Volume 4
Capítulo 214: Que Se Inicie A Batalha
Os elfos foram buscar Kurone e Edward logo cedo.
Lothus não ficou na construção, o que preocupou o jovem um pouco, mas ele sabia que a garota podia se virar, mesmo Hyze não conseguiria levar vantagem contra ela.
As mãos dos prisioneiros seguindo em direção à arena da vila estavam presas por algemas de ferro. Kurone não entendia, mas Hyze insistia em deixar Edward vivo e próximo dele. Qual era o objetivo dessa velha no fim das contas?
Ao passar por um aglomerado de grandes casas ao estilo indígena, Kurone finalmente pôde ver um campo de terra, com várias pessoas ao redor. Provavelmente, havia algum tipo de barreira ao redor de toda a vila que impedia a neve de adentrar.
“Parece ser maior que a área urbana da vila”, pensou ao avistar o local onde travaria sua batalha mortal contra a xamã.
Ao redor, havia assentos de madeira para acomodar os espectadores, o lugar podia ser comparado facilmente a um campo de futebol ao ar livre com arquibancadas. Quase todos lá em cima eram elfos, mas havia rostos conhecidos entre eles.
Ao chegar mais perto, Kurone avistou a figura de Lothus ao lado do elfo com armadura negra, ela não tinha algemas nas mãos e seu rosto também não indicava tensão. Os olhos azulados da demônia idaten encontraram os do jovem algemado e ela deu um sorriso gentil, como sempre fazia.
Um suspiro foi escutado.
Pelo menos Lothus estava bem, e essa tranquilidade no peito do garoto só aumentou quando ele viu seus outros amigos nas arquibancadas. Os feridos estavam próximos dos elfos curandeiros, não estavam algemados, mas ainda assim possuíam muitos guerreiros ao seu redor.
Dora, Eulides e Berthran foram colocados nas arquibancadas opostas às dos feridos, suas mãos estavam presas e alguns elfos olhavam para eles constantemente. Kurone não pôde evitar rir ao pensar que alguém consideraria Eulides al Mare um ser potencialmente perigoso.
As mãos do jovem foram liberadas e ele soltou um suspiro. No outro lado da arena de terra, estava a sua oponente.
O cabelo com gradiente indo de preto a verde de Hyze estava solto, seus olhos amarelados brilhavam, contudo a expressão séria e imutável continuava em seu rosto bonito. As roupas vestidas pela xamã eram simples: uma camisa branca larga e um short preto de tecido fino, era basicamente um conjunto para exercícios.
— Então, menino… você não tentou fugir e nem parece estar muito preocupado, isso significa que você está certo que vencerá a luta… Ahh, os jovens são sempre tão imprudentes…
— Foi mal, mas a verdade é que isso tá no sangue da família Nakano, imprudência é algo que anda lado a lado das pessoas que compartilham o mesmo sangue que eu! — Ele afirmou tirando o sobretudo branco, decidiu lutar priorizando a velocidade, a sua camisa preta colada seria proteção suficiente.
Edward, ao seu lado até o momento, foi acompanhado pelos guerreiros elfos até as arquibancadas. Todos fizeram silêncio por um momento, como se estivessem contendo a respiração, mas a tranquilidade durou apenas até Hyze e Kurone ficarem frente a frente no centro da arena.
— As regras são simples, — começou o elfo de armadura negra — qualquer habilidade, feitiço e ataque mágico é permitido, porém ninguém de fora pode interferir na batalha.
— Vence aquele que primeiro se render, — completou Lothus, ao lado do guerreiro — isso significa que por mais quebrado que esteja o inimigo, só haverá vitória quando um dos lados dizer que não aguenta mais, ou fizer um gesto que sinaliza desistência, caso não consiga falar.
Kurone fez um sorriso ao escutar as palavras de demônia idaten, a garota viu-o em combate algumas vezes, vezes essas suficientes para ela saber que o jovem não desistiria facilmente, por mais que todos os ossos do seu corpo estivessem quebrados.
— Não precisam se conter, pois todos ao redor estarão protegidos por uma barreira mágica, sendo Magia Sagrada, não poderá ser quebrada facilmente. Então, que a batalha comece — anunciou o elfo de armadura negra.
Assim que o início foi confirmado oficialmente, Kurone focou em tomar distância e pensar em qual seria o seu primeiro ataque. Jamais vira Hyze em combate, mal sabia qual a extensão do poder dela, mas, em contrapartida, o xamã esteve lhe observando desde que chegou a esse mundo.
“Usar golpes óbvios não vai funcionar nela, acho que o melhor é a gente saber qual o Tipo Elemental dela, não é, Ni…”
Uma corrente de ar violenta, vinda de Hyze, percorreu toda a arena em uma velocidade insana. Kurone sentiu todo o seu corpo tremer, mas ignorou aquilo e focou em esquivar.
Impulsionando-se com um chute na terra, conseguiu desviar com sucesso do primeiro ataque, que explodiu em uma ventania após tocar a barreira erguida para proteger o público.
Mas isso não foi suficiente. Hyze esperava que o jovem esquivasse, por isso lançou um segundo ataque sorrateiro, esse foi menor que o outro, mas foi suficiente para arrancar o seu braço esquerdo artificial.
Algumas pessoas nas arquibancadas gritaram em espanto ao ver o braço do garoto pairando pelo ar, espalhando sangue pelo local.
— Você não tem tempo a perder, menino, recupere logo o seu braço ou não vai conseguir mais lutar — disse Hyze com sua expressão imutável, ela estava em uma posição relaxada, o que indicava que mal se moveu para efetuar esses dois ataques em seguida.
Respirando fundo para suportar a dor, Kurone curou o seu braço. O que foi isso? Mal começou e levou dano. “Mas pelo menos descobri que ela usa o Tipo Elemental Vento…”
[Não baixe a guarda, lembre-se que existem pessoas como o Shirone que conseguem usar mais de um Tipo Elemental, ela pode muito bem esconder o seu poder total para nos pegar desprevenido.]
Rhyan Gotjail, o jovem que conheceu no Instituto para Reencarnados, dominava quatro Tipo Elementais, era bem provável alguém como Hyze conseguir controlar mais de quatro elementos sem problemas.
Partículas azuis preencheram o ar ao redor de Kurone quando o Orbe Vermelho Rank D foi convocado. O objeto brilhou em um tom carmesim forte, o jovem tentaria uma investida rápida para saber o quão perto poderia chegar da oponente.
A xamã podia usar ataques poderosos e grandes rapidamente, precisaria de muita atenção nisso, por isso decidiu usar os dois Olhos Sagrados. O desconforto já estava menor, mas ainda era um incômodo usar ambos.
Os pés do garoto correram tocando o chão com a pontas, mas Hyze sequer fez menção de mover o seu corpo. “Você tá tramando alguma coisa, coroa, mas não adianta, eu já vi!”
[Embaixo de você!]
Após o grito da deusa, o jovem saltou com toda a sua força, provocando leves rachaduras no chão. No local onde estava, diversos espigões de terra médios emergiram com a intenção de empalá-lo.
[Pela frente!]
Ainda no céu, teve que fazer muito esforço para se equilibrar e desviar do ataque de vento lançado por Hyze. Terra e vento, isso era um saco, mas certamente ainda não era nem 10% dos verdadeiros poderes da elfa.
Mesmo com sua vida ameaçada tantas vezes desde o início da luta, Kurone tinha um sorriso de excitação em seu rosto sendo tomada pelas marcas roxas do Sigilo de Azrael.
O jovem aterrissou com cuidado sobre o topo do maior espigão de terra convocado por Hyze. Sua experiência sabia que não havia perigo ali, era uma particularidade do feitiço “Espigão de Terra”, a especialidade de Noah, que o jovem viu sendo usado tantas vezes.
— Você é bem rápido, menino… mas não me diga que já está cansado? Ainda nem começamos a batalha real, onde está toda a sua energia? — provocou Hyze lançando mais uma sequência de “Espigão de Terra” e “Corte de Vento”.
Ela só precisava erguer a mão e fechar os olhos para lançar seus ataques, dificilmente cansaria se continuasse assim, ao passo que Kurone gastava muito de sua estamina para esquivar com sucesso dos golpes.
[Ela vai fazer outro ataque! Use a barreira!]
Hyze apoiou o pé esquerdo na frente e, em um piscar de olhos do público, lançou uma rajada de fogo, o seu terceiro Tipo Elemental. Esquivar-se disso era algo difícil, por isso que Annie pediu para ele se defender diretamente. Kurone usou a “Barreira de Fogo”, sua cópia do feitiço de Lao Shi, a “Barreira d’Água”.
— Oh, ela certamente tem um bom tempo de resposta, vamos ver como lida com golpes mais rápidos.
O ataque usado a seguir foi o “Feixes de Água”, pequenas gotículas de água atiradas como balas de uma arma de fogo, aquilo podia facilmente transformar o alvo em uma paneira se atingisse, mas Kurone teve que lidar com esse ataque chato enquanto treinava com o Arquifeiticeiro.
“O quarto elemento é água, mas certeza que essa velha deve ter, no mínimo, uns cem Tipos Elementais… não vai dar pra gente ficar só esperando ela atacar, tá pronta pra ir pro ataque, Nie?”
[Sim, por favor, não seja muito imprudente, ela é muito rápida apesar de não parecer.]
“Beleza. Agora é sua vez, Ellohim, A Celestial!”
Obedecendo ao chamado do jovem, partícula azuis planaram pelo ar ao redor do seu rosto e uma máscara branca com uma cruz negra foi formada no rosto de Kurone. Ele podia não ter dominado o Ápice da Mana, mas a Máscara Infernal e o Orbe Vermelho eram suficientes para tornar sua velocidade algo próximo da agilidade de um deus.
— Vamo lá, Hyze, me mostra que você sabe se defender também, ou então vou estourar esses teus miolos! — ele bravejou materializando sua fiel Boito .20 na mão esquerda e a Franchi Spas-12 na direita.