Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 4

Capítulo 220.3: (SS) Dever De Um Sophiette [3/6]

— Por quê? — questionou-me a secretária sentada à minha frente, suas roupas de aspecto sufocante, o olhar afiado escondido por trás dos óculos de lentes quadradas e a expressão rígida sempre me davam calafrios.

— O que você quer dizer? 

— Por que, senhor Eliezer, justamente o filho do marquês Soul Za foi chamado para acompanhar um dos grupos na exploração à masmorra? Para uma competição com a líder do clã Sophiette, poderíamos ter feito um convite formal para a princesa de Andeavor.

Suspirei. Por isso ela era a minha secretária, tinha a língua afiada e não deixava nada passar. De fato, seria mais lógico convidar nobres mais dignos de competirem com a minha sobrinha, porém…

— Sophia é uma boa garota, ela é sempre gentil com todos, e por isso ela certamente perderia contra a princesa, pois não daria tudo de si, mas sempre existem exceções, até a pessoa mais gentil do mundo tem algo que a faz borbulhar.

Olhei para a janela da minha carruagem particular, meu grupo de estudantes seguia logo ao meu lado. Para deixar as coisas mais interessantes, pedi para que dessem carruagens mais pesadas a Sophia e Edward, assim eles estariam sempre lado a lado.

— No caso da senhorita Sophia, o filho do marquês Soul Za é aquilo que ela mais detesta? Devo dizer que foi uma ideia genial neste caso, assim eles competirão com toda a força para sua equipe vencer.

Apenas mostrei um sorriso amarelo à minha secretária. Odiava mentir para ela, mas Sophia precisava crescer, por mais que odiasse lutar, o mundo não a permitiria viver de forma pacífica carregando o sangue de um Sophiette em suas veias.

Sabia que seria questão de tempo até o caos aparecer, aqueles dias de paz vivenciados pelo Continente Ocidental eram apenas a breve calmaria antes da tormenta. Por isso me preparava todos os dias, quando o momento chegasse, estaria ao lado de minha sobrinha.

A senhora Sophys concordava comigo, já falava sobre se mudar para o ducado de al Mare e deixar a filha sozinha quando esta completasse dezesseis anos. Para a garota podia parecer algo cruel, mas era tudo para o seu bem.

“Fique forte, Sophia”, pensei olhando fixamente para a carruagem dela.

As cinco crianças no grupo de Sophia olhavam para a garota com admiração. 

Todos notaram a mudança de expressão quando a Sophiette viu a figura de Edward Soul Za, que seria líder do grupo logo ao seu lado. A excitação era clara no semblante desses jovens.

— Creio que é rude de sua parte não ter se apresentado formalmente ainda — disse a menina de olhar afiado. A garota não tinha mais que onze anos, mas possuía os olhos de um futuro nobre sádico. — Sou Elara, da casa Nightshade, minha Classe é Clériga e possuo conhecimentos em artes marciais do oriente para suprir minha falta de armas.

As crianças ficaram um pouco hesitantes, mas ao notarem que Sophia não se incomodou com a ousadia de Elara, suspiraram e miraram a nobre.

Como qualquer pessoa que vivia afastada da sociedade, a Sophiette tinha dificuldades em lidar com interações sociais, mas esse era o momento perfeito para melhorar isso, uma nobre que não conseguia se comunicar era alguém fadado ao fracasso.

— É-é um prazer conhecê-la, senhorita Elara Nightshade, sou Sophia Sophiette Sophys III, líder do clã Sophiette e também do grupo de vocês nessa exploração.

— Naturalmente! Nightshade pode não ser uma casa rica como Sophiette, mas você deve ter ficado estarrecida com a minha elegância — comentou a garota abrindo um leque negro e abanando os cabelos de mesma cor.

— Não dá bola pra essa perua não, ela só quer se exibir — falou o garoto ao lado, era o que Sophia via como um pirralho sem educação, seu estilo relaxado de vestir o uniforme revelava que era um delinquente que não se importava com títulos ou outros assuntos relacionados à nobreza.

— Como ousa me chamar de uma palavra tão vulgar?! Só não peço para que cortem a sua cabeça porque a sua força será um benefício para o nosso grupo.

Hmm… ela é narcisista, mas tem uma habilidade muito boa de reconhecer os pontos fortes do outros. Ela deve ter interagido comigo a princípio para examinar minhas habilidades de comunicação…”

— Perdoe o Cedric e a Elara, senhorita Sophiette, eles são sempre assim — disse a garota ao lado da nobre, ela era a mais velha nesse grupo, até mesmo mais velha que Sophia, que tinha quatorze anos. — Sou Lysandra Ravenscroft, serva da senhorita Elara

Por um momento, mal conseguiu desviar os olhos do busto farto da jovem ao seu lado, o rosto nobre e os cabelos prateados cortados com cuidado lhe passavam a aparência de uma mulher de dezoito ou dezenove anos, mas a capacidade de análise de Sophia dizia-lhe que ela tinha dezesseis.

Contrastando com a de aparência madura, a criança sentada no lado direito de Sophia era pequena e frágil, qualquer um poderia confundi-la com uma garota.

— M-meu nome é Aqua Suesu, tenho doze anos, é um prazer — apresentou-se ao sentir o olhar curioso de Sophia.

Era a jovialidade do povo do oriente, Elara era apenas um ano mais nova que ele, mas não importava como o olhasse, ele sempre teria a aparência do mais novo ali.

O último integrante da equipe era um jovem sombrio, diferente de Aqua, ele não era tímido, apenas não queria conversar com ninguém mesmo, suas roupas ocultando quase toda a pele e o cabelo castanho cobrindo o olho esquerdo demonstravam como queria se isolar do mundo.

Elara, a menina narcisista, Cedric, o delinquente, Lysandra, a mais velha do grupo, Aqua, a criança frágil, e o jovem sombrio… esse grupo exalava a incompatibilidade.

Todo o conhecimento que tinha sobre liderar os outros veio dos livros da biblioteca de Sophiette, jamais esteve em uma situação como essa antes, em outra ocasião até desistiria da competição e focaria apenas na exploração, mas como seu oponente era Edward Soul Za, não podia se dar ao luxo de perder.

“Diga o que quiser, tio, mas eu sei que foi você, mas não importa o que faça, não vou usar essa espada, só precisamos ser os mais rápidos em coletar os itens da masmorra.”

— Chegaremos em dois minutos — anunciou o cocheiro. 

Quase todo o grupo colocou o rosto à janela para ver a masmorra, exceto o jovem sombrio que continuava com os braços cruzados e os olhos fechados, porém Sophia podia dizer pela sua respiração que estava consciente.

Desde sempre, conseguia descobrir muito sobre as pessoas apenas observando, olhar para os olhos de outra pessoa era uma maneira de entender tudo sobre ela, por isso detestava Edward. No dia que encarou aqueles olhos, sentiu ânsia, ele era alguém podre, só havia maldade em seu coração.

A masmorra que encarava nesse momento lhe deu calafrios, ela emanava uma forte aura demoníaca. Quem não podia sentir apenas encarava maravilhado, mas a garota pôde ver a expressão séria que todos fizeram.

Definitivamente aquelas não eram crianças normais, não apenas pelas personalidades fortes. Se aquele grupo também tivesse o dom de análise e da leitura de situação como Sophia, certamente eles poderiam vencer a equipe de Edward sem problemas.

A carruagem do filho do marquês de Soul Za parou logo ao lado da de Sophia, nenhum deles obteve vantagem durante o percurso, era difícil de se acreditar, mas eles conseguiram manter a mesma velocidade, em nenhum minuto um teve um centímetro a mais de distância.

— Parece que começaram mal, já estão ficando para trás, assim o meu grupo é quem vai vencer, haha! — provocou Eliezer, lançando um olhar amigável para Sophia, que foi respondido com hostilidade.

Não levava essas coisas a sério, mas se era assim que o seu tio queria, então mostraria a ele que venceria apenas usando sua mente. 

— Gostaria de saudar a todos os jovens que estarão adentrando sua primeira masmorra, nossa guilda agradece pela sua preferência, espero que essa sua primeira experiência seja agradável — falou um homem de expressão amigável.

As masmorras de Nova Canaan, diferente das de Andeavor, pertenciam às guildas, apenas aventureiros registrados e com o passe podiam explorá-las. No caso da universidade, as guildas lutavam para saber quem teria a masmorra escolhida para ser a primeira experiência de exploração dos jovens.

O sorriso desse homem era justificado, afinal havia muitas guildas nesse país, e justo a sua foi escolhida.

— Sou o mestre de guilda de Galden, se tiverem interesse, podem visitar minha cidade natal para se filiarem à nossa humilde guilda, estaremos sempre de portas abertas para os jovens aventureiros de espírito forte.

— Esse povo de Galden é sempre assim… — comentou Elara, um olhar hostil era visível em seu rosto. — Odeio gente falsa, eles sempre fingem ser amigáveis para conseguirem seu dinheiro. A guilda de Galden é conhecida por ter as maiores masmorras de Nova Canaan, mas é claro que só conseguiram isso com seus truques sujos.

— Galden é… — Sophia começou.

— A segunda maior cidade de Nova Canaan — completou Lysandra.

Algum dia gostaria de conhecer aquela cidade, quase nunca saía de casa, mas tudo isso estava lhe dando vontade de se filiar a alguma guilda e trabalhar como aventureira.

Quase não cumpria seus deveres de Sophiette, então não faria diferença se jogasse tudo para o ar e vivesse fazendo missões de coleta de ervas, pois não pensava em matar nenhum ser vivo, mesmo que o ser em questão fosse um monstro.

— Desculpem por fazer vocês esperarem tanto com as minhas palavras enfadonhas, a competição vai começar assim que todos estiverem dentro do primeiro piso da masmorra, então se adiantem e entrem.

“Bem, então vamos lá.”





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