica de um personagem que só servia para o mais forte testar sua força.

Teruhashi suspirou ao sacar sua espada, esses homens não passavam de lixos sem técnica para ela, por mais que os pobres cidadãos pensassem que eram guerreiros de elite apenas por usarem o brasão do Monarca em seus peitos — um idiota com aparência de sábio ainda era um idiota.

Em um único movimento que criou uma corrente de ar violenta, o guarda que gritou foi arremessado para trás, junto aos três companheiros que ficaram ao seu lado. 

— Hime! Eu sei que você está aí, apareça, desgraçada! — Teruhashi cerrou os olhos, sabia que a pessoa que buscava era traiçoeira, a vida obrigou-lhe a se tornar para suprir a sua falta de poder ofensivo. — Eu confiei ele a você, como ousa arriscar a vida do meu irmão?!

A multidão ao redor se tornaram espectadores assustados, eles ainda estavam ali porque viram que Teruhashi não pretendia atacá-los, mas isso não garantia que podiam ser atingidos por golpes poderosos.

Imaginou ter que destruir carruagem por carruagem até o seu alvo decidir se revelar, mas enganou-se. Sua atenção foi direcionada para o veículo com a porta abrindo vagarosamente. 

Um pé após o outro, calçados em sandálias de madeira, tocaram o chão de terra do local. Após fechar a porta de madeira com cuidado, Teruhashi pôde ver a figura da mulher que buscava.

Um silêncio mortal tomou conta do ar naquele momento, o Demônio do Oriente e a Dama da Lâmina Cega encaravam-se mortalmente, todos sabiam que o menor movimento ali indicaria o início de um combate voraz.

— Nakano… como você mesma sempre diz, todos têm as suas prioridades… a minha é mandar Lyllo e seu grupo de falsos heróis para o inferno — Hime falou em um tom sério, seus olhos demonstravam que sentia um pouco de culpa, mas não se arrependia dos seus atos.

— Entendo, então, essas serão as suas últimas palavras, não é?

Tudo aconteceu tão rápido que alguns dos espectadores soltaram um gemido de medo. Em um instante, Hime e Teruhashi encaravam-se, no outro, já estavam frente a frente, uma brandindo a espada contra a outra.

Os movimentos aprendidos com os mesmo mestre e os ganhados ao longo dos anos misturavam-se nesse combate de velocidade, apesar de não conseguir usar a lâmina da sua arma, Hime conseguiria apagar a oponente com estocadas pesadas.

Os ombros do Demônio do Oriente estavam sempre erguidos, prontos para proteger o seu queixo, lembrava-se das lutas simuladas com a oponente, ela sempre buscava um nocaute com um golpe lateral no queixo.

Do mesmo modo, Hime deixava a espada longa baixa e ereta, sabia que o modo favorito de Teruhashi para incapacitar o seu inimigo era um golpe rápido no plexo solar com o punho da sua espada.

A força não era tão importante quando uma conhecia as fraquezas da outra, elas treinaram juntas por um tempo considerável, seus estilos de luta tinham muitas semelhanças, porém havia o toque demoníaco e heróico que acrescentava o diferencial neles. 

— Você está exagerando, Nakano, o seu irmão é forte, com todo aquele poder ele…

Teruhashi não tinha a menor intenção de escutar essa mulher, ela cravou o pé no chão e, fechando as duas mãos com um gesto rápido, lançou uma corrente de ar voraz na direção da oponente.

Hime flexionou os joelhos e usou a espada para proteger o seu centro, mas como foi obrigada a fechar os olhos por conta da poeira levantada, deu espaço para a aproximação da inimiga.

A sacerdotisa só pôde fechar os olhos com força para suportar o ataque explosivo de Teruhashi, que a arremessou em direção à última carruagem do comboio. Mesmo nessa situação, ela fez sinal para que nenhum guarda se aproximasse.

— Se eu não conseguir te derrotar aqui… não serei capaz de me vingar daqueles desgraçados que tiraram tudo o que eu tinha… — Hime falou, forçando o seu corpo a ficar de pé com o restante de forças que tinha.

Era impressionante, raramente alguém conseguia ficar de pé após o soco roubado do Demônio do Oriente. 

Teruhashi entrou em posição de combate mais uma vez, no entanto, não apenas ela, mas Hime e todos os espectadores olharam para o céu com uma expressão de medo. Todo o cenário tornou-se sombrio, como se alguém tivesse ligado o modo noturno de repente.

— Que diabos…

Porém, o que mais atraiu a atenção de todos não foi a coloração macabra do céu, mas sim a risada fora de lugar vindo de algum lugar na multidão. 

Com medo, as pessoas afastaram-se da origem do barulho, Teruhashi imaginou que era algum tipo de louco que pregava sobre os fins do tempo, talvez estivesse feliz com o sinal, mas enganou-se, deixou um suspiro escapar ao ver quem era o responsável pelo som desagradável.

A origem da risada era conhecida: a carruagem que ela usou para chegar em Dart, e acima dela estava também duas figuras familiares: Alan, o jovem espadachim loiro, e Ari, a tímida arqueira que não tinha nenhum resquício de vergonha nesse momento.

Pela primeira vez depois de tanto tempo, o coração de Teruhashi Nakano bateu acelerado, isso tinha cara daquelas cenas em que o personagem quieto revelava-se como o vilão da história.

— Parece que começou, o renascimento do Vassalo da Morte na floresta de Hyze! — anunciou Alan, com uma expressão de quem já sabia o motivo do céu ter mudado de cor. — Nakano, o Demônio do Oriente, preciso da sua força para matar aquela monstruosidade. — Ele apontou para Teruhashi.

Ela não entendeu muito, não podia dizer se ele era amigo ou inimigo, mas algo na maneira do garoto a fez aceitar ajudá-lo sem pensar duas vezes.

— O plano de voltar no tempo falhou, está pronta para agir? — ele perguntou a Ari, ao que ela respondeu com um aceno firme de cabeça. — Então vamos lá, Nie

 



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