Volume 4
Capítulo 213: Experiência À Prova
— Eu me pergunto se o senhor Loright vai ficar realmente bem, estes elfos não parecem ser tão amigáveis quanto a senhorita Lothus falou… — Eulides murmurou, seus olhos mantinham-se fixos na parede quase oculta da escuridão.
A prisão da vila de Hyze não era muito diferente das prisões comuns, era um tipo de casa pequena, logo acima ficava o guarda responsável por vigiá-los, enquanto no subterrâneo estava a verdadeira prisão.
O local era quase completamente escuro por conta da falta de tochas — devido ao número escasso de prisioneiros, essa acomodação estava abandonada há muito tempo.
Fazendo companhia a Eulides, estavam Berthran e a menina de pele bronzeada que ajudou Loright al Mare em sua luta contra o marquês Guller zumbi.
Os outros, Willian, Law Zhen, Shirone e Ayshla, foram levados ao curandeiro local, mas, pelo que um dos elfos que os levou ali disse, eles logo estariam de volta.
— O mestre sabe se defender — Berthran respondeu com convicção. Desde que chegou ali, ele não tirou os olhos da figura da menina morena.
“Ele não vai tentar atacar ela aqui, não é mesmo?!”
— Você… o que é você? A sua presença é semelhante à do mestre. — O orc lançou um olhar questionador com o seu único olho bom.
— Uhhh… Isso… acho que é melhor perguntar diretamente ao Kuro… ao seu mestre. Ah! Meu nome é Dora, qual o nome de vocês?
— Eu sou Eulides, Eulides al Mare.
— Pode me chamar de Berthran, sou um humilde servo do meu mestre, que aparentemente é alguém bem próximo da senhorita.
— É mesmo, senhorita Dora, qual a sua relação com o senhor Loright? — Eulides falou um pouco menos tenso, fazer as apresentações deixou-o mais confortável nesse local.
— Loright?... Uhh… eu tenho um pacto com ele…
Escutar a palavra pacto fez o jovem nobre engolir em seco, as pessoas que Lorigth al Mare conhecia eram sempre estranhas e formidáveis, jamais esteve tão próximo de alguém tão incrível antes.
Apesar de haver características ruins no jovem, admirava Loright como ninguém que conheceu antes, queria ser tão forte como ele, alguém que jamais recuava quando ameaçavam as pessoas ao seu redor.
Mas ao contrário do incrível guerreiro, Eulides era um covarde, não sabia lutar e nem era tão inteligente como Lothus. Na casa al Mare, ninguém lhe dava atenção por quem era, todos ao seu redor só tinham interesse em seu dinheiro.
Fugiu de casa para provar que podia ser tão bom quanto seus irmãos, mas ali, tão longe da sua zona de conforto, aprisionado, passando frio e com um sentimento de morte iminente passando pela sua cabeça, percebia que talvez os outros tivessem razão.
Se não fosse pela ajuda de Loright e seu grupo, talvez já estivesse morto há muito tempo, como os aventureiros de Dart que se separaram do comboio.
— Mas ele tá diferente, não é? — Dora falou de repente, o seu dedo fino estava massageando o queixo pequeno do rosto infantil, os olhos dela não olhavam para um ponto específico. — Quando nos conhecemos, ele não era tão forte, mas agora ele consegue até mesmo acompanhar minha velocidade…
— F-faz muito tempo que vocês se conhecem? E como se encontraram, se não for incômodo responder a isso? — Eulides questionou um pouco eufórico, qualquer informação sobre o seu ídolo era interessante.
— Ah, eu tentei matar ele e destruir uma vila de Andeavor… aí ele apareceu e me encarou de frente e… Uhh…
— E aí o quê?!
— Cer-certamente eu poderia tê-lo derrotado, sim, sim! M-mas fui muito benevolente e deixei ele vencer, já que a mana dele me era conveniente, então também fiz um pacto com ele! É isso!
No final, o rosto de Dora estava muito vermelho, a voz trêmula demonstrava que essa história não era 100% confiável, mas algo que chamou a atenção de Eulides foi o fato de ele não se dirigir ao jovem como “Loright”, mas sim sempre com o pronome “ele”.
Loright escondeu sua identidade e disse ser “Iolite Cordielyte” quando encontrou os aventureiros de Dart, poderia ser que “Loright al Mare” ainda não era o seu nome verdadeiro? Isso tinha altas chances de ser verdade, pois Berthran ficava um pouco tenso quando Dora dizia “ele”.
A vontade de perguntar sobre muitas coisas a respeito do jovem era muita, mas Eulides entendia que deveria haver motivos para ele ocultar sua identidade. Ser caçado por Clay Alysson e Hyze querer vê-lo pessoalmente provava que o nobre não tinha nem 10% do conhecimento de quem era Loright al Mare.
“Por enquanto, só posso torcer para que ele e senhorita Lothus fiquem bem… mas se precisarmos lutar, será que serei capaz de ajudar? Mãe, pai… o que eu deveria fazer? Será que sou tão patético como vocês diziam mesmo?”
Berthran lançou o olhar estranho para Eulides e, como se lesse os pensamentos do jovem, disse:
— Não se preocupe, o mestre não deixará nada acontecer com quem ele se importa, mesmo que isso signifique matar a própria Hyze.
— É bem reconfortante ouvir isso de alguém tão próximo dele, mas com certeza não vamos precisar recorrer a toda essa violência, Hyze e Loright devem estar tendo uma conversa pacífica agora…
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— Eu vou matar a Hyze — Kurone falou cerrando os punhos.
Annie apenas encarou ele com um olhar sério e Ellohim balançou a cabeça em concordância.
Os elfos cederam uma das construções para que eles passassem a noite, era como uma prisão domiciliar, pois não podiam sair dali e diversos guardas faziam rondas ocasionais pelos fundos enquanto outros vigiavam a entrada.
Lothus ainda estava em uma conversa particular com Hyze e o elfo de armadura negra, isso significava que apenas Edward Soul Za e Kurone estavam nesse local. Para não ter que ficar olhando para o ser asqueroso, o jovem retirou-se para o interior da sua mente, com o pretexto que estava meditando.
Ao chegar lá, invocou Ellohim, A Celestial, para uma reunião com Annie.
As trevas nesse local estavam cada vez mais densas, ao passo que as rachaduras do céu só ficavam maiores, seria questão de pouco tempo até a ressurreição do Vassalo da Morte. Mas, mesmo sabendo disso, Kurone recusava-se a ser um sacrifício, havia coisas que ainda queria fazer, e para isso não hesitaria em enfrentar a xamã ou o próprio súdito de Azrael.
— A Celestial irá lhe fornecer todo o poder que estiver ao alcance dela, afinal ela precisa de você vivo para alcançar os seus próprios objetivos pessoais.
— Eu não concordo com resolver tudo na base da violência, mas… depois do que eu ouvi ela falando, não posso apenas fechar os meus olhos e dizer que é errado. Acima de tudo, você é a pessoa mais importante para mim, Kurone, a ética e a moral não tem local de fala quando sua vida está sendo ameaçada.
Kurone sorriu, era reconfortante saber que havia essas duas, mas, ao mesmo tempo, sentia-se fraco por depender delas. Precisava ficar mais forte para não precisar fazer esse tipo de pedido a elas.
Fazia pouco tempo que conhecia Ellohim, mas o juramento dela foi o suficiente para fazê-lo acreditar em suas palavras. Por conta da experiência de ser traído tantas vezes, sabia quando alguém era confiável e falava a verdade.
— Sim, garotas, não vamos ser econômicos, Hyze acha que vai conseguir o que quer por meio da força, mas vou mostrar que perder não é uma opção para mim.
— Então você também pensou nisso? — Annie comentou com um leve tom de surpresa, o que provocou uma franzida de cenho de Ellohim.
— Do que falam? A Celestial não consegue acompanhar este ritmo acelerado de vocês, é injusto, pois ela não tem essa conexão profunda.
Kurone soltou um suspiro e, após uma risada rápida, respondeu à menina:
— Veja bem, certamente não é tão simples o procedimento para me matar, senão ela poderia ter dito que a nossa luta só acabaria quando um de nós estivesse morto. Deve haver todo um ritual para matar o Vassalo da Morte, então Hyze precisa de mim vivo para alcançar seus objetivos… mas eu só vou desistir quando tiver morto, e aquela coroa não sabe disso.
— Entendo, então ela irá focar em deixar você incapacitado. A Celestial consegue aumentar sua velocidade, então foque em manter distância e diminuir o dano recebido.
— Eu vou aumentar a sua força também para você causar o máximo de dano que conseguir.
Hyze poderia ter visto Kurone em combate, mas ela não sabia do que as companheiras desse jovem eram capazes de fazer. O trabalho em grupo ali seria a chave da vitória, e também havia a vantagem de ela não saber sobre a existência de Ellohim.
Com a ajuda da Máscara Infernal combinada com o Orbe Vermelho Rank B, sua velocidade chegaria a um nível sobre-humano. As novas armas lhe dariam uma boa hitbox em cima da xamã.
A batalha colocaria à prova tudo o que aprendeu. Estratégia, força, magia, feitiços, movimentos de artes marciais e tudo mais que acumulou em sua jornada, era hora de provar que não era mais o mesmo Kurone que teve a vida ceifada por Azazel van Elsie e foi feito de brinquedo por Mamon von Faucher.
— Acho que depois dessa posso dizer com certeza que sou um digno de ser um Arquiduque do Inferno. Garotas, se preparem, amanhã é o dia que Loright al Mare entra na história por derrotar a lendária xamã de Hyze e se livrar do Vassalo da Morte de brinde.
— Você pensou em uma maneira de se livrar das trevas? — Annie questionou, confusa.
— Sim, quando eu der uma surra bem dada nela, vou torturar a velha até ela me contar como me livrar do Vassalo da Morte. Se os outros elfos virem, eu mato eles também, vou mostrar a essa coroa quem é que manda aqui.