Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 4

Capítulo 200: Em Frente À Barreira

Era o mesmo cenário, não havia dúvidas. Lothus e Inari encaravam-se — na verdade, elas interromperam o diálogo de repente e olhavam para o redor de olhos arregalados.  

— Eu só toquei… — Kurone olhou para as próprias mãos ocultas pelas luvas negras. Foi apenas um contato mínimo, como ele ativou o loop? — Garotas, vocês lembram de tudo?

— Sim… há poucos minutos nós estávamos organizando o acampamento e tudo mudou de repente… como isso aconteceu? 

— Eu toquei na barreira, não pensei que isso ia acontecer… Ahhh, pelo menos todo mundo tá com as memórias ainda.

Seria terrível enfrentar um loop temporal sozinho, ele vira na ficção como os viajantes do tempo sofriam. Como a paisagem era igual, não podia mais dizer onde era o local que acampariam ou a posição da barreira que os impedia de avançar. 

Sem perder tempo, saltou do veículo e correu em direção às outras carruagens, mas desacelerou ao notar que os outros já vinham ao seu encontro.

— Mestre, isso foi a barreira?

— Sim, Berthran, parece que ela é bem sensível ao toque. Vai ser uma droga se o loop ativar quando qualquer coisa tocar ele. Quando o vento ficar mais forte, vai ter muita coisa voando por aí.

— Creio que não seja assim, mestre. Provavelmente a berreira se ativa com o contato com a mana, não foi uma boa ideia ter encostado nela… Nós retornamos para o começo, mas onde exatamente?

A situação parecia realmente preocupante. Kurone tentou manter o seu controle, ele sabia que, com a deusa Annie ao seu lado, só precisava localizar a barreira novamente e mexer no circuito mágico dela.

— Você ainda se lembra onde era a barreira?

— Desculpe, mestre, mas é difícil saber com o cenário igual, no entanto posso usar a minha magia de vento e localizá-la mais uma vez, como fiz antes.

— Boa, então a gente não tem tempo a perder. Lothus, Inari, comecem a preparar o acampamento aqui mesmo, o Berthran e eu vamos atrás da barreira.

Os cavalos negros da família al Mare foram desconectados da carruagem de Kurone e equipados com uma sela. Seria mais rápido percorrer a neve com eles, afinal eram animais resistentes e rápidos.

Não havia dúvidas que esses animais foram modificados, mas isso pouco importava, eles estavam sendo úteis para a jornada.

— Esperem! Eu vou com vocês. 

Aquela era uma frase que, constantemente, saía da boca de Law Zhen. Contudo, dessa vez, para a surpresa de Kurone, foi Shirone quem falou.

O jovem elfo andava com dificuldade. O corpo dele não estava totalmente recuperado, mas as habilidades curativas de Lothus eram dignas de aplausos, pois era evidente como aquela demônia empenhou-se em curar o elfo.

— Quero dar uma olhada em como é essa barreira, não vou atrapalhar vocês se eu for em um desses cavalos, e posso ser útil de qualquer maneira.

— Vai usar essa sua espada aí para cortar a barreira ao meio? Eu sei que ninguém consegue utilizar armas como essas aí sem pagar um preço, então não acho uma boa ideia continuar usando elas, quero dizer, isso se você quiser viver mais um pouco.

Mesmo Kurone podia sentir o poder daquelas armas, era algo esperado de alguém com o título de Margrave do Inferno, mas a batalha contra Clay Alysson serviu para demonstrar que esse elfo não tinha mana infinita, seria complicado ele usar um ataque daquelas armas duas vezes sem desmaiar.

— Eu também… — Ayshla tentou pronunciar, no entanto calou-se ao ver o sinal que o seu mestre fez com a mão.

Quando o jovem saísse, as únicas pessoas capazes de lutar ali seriam Law Zhen e Inari. No fim, aquilo ainda era uma armadilha, não era uma boa ideia baixar a guarda, foi exatamente este o motivo que os fez andar em círculos por três horas sem perceber o loop. 

Isso tornava a figura de Hyze mais incrível e aterrorizante em sua cabeça.

Lothus não tinha poder ofensivo suficiente para um combate real, sua área de atuação era na zona estratégica e na cura — ela não teve a vida ceifada em Lou Xhien Pi’yan por ser valiosa para Mamon von Faucher.

E havia Willian Zackarias… apesar de um pouco narcisista e ter segundas intenções em Lothus, ele tinha um status de sorte bem alto, e sabia manusear uma espada decentemente, como esperado de um aventureiro popular, porém estar com a perna machucada o deixava mais fraco que Lothus.

Então, cabia a Ayshla o papel de ajudar na proteção do acampamento. 

O treinamento de Lao Shi tornou a orc fêmea alguém no mesmo nível de um guerreiro de alta patente da Guarda Real de Andeavor, e havia a vantagem dela ser um monstro, um ser naturalmente mais forte que os humanos. A guerreira podia ser considerada um orc em seu ápice.

— Então a gente tá indo, cuidem de tudo aí… E, Inari, vê se não dá trabalho a elas.

— Por que apenas eu recebo este tipo de aviso?! Que cruel, darling! — a deusa protestou inflando as bochechas. Podia não parecer com aquela atitude, mas ela era quem mais entendia a gravidade da situação, pois havia coisas que apenas divindades conseguiam notar.

— E-e quanto a mim, se-senhor Loright?! O senhor esqueceu de mim de novo!?

Ih, esqueci dele mesmo!” 

[Que cruel…]

Eulides tinha uma presença muito fraca por ser um humano comum. Willian, com o ferimento na perna, era três vezes mais forte que esse nobre de aparência feminina.

Ah… foi mal, Eulides. Você pode… Ah! Você pode ficar de vigia, só precisa ficar sempre olhando o cenário pra ver se nós não enviamos nenhum sinal ou se não tem inimigo se aproximando!

— Cer-certo… tenha cuidado.

A decepção por ser esquecido novamente era evidente no semblante do jovem. Não havia tempo para arrependimento ou qualquer tipo de sentimentalismo, Eulides al Mare decidiu seguir com aquele grupo mesmo sabendo do que poderia acontecer. Contudo, os olhos dele indicavam seu desejo por feitos, ele queria ser digno de pertencer àquele grupo.

O barulho das rédeas batendo contra o lombo dos cavalos reverberou e os três cavalos moveram-se. Kurone agarrou o animal que montava com força, ele esqueceu-se de que jamais montara em um cavalo na vida.

Porém, não era hora de quebrar sua imagem, precisava se agarrar ao cavalo como se sua vida dependesse disso, teria que aprender a cavalgar conforme seguia em um cenário tão difícil como a floresta de Hyze.

*****

O trote dos animais ecoava pelo ar frio.

Cavalgando, Berthran lançava lâminas de vento, elas tinham um tipo de temporizador que explodia a magia no ar. Saberiam onde estava a barreira do loop quando a lâmina de vento desaparecesse sem explodir, e, se assim podiam supor, o loop não se ativaria mesmo se a magia atingisse a barreira.

Era uma aposta arriscada.

Por sorte, o orc de tapa-olho tinha bastante mana, ele podia fazer aquilo por horas sem cansar. O Tipo Elemental do monstro era Vento e ele possuía um grande armazenamento de mana, não havia dúvidas que aquele era um guerreiro poderoso.

Na época que convocou aquele orc, Kurone ainda era fraco, quase morreu diversas vezes na masmorra de nível baixo, provavelmente nem teria retornado se não tivesse a ajuda dos monstros guerreiros. Ele devia muito a Berthran, principalmente por ele permanecer ao seu lado quando ainda era um inútil.

— Ali! — gritou o orc. Como esperado, a magia dele desapareceu pelo ar antes da colisão. Não havia dúvidas que era aquele o lugar.

Mas isso incomodou Kurone. 

Eles não cavalgaram por mais de trinta minutos, a velocidade dos cavalos sem carruagem era diferente, mas não devia haver uma diferença tão abismal, no máximo uma carruagem levaria o dobro do tempo para chegar ali.

Mais cedo, eles passaram metade de um dia viajando, e o jovem só percebeu que estava andando em círculos três horas antes de decidir se pronunciar e explicar a situação aos seus companheiros.

Em resumo, desde que chegaram ali eles fizeram mais de cem loops, passaram quase metade de um dia andando em círculos.

A tranquilidade era a chave para os manipular, ninguém estava tão atento à paisagem quando não tinha que se preocupar com um tronco trazido pelo vento violento vindo em sua direção.

Contudo, foi uma idiotice não ter notado algo. Antes de deixar os companheiros, viu que todos os mantimentos que consumiram enquanto viajava ainda estavam ali, isso significava que tudo, exceto as memórias, e talvez o corpo, voltavam no tempo.

Se comessem algo e tocassem na barreira, retornariam no tempo e encontrariam a comida intacta novamente, no entanto, se o corpo também era afetado pelo loop, então precisariam comer novamente para saciar a fome.

Não havia como morrer de fome em teoria, quem caísse naquela armadilha poderia sempre retornar no tempo para comer, então qual era o propósito daquilo? 

[Talvez seja uma armadilha que tem como alvo a mente das pessoas. Acho que nem todos conseguem se manter sãos andando em círculos.]

“Mas, pelo que vi, não parece haver impedimentos para voltar, a gente só tá tentando furar a barreira porque tamo bem perto da vila de Hyze, pelo menos foi isso que a Lothus falou.”

[Sim, mas alguém com poucos mantimentos não conseguiria retornar, como nós. Atravessar a barreira é o meio mais viável.]

“Tem razão, então tá na hora de você brilhar, Nie, acaba com essa barreira.”



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