Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 4

Capítulo 202: Recolhendo Os Espólios

Estava irreconhecível.

As roupas rasgadas de Clay Alysson deixavam suas feridas, de aparência nada amigável, visíveis. Sua pele estava com um aspecto cinza e os olhos, roxos. Àquela distância, parecia que ele cresceu um pouco, seus músculos tornaram-se maiores e diversas veias estendiam-se pelo seu rosto. 

Mas o mais assustador era a arma que carregava em mãos. A Franchi Spas-12 possuía veias arroxeadas pulsando, ela ganhou a aparência de um material orgânico repugnante.

— Caraca, o que foi que aconteceu contigo? O elfo te deixou só a carcaça, não foi? — Kurone comentou após um suspiro, ele não estava preocupado com aquela luta, afinal sabia que, naquele estado, parecendo um zumbi, venceria o fora da lei facilmente.

[Kurone, eu acho que não é bom subestimar o seu adversário, não sabemos ainda o que aconteceu com ele.]

“Não tô subestimando ele, Nie, é que eu tô puto da vida por causa dessa armadilha desgraçada da Hyze, quero descarregar minha raiva em algum filho da puta, e esse aí é perfeito pra isso.”

[Apenas tome cuidado, algo parece estar errado aqui.]

“Beleza!”

Impulsionado-se pela neve, Kurone reduziu sua distância e preparou-se para dar o primeiro golpe no oponente. 

Era um soco de mão fechada, imbuído em mana e com capacidade para rachar uma rocha grande ao meio.

E mesmo com o corpo naquele estado, Clay Alysson foi rápido o suficiente para esquivar-se com agilidade e apontar a arma para o jovem, o corpo do homem ganhou uma elasticidade anormal. 

Kurone passou pelo lado do fora da lei com o punho fechado, eles encararam-se apenas por alguns minutos, mas foi tempo suficiente para um disparo ser efetuado.

Escopetas eram perfeitas à curta distância, Clay formou um sorriso perverso no rosto desfigurado e repleto de veias ao pensar que destruiria seu inimigo apenas com aquilo.

Alguns dos espectadores gritaram em pavor ao verem o braço esquerdo de Kurone ser destroçado pelo tiro da Spas-12. 

Sangue tingiu o chão de vermelho e pedaços de carne e ossos tornaram-se bolas de neve, mas logo tudo era encoberto por uma nova camada dos flocos brancos caindo do céu e forrando o chão.

Nesse mundo, até a magia tinha as suas restrições. Curar um membro humano era impossível até para o mais habilidoso Clérigo. Lothus era especialista na magia de cura, mas nem se ela usasse toda a sua força conseguiria fazer um milagre.

Apenas um deus, como Inari quando estava na sua masmorra de alto nível, poderia usar um nível de magia que os humanos jamais teriam acesso. No entanto, isso não era um problema para Kurone.

Clay precisou recuar ao sentir a aura hostil. Não demorou mais de vinte segundos para o braço de Kurone ser recuperado e o jovem investir em direção ao fora da lei. 

Aqueles surpresos anteriormente deixaram outro grito escapar.

O braço artificial do jovem era algo incomum, claro que ninguém esperava um ataque como aquele, nem o próprio elfo, mesmo ele sendo um Margrave do Inferno.

A habilidade de controlar a recuperação do membro artificial melhorou após usá-la tantas vezes. Sem perder mais tempo, Kurone ativou seus dois Olhos Sagrados e materializou a Boito .20 no braço recém-recuperado.

Descobriu que só conseguiria melhorar aquilo que mais usava. 

No começo, teve problemas com o Olho Sagrado, mas bastou usá-lo nas batalhas para acostumar-se com o desconforto. Sentia um leve incômodo com a presença do segundo Olho naquele momento, mas, em breve, também se habituaria.

Era assim com todas as suas habilidades, só precisava exercitá-las para levá-las ao seu ápice. Tendo ciência daquilo, Kurone decidiu que não iria se conter, usaria todas as lutas para acumular experiência, como sempre fizera nos jogos.

Ele apertou o gatilho da escopeta de canos serrados sem piedade e disparou, porém não deu tempo para Clay desviar e aproximou-se com soco, mas dessa vez a mão queimava com o Fogo Infernal.

Viu a expressão de Clay Alysson mudar. Finalmente, ele levaria isso a sério. O homem preferiu receber o tiro da Boito .20 no ombro, evitando o soco em chamas.

Argh! Maldito, você e seus amigos vão pagar por terem me insultado! Eu tô nesse estado por culpa de vocês! — bravejou o fora da lei desmaterializando a escopeta negra. No lugar da Spas-12, dois revólveres apareceram em suas mãos acinzentadas.

Kurone não tinha interesse em saber como o homem ficou naquele estado, mas era preocupante pensar que poderia ter sido alguma armadilha de Hyze. 

Todos poderiam se tornar monstros? O jovem suspirou e falou:

— Você caiu em alguma armadilha quando o Shirone te arremessou?

— Desde quando devo satisfações a você, desgraçado?! — Os tambores dos Colt 1917 giraram quando o fora da lei pressionou os gatilhos. Ele atirou sem misericórdia, obrigando Kurone a correr o mais rápido que conseguia.

Por sorte, havia muitos troncos secos ali, o que facilitava a esquiva das balas. Apesar de tudo, aquele ainda era um bom pistoleiro, vários dos disparos passaram bem perto de atingir o jovem.

— Volta aqui! — Clay correu atrás do jovem escondendo-se entre os troncos. 

O objetivo de Kurone era distanciar-se do grupo nas carruagens. 

Ele poderia não perder para o fora da lei, mas o homem podia atirar nos espectadores quando menos esperasse. E também havia um segundo motivo.

Quando chegou em um local razoavelmente distante, esquivou de alguns tiros dos revólveres e encarou seu oponente. Clay ofegava apenas por ter corrido aquele pouco, provavelmente era um efeito colateral da sua mutação, seu corpo tornou-se mais pesado, e a mana podia ser vista escapando do seu corpo.

— Você veio para um lugar onde não há quase troncos para se esconder, o que tá pensando em fazer?!

A expressão do homem mudou ao ver o sorriso no rosto do seu oponente. Kurone estava realmente estressado por tudo o que aconteceu desde que chegou à floresta de Hyze, ele queria descarregar sua raiva em alguém, e o seu alvo estava bem à frente. 

Labaredas vagaram lentamente pelo céu. O jovem retirou as suas luvas pretas e deixou que o vento frio acariciasse suas mãos envoltas por chamas crescentes.

Não demorou para que o calor se espalhasse pelo local, derretendo a neve aos seus pés e criando um círculo flamejante ao redor dele e Clay Alysson.

— Que diabos é isso?! Haha, não me diga que você achou que eu ia me acovardar por apenas umas fagulhas? ? Vai precisar de mais que isso para derrubar o Psicopata Reencarnado, garoto! — rugiu disparando com a sua dupla de revólveres.

Kurone sequer moveu um passo. 

Ele estava dentro do seu território, não havia como ser atingido facilmente. Os Olhos Sagrados captaram a aproximação do tiro e a magia de fogo fez o seu trabalho queimando tudo em pleno ar.

Irritado, Clay trocou para a sua Franchi Spas-12. O calor daquele local fazia gotas de suor incomuns pingarem do rosto do homem. Aquilo era efeito de outra coisa.

Provavelmente essa mutação de Clay Alysson estava o matando por dentro, ele era alguém absurdamente poderoso apenas de estar ali. 

Mas não era hora de elogiar o inimigo.

Kurone levantou suas mãos e formou uma bola de fogo que crescia exponencialmente, era uma versão melhorada do ataque que usou para eliminar a neblina de Mamon von Faucher, ainda sem nome. Certamente, Clay Alysson não poderia sobreviver àquilo.

Após lançar o ataque em direção ao homem, o calor no local aumentou, ele escutou os gritos desesperados do fora da lei atirando contra a esfera de chamas indo em sua direção, mas era uma tentativa inútil.

— Maldito! — Foram as últimas palavras do homem, antes de ser completamente incinerado pelo golpe do jovem. 

Kurone ficou um pouco tonto após o ataque, mas não desativou os Olhos Sagrados e continuou de pé. 

Em alguns segundos, após se estabilizar, estava andando em direção ao local em que o seu oponente foi completamente carbonizado. Havia algo importante ali que não seria destruído apenas com um ataque daqueles.

Tudo o que restou ali foram alguns pedaços de roupas e itens mágicos que ele carregava. Um sorriso formou-se no rosto do jovem quando ele avistou os dois revólveres do pistoleiro, a escopeta negra e a faca de combate.

Com as mãos trêmulas, tocou na Franchi Spas-12 e concentrou-se. Partículas azuis subiram pelo ar conforme a arma desmaterializava. Esse era o sinal que a Arma Lendária trocava de dono.

Fechando os olhos, Kurone pôde visualizar, nesse momento, a figura da espingarda nova no interior da sua mente. Em alguns minutos, tomou para si os revólveres e a faca de combate.

Demorou um tempo para ele acostumar-se à Boito .20, mas com a sua experiência com a espingarda de canos serrados, certamente dominaria os novos equipamentos em breve.

Hmm?... Isso é… — Após desativar a sua magia de fogo que dissipou a neve desse local, viu, no chão, outro dos objetos carregados por Clay Alysson. 

Era a mina terrestre. 

Sem pensar duas vezes, o jovem tocou nela e a guardou em seu Inventário Interno. 

Supôs que o fora da lei podia usar uma habilidade de clonagem nela para ter tantas… ou talvez a própria arma conseguiria multiplicar-se? Teria que descobrir isso depois, pois não queria gastar um recurso valioso.

— Hoje nós tiramos a sorte grande, não foi, Nie? Nie… você tá aí?

[Kurone… seus companheiros estão cercados!]

— Do que você tá fala…

[São mais de cinquenta pessoas ao redor deles! Rápido, precisamos voltar!]



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