Volume 4
Capítulo 218: Coroa, Vou Te Ajudar
Sentia o peso do olhar hostil dos elfos às suas costas.
Foi uma vitória que ninguém ali esperava, Kurone, até esse momento, ainda se perguntava o que aconteceu na arena exatamente.
“Nie…”
[Não, você ainda está de castigo. Não acredito que você fez aquilo mesmo, foi um golpe muito baixo!]
{Foi uma técnica de combate que A Celestial jamais presenciou um humano usar antes.}
O objetivo de Kurone ao surpreender Hyze segurando-a e mostrando sua bunda para a plateia era apenas humilhá-la para obter vantagem na luta, jamais imaginou que a velha fosse, na verdade, uma masoquista enrustida.
Apesar de tudo isso, o jovem indo em direção da construção que servia como um templo para a xamã tinha um sorriso convencido no rosto.
Uma vitória era uma vitória, era isso o que importava. Por mais que Annie não concordasse com essa visão, ela ainda estava feliz por seu companheiro estar bem.
— A senhora Hyze está aguardando você — disse o elfo de armadura negra com a voz seca, era nítida em seu semblante a vontade de matar o jovem à sua frente da maneira mais cruel e sádica possível.
Kurone adentrou a construção sem a companhia do guerreiro de orelhas pontudas. Lá dentro, Lothus e a xamã o aguardavam em silêncio.
— Você se recuperou bem da luta, senhor Loright — falou a demônia idaten com o seu sorriso gentil habitual, algo reconfortante.
Após o fim da batalha contra a elfa, foi deixado aos cuidados dos curandeiros, e no “hospital” deles conseguiu conversar muito com os companheiros feridos, porém não viu Lothus desde então.
A garota sentada ali em nenhum momento teve uma expressão tensa em seu rosto, ela se sentia bem à vontade ao interagir com Hyze ou qualquer outro dos elfos.
— Menino… você venceu, mas há algo que você precisa saber… — Hyze começou com a voz indiferente e os olhos sérios. Essa era a xamã que todos conheciam, imponente, sábia e de expressão imutável, era difícil imaginá-la agindo de outra forma.
“Hmm, eu quero realmente tentar isso.”
[Kurone, nã…]
— Cadela.
A palavra dita reverberou pelo local, fazendo Lothus arregalar seus olhos em surpresa e deixar um grunhido involuntário escapar. Sem dúvidas, foi um ato inesperado, e uma grande falta de respeito com alguém tão admirável como a xamã.
Kurone franziu o cenho e aguardou. Hyze abaixou o seu rosto após o jovem dizer aquilo, seu corpo tremia levemente, isso foi realmente um golpe crítico, e, se estava certo, conseguiu despertar mais uma vez aquela face da elfa.
— P-por favor… mais, diga mais coisas assim! — gritou Hyze com uma expressão de excitação. Quando agia desse modo, parecia uma criança esperando uma recompensa dos seus pais.
[Você está aproveitando muito isso, não é mesmo?]
“Não vou mentir, tô mesmo. Isso é minha vingança.”
[Cafajeste.]
— Sen-senhora Hyze, por favor, se recomponha! — falou Lothus, pequenas gotas de suor eram nítidas em seu rosto. Ver seu ídolo agindo dessa maneira certamente era frustrante para a demônia idaten.
Foi necessário cinco minutos até Hyze se recuperar, suas emoções eram muito intensas, por isso, quando estava séria, passava aquela impressão tão imponente, mesmo pedindo para ser humilhada há poucos minutos.
— Como eu dizia… — a xamã começou, seus olhos estavam fechados como de costume, mas o motivo para a ação, dessa vez, era vergonha de encarar o jovem à sua frente — há algo que preciso dizer.
— Então fala de uma vez, bora lá.
— Eu não sei como tirar o Vassalo da Morte de você, afinal de contas ele e você são um só. Porém… — Ela abriu os olhos amarelados e encarou Lothus.
— Senhora Hyze, eu sinto que não estou pronta para isso, por favor, reconsidere.
— Hmm? Do que vocês tão falando?
A resposta veio da elfa:
— Nesses últimos dias, a menina Lothus esteve ao meu lado para eu poder constatar se ela seria digna de… ser minha sucessora.
— Su-sucessora?! Tipo, uma xamã? Caraca, que foda, Lothus, parabéns!
A garota ao lado corou até a ponta das orelhas ao escutar os elogios, porém o que a pegou de surpresa foi o gesto repentino de Kurone. Era a sua maneira de parabenizar suas irmãs, foi apenas um simples carinho na cabeça, mas todo o corpo de Lothus tremeu ao sentir o toque.
O instinto de irmão mais velho de Kurone e o de irmã mais nova de Lothus se chocaram nesse toque, o que resultou na cena de um encarando o outro fixamente.
— Ah, foi mal, eu me empolguei um pouco — Kurone quebrou o silêncio, afastando a mão que repousava sobre a cabeça da demônia.
— N-não, tudo bem, eu só fiquei um pouco surpresa, mas não achei ruim, meu irmão sempre fazia isso quando queria me parabenizar.
— Desculpem, mas queria lembrá-los que ainda estou aqui — falou Hyze com uma expressão um pouco irritada no rosto.
— S-sim, sim, desculpe, senhora Hyze! Mas… eu não sei se estou preparada, é uma responsabilidade muito grande e não tenho conhecimento suficiente.
— Menina Lothus, já falei sobre isso, você já superou há muito a sua mãe, só posso confiar em uma Pregadora da Razão para me suceder.
— Do jeito que você tá falando, parece até que vai morrer — Kurone comentou, no entanto a expressão de Hyze e a de Lothus revelavam que não estava totalmente errado. — Pera aí, você não disse que era meio que imortal e podia voltar no tempo? Como diabos você pode morrer?
— Para salvar o mundo, menino. Eu já disse, sempre estive lhe observando, e essa observação foi para julgar você. Desde o primeiro dia que pisou neste mundo, só havia duas coisas que lhe aguardavam: a salvação do mundo ou sua execução.
Finalmente estava claro o motivo de Lothus confiar tanto em Hyze. Apesar de parecer indiferente com tudo, no fundo, ela era uma boa pessoa, tudo o que aconteceu até esse momento foi um teste para Kurone.
— Se você matasse Edward Soul Za naquele momento, eu teria assumido que você não consegue se controlar, mas se contentou apenas com um chute e ignorou o marquês enquanto estavam juntos na mesma casa — a xamã explicou com um sorriso satisfeito.
— A batalha foi ideia minha — a demônia idaten levantou a mão. — A senhora Hyze queria saber se você era realmente forte, mas não concordei com a ideia inicial de ameaçar um dos nossos companheiros para ver você lutando com todas as suas forças, então propus a luta entre vocês.
[Ela discordou de Hyze apenas para proteger os amigos, devo dizer que a cada dia me admiro Lothus ainda mais.]
“Você não disse que me admirava quando eu ganhei a batalha, Nie.”
[Lothus não baixou a roupa da xamã em público. Mas se serve de consolo, direi uma vez… vo-você fez um bom trabalho, meu querido pervertido.]
A elfa e a demônia se assustaram após o corpo do jovem tremer violentamente. Escutar as palavras da sua deusa número um fez seu coração palpitar em uma velocidade insana, isso era um golpe baixo!
— Você está bem, menino?
— Sim, eu tô legal, só senti uma pontada no coração de repente, deve ser porque ainda não me adaptei totalmente a esse novo coração.
Hyze suspirou, contudo Lothus ficou com uma expressão confusa no rosto. A garota não sabia que Kurone só estava vivo ali porque um dos corações de Dora pulsava no interior de seu peito. “Vou ficar te devendo essa explicação, Lothus,” pensou encarando a figura da xamã.
— Bem, já que é assim, eu quero saber como é que eu vou salvar o mundo. Você disse, quando cheguei aqui, que tinha algo que eu precisava saber.
Após essa fala, a expressão no rosto de todos ficou séria. Pelas palavras da xamã, ela realmente não conhecia uma maneira direta de livrar o garoto do Vassalo da Morte, mas parecia haver um meio não convencional de fazer isso.
— O que você faria se soubesse que consegue salvar a menina Luminus streix Astarte? Faria isso mesmo sabendo que pode haver a possibilidade de jamais encontrá-la?
— Eu acho que é o dever de um irmão cuidar das suas irmãs, enquanto elas tiverem felizes, eu também vou tá só por ver o sorriso delas. Mas o que isso tem a ver com o Vassalo?…
— Eu consigo mandar você de volta no tempo… para muito tempo atrás, quando ainda havia sorrisos no rosto de Luminus e Loright.
Isso pegou o jovem de surpresa. A solução para se livrar daquela entidade tentando tomar o seu corpo era voltar o tempo?
Pelo que entendera da história contada pela xamã antes da batalha, o motivo de Loright ter se tornado o Vassalo da Morte era a morte de Luminus. Se conseguisse salvar a menina, esse ser não precisaria existir… mas, se ele e o Vassalo eram a mesma pessoa, o que aconteceria com Kurone Nakano?
— Você me provou que consegue se controlar — continuou a xamã —, então eu te mandarei para o passado, você deverá intervir apenas nos eventos que vão afetar Luminus, não poderá se aproximar e nem contar nada a ela, acha que consegue fazer isto?
Salvar o mundo ou preservar seu egoísmo? Mudar o passado também implicava em mudar o presente e futuro, sendo assim, havia altas possibilidades de nunca mais ver Rory ou mesmo de nunca ter nascido.
Seria uma escolha difícil para o antigo Kurone Nakano, no entanto Loright al Mare sabia o que devia ser feito.
“Sim… eu só preciso alterar o passado de maneira que Luminus nunca venha a sofrer, evitar o surgimento do Vassalo da Morte é apenas uma missão secundária.”
— Coroa… não, senhora Hyze, eu vou lhe ajudar.