Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 4

Capítulo 220.2: (SS) Dever De Um Sophiette [2/6]

Nova Canaan era conhecida por ser um dos reinos do ocidente com o exército mais forte. 

A vontade de lutar estava presente no sangue de todos os moradores de lá, tanto que o reino não possuía um rei, mas sim um governante chamado “Mestre de Lâminas”.

O Mestre das Lâminas era escolhido por um combate até a morte na arena a cada quatro anos, um cérebro de músculos poderia até passar na primeira etapa, no entanto havia uma segunda fase.

Os guerreiros de Nova Canaan acreditavam que devia existir um equilíbrio entre os músculos e o cérebro, por isso a segunda etapa da prova para se tornar governante do reino era um teste escrito de conhecimentos gerais.

Sophia admirava o sistema de escolha de governador do local, apesar de não gostar da primeira etapa, mas o importante era saber que eles não queriam apenas um idiota musculoso no poder, mas sim um verdadeiro líder.

— Veja, Sophia, estamos quase lá, vamos direto para aquela construção, é a universidade de Nova Canaan.

Os olhos da sobrinha do homem arregalaram-se de repente, ela transitava entre o dormindo e o acordado, mas via vagamente a paisagem, o que fez com que ignorasse a presença do tio sentado à sua frente.

A universidade desse reino era outro lugar fantástico, conhecida como a melhor unidade de ensino de todo o ocidente — embora houvesse controvérsias devido à qualidade do ensino da Universidade Mágica de Andeavor.

As crianças podiam entrar na universidade a partir dos quatro anos, o ensino obrigatório terminava quando tivessem vinte, porém era possível permanecer por mais anos.

Um dos exemplos de algo que prolongava a permanência na instituição era a competição de cavaleiros, os jovens formavam times e confrontavam outras instituições em torneios.

A menina na carruagem foi criada quase toda a sua vida no interior das terras de Sophiette, ver esse local, mesmo ainda estando longe, era maravilhoso, tentava não deixar sua felicidade transparecer, mas as expressões no rosto bonito não lhe permitiam.

— Sabe, — começou Eliezer Sophiette — eu sugeri te matricular aqui quando você era mais nova, mas sua mãe não permitiu. Acho que seria bem melhor para você se viesse para um lugar com tantos talentos. O que temos na universidade é nada mais que o futuro, uma geração de Gênios.

A senhora Sophys sempre fora superprotetora, e isso, vez ou outra, gerava atritos entre elas. Sophia estava na idade que os impulsos da curiosidade sempre lhe colocavam alguma ideia na cabeça, mas a mãe não queria ver a menina se machucando.

Talvez fosse o medo da mulher. Apesar de ser a líder do clã Sophiette, Sophia carregava o sobrenome “Sophys”.

A história dos Sophys e dos Sophiettes não podia ser mais estranha, ambos eram descendentes de criaturas ancestrais, Karllos Sophiette tinha algum tipo de complexo com os monstros escamosos.

Um dia, Karllos Sophiette foi enviado sozinho para a missão de acabar com a guerra entre os Sophys e os Sophiette onde hoje em dia é o reino de Sphynx.

Por algum motivo, a rainha dos Sophiette apaixonou-se por Karllos, porém havia uma condição para que o ancestral do clã Sophiette pudesse se casar com a governadora dos dragões divinos: ele devia matar a líder dos Sophys, uma espécie de wyvern que eram inimigos dos Sophiette.

Na época, as duas espécies de lagartos eram como Deus e o Diabo, o mundo poderia ter beirado o caos se os Sophiette não se levantassem contra os Sophys.

A batalha durou um tempo, mas finalmente o jovem Karllos em seu auge entrou no campo inimigo para matar os wyverns malignos, mas o que ele não esperava era que a rainha dos Sophys também se apaixonaria por ele.

Por sorte, viviam em um mundo onde a poligamia fazia parte do senso comum, então um tratado foi feito, o casamento de Karllos com as rainhas acalmou o mundo, e ali surgiu o clã Sophiette — apesar do preconceito contra os Sophys não desaparecer completamente.

Devido ao corpo anormal dos descendentes de Karllos, que eram semelhantes ao dos humanos, mas totalmente quebrados em questão de força, os Sophiette só podiam copular com os Sophys e eles mesmos, e vice-versa.

Houve casos de humanos poderosos ou membros de raças como os anjos tendo filhos com membros de um dos clãs, mas eram exceções, os loucos que queriam apenas aventuras com as mulheres Sophys, tão populares por sua beleza peculiar, morriam na primeira noite, sem conseguir plantar sua semente no mundo.

Sylford Sophiette era uma figura notável na história do clã, e ele era filho de um Sophiette com uma anja.

Sophia sabia de tudo isso devido à quantidade de livros que lera na biblioteca de Karllos. A história do surgimento dos clãs nunca ficava chata, pois sua idade lhe deixava uma pergunta que não desaparecia: como o seu ancestral fez aquilo com as rainhas?

— Tio, sua esposa é uma Sophys, certo?

— Sim… ela é até bem parecida com a sua mãe… bem, todas as mulheres Sophys têm cabelos rosados, mas me refiro à bondade e a gentileza.

A sobrinha engoliu em seco, novamente, influenciada pelas coisas da idade, queria saber sobre a copulação entre os Sophiette e os Sophys, mas ficou desconcertada ao escutar a resposta inocente de Karllos.

— Então, o que você gostaria de perguntar sobre ela? 

A-ah, não é nada… Ah! Eu só queria saber se você sabe me dizer o motivo dos Sophys terem cabelos rosados, era isso.

Hmmm, é uma boa pergunta. Não sei se já existe uma explicação, mas dizem que é porque a rainha dos Sophys tinha escamas dessa cor… mas já que quem viu a rainha não está mais vivo para confirmar isso, só podemos pensar que deve ser algum mito… Olhe lá, querida, chegamos.

Os olhos avermelhados de Sophia seguiram os dedos de Eliezer. A conversa entre eles fez o tempo passar em uma velocidade absurda. À sua frente, estava a grande construção que era a universidade de Nova Canaan.

O campus tinha quase o tamanho de Fallen, uma cidade próxima das terras de Sophiette, porém só havia uma construção que se espalhava por toda a área. De longe, parecia que a universidade era feita de borracha, pois suas paredes subiam e desciam partes íngremes do campo repleto de gramíneas verdes.

O chão verdejante chegava a doer nos olhos, mas não ofuscava mais que o reflexo da luz do sol provindo dos vidros exóticos e caros da unidade de ensino.

— Eles já estão ali. — Eliezer apontou para o lado oposto de antes, e a sobrinha pôde ver a figura de jovens com roupas incomuns para estudantes.

“Então, os estudantes daqui são como ‘soldados mirins’...”, pensou após ver que cada um carregava uma arma na cintura ou nas costas.

Naturalmente, eles não iriam desarmados mesmo que fosse para uma masmorra de nível baixo, até Sophia mantinha uma arma na cintura — Eliezer obrigou-a a colocar, mas sabia que a sobrinha não sacaria a lâmina em momento algum.

Bastaram alguns passos tímidos após descer a carruagem para a Sophiette ser alvo da atenção dos jovens, os mais impacientes não esperaram e cercaram a garota com olhos curiosos.

— Ei, você é a líder do clã Sophias de verdade?! — perguntou o que tinha traços de pirralho travesso.

— Não faça uma pergunta idiota dessas, idiota! Não vê o cabelo dela, não é lindo como o meu, mas certamente é de uma Sophys!— respondeu uma menina voz doce, mas palavras afiadas.

— É como nos livros… — comentou um jovem tímido, este escondia o rosto coberto por sarnas atrás de um exemplar de magia avançada, a autoria do livro era de Karllos Sophiette.

— Acalmem-se, moleques, não fiquem enchendo o saco de minha sobrinha assim — repreendeu Eliezer em voz firme. Era a primeira vez que Sophia o via desse jeito. 

Escutou diversas histórias sobre o homem que tinha o título de vice-capitão da guarda de Nova Canaan, todos o consideravam um homem forte, porém rígido e sério, mas a garota nunca levou isso a sério, afinal ele sempre lhe mostrava a sua face de tio amável.

— Então o velho não tava mentindo mesmo, ele é tio da líder do clã Sophiette — comentou o menino com pinta de pirralho travesso.

— O que você disse?!

— Na-nada, senhor!

Após a olhada feroz do homem, as crianças retrocederam e voltaram para o local onde se encontrava o resto do grupo. 

Eram quinze estudantes no total, o penteado, tom de pele, olhos e diversas outras características demonstravam que eles vieram dos mais variados locais.

— Me desculpe por isso, Sophia, esses moleques são assim mesmo, mas espero que possa se dar bem com eles.

— Tudo bem, tio. Eu não queria vir para essa excursão, mas parece que vai ser algo divertido no fim das contas.

As três carruagens ao lado dos estudantes seriam responsáveis por levá-los ao seu destino. Sophia viu o local enquanto estava a caminho do campus, não levaria mais de dez minutos até que estivessem lá.

— Vamos? Cada carruagem pode acomodar até oito passageiros, mas decidi dividi-los em grupos de três, é apenas um jogo para deixar as coisas mais divertidas.

— Tio, você adora essas coisas de competições.

Ah, não seja como sua mãe, você gosta de jogos também, não é? Cada um de nós vai ficar com um grupo, e o grupo que trouxer mais itens da masmorra vai ganhar, é bem simples. E veja bem, há diversos baús escondidos nas masmorras, você pode pegar muitos itens sem precisar matar os monstros.

— Ok, ok, mas, pelo que você disse, cada grupo tem um líder, não é? E quem seria o terceiro líder?

Eliezer desviou os olhos por um momento, mas não resistiu à persuasão da sobrinha e respondeu com o suspiro:

— Ele chegou antes de nós, está dentro da carruagem… é o…

— Fico encantado de ter recebido o nobre convite de participar da primeira exploração dessa turma tão promissora de guerreiros.

— Edward Soul Za… — Sophia balbuciou com ódio nos olhos. — O que isso significa, tio?!

— Juro que não é culpa minha, querida!





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