Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 4

Capítulo 220.4: (SS) Dever De Um Sophiette [4/6]

O primeiro andar da masmorra parecia uma grande feira, não era muito diferente da que viu na vez que visitou Fallen. Havia barracas espalhadas por todos os lados, os produtos vendidos nelas eram variados, desde lembrancinhas a armas e mapas.

— Não há monstros nesse lugar? — observou Elara. 

Sophia tinha a mesma dúvida, lera nos livros de história que os pisos das masmorras tinham a capacidade de gerar novamente os monstros mortos.

Ninguém tinha uma explicação clara para esse fenômeno, mas a teoria mais aceita era que havia círculos mágicos com magia de invocação em algum lugar nos calabouços.

— A guilda mantém a aparição dos monstros sob controle. Olhem ali. — A secretária de Eliezer Sophiette apontou para um grupo de jovens. — São os responsáveis pela segurança, são aventureiros de rank baixo, já que monstros do primeiro piso são fracos.

— A guilda pode customizar sua masmorra como quiser, porém a de Galden é uma das únicas que leva a customização tão a sério — complementou o tio de Sophia. — Vocês vão ver.

Não demorou para que as crianças da universidade gastassem um pouco da fortuna de seus pais em bijuterias inúteis, mas a jovem Sophiette não podia reclamar da perda de tempo, afinal ela foi a primeira a comprar uma enciclopédia de monstros da masmorra.

— Vo-você gosta desses livros? — questionou o tímido Aqua, o garotinho também possuía um exemplar em mãos.

— Sim, meu passatempo é ler todo o tipo de livro, mas o que mais chama a minha atenção são esses que falam sobre o nosso mundo.

— S-sim, também penso a mesma coisa, conhecer sobre o nosso mundo é fundamental… eu sempre me interessei neles, mas não tinha acesso a eles na minha casa.

— Não têm livros no oriente?

— N-não é isso… minha família prioriza a força física acima de tudo, então nunca tiveram interesse em livros, eu só fui mandado para cá com único o objetivo de me tornar um mestre em esgrima.

Sophia deixou um suspiro escapar, entendia bem o que era pressão familiar. Se sua mãe e Eliezer fossem como os pais de Aqua, certamente já teria fugido de casa, odiava fazer o que não gostava.

“Agora mesmo o tio Eliezer quer me fazer usar minha espada, mas não vou fazer os gostos dele!”

Os olhos da nobre se viraram para o filho do marquês Soul Za inconscientemente, sua promessa de não usar a força era esquecida quando via a figura do nobre, seu tio fez realmente um movimento sujo.

— Naturalmente, acessórios como estes realçam a beleza de beldades como nós — falou Elara, seu ato fez a nobre dar um salto, tocando o objeto em torno do pescoço.

A garota narcisista colocou um colar no pescoço de Sophia, foi um ato tão inesperado que a jovem demorou para processar o que aconteceu.

— Fique grata, é um presente de vitória antecipado, líder do clã Sophiette.

— Não tem um para mim também? — Lysandra, a serva da jovem mestra narcisista, questionou com um sorriso gentil.

— Certamente não… — Elara respondeu com um olhar suspeito direcionado ao busto da garota de cabelos curtos prateados. 

Ehhh? Que maldade, mestra! É por causa deles? Não precisa ter ciúmes, os seus também vão crescer.

— Como ousa!?

Sophia deu uma risada discreta. Apesar de terem personalidades fortes, todos tinham aparência de boas pessoas. “Quero dizer, todos exceto…” 

Os olhos da nobre miraram o garoto sombrio encarando a barraca de mapas. Ainda não sabia o nome dele e provavelmente não descobriria tão cedo.

— Certamente todos já devem ter explorado o piso — começou Eliezer Sophiette, chamando a atenção de todos. — Não se preocupem, vocês terão a oportunidade de comprar mais lembranças quando terminarmos a exploração.

— Irei lhes explicar as regras — continuou andando em direção ao fim do piso. — Vocês terão três horas para explorar a masmorra, o objetivo é coletar o máximo de itens de monstros e baús escondidos. O roubo de itens é permitido.

Os três grupos acompanharam o homem. A última regra deixou um gosto ruim na boca de Sophia, um trapaceiro como Edward Soul Za certamente se aproveitaria disso para ganhar a competição.

— Ei, aquilo é… — Cedric, o delinquente, balbuciou com o dedo apontado para a passagem estreita à frente.

— Deve ser outra das “customizações” que o senhor Eliezer falou… — respondeu Lysandra.

O que estava em frente aos estudantes da universidade de Nova Canaan era um quarto apertado, parecia ser o fim da linha, qualquer um diria que essa masmorra tinha apenas um piso, porém os jovens nobres logo entenderam tudo.

Era um mecanismo que estava em ascensão, construído por algum dos gênios que apareciam vez ou outra pelo ocidente, chamavam a invenção de “elevador”, devido ao alto custo, apenas grandes construções conseguiam instalá-lo, como a unidade de ensino das crianças.

— O elevador vai nos levar ao quinto piso, um nível perfeito para suas habilidades, como ele só pode suportar um grupo por vez, vamos escolher na sorte qual será a ordem — explicou Eliezer tirando alguns palitinhos do bolso.

O quinto piso não seria um problema para o grupo de Sophia, ela podia ver que todos eram fortes mesmo não sabendo suas Classes ou quais habilidades possuíam.

— Não baixem a guarda quando chegarmos lá embaixo, se o Edward for na nossa frente, com certeza ele com certeza vai deixar armadilhas nos esperando.

Os cinco membros concordaram com a cabeça.

Infelizmente, altos atributos de sorte não eram a especialidade dos Sophiette, Sophia ficou em último lugar, justamente o que não queria, dar vantagem ao seu rival só lhe deixou mais irritada, e se isso não bastasse, o grupo dele foi o primeiro.

Desde que chegou ali, prestou bastante atenção nas crianças dos outros grupos, e notou que elas eram mais calmas que as que estavam ao seu lado, só ficava irritada cada vez mais, Eliezer criou um cenário perfeito para fazer Sophia usar toda a sua energia nessa competição, mesmo que o objetivo inicial fosse apenas fazer dessa uma boa experiência de exploração para os estudantes.

A subida e a descida do elevador levava três minutos, os pisos eram mais fundos do que imaginava, mas decidiu tirar vantagem dos doze minutos para conhecer melhor as crianças do seu grupo.

Eliezer levava a maior vantagem por esses serem os seus alunos, mas era a primeira vez de Edward com as crianças do seu grupo, e, conhecendo a sua personalidade, era certo que ele não tirou muito tempo para conhecê-los.

— Temos que apertar este botão para irmos ao piso cinco? — questionou Lysandra, mas antes que tivesse sua resposta, Cedric antecipou-se e clicou sem pensar duas vezes.

Sophia prendeu a respiração ao imaginar que ele podia ter clicado no botão que os levaria a um andar perigoso, no entanto relaxou ao verificar que o círculo de madeira com o “5” entalhado fora pressionado.

— Como ousa, eu era quem deveria apertar o botão! — protestou Elara, ao que o jovem Cedric respondeu com a língua colocada para fora e um gesto obsceno com o dedo do meio.

A nobre suspirou. As duas pessoas mais difíceis de se lidar ali eram Cedric e o garoto esquisito sem nome, que se manteve em silêncio até esse momento, apenas observando o cenário.

Elara não ficava na linha de frente por conta da sua Classe, Aqua e Lysandra também não tinham traços de guerreiros para o ataque principal, então só podia contar com Cedric e o menino misterioso.

Assim que o elevador parou e a porta abriu-se automaticamente, o sentido aguçado de Sophia apitou e ela saltou para a frente. Sentiu que algo foi arremessado em sua direção, se fosse uma pedra, não teria muito o que fazer além de receber o impacto, mas se fosse algo cortável, usaria a sua espada.

Jurou não erguer a lâmina, mas foi obrigada a fazer logo no início da exploração. Estava em guarda, pronta para cortar o que quer que viesse em sua direção, mas logo jogou a arma de lado ao escutar um grito e decidiu usar as mãos.

— Maldito, já começou com os seus truques sujos, o que pensa que está fazendo?! — ela perguntou, irritada.

Isso arremessado era nada mais que Edward Soul Za, o mais provável era ser um dos seus planos diabólicos para a tirar da competição. Achou que mesmo ele tinha seus limites, mas se arremessar era algo que apenas um louco faria.

— Senhorita Sophiette… ele e-está…. — Aqua comentou apontando para o rosto do filho do marquês de Soul Za.

Se o menino não tivesse sinalizado, Sophia teria dado um soco no rosto do nobre, mas não havia mais motivos para fazer isso, afinal…

— Destruíram o rosto desse maluco! — comentou Cedric.

As gotas de sangue vazando do nariz do jovem loiro mancharam as roupas caras da líder do clã Sophiette. Ao que tudo indicava, fora apenas um golpe, um golpe poderoso e preciso para quebrar o nariz do garoto e arremessá-lo até ali.

Elara era curandeira, mas nem se preocupou em consultá-la, seu foco foi direcionado para o local de onde Edward foi arremessado, uma sensação familiar invadiu o seu corpo, era como quando viu a masmorra de longe, esse clima demoníaco fazia todos os pelos do seu corpo eriçarem.

Espalhados pelo local, estavam os corpos de algumas alunas da universidade tanto do time de Edward quanto do de Eliezer, tudo indicava que ainda estavam vivas, mas agonizavam de dor, e o que mais chamou a atenção da nobre foi a figura um pouco distante.

Os seios voluptuosos indicavam que era uma mulher — muito bonita, diga-se de passagem. Se qualquer pessoa a visse desse ângulo, apenas diria que era uma nobre comum, mas o medo de Sophia só aumentou quando ela virou um pouco o rosto.

O objeto estava quase imperceptível, mas era aquilo, não havia dúvidas. Apenas membros de um determinado grupo usavam máscaras tão peculiares.

— N-não pode ser… é Leviathan ford Ingrid, a Duquesa do Inferno.

Apenas essas palavras de Aqua fizeram Sophia perceber que ela não teria outra escolha nesse dia além de erguer a sua lâmina.






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