Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 4

Capítulo 201: À Nova Loli,Uma Pergunta.

Sempre que trocava de lugar com Annie, tinha a sensação de ser sugado por um tubo, havia também a impressão de ser abraçado pela deusa na metade de percurso. 

Em instantes, Kurone chegava naquele mundo à parte. O céu negro possuía as grandes rachaduras, relacionadas ao Vassalo da Morte — na verdade, aquele era o caminho que ligava o ser maligno àquele mundo.

Vez ou outra, a Boito .20 e as outras Armas Lendárias eram vistas flutuando pelo local. Essa escuridão era a mente de Kurone, ou melhor, uma realidade conectada à sua mente, algo bem similar ao Domínio de Cecily. 

Quando olhava para a frente, podia ver, como se assistisse a uma TV, tudo o que acontecia no exterior. Nesse momento, Annie acabava de recuperar a consciência.

Tratando-se da Nie, dificilmente haveria qualquer dificuldade para ela cuidar da barreira, a deusa era uma verdadeira programadora de baixo nível de circuitos mágicos, eles não estavam sob pressão como na luta contra Mamon von Faucher, então seria questão de tempo para o loop ser quebrado.

Porém, havia algo que queria saber, e para isso precisaria deixar a companheira de lado por alguns momentos.

— Você disse que quando eu precisasse era só chamar seu nome, não foi mesmo? Então bora lá, aparece aí, Ellohim, A Celestial!

Bastaram essas palavras de Kurone para um brilho dourado dissipar aquela escuridão, as partículas amareladas juntaram-se lentamente e uma silhueta foi fornada em frente ao jovem.

— Você chamou A Celestial pelo seu nome e continua vivo, isto significa que é digno de tê-la ao seu lado. Esta é a forma astral dela, alegre-se, você é o primeiro humano após milênios a contemplá-la.

Quem olhasse para Kurone, nesse momento, diria que ele estava indiferente para a situação, sua expressão séria era imutável e mesmo o brilho do ser à frente não o acovardava.

Mas a verdade era outra. 

Ele imaginou que invocaria a máscara em seu rosto como de costume, não que ela se manifestasse ali. A aura divina de Ellohim inundava todo o lugar, fazendo a escuridão esconder-se o mais longe possível.

A aura espalhou-se e a figura dA Celestial foi vista nitidamente, o que deixou Kurone ainda mais confuso. Ela tinha a aparência de uma garotinha. 

“É muito comum nesse mundo essas monstruosidades terem aparência de loli.”

Ellohim possuía uma energia dourada ao redor do seu ser, seu corpo era quase um dourado translúcido. Duas asas esbranquiçadas adornavam as costas dela, elas poderiam ocultar o semblante pequeno facilmente devido ao seu tamanho desproporcional.

O físico da Celestial era semelhante ao de uma garotinha em seus treze a quatorze anos. Ela era alguns centímetros maior que Rory e protótipos de seios protuberavam do seu busto. O short curto e o sobretudo, ambos escuros, acentuavam a aura divina emanada.

Contudo, só havia uma coisa martelando na mente do jovem de expressão severa: “Outra… outra loli. Ellohim é uma também, eu devia ter desconfiado, bem… qual o problema da porra desse mundo dominado por garotinhas?!”

Ahhh… mas não tem o que fazer, você é forte pra caralho, e inteligente também, então quero te perguntar uma coisa.

— A Celestial está aqui para escutá-lo. Após tê-lo reconhecido como seu amo, ela deverá dar o seu melhor para servi-lo, mesmo que aquilo desejado pelo amo vá contra todas as leis naturais. Como subalterna de um Arquiduque do Inferno, ela não deve questionar as requisições.

— Eu já nem me surpreendo mais com essas coisas, já tô calejado de tanto encontrar loli esquisita, mas bora direto ao assunto, já que a Nie pode precisar da minha ajuda lá fora… Que tipo de pessoa é Hyze?

*****

Shirone ficou surpreso ao ver a luz repentina emanando do corpo de Kurone.

Os fios médios e negros tornaram-se longos e descoloridos, enquanto olhos ganharam um tom ametista brilhante. O rosto já afeminado tornou-se ainda mais corado. A aura divina exalada entregava que aquele não era o mesmo jovem de antes.

Apenas alguns segundos foram necessários para Annie recuperar a consciência. 

O frio pegou-a de surpresa, era diferente de quando o sentia do interior da mente, mesmo as roupas para o frio não a impediam de tremer.

Mas não havia tempo para apreciar a brisa, ela tinha uma missão a ser cumprida. A deusa encarou o cenário à frente, olhos despreparados diriam que não havia nada ali, mas a intervenção de magia espacial era clara.

Ela sentiu-se culpada por não sentir isso antes, mas seus instintos só ficavam apurados de verdade quando estava no exterior, onde a mana circulava livremente.

Sem perder mais tempo, estendeu suas mãos e preparou-se para iniciar o processo de interferência no circuito mágico. Precisaria da Análise Avançada também, mas por sorte, dessa vez, Kurone estava descansado, apesar de isso não impedi-lo de sentir uma dor infernal. 

A Análise era uma habilidade divina, proporcionada pelo “Sistema”. O jovem podia ser um humano fantástico, mas ainda havia um abismo de diferença entre os poderes das divindades e dos humanos. “Imagino se algum dia ele vai conseguir usar essa habilidade sem problemas… Não, não é hora de distração, preciso focar no problema na minha frente!”

— Análise Avançada…

Uma dor excruciante percorreu todo o córtex do corpo, Annie fincou os dedos dos pés com força no couro da bota para suportar essa dor, parecia ainda pior que antes.

Demorou alguns segundos para estabilizar-se, mas ela limpou as lágrimas brotando das extremidades dos olhos e suspirou, pronta para abrir o circuito daquela barreira.

Com a Análise, podia ver o quão complexo era aquilo que parecia uma magia tão simples. Havia um emaranhado de fios mágicos e matrizes desordenadas, que não podiam ser tocados ou eles entrariam em um eterno laço de repetição.

Se Lothus estivesse ali, talvez ela poderia encontrar uma saída facilmente. A demônia não conseguiria interferir diretamente no circuito, mas era inteligente o suficiente para saber o que devia ser feito, era uma vergonha para uma deusa ser inferior a uma idaten.

Hmmm… O Kurone está quieto, ele não está me assistindo? E-ele tem tanta confiança assim em mim?! Si-sim, ele sabe que eu vou conseguir, então não vou me preocupar, só preciso analisar bem todo o circuito!”

Um pouco distante, Berthran e Shirone olhavam atentamente para o que a deusa fazia. Eles estavam tensos, mas a culpa era mais da aura divina que da chance de haver algum problema com a barreira.

Colocar as mãos em meio ao circuito aberto provocava formigamentos em todo o corpo de Annie, ela precisava de foco ao desfazer alguns padrões e ligá-los a outros. Além de mana, era necessária muita lógica para mexer naquilo, ela estava modificando algo natural, algumas divindades diriam que aquilo era até mesmo um crime.

“Acho que se eu mexer aqui…”

Em sua mente, parecia algo simples, mas como o próprio Kurone dizia: “Se tá fácil demais, é porque tá errado.” O jovem tinha uma opinião forte, mas ele tinha razão, era impossível o circuito mágico de uma magia espacial ser tão simples, mesmo que não fosse personalizado.

Porém, a posição desconfortável fez a deusa tocar a porta do circuito sem querer. Annie sentiu um arrepio percorrer todo o seu corpo, ela errou e sabia que algo ruim aconteceria, tudo o que podia fazer era fechar os olhos e esperar pelo pior.

“Desculpa por te decepcionar, Kurone!”

*****

Quando piscou e encarou o cenário novamente, ele não parecia ter mudado, embora isso não significasse nada, pois tudo era sempre igual.

— Aqui é… não é possível… — murmurou Berthran. 

Ao olhar para o lado, Annie notou que as três carruagens estavam juntas, a deusa estava sentada no assento de cocheiro, e no interior do veículo, Lothus e Inari possuíam expressões de surpresa mais uma vez.

— É o lugar onde o Kurone enfrentou o Clay Alysson… — a deusa falou para si. A cratera aberta quando as minas terrestres detonaram ainda estavam ali. 

[Nie, o que aconteceu com o circuito mágico?!]

“N-não quero acreditar nisso, mas parece que Hyze até cogitou a ideia de um deus interferir no circuito e criou uma armadilha… era algo tão avançado que nem eu percebi.”

[Então é verdade mesmo aquilo sobre a xamã que ela falou…]

“Aquilo? O que seria ‘aquilo’? E quem é ‘ela’? Vo-você estava conversando com uma mulher enquanto eu…”

[Depois eu te explico, agora tá na hora da gente trocar de lugar pra pensar no que fazer.]

Antes que a dupla pudesse realizar a troca, um grito, provavelmente vindo de Eulides, reverberou pelo ar gelado. Como estavam longe do loop, o vento começava a ficar violento, seria questão de tempo até uma nevasca começar.

Rapidamente, Kurone fez a troca de lugar com a deusa e correu em direção da carruagem de Eulides. Mesmo após ter usado a Análise, o corpo deles sentia-se bem, isso significava que voltaram no tempo, não foi um teletransporte comum.

Aquele ponto era, com certeza, poucos minutos antes de partirem, no dia posterior à luta contra Clay Alysson, porém o que mais preocupava era saber que havia a possibilidade de apenas uma parte da floresta ter voltado no tempo, sendo assim…

— Nem todo mundo é afetado por essa porra… — Kurone suspirou ao ver o motivo pelo qual Eulides gritou: um Clay Alysson parado à frente, ele parecia confuso pelo surgimento repentino do grupo.

O Psicopata Reencarnado estava em um estado horrível, mas sua postura era a de alguém recuperado e furioso, pronto para destruir todos ali. 

“Porra, acho que é hora de um segundo round forçado.”



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